Análise: End of Zoe, DLC de Resident Evil 7

End of Zoe é a última DLC paga de Resident Evil 7. O conteúdo veio como uma resposta da Capcom aos fãs insatisfeitos com a impossibilidade de salvar Zoe Baker durante a campanha do game. O final canônico de Resident Evil 7 implica em escolher curar Mia Winters, enquanto a filha dos Baker é deixada para trás sob o domínio de Eveline.

A análise a seguir pode conter spoilers para aqueles que não jogaram End of Zoe.

Embora a DLC seja sobre Zoe, o conteúdo surpreende ao inserir um novo protagonista: Joe. Inicialmente sem sobrenome e descrito apenas como um homem de natureza bruta e selvagem, Joe é, na verdade, tio de Zoe e irmão de Jack Baker.

Esta natureza “selvagem” de Joe abre espaço para as mecânicas escolhidas para o gameplay da DLC. Antes do lançamento de End of Zoe, ficamos sabendo que o protagonista “lutaria com as próprias mãos” – só não se sabia que seria algo tão literal assim.

Joe não dispara um tiro sequer, não usa nenhuma arma de fogo. Ele resolve tudo na base da porrada. No soco, literalmente mesmo. Em End of Zoe, você usa os dois gatilhos do joystick para controlar os punhos direito e esquerdo do personagem e golpear os Mofados com socos. Em Not a Hero, Chris está encapuzado até os dentes para não entrar em contato com o agente biológico de Resident Evil 7, mas Joe Baker não tem problema em sujar os punhos com um mofo mortal.

Essa situação absurda acaba ficando um tanto ridícula até mesmo para os padrões mais toscos de Resident Evil, incluindo os de RE7 (que levou exageros em nome do gore ao extremo). O gameplay se torna um ciclo infinito de esmagar os gatilhos esquerdo e direito para encaixar socos e pisões nos vários inimigos que Joe encontra pela frente. Com os punhos do personagem na frente da tela, muitas vezes é comum o jogador perder a noção de onde o inimigo está ou se ele irá atacar o personagem no meio dos socos.

A DLC inclui um pouco de jogabilidade furtiva, mas que acaba funcionando bastante mal, já que os Mofados tem padrões de movimento bastante previsíveis e estão convenientemente sempre virados de costas para Joe em algumas partes do cenário. É preciso ser muito descuidado para ser visto quando o gameplay impõe situações óbvias de stealth. Os momentos mais divertidos e tensos ficam para as partes em que é necessário entrar nas águas do pântano e evitar os vários crocodilos escondidos e à espreita.

Joe também pode criar armas a partir de objetos encontrados no cenário, incluindo bombas de sucata e lanças que podem ser arremessadas, o que pode se tornar bastante útil quando se formam grupos de inimigos. Esses pontos adicionam elementos interessantes ao gameplay, que, aliás, poderia ser totalmente baseado nisso: coletar recursos para fazer armas customizadas e ou usar o que o ambiente fornece para sobreviver. Os punhos até poderiam ser usados, mas como um recurso extra, algo como o que foi aplicado em Not a Hero.

Algo extremamente frustrante em End of Zoe é forçar o jogador a ter que matar todos os inimigos para passar de algumas partes. Caso existam inimigos vivos em uma área e você decidir correr para uma porta bloqueada (aberta na base do soco, claro), o jogador é impedido e surge um aviso “é necessário derrotar todos os inimigos primeiro”. É bastante estranho simular uma situação de sobrevivência e furtividade, com um personagem que sequer usa armas, e ao mesmo tempo impedir o jogador de fugir. É o tipo de cagada de level design que tira totalmente a imersão, ainda que você esteja imerso em uma situação estapafúrdia como matar armas biológicas com socos.

Estapafúrdia e conveniente também é a existência de uma manopla criada pela Umbrella para o carregamento de peso, ao que tudo indica, que acaba sendo usada por Joe para turbinar os socos desferidos contra os inimigos. A “arma” se torna útil principalmente na batalha final. Comparações com o Doomfist de Overwatch são totalmente inevitáveis.

Assim como Not a Hero, End of Zoe fica devendo explicação para muita coisa. Joe sabia que haviam monstros no pântano e que devia ser por isso que os helicópteros da Umbrella viviam rodeando a região. Esse processo começou há mais ou menos três anos, quando Eveline chegou, e nesse meio tempo Joe nunca sequer cogitou em saber se seu irmão e os sobrinhos estavam em perigo? Será que os dois tinham uma relação ruim ou eram brigados? Não se sabe. Joe parecia ter uma ligação especial com a sobrinha Zoe, mas ela também nunca pensou em procurar o tio quando a família se viu dominada pelo controle de Eveline? Por que Joe é tão bom de briga? Ele era pugilista ou algo assim? Sei lá.

A DLC surpreende com o retorno de Jack Baker como um nêmesis, que não exatamente persegue Joe, mas aparece em boss fights armadas e previsíveis. Obviamente, tudo é resolvido na base do soco, de ambos os lados. Jack ganhou um design bizarro e até certo ponto criativo, com vários insetos aderidos ao corpo, criando um aspecto bastante nojento.

O único ponto que acaba sendo explicado é como Jack Baker sobrevive mesmo depois de tantas transformações e ter sofrido tantos danos. Um dos files da DLC explica que ele recebeu uma capacidade regenerativa incomum quando comparado aos outros infectados. Jack se torna praticamente indestrutível, mas não é páreo para as lanças e a manopla de Joe.

Um ponto positivo para End of Zoe é realmente dar uma conclusão satisfatória para a história da personagem. Ainda que Not a Hero faça links com a trama externa e conspiratória que pegou os Bakers e feche as pontas com Lucas, ficaria um gosto amargo em saber que Zoe simplesmente foi deixada para trás por Ethan. A cena final de Not a Hero dá a deixa para o resgate de Zoe e, de forma melhor trabalhada, o clipe já poderia responder qual seria o final da personagem.

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No mais, End of Zoe infelizmente é como as outras DLCs pagas de Resident Evil 7: dispensável. Nunca um passe de temporada (tão caro) foi dinheiro tão mal gasto.

End of Zoe - DLC de Resident Evil 7
Pontos positivos:
Conclusão satisfatória para a história de Zoe Baker;
Chefe surpreende.
Pontos negativos:
Gameplay "esmaga botão";
Stealth fraco;
Trama superficial.
5
Risível e dispensável