Arte: Frank Alcântara

Análise – Alan Wake 2 – PC (Epic Games Store)

Indiscutivelmente o ano de 2023 se destaca por oferecer uma série de jogos espetaculares, tornando-se um período empolgante para os entusiastas de games, principalmente os de survival horror. Após o lançamento notável de títulos incríveis, como os remakes de Resident Evil 4 e Dead Space, Final Fantasy XVI, Street Fighter 6, Hogwarts Legacy e Lies of P, chegou a vez do aguardadíssimo Alan Wake 2, que se prepara para mergulhar de cabeça no oceano do horror de sobrevivência. Em meio a uma paisagem repleta de lançamentos marcantes, esta sequência promete se destacar como um dos pilares do gênero neste ano emocionante para a indústria dos videogames.

Desde o lançamento de Resident Evil 7 em 2017, o gênero survival horror experimentou um ressurgimento significativo, ganhando destaque entre as grandes empresas. A reimaginação de Resident Evil 2 em 2019 consolidou o retorno do gênero, mais uma vez demonstrando a influência da Capcom na indústria e incentivando uma tendência: o foco em jogos de survival horror.

Este cenário na indústria teve impacto tão marcante que até mesmo a Remedy Entertainment, conhecida por desenvolver predominantemente jogos de ação com alguns elementos de terror – especialmente o primeiro Alan Wake –, decidiu participar deste movimento e, eventualmente, anunciou no The Games Award de 2021, Alan Wake 2, pegando todos de surpresa.

Sendo assim, vamos analisar este jogo por partes e ver se a Remedy realmente conseguiu concretizar seu objetivo. Comecemos então pelo enredo. Lembrando que a versão analisada aqui é a de PC (Epic Games Store).

ESTOU ME AFOGANDO!

Treze anos após os eventos do primeiro jogo, uma onda de assassinatos bizarros, permeados por rituais enigmáticos, assola a pacata cidade de Bright Falls. A agente do FBI, Saga Anderson, é enviada para investigar estes crimes perturbadores ao lado de seu parceiro, Alex Casey. Enquanto isto, o renomado escritor Alan Wake permanece desaparecido, aprisionado no Local Obscuro, uma dimensão sombria onde obras artísticas se tornam realidade. Ele continua tentando encontrar uma forma de escapar deste pesadelo interminável, mas será que ele terá êxito? Há alguma conexão entre Saga, os assassinatos e o destino de Alan Wake? Só jogando para saber, morô?

Apenas a partir desta sinopse, é possível vislumbrar o que está reservado para o jogador, sendo seguro afirmar que a trama do jogo é um ponto extremamente positivo.

O enredo é intrigante e macabro, repleto de mistérios, alguns deixados para interpretação e outros propositalmente sem resposta, certamente para fazer os jogadores debaterem e criarem teorias. Existem reviravoltas, diálogos envolventes entre os personagens, cinemáticas imersivas e documentos que aprofundam diversos aspectos da estória, contribuindo para uma experiência envolvente. Destaque também para a dublagem excepcional com atuações extraordinárias que dão vida aos personagens de uma maneira incrível, especialmente Melanie Liburd (Saga Anderson), Matthew Porretta (Alan Wake) e James McCaffrey (Alex Casey). Ah!, lembrando que a Melanie está concorrendo ao GOTY 2023 na categoria de melhor atuação.

Assim como no primeiro jogo, a estrutura do game, dividida em episódios como uma série televisiva, continua um grande acerto, proporcionando um ritmo cativante à narrativa. A estória se desdobra de maneira gradual, esclarecendo constantemente pontos importantes, o que mantém o jogador intrigado e engajado ao longo de toda a jornada.

Sem dúvida o enredo é um ponto muito interessante, destacando-se ainda mais pelo fato de haver dois personagens jogáveis: Saga e Alan. Esta dualidade na perspectiva de jogo oferece experiências diferentes, enriquecendo a trama e proporcionando mais complementos aos acontecimentos. Assim, Alan Wake 2 não apenas mantém a tradição de seu antecessor de possuir uma estória formidável, mas eleva ainda mais o patamar ao oferecer uma narrativa fascinante e personagens envolventes, resultando em uma experiência de jogo inesquecível, ainda mais com a sua proposta de terror.

Aqueles que jogaram as expansões do jogo Control, também desenvolvido pela Remedy, inevitavelmente se perguntarão sobre potenciais conexões em Alan Wake 2. A narrativa intrincada e as camadas de mistério presentes em ambas as sagas levantam a expectativa de tornar o game uma experiência ainda mais enriquecedora para os jogadores que acompanham ambas as estórias. A possibilidade de interligações entre os dois títulos adiciona uma camada extra, ampliando o escopo da trama e proporcionando uma série de teorias e especulações.

Embora o jogo esteja completamente localizado em português, infelizmente algumas partes apresentam legendas dessincronizadas, prejudicando a compreensão do enredo em determinados momentos, mas certamente é algo que deve ser consertado eventualmente com atualizações.

Dito isto, é incontestável que o enredo se destaca como um elemento altamente positivo, instigando os jogadores e provocando uma inquietação enquanto buscam desvendar completamente os detalhes da trama.

O HORROR DA NOVA GERAÇÃO

Os gráficos de Alan Wake 2 são verdadeiramente deslumbrantes! Os cenários apresentam uma riqueza de detalhes surreal, a iluminação é espetacular, especialmente devido ao gênero de terror do game.

As expressões faciais alcançam um nível de realismo impressionante, demonstrando a capacidade da Northlight Engine desenvolvida pela própria Remedy. As texturas aplicadas aos objetos, somadas à atmosfera meticulosamente construída nos diversos locais, são simplesmente impressionantes.

Assim como observamos em Dark Souls, por exemplo, os cenários de Alan Wake 2 passam informações de maneira sutil aos jogadores, especialmente quando jogamos com Alan, aprisionado em uma versão sombria de Nova York. Cada detalhe nos ambientes da cidade não apenas contribui para a estética de uma estória retirada de um livro de drama policial, mas também desempenha um papel crucial na narrativa, revelando nuances e pistas que enriquecem a compreensão do jogador sobre o mundo envolvente. Esta abordagem meticulosa à construção do ambiente não apenas eleva o valor estético, mas também aprofunda a imersão na trama, criando uma experiência de jogo rica em narrativa ambiental.

Similar à notável recriação de Resident Evil 2, a anatomia dos inimigos em Alan Wake 2 responde de maneira realista aos disparos do personagem, transformando os confrontos em momentos intensos devido ao estado perturbador que os inimigos podem adquirir. A dinâmica de dano visível não apenas adiciona um nível extra de realismo, mas também intensifica a atmosfera sombria do jogo, tornando as batalhas mais imersivas e contribuindo para a sensação de tensão e perigo que permeia o ambiente hostil.

Em resumo, a parte visual de Alan Wake 2 é verdadeira obra prima, desempenhando um papel crucial na criação de uma ambientação genuinamente assustadora e imersiva.

BEM, AGORA ELES SÃO MENOS MONSTROS

A jogabilidade de Alan Wake 2 é similar ao título anterior, mas com diferenças gritantes e uma clara influência de outros jogos, especialmente a reimaginação de Resident Evil 2, algo ressaltado pelo próprio Sam Lake, diretor e roteirista. A exploração dos cenários é fundamental para cumprir tanto os objetivos principais quanto os secundários, além de coletar munição, remédios, itens colecionáveis ​​e resolver quebra-cabeças, alguns dos quais são realmente criativos e desafiadores.

Uma das mudanças mais significativas é a introdução a um mundo semiaberto que se desdobra à medida que o jogador avança, proporcionando uma experiência de jogo mais expansiva e exploratória, algo que lembra Resident Evil Village, o remake de Resident Evil 4 e The Evil Within 2. A atenção do jogador é outra coisa constantemente exigida para desvendar os caminhos a serem seguidos e progredir no game.

A abordagem diferenciada dos personagens é um ponto de destaque. Com Saga, integrante do FBI, o jogador assume um papel de detetive, organizando casos e adotando uma abordagem investigativa, algo que lembra L.A. Noire, jogo desenvolvido pela Team Bondi e publicado pela Rockstar Games em 2011. Alan, por sua vez, gerencia um quadro mental para organizar a estória que está escrevendo para escapar do Lugar Obscuro e, com isto, alterando coisas em determinados cenários para progredir.

O personagem pode se esquivar, usar lanternas, armas de fogo, sinalizadores e granadas de luz para enfrentar os inimigos e chefes que são chamados de “Possuídos”. Uma novidade interessante agora é a capacidade de realizar um golpe físico, que serve mais para atordoar os inimigos do que causar dano propriamente.

Assim como no primeiro jogo, os inimigos são protegidos pela presença de uma aura escura, exigindo que o jogador destrua esta proteção antes de poder eliminar o inimigo, gerando uma tensão muito maior considerando o gênero de survival horror.

A movimentação do personagem, propositalmente um pouco travada, e a lentidão para carregar as armas, intensifica a sensação de desespero e vulnerabilidade ao enfrentar os inimigos, acentuando a atmosfera tensa do jogo, embora isto possa ser visto como negativo para alguns jogadores. Em certos momentos, esta jogabilidade intencionalmente projetada para desafiar os jogadores dentro da proposta do survival horror, pode deixar o combate contra os inimigos menos dinâmico, possivelmente resultando em alguma frustração para o jogador. No entanto, é importante destacar que isto não torna o jogo impossível ou excessivamente irritante, mas contribui para a imersão e a intensidade da experiência de um jogo de horror de sobrevivência.

Em outras palavras, o sistema de combate do jogo é parecido com o sistema encontrado na reimaginação de Resident Evil 2. Portanto, aqueles que buscam uma experiência mais alinhada com os estilos de combate de títulos como as recriações de Resident Evil 4 e Dead Space ou The Callisto Protocol, por exemplo, podem não gostar tanto assim ou se frustrarem um pouco.

Ao contrário do foco mais voltado para a ação no primeiro título, Alan Wake 2 assume verdadeiramente a identidade de um survival horror, lembrando em diversos momentos elementos de jogos como Resident Evil, The Evil Within e Silent Hill. A gestão cuidadosa dos recursos se torna vital para a sobrevivência do personagem em um ambiente ameaçador, repleto de criaturas bizarras, proporcionando uma experiência imersiva e intensa ao jogador.

Combinando esta jogabilidade com os cenários amedrontadores e efeitos sonoros, resulta numa experiência muito assustadora, talvez o jogo mais intimador neste ano de 2023. O jogador experimenta breves momentos de segurança, especialmente ao adentrar salas seguras designadas para salvar o progresso e armazenar itens, lembrando uma sensação semelhante à encontrada em Resident Evil. Assim, estabelece-se uma dinâmica constante: se a luz está presente, é hora de buscar refúgio, caso contrário, fique vigilante diante de qualquer ameaça iminente.

Sendo assim, não há dúvidas de que a jogabilidade é muito prazerosa, com muitas coisas para se fazer, desafios para superar e sustos para levar (risos).

WAKE…!

É consenso que um excelente jogo de survival horror faz uso intensivo de efeitos sonoros para criar um ambiente capaz de instigar o medo nos jogadores. Esta prática é uma constante em diversas sagas na indústria, como Resident Evil, Dead Space, Silent Hill, entre outras, e em Alan Wake 2 esta abordagem é executada de maneira fenomenal. A maestria com que os efeitos sonoros são empregados neste título contribui significativamente para criar uma atmosfera envolvente, onde o suspense e a tensão se entrelaçam, oferecendo uma experiência verdadeiramente imersiva e arrepiante aos jogadores.

Os efeitos sonoros sinistros merecem uma atenção especial, pois é impossível não sentir arrepios. O ideal é encarar este jogo sozinho, no escuro e com fones de ouvido, assim você verá o quão tenebroso este jogo consegue ser.

Esta experiência assombrosa se aplica aos dois personagens jogáveis, mas atinge um ápice de intensidade ao jogar com Alan. No decorrer da “campanha” dele, o jogador se depara com inimigos que são vultos que perambulam pelos cenários. Ao avistarem Alan, eles sussurram aterrorizantemente o seu nome, algo que desperta um pavor no jogador. Este toque sutil, mas impactante, contribui para um clima de tensão e pânico, elevando a experiência a um nível ainda mais visceral e aterrorizante.

Além disto, o jogo incorpora diversos jumpscares, um recurso amplamente empregado em filmes e jogos, caracterizado por súbitas e intensas aparições de elementos assustadores ou surpreendentes. No caso de Alan Wake 2, esta técnica é executada por meio de combinações de sons e imagens. Embora alguns possam considerar este artifício um clichê, é importante ressaltar que há uma justificativa intrínseca à narrativa do jogo para a existência destes momentos e eles são empregados de maneira a não comprometer negativamente a experiência do jogador.

Dito isto, a parte sonora do jogo é verdadeiramente impecável, contribuindo significativamente para a atmosfera envolvente e assustadora de Alan Wake 2.

VELHO SCRATCH, SATANÁS, NOSSO SALVADOR!

A trilha sonora de Alan Wake 2 é uma experiência verdadeiramente cativante, proporcionando uma mescla de obras que abrange desde composições sombrias e emocionantes até faixas divertidas e empolgantes.

Vale ressaltar que várias músicas foram especialmente criadas para o jogo, adicionando uma camada única à experiência auditiva, evidenciando a criatividade e dedicação dos desenvolvedores. Destaca-se a presença marcante da banda fictícia “The Old Gods of Asgard” que contribui de maneira excepcional para a atmosfera do jogo.

Com suas músicas de rock sensacionais, a banda transforma momentos específicos do jogo em experiências verdadeiramente memoráveis e instigantes, elevando ainda mais o patamar da narrativa e proporcionando aos jogadores um componente audiovisual envolvente e único. Aqueles que tiveram a oportunidade de jogar o primeiro Alan Wake ou Control certamente compreenderão a essência do que está sendo dito aqui.

Em suma, o aspecto da trilha sonora se apresenta impecavelmente, algo que vem se aperfeiçoando conforme a Remedy desenvolve mais games.

DESEMPENHO DO JOGO

O computador usado para jogar Alan Wake 2, configurado no “médio”, infelizmente não atende nem aos requisitos mínimos necessários para executar o jogo. Abaixo estão as especificações da minha máquina:

NVIDIA GeForce RTX 2060
AMD Ryzen 5 56000 6-Core Processor
16 GB RAM

Apesar desta limitação, o jogo operou de maneira impecável, sem apresentar problemas na taxa de quadros ou qualquer outro comprometimento no desempenho. No entanto, é enfaticamente recomendado o uso de um SSD para otimizar a experiência.

É válido mencionar que algumas pessoas relataram problemas técnicos no jogo, tais como bugs, demora no carregamento de cenários e texturas ou o personagem cair dentro do cenário, dentre outras coisas. Entretanto, é importante ressaltar que estes contratempos não foram experienciados durante a minha jogatina.

Certamente um ponto complicado envolvendo Alan Wake 2 é a exigência de um hardware poderoso para rodar o jogo no PC, o que estabelece uma barreira para aqueles que desejam desfrutar plenamente da experiência no computador. A alternativa seria aprimorar o hardware existente ou optar por jogar o título em consoles, o que de qualquer forma requer uma grana. Uma lástima.

EU PRECISO ESCREVER!

Finalizado em 26 horas, Alan Wake 2 se destaca como uma sequência estupenda para esta saga promissora. Com um enredo formidável, jogabilidade prazerosa, gráficos deslumbrantes e uma trilha sonora ímpar, Alan Wake 2 supera seu antecessor em termos de atmosfera tenebrosa, consolidando-se como uma experiência imperdível para os entusiastas de jogos de horror de sobrevivência.

Uma sequência que merece os recentes elogios devido à sua execução espetacular e à coragem da Remedy em transformar radicalmente o gênero do jogo, desviando-se do tom mais voltado para a ação do primeiro game. Os próprios desenvolvedores descreveram o primeiro jogo como um thriller psicológico combinado com uma ação cinematográfica, algo mais próximo ao action horror, enquanto o segundo jogo é uma verdadeira jornada rumo ao survival horror, evidenciando a volta deste gênero perante as grandes empresas na indústria dos games.

Alan Wake 2 é mais uma criação incrível da renomada desenvolvedora finlandesa Remedy Entertainment, conhecida por produzir títulos magníficos como Max Payne, Quantum Break e Control.

A publicação ficou a cargo da Epic Games Publishing, e finalmente, em 27 de outubro de 2023, o jogo foi lançado para PC, PlayStation 5 e Xbox Series X|S. Vale ressaltar que, até o momento, a versão de PC está disponível exclusivamente na plataforma da Epic Games.

Alan Wake 2 foi analisado em versão digital para PC adquirida pelo próprio autor.

Colaborou com a revisão deste conteúdo: Natália Sampaio

Pontos positivos;
Estória intrigante;
Exploração imersiva;
Gráficos impressionantes;
Jogabilidade prazerosa.
Pontos negativos:
Alguns problemas técnicos;
Combate um pouco complicado.
10