Resident Evil 2 Remake: muita calma nessa hora!

O sonho de muitos fãs parece dar indícios que pode acontecer. Resident Evil 2 Remake, algo tido como impossível e fora dos planos pela própria Capcom, pode acontecer e o indício disso é a consulta que a Capcom fez no perfil oficial de Resident Evil no Facebook perguntando aos fãs o que eles pensavem sobre o assunto. Mas, muita calma nessa hora! Um Remake de RE2 pode ser mais misterioso e enigmático do que Ada Wong!

A publicação gerou milhares de comentários, e logo na sequência a empresa se mostrou empolgada com o suporte das pessoas a essa ideia, ou seja: mais do que nunca podem passar a considerar fortemente a possibilidade de fazer o remake de Resident Evil 2.

O hype train chegou, quase todos embarcaram e tem gente até no teto dele, mas sinceramente, eu tenho um receio enorme desse remake e não cheguei nem na plataforma de embarque desse trem. “Ih, lá vem o Ceraldi com mimimi” vocês vão dizer, mas antes de me apedrejar virtualmente, leiam o porquê de eu estar tão temerário com o possível remake de Resident Evil 2.

Antes, necessário…

Resident Evil 2 Remake - Artigo - Screenshot 001
O Remake de RE1 trouxe novidades para o jogo que vão além dos gráficos

Antes de mais nada, vamos falar do Remake de Resident Evil 1. Em 2002, a Capcom surpreendeu os fãs anunciando um remake do clássico RE de 1996. O jogo chegou trazendo novidades na história, gráficos e sons soberbos e a mesma linha de jogabilidade porém melhorada, mas não foi só isso.

RE1 foi um jogo pensado para ser único, sem continuação. Seu enredo é bastante fechado e dava poucas aberturas para continuações, mas para surpresa da Capcom o jogo fez um sucesso absurdo o que demandou por continuações, dessa forma, criou-se a necessidade de RE1 ser refeito dando as aberturas para as continuações que já haviam chegado ao mercado e feito um enorme sucesso. Além disso, o Remake de RE1 ainda trouxe uma narrativa mais dinâmica, novos elementos na história e as importantes ligações com o já desenvolvido futuro da história.

Óbvio que melhorias técnicas na parte gráfica, sonora e de jogabilidade eram necessárias, porque RE1 foi um jogo que envelheceu absurdamente mal. Mas além desses pontos, RE Remake também teve o importante adendo de que o criador original do jogo, Shinji Mikami, participou ativamente de praticamente todo o processo, garantindo que o Remake não perdesse a atmosfera e aura do jogo originais, mantendo a sua identidade, sua essência e seu legado.

… agora, dispensável

Resident Evil 2 Remake - Artigo - Screenshot 002
Vale a pena mexer com o que já está excelente?

Claro que, após ver a obra de arte que RE Remake foi, o desejo de muitos fãs desde 2002 passou a ser ver RE2 e RE3 ganhando o mesmo tratamento, mas se isso era algo necessário a RE1 por conta dos motivos listados acima, será que RE2 e RE3 precisam mesmo de um remake?

Basicamente, Resident Evil 2 já foi um jogo feito imaginando-se sequências, e por isso, ao contrário de RE1, ele é um jogo que entrega inúmeras possibilidades de continuações e traz um enredo bem mais aberto para isso, contando inclusive com um maior destaque para a Umbrella e seus mal-feitos que ocasionaram a completa destruição da cidade de Raccoon. Além disso, com um orçamento maior e já visando esses vôos mais altos, RE2 é um jogo que tecnicamente é bastante superior a RE1, mesmo com apenas dois anos de diferença, é notável até mesmo hoje que o segundo título da franquia deu um salto gigante em qualidade gráfica e sonora, além disso, os controles também foram refinados para dar um pouco mais de dinamismo ao gameplay, mas ainda sem perder a essência de RE1 e seus controles travados que favoreciam o puro terror.

Em resumo, não há motivos claros para dar a RE2 o mesmo tratamento que RE1 teve que passar para se adequar a uma franquia que rapidamente se tornou muito maior do que os produtores imaginavam. O principal motivo para o retrabalho em cima de RE1 que foi seu enredo fechado e que dava pouca margem para continuações, não está presente em RE2, que apesar de dar o primeiro nó na cronologia (Claire A, Leon B; Leon A, Claire B), mantém a sua linha de desenvolvimento de enredo bem clara mostrando que a história iria se desenvolver para algo maior do que apenas algo relegado a alguns locais isolados na cidade de Raccoon.

“Já avisei que vai dar m****”

Estamos vivendo uma geração que parece focada em remakes e versão remasterizadas, acho que todo mundo já percebeu isso. E acredito que os meus receios quanto a um remake de RE2 sejam mais ou menos os mesmos que os fãs de Final Fantasy tem com relação ao Remake de Final Fantasy VII. Ambos são jogos que marcaram uma geração e são considerados obras-primas dentro de suas franquias, inesquecíveis até hoje, e os remakes de ambos os jogos tem muito em comum e algumas diferenças.

Ambos são jogos com quase 20 anos, de lá pra cá, suas mecânicas obviamente ficaram ultrapassadas, e ao se pensar em um remake, inevitavelmente vem o pensamento de uma nova mecânica, e é justamente aí que a produção fica em uma tênue linha que delimita o bom do ruim.

Um remake nos moldes do remake de RE1, seria o cenário perfeito para os fãs antigos: manter a jogabilidade travada, ângulos de câmera fixa que contribuem para os sustos e o suspense, mantendo de forma mais simples a mesma atmosfera apresentada no RE2. Ok, a receita parece fácil, mas é importante lembrar que RE Remake foi lançado em 2002, em uma época em que essa fórmula ainda dava certo e não se mostrava tão saturada. Nos dias de hoje, onde após o vanguardista RE4 abrir um enorme leque de possibilidades com a câmera over the shoulder, uma geração inteira de jogadores foram acostumadas a jogar com esse estilo de gameplay, e trazer um novo jogo com a antiga fórmula de Resident Evil poderia ser um enorme tiro no pé, além de não explorar de forma satisfatória todo o poderio gráfico que os consoles da atual geração tem a oferecer.

Ao mesmo tempo, um remake de Resident Evil 2 que modifique sua estrutura e traga um gameplay com câmera em terceira pessoa, pode simplesmente destruir a atmosfera do jogo. Claro que temos bons exemplos de jogos de survival horror que trazem a câmera em terceira pessoa e mesmo assim são fantásticos, The Last of Us, Dead Space 1 e 2, Tomb Raider, e até mesmo RE: Revelations 1 e 2 fazem isso muito bem. A questão aqui, não é se o jogo vai ficar com nessa mecânica, mas sim se sua essência vai ser mantida, e a questão que levanto é justamente essa.

Mais um ENORME contra

Hideki Kamiya, o diretor de RE2 não está mais na Capcom, assim como Mikami e Sugimura
Hideki Kamiya, o diretor de RE2 não está mais na Capcom, assim como Mikami e Sugimura

Outro grande problema na produção de um remake de Resident Evil 2 é: quem são as pessoas que vão tocar o projeto e ficar responsáveis pelos principais aspectos da produção? Com RE: Remake, tudo foi feito por boa parte da equipe que fez o jogo original de 1996, sempre sob a batuta de Shinji Mikami.

Como sabemos, Mikami saiu da Capcom, mas o problema não é “apenas” a sua ausência, Hideki Kamiya que fora o diretor do jogo, também não está mais na Capcom, bem como Noboru Sugimura que foi responsável pelo roteiro mas que infelizmente já faleceu a mais de 10 anos.

Colocar uma obra tão perfeita para ganhar um remake pelas mãos de outras pessoas que não os responsáveis originais por ela, é no mínimo perigoso, e é mais um dos motivos pelos quais eu temo ver o legado e o “espírito” de Resident Evil 2 sendo maculados.

Sim, exisge muita gente competente na Capcom hoje em dia, a prova disso é que Resident Evil: Revelations 2 foi um baita jogo e parece que está devolvendo a franquia de volta para os trilhos dos quais ela nunca deveria ter saído, mas a quem confiar uma nova versão da Monalisa se não ao próprio Leonardo da Vinci?

Com certeza, por mais competente que outros artistas sejam, jamais farão a Monalisa como a de da Vinci, e é exatamente isso que penso sobre Resident Evil 2 Remake.

Pelos motivos certos

Se for só pelos gráficos, jogue RE: The Darkside Chronicles no PS3
Se for só pelos gráficos, jogue RE: The Darkside Chronicles no PS3

Se Resident Evil 2 Remake realmente sair do papel, apesar dos meus receios, é claro que desejo queimar fortemente minha língua e ver um resultado brilhante que não macule todo o legado de Resident Evil 2.  Mas acima disso, o desejo é que o remake não saia apenas para dar um upgrade gráfico no jogo.

A geração de jogadores atuais é muito ligada em gráficos. “Aff que lixo não roda a 60fps”; “Credo, esse jogo não tá em 1080p”, são apenas algumas das frases que diariamente lemos por aí a respeito de diversos jogos que são excelentes mas que recebem críticas apenas por sua “cara”.

Óbvio que um remake de RE2 pode e deve ser lindo, isso é o mínimo que a empresa deve apresentar ao fazer uma nova versão daquele que ainda é um dos seus maiores jogos de todos os tempos, mas se o remake vier, ele deve ir além de apenas ser uma repaginada visual.

RE2 traz uma trama bem complexa, com o envolvimento dos dois protagonistas em meio a sujeira da Umbrella. Além disso, temos a participação fundamental de personagens como Ada Wong, Sherry, Annette e William Birkin, Brian Irons e até mesmo HUNK. Então, que aproveitem o ensejo para entrelaçar ainda melhor essas histórias, aproveitando o arco que foi construído posteriormente no enredo, e dando mais profundidade e explorando dramas pessoais de perosnagens, como o que ocorreu em RE Remake com a adição da história da família Trevor, que pode ser um excelente parâmetro para um aprofundamento da história dos Birkin, por exemplo.

Apesar de parecer que estou torcendo contra, é claro que se o jogo sair o meu desejo é que ele seja o melhor possível, e o jogarei com a mesma paixão que joguei praticamente todos os jogos da franquia. Apenas expus uma série de fatores que me fazem ficar com o pé atrás com esse remake, mas keep evil, e que se vier esteja a altura daquele que pra mim é o melhor Resident Evil já lançado e traga novidades que façam valer a pena essa nova versão, sem é claro, perder a essência.

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