REVIL entrevista DC Doulgas

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D.C. Douglas chamou a atenção dos fãs de Resident Evil antes mesmo do lançamento de seu primeiro trabalho na série. Em junho de 2008, o dublador Richard Waugh, que interpretou Albert Wesker em RE CODE: Veronica, Ø e 4, afirmou que havia sido substituído no papel do vilão por um ator não sindicalizado. O “substituto”, D.C. Douglas, tem a dublagem de videogames como seu principal trabalho, participando de jogos como “Tekken 6”, “Mass Effect 2”, “Ace Combat 6” e “Tales of Vesperia”. Além de aparecer em séries como “24 Horas” e “Charmed”, o ator também possui uma produtora, chamada “Hit The Fan”, com a qual realiza diversos curtas-metragens, sendo “The Crooked Eye” o mais recente, com cenários feitos completamente em animação. Nesta entrevista, D.C. fala sobre a composição de seu trabalho como Albert Wesker, a polêmica com o dublador anterior e sua carreira como ator e produtor.

 


REVIL: Você conhecia Resident Evil antes de ser contratado para trabalhar na série?
D.C. DOUGLAS: Não. Na verdade, quando fiz os testes para RE: The Umbrella Chronicles, eu nem mesmo sabia qual era o jogo. Eles me mostraram a voz de Peter Jessop, um dos atores anteriores, e pediram que eu fizesse algo semelhante. Ele fez algo muito interessante com a voz, engolindo palavras e usando um sotaque britânico. Por mais que eu tentasse, não conseguia fazer igual, cheguei até a conversar sobre isso com ele um dia, pois o conheço e temos o mesmo agente. Mesmo assim, fiz o jogo e, depois, recebi uma ligação da Capcom, pois eles queriam me contratar novamente para Resident Evil 5. Quando cheguei para a gravação, percebi que era uma grande sequência, com captura de movimentos e tudo mais. Ganhei muito respeito pelo personagem e pela série.
R: Como você compôs o personagem? Você se inspirou por algum dos outros atores que já o interpretaram ou preferiu fazer seu trabalho sem influências?

D.C.: Em “Mass Effect 2”, por exemplo, pude criar a voz do zero e, para um ator, isso é muito bom de se fazer. Mas com Wesker foi muito difícil pois ele foi interpretado não só por um, mas por três atores diferentes e, de acordo com o diretor, os produtores e o jogo, a idéia de como o personagem deve soar é diferente. Em RE5 foi estranho, pois eles queriam que eu misturasse um pouco de Richard Waugh com o que eu mesmo havia feito no game anterior. Porém, durante o game, Wesker passa por uma mutação, e aos poucos pude transformar a voz em meu próprio estilo. Se ele voltar, provavelmente poderei ter controle total sobre a voz dele. Vamos torcer, mas parece que ele está morto mesmo.

R: Quais as características de Wesker que você gosta de destacar em sua interpretação do vilão?

D.C.: Fazer a voz de um personagem é um esforço em grupo entre os diretores, os produtores e o ator. Então, no caso, isso é decidido por todos. Mas as qualidades que eu mais gosto são a arrogância e o sadismo.

R: O sotaque britânico de Wesker é muito evidente em Umbrella Chronicles, mas em RE5 isso foi minimizado. Como foi o trabalho nesta característica?

D.C.: Isso se deve a diferentes diretores em diferentes games. Em UC, eles queriam que eu me aproximasse da interpretação de Peter Jessop, mantendo este sotaque britânico. No quinto capítulo eles me levaram na direção de Richard Waugh, mas eu estava mutando então pude usar também minha voz normal. Além disso, voltei para o estúdio cinco ou seis vezes e, a cada sessão, havia coisas novas para fazer. Eu não me importo com o sotaque britânico, acho divertido, mas em grande parte pudemos nos afastar dele no quinto capítulo da série.

R: Como é o papel de Wesker em RE: The Darkside Chronicles? Ele será mais ativo ou trabalhará nas sombras?

D.C.: Acho que já posso dizer isso. Em TDC é uma cena curta, mas divertida. É um flashback, ele não está de volta dos mortos.

R: Você acha que há alguma chance de vermos Wesker novamente na série?

D.C.: Há sempre uma chance.

R: Os fãs de Albert Wesker se dividem entre os que aprovaram ou não a mudança de voz. Você recebeu algum elogio ou crítica diretamente? Como você enxerga a recepção de seu trabalho?

D.C.: No começo, me pareceu que ninguém estava feliz com a mudança. Utilizo os Google Alerts, que me avisam quando meu nome aparece e, de repente comecei a ter várias ocorrências sobre Resident Evil 5. Percebi que ninguém havia gostado. Eu cheguei até a ir responder em um fórum no qual as pessoas estavam sendo mais cruéis do que deveriam. Elas também estavam desinformadas, dizendo que eu não era sindicalizado quando na verdade sou há anos, então eu precisei corrigir isso. Após o lançamento, aí sim as opiniões estavam divididas e, depois, me pareceu que havia mais aprovações do que reprovações. Recebi e-mails legais e muitos pedidos de amizade no Facebook. Por não querer ficar com 500 amigos por lá, criei uma página onde posso mantê-los informados sobre meus trabalhos. Obviamente, existem fãs leais dos outros dubladores, e eu não tenho problemas com isso, nem com os próprios atores. Todos nós estamos tentando sobreviver neste negócio, trabalho é trabalho, eles me contrataram e eu estava feliz de fazer.

R: Você prefere atuar, dublar ou trabalhar por trás das câmeras?

D.C.: Todos! Minha paixão principal é atuar na frente das câmeras, no cinema, TV ou teatro. Não atuo muito nos palcos, pois não paga muito bem e há muitos teatros ruins aqui em Los Angeles. Amo dirigir e produzir meus projetos pessoais e alimentar o monstro dentro de mim. Mas a dublagem se transformou em uma maravilhosa carreira secundária que me leva pelos tempos ruins, pois é difícil ganhar a vida como ator de televisão ou cinema sem conseguir papel fixo em um seriado. Até mesmo as estrelas passam por longos períodos sem trabalhar. Em dublagem, se eu tivesse que escolher entre ser um anunciante ou interpretar um personagem, obviamente trabalhar em videogame é muito mais gratificante pois é possível atuar de verdade. Os anúncios, porém, pagam muito mais. Espero que, eventualmente, o sindicato faça com que a gente possa receber porcentagens sobre os jogos e, assim, quando eles venderem milhões de cópias, nós poderemos receber um pouco também.

R: Que tipo de papéis você prefere: os cômicos ou sérios?

D.C.: Prefiro os cômicos pois é mais divertido e mais fácil para mim, por algum motivo. Mas gosto muito dos sérios por causa do desafio. O compromisso emocional é mais pesado e há muito mais em jogo para o ator. Porém, se for preciso chorar e espernear, eu vou ficar assustado e posso não ser capaz de fazer isso o tempo todo. Conseguir esse tipo de testes é bem raro, pois estou em um patamar no qual sempre sou vilão, advogado ou coisas deste tipo. Provavelmente, quando estiver mais velho, serei capaz de me emocionar mais com outras pessoas morrendo pois terei passado por isso mais vezes. Que resposta sombria! [risos]
Em dublagem, gosto muito dos dois. Não há diferença, ambos são divertidos e os personagens de games são muito caricatos. Ser um personagem sério e malvado é delicioso, e há muita comédia nisso também. Personagens cômicos são tão legais quanto.

R: Conte-nos sobre seus projetos para o futuro. O que podemos esperar de D.C. Douglas?

D.C.: Você pode esperar o Super D.C. Douglas! [risos] Na verdade não faço idéia pois, como ator, isso muda o tempo todo, mas acho que podem esperar coisas boas. No mundo dos videogames, estou em “Tekken 6” e “Mass Effect 2”. Se você estiver nos EUA e ouvir rádio, há uma campanha muito divertida do Burger King, na qual tiramos sarro de “Fox & Friends”, um destes programas matinais cafonas. Na televisão, estou em alguns episódios de “The Bold And The Beautiful”, onde faço o papel de um bispo e tenho uma cena engraçada no final do segundo capítulo. Tenho também um filme chamado “Change Your Life”, com Tony Plana, de “Ugly Betty”. É um mockumentário [filme de ficção gravado como um documentário] muito bom que, infelizmente, não foi lançado nos cinemas. Isso acontece muito com filmes. Às vezes, você pode estar em um longa com grandes nomes e, por alguma razão, ele não consegue distribuidora e é lançado apenas em DVD. Fico impressionado com isso, pois ao mesmo tempo, diversos filmes ruins são distribuídos nos cinemas.

R: Deixe uma mensagem para os fãs brasileiros.

D.C.: Gosto dos meus fãs como meu café: Brasileiro.