Por que Resident Evil Revelations 2 é um passo na direção certa?

Fala pessoal! Este aqui é meu primeiro artigo na história do REVIL e quero já começar com o pé direito. Em outubro de 2013, um ano após o lançamento de Resident Evil 6, publiquei um artigo chamado A Ascensão e a Queda de Resident Evil, onde analiso toda a trajetória da série até 2013 e o porquê dela ter perdido tanto prestígio.

Um ano depois, considero justo reavaliar esse quadro com a chegada inevitável do promissor Resident Evil Revelations 2, spin-off que acabou se tornando uma sub-franquia. Vamos analisar porque Revelations 2 vem se apresentando um passo na direção certa na história de Resident Evil e como ela pode ajudar a recuperar o prestígio da série.

Contexto Histórico

Desde Resident Evil 4, a série vem dado ênfase aos elementos de ação, o que se refletiu tanto na história quanto no gameplay. Esse choque de realidades acabou assustando uma parcela dos fãs que preferiam o estilo clássico, com puzzles, backtracking e até mesmo os controles “tanque”.

O problema de manter a fórmula clássica é que basicamente a série estava enfraquecendo, especialmente na era Playstation 2/Game Cube. As mudanças que Mikami trouxe em Resident Evil 4 foram necessárias para manter a série relevante.

Porém, os sucessores Resident Evil 5 e Resident Evil 6 deixaram a peteca cair, cada vez mais se afastando do terror e abraçando mais elementos de ação, fora o pessoal de marketing da Capcom ter desenvolvido uma obsessão em repetir o fenômeno da franquia Call of Duty, o que acabou custando muito caro para a publisher e os jogadores, que ficaram com um gosto amargo na boca após Resident Evil 6 e Resident Evil: Operation Raccoon City, lançados em 2012. Porém, havia uma luz no fim do túnel, que foi o lançamento de Resident Evil Revelations para o 3DS.

O jogo era tido na época como exclusivo para o portátil da Nintendo e foi aclamado pela crítica justamente por abraçar mais os elementos de horror – mesmo que timidamente – enquanto se beneficiava dos avanços do gameplay trazidos desde Resident Evil 4.

Vendo que Resident Evil 6 iria falhar em atingir a meta de vendas e também ter sido rechaçado pela mídia gamística, a Capcom logo providenciou uma remasterização em HD de Revelations para os consoles da sétima geração e PC em 2013, a fim de observar sua recepção e entender o que os fãs realmente desejavam em um Resident Evil. Como resultado, Revelations teve boa recepção e atingiu as metas. Mas ainda faltava algo…

Em 2014, era esperado que a Capcom fizesse algum anúncio relacionado ao destino da série, em especial, a produção de Resident Evil 7, que já está acontecendo. Porém, após muitos rumores, idas e vindas, fomos agraciados com dois anúncios interessantes.

O primeiro é a remasterização de REmake, lançado para Game Cube em 2002. O segundo foi Resident Evil Revelations 2, que dá passos mais aparentes em busca de algo que resgate a essência de  um jogo que leve o nome Resident Evil.

O medo e terror como principal objetivo

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Desde o anúncio até tudo o que foi mostrado hoje, não podemos negar que Resident Evil Revelations 2 marca um passo mais aparente do retorno da série às raízes. Desde o design dos cenários até os inimigos e ambientação, tudo contribui para o jogo ofereça uma experiência mais satisfatória no quesito terror.

A Capcom precisa e deve atingir esse objetivo, uma vez que a concorrência está alta no gênero. Tivemos lançamentos como The Last of Us, The Evil Within, Outlast, entre muitos outros que estão por vir, como Silent Hills e Dying Light, que serão páreo duro contra Resident Evil.

Quando testei a demo na Brasil Game Show 2014, pude perceber que os encontros estão mais tensos – mesmo com a presença de um segundo personagem – e que os combates estão muito mais arriscados. É preciso saber usar efetivamente os pontos fortes de cada personagem para não morrer.

Diferentemente dos J’avos e Majinis, os “Afllicted” são ameaçadores e não hesitarão em estraçalhá-lo. Mesmo os Ooze no primeiro Revelations já me deixavam com uma sensação incômoda a cada encontro, especialmente nos momentos iniciais.

O fato da Capcom buscar abordar elementos psicológicos também pode contribuir para um enriquecimento do que será mostrado e jogado, uma vez que não entendemos a natureza das criaturas em Revelations 2. O foco agora não é repetir o sucesso de um Call of Duty, mas resgatar elementos que ofereçam uma experiência genuinamente tensa e assustadora.

Os personagens

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Uma das minhas principais reclamações com Resident Evil 5 e 6 é o fato dos personagens praticamente serem super-soldados e super-agentes destemidos e experientes, algo na veia dos filmes (que detesto, admito). É como se eles tivessem perdido a humanidade no combate contra o bioterrorismo, o que tira muito da autenticidade e compromete a identificação do jogador com eles.

Pare e pense: por que o elenco de Resident Evil 2 é um dos mais memoráveis da série? Justamente porque assumimos o papel de personagens que não tem o mínimo de experiência diante de uma situação devastadora como a que ocorreu em Raccoon City.

Leon Kennedy é um de meus personagens favoritos. Para mim, com o tempo ele ficou menos interessante, atingindo o ápice em Resident Evil 6, se tornando uma espécie de Chuck Norris moderno. Falas mínimas e poucos sinais de humanidade.

Para piorar a situação, eventos interessantes com ele foram deixados todos para ler em arquivos, e no jogo ficamos com toda a parte de um filme de ação de Michael Bay. Porém, Resident Evil Revelations 2 nos traz Claire Redfield de volta, esta sim, uma personagem experiente, mas ainda assim com sua humanidade intacta.

Claire é uma ótima representante das protagonistas femininas, porque é uma mulher forte que não é ilustrada como um objeto sexual. Ela é uma sobrevivente, mas ao mesmo tempo têm suas fraquezas e rancores, o que é visível quando ela encontra a primeira arma de fogo no jogo, e faz uma referência que denota o quanto Steve Burnside marcou sua vida.

Obviamente que Moira Burton não entende isso, porque ela é uma adolescente rebelde e busca provar seu valor. Já Moira, em meu ponto de vista, é uma especie de Jubileu, mas sem os poderes da mutante heroína dos quadrinhos. Seu visual não nega. E pela sua atitude abrasiva, duvido que Claire não se lembre de Steve ou mesmo Sherry, em tempos mais antigos.

A volta de Barry Burton também me deixa muito contente, porque mostra que a Capcom está escutando os fãs, e está tirando bons personagens do limbo. Personagens que não tiveram suas histórias expandidas e muitas vezes ficaram com desfechos em aberto ou finais ambíguos.

Aliás, isso é intencional por parte dos escritores da Capcom, uma vez que isso permite que seja possível usar o elenco que quiser em outros capítulos da série. Mas a volta de Barry é esperada, uma vez que sua filha está em perigo, obviamente que ele entrará em cena. Eu particularmente esperava uma Barry mais grisalho, mas só de termos a oportunidade de controlá-lo mais uma vez me deixa extremamente satisfeito.

O retorno do Partner Zapping System

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OK, pode ser que não seja um retorno explícito, mas a troca de personagens está lá. Resident Evil sempre teve a meta de ser uma experiência cooperativa, mas a maneira que ela foi implementada em Resident Evil 5 e 6 simplesmente não contribui para o todo.

A ideia original do criador Shinji Mikami era justamente usar os pontos fortes e fracos dos personagens para sobreviver. Nos jogos citados, essa característica simplesmente não existe, uma vez que a experiência cooperativa consiste apenas em juntar dois jogadores no cenário e mandar bala.

Em Resident Evil Revelations 2, a experiência se aproxima mais do que vimos em Resident Evil 0: temos dois personagens, mas devemos alternar entre eles para prosseguir no jogo. No caso de REV2, isso está mais visível nos combates: um diferencial importante está no fato de Claire usar armas e Moira odiá-las, se valendo da crowbar para se defender e a lanterna para cegar inimigos.

São duas dinâmicas diferentes de gameplay, que atendem a perfis diferentes de jogador inclusive. E no caso, o gameplay é complementado pela história, algo que foi implementado com sucesso em The Last of Us (perdoem-me a comparação).

Também será interessante observar a dinâmica entre Barry e Natália, uma vez que ela não possui capacidades de combate, servindo mais como um suporte ao veterano. Ela também poderá passar por locais de difícil acesso, como espaços pequenos e apertados ou mesmo dutos, enquanto Barry cuida do trabalho pesado.

O fato de termos dois cenários remete também à Resident Evil 2 e Resident Evil Code: Veronica. Me pergunto se as ações de uma dupla afetarão as da outra. Espero que a Capcom aproveite esta oportunidade para conferir maior longevidade ao jogo.

Gameplay Balanceado

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Quando testei Resident Evil Revelations 2 na BGS 2014, me senti muito confortável com os controles logo de cara. A curva de aprendizado foi menor que 5 minutos, o que é um bom sinal para quem está acostumado com esse tipo de jogo.

Senti que os comandos estão um pouco mais simplificados em relação a Resident Evil 6, o que é um bom sinal, uma vez que este último oferecia uma infinidade de opções mas execução péssima e que acabava até mesmo a atrapalhar meu gameplay.

Sinto que REV2 oferece algo mais consistente e mesmo que esteja mais voltado ao terror, não deixa para trás os avanços trazidos pelos títulos anteriores e outros jogos.

O Formato Episódico

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Estamos acostumados a comprar jogos pelo preço cheio e muitas vezes nem vem com todo o conteúdo. O formato episódio – consagrado nos últimos anos pela Telltale Games com seus jogos – vem como ótima opção para aqueles mais céticos que não desejam investir 60 dólares (ou 200 reais aqui no Brasil, dependendo) por algo que não vai deixá-los felizes.

O formato episódico também é uma ótima oportunidade para medir a aceitação do jogo e também facilita as coisas para jogadores que não têm tempo de investir horas a fio para jogar, sendo algo mais periódico. O preço também está atrativo.

Uma outra oportunidade nesse sentido é que as publishers podem adaptar futuros episódios e aplicar correções baseadas no feedback dos jogadores, porém, isso é algo muito pouco palpável agora, mas não deixa de ser uma alternativa para ser aplicada em futuros lançamentos, ainda mais que o mercado de jogos AAA está bem saturado.

Finalizando

Entendo que Resident Evil Revelations 2 não possa ser chamado de Resident Evil 7 pelo fato da Capcom buscar trazer mudanças chocantes com a série enumerada principal, mas não vejo motivo pelo qual este jogo não possa ser um capítulo enumerado.

São muitos passos na direção certa, e juntamente com Resident Evil HD Remaster, espero que a Capcom finalmente tenha noção do direcionamento que a série precisa. Há avanços a serem considerados, mas já é um começo.