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Aos fãs de Resident Evil: a empresa não é mercenária. Você que é otário.

Quantas vezes eu já ouvi que a Capcom é mercenária em todos esses anos nessa indústria vital? Já perdi a conta. E você, quantas vezes já leu nos comentários algum coleguinha possuído, escrevendo isso em caixa alta e com várias exclamações nervosas?

A Capcom acabou ficando com fama da empresa que quer o dinheiro fácil do consumidor “ingênuo”. Vende trocentos DLCs depois do lançamento do jogo, inventa zilhares de edições com conteúdo fatiado, protagonizou há alguns anos a treta do DLC que tava no disco… enfim, todo mundo conhece e todo mundo já viu outras empresas fazendo também. Virou rotina, nada de exclusividade nesse caso.

Agora a Capcom entrou na era das remasterizações. No começo era legal, especialmente para os fãs de Resident Evil. Eu mesma saí pulando pela casa quando descobri que ia jogar o Remake ainda mais lindo no meu PS3 (e futuramente no PS4) em vez de ficar me torturando no Dolphin, por exemplo. Era compra fácil – e foi mesmo, pra mim e pra muita gente. Ter acesso ao Remake era algo que eu desejava, há anos, e outros fãs também. Não é à toa que o título foi um sucesso de vendas digitais na PlayStation Store e na Xbox Live. Em outras palavras, existia demanda para Resident Evil Remake nas gerações passadas e atuais; a Capcom mirou em cheio nessa demanda e se deu muito bem.

Agora, as coisas estão meio estranhas. As remasterizações foram substituídas pelos “relançamentos”. Resident Evil 4, 5 e 6 estão a caminho do PlayStation 4 e do Xbox One. Resident Evil 4 é um jogo prestes a comemorar 11 anos de existência, contando agora com NOVE relançamentos, ports e remasterizações ao longo desse tempo. Resident Evil 5 é um campeão de vendas da Capcom, lançado “apenas” para PS3, Xbox 360 e PCs, além da versão Gold. RE5 era um jogo lindo na sua época, mas certamente hoje passaria como datado, especialmente pelos controles. Resident Evil 6 foi lançado em 2012 e, apesar das boas vendas, teve um desempenho abaixo do esperado e não foi tão recebido pela crítica. Por que um jogo que já foi remasterizado, portado e relançado tantas vezes precisa de mais uma edição depois de tantos anos? Por que um jogo que, apesar de bem recebido, vai ser relançado sem nenhum tipo de melhoria (partindo do pressuposto que nenhuma remasterização gráfica foi anunciada até então)? Por que um jogo que não foi bem recebido precisa ser relançado?

Você faz essas perguntas para si mesmo, mas ao mesmo tempo acha que a Capcom “é mercenária” por anunciar esse tipo de coisa?

Eu acho curioso o discurso do “isso é um absurdo, eles só querem lucro”. Olha, desde que eu me entendo por gente nesse universo, acho que ninguém faz joguinhos por caridade. Óbvio que existe respeito ao seu próprio trabalho, ao consumidor e ao fã no meio disso tudo, mas por que uma tentativa de ganhar dinheiro ofende as pessoas? Será que é um sentimento que surge por que elas pensam nos pobres consumidores ingênuos que caem nos contos da carochinha de anúncios desnecessários e sugadores de dinheiro?

Você acha que algum desses três relançamentos são atentados à sua inteligência? Acredita que o preço é abusivo? Não acha que é justo pagar 20 dólares (ou 150 reais) por um jogo que você já tem na estante há sei lá quantos anos?

Eu poderia cobrar por esse conselho, mas existe uma solução muito prática: não gaste seu dinheiro.

Assim, não sei se é novidade para algumas pessoas, mas o anúncio de um jogo de Resident Evil, mesmo para quem é super-ultra-mega fã, não é um mecanismo de tortura. Você não é obrigado a querer,  não é obrigado a comprar, e consome se quiser. Publicidade não é hipnose, gente. Ser fã não é assinar algum tipo de contrato que te obriga a comprar qualquer coisa que te empurrem goela a baixo. Algumas pessoas simplesmente reagem a um anúncio desses com tanto ultraje que parece que algum japonês sádico vai arrombar a porta da casa delas com uma arma e só sair de lá quando a compra tiver sido confirmada pelo cartão de crédito.

Só que, quando você fica revoltado, mas consome o oitavo relançamento de um jogo de onze anos, você diz para a empresa que existe uma demanda por aquele produto. E onde existe demanda, existe dinheiro. A Capcom entende que as pessoas querem aquilo e eles estão ali justamente para satisfazer os nossos desejos em troca de dindim. Se você não deseja relançamentos, remasterizações e outras coisas que “n” fãs aí simplesmente julgam como “dinheiro fácil”, não compre, não consuma. É bem fácil e economiza uma grana. Recomendo.

Não seja otário. Ser otário não é comprar as remasterizações ou relançamentos. Há quem deseje esses produtos, por uma série de motivos: não teve acesso à versões anteriores, vendeu o console antigo ou o jogo, ou simplesmente também quer ter aquele game novamente. O dinheiro é seu, faça dele o que quiser. Ser otário é esbravejar sobre como a política de DLCs e relançamentos é absurda, mas estar com o cartão de crédito a postos assim que a pré-venda é iniciada. A Capcom não lê o seu mimimi. No máximo eu e os membros da equipe vamos ler, e algum social media da Capcom vai ler. Uma empresa lê relatórios financeiros, baseados em números, em dinheiro. O seu mimimi não é estatística confiável. Especialmente porque você é otário.

O texto representa exclusivamente a opinião do autor e não da equipe REVIL.