CONEXÃO CAPCOM – Análise – Devil May Cry (Nintendo Switch)

Como já não bastasse a Capcom praticamente dominar os lançamentos do começo de 2019 com Resident Evil 2 e Devil May Cry 5, a companhia vem surpreendendo também os donos do Nintendo Switch com alguns relançamentos bem bacanas – já que ainda não dá pra contar com esses dois primeiros medalhões. Neste ano, os fãs com Switch tiveram Resident Evil Remake, Resident Evil Zero e Resident Evil 4 para o console. Agora, primeira vez, nós temos o capeta chorando em um console da Nintendo: o primeiro Devil May Cry, lançado originalmente em 2001 (PlayStation 2), recebeu sua versão para o híbrido – para quem não sabe, é um videogame meio portátil e meio para tela grande.

A análise foi feita totalmente sem spoilers do game. Leiam à vontade!

Enredo

Há muitos anos atrás existiu um poderoso demônio chamado Sparda, habilidoso espadachim e guerreiro do inferno, conhecido sob a alcunha “Legendary Dark Knight“. Em algum momento de sua vida, ele “despertou para a justiça” acabando com a tirania causada pelo imperador das trevas, Mundus, derrotando e selando o algoz, resultando em um momento de paz. Sparda passou a viver no mundo dos humanos, onde teve um relacionamento amoroso com uma humana, do qual o milagre da vida lhes permitiu gerar dois filhos: Dante e Vergil.

Dante, o “lendário caçador de demônios” mais conhecido dos games e protagonista do game, tem uma loja chamada “Devil May Cry” onde recebe serviços especiais de clientes peculiares. Em uma bela noite uma misteriosa mulher chamada Trish aparece em seu estabelecimento solicitando seus “serviços”… para logo em seguida merendar Dante na base da porrada atacar Dante, causando danos aparentemente fatais (entre eles, o de empalar Dante com a própria espada).

Só que o sangue demoníaco que corre nas veias do homem de cabelos brancos lhe confere poderes sobrenaturais, o que o faz sair totalmente ileso e ainda com vantagem da situação. Ao confirmar suas suspeitas sobre os poderes de Dante, Trish remove seus óculos escuros – ato do qual deixa o homem parcialmente perplexo e surpreso, pois a mulher tem uma grande semelhança física em relação a sua falecida mãe.

Ambos partem para uma região conhecida como Mallet Island, local onde o antigo rival de Sparda, o demônio Mundus, está planejando retornar. A ilha está infestada de demônios e cabe ao nosso querido homem de jaqueta vermelha explorar e investigar o ambiente.

Gráficos

Como um jogo da era PlayStation 2, é normal observar alguns aspectos nos gráficos e gameplay. Durante as cutscenes, é fácil perceber um evidente serrilhamento nas texturas, câmeras fixas que remetem aos Resident Evil clássicos, além movimentos do protagonista serem um tanto rígidos, ainda mais se compararmos aos títulos mais recentes – como o aclamado Devil May Cry 3 e o mais recente Devil May Cry 5.

Mas nada disso tira crédito do game: jogar a aventura original de Dante em um console portátil ainda mais dando aquela cagada que dá tempo de fazer 3 missões é uma maravilha! O “meu eu de 15 anos atrás” nunca acreditaria que isto um dia seria possível. O jogo roda a 30 frames por segundo e em resolução 720p, tanto no modo portátil quanto no modo dock, mas mesmo com as baixas especificações ratifico que jogar no modo portátil me causou um brilho nos olhos do qual não sinto desde que Resident Evil 2 Remake foi anunciado.

Jogabilidade

A idade do jogo se traduz no gameplay, que é bastante diferente em relação aos games mais recentes da franquia. Há um foco menor no combate e há muito mais exploração, backtracking e resolução de simples puzzles, o que dá uma sensação maior de que Dante está lá para investigar atividades demoníacas, não apenas meter a bicuda até fazer o diabo chorar matar demônios de forma estilosa.

Por falar nisso, os “Style Points” dos combos são menos complexos: basta ficar atacando várias vezes sem pausas e sem tomar danos – o STYLISH  logo aparecerá. Algo natural, pois apenas existem efetivamente duas armas físicas no jogo (basicamente todas as espadas compartilham os principais ataques, o que sobra de diferente apenas o combate marcial). No entanto, existem MUITAS armas de fogo, o que permite uma certa variação na hora de meter pipoco em demônio safado no combate de média e longa distância.

Admito que em alguns momentos a câmera fixa sem controle direto me trouxe alguns problemas no combate, mas depois do primeiro Boss, peguei o costume dos comandos e jeitão arcaico do game, o que me permitiu apreciar mais a jogatina.

As várias Missões são na realidade checkpoints para salvar o game: caso encerre a jogatina, só é possível continuar no começo/fim de uma “tarefa” – caso o personagem morra, gastará um Yellow Orb e retornará na sala antes do local de sua morte. Sem Yellow Orbs, o jogador será recebido pela tela de Game Over e votará para a tela título.

Mesmo na dificuldade padrão, o jogo apresentou um certo desafio até eu descobrir que existe um combo em particular que derrete a barra de vida de bosses mas fiquei um pouco chateada pela pequena duração da campanha principal: em menos de 5 horas é possível finalizar a história, embora o jogo permita desbloquear novas dificuldades, além de conquistas internas.

A Origem do Choro

Muitos sabem que todo o processo de criação desse primeiro Devil May Cry nada mais veio do que seria um possível novo título de Resident Evil, em 2001. Essa história começou com as várias versões betas que esse suposto título RE teve antes de seu lançamento – que posteriormente seria o clássico Resident Evil 4.

No começo, Resident Evil 4 estava sendo planejado para ser lançado no PlayStation 2, entre os anos de 1998 e 2000, antes da Capcom acertar um acordo de exclusividade da franquia com a Nintendo, passando o lançamento inicial para o Nintendo GameCube.

Os primeiros betas criados para o novo título fugiam totalmente da essência que Resident Evil trazia ao longo de seus jogos já lançados e consolidados no mercado. Ao total desse processo, foram realizadas quatro betas:

1ª Beta – Projeto totalmente desconhecido: essa parte do projeto é totalmente desconhecida por não haver muitas informações sobre ele, nem mesmo em entrevistas com os responsáveis pelo título na época, como o produtor Hiroyuki Kobayashi. A única coisa que sabemos é que essa primeira fase seria de um game com a essência clássica de Resident Evil, porém foi descartada imediatamente, pois com o avanço da tecnologia na época, o produtor queria algo novo para a franquia.

2ª Beta – “Devil Evil”: após o descarte dessa primeira fase, vendo que realmente tudo aquilo fugia totalmente da proposta original, o produtor teve a ideia de juntar a essência de Resident Evil, porém entregando algo novo para a franquia, criando esse novo beta. Porém, foi outra fase que fugia totalmente da mecânica nova que o produtor queria, o que fez esse projeto também fosse parado.

Ele não foi descartado, e nas mãos do produtor Hideki Kamiya virou a franquia de hack ‘n slash mais conhecida de todas: Devil May Cry. Há quem diga que Leon S. Kennedy e Dante são realmente parecidos nesses dois jogos. E não é que são mesmo?

Dante seria o personagem de Resident Evil 4 com o enredo de ser um detetive que investigaria um assassinato em um castelo. Sua franja foi reaproveitada em Leon e o design inicial do seu cabelo também foi para Dante em Devil May Cry.

Seus “poderes”, alucinações e aspectos sobrenaturais vistos no famoso Resident Evil 3.5 seriam explicados cientificamente, e não pela parte sobrenatural, como vimos em DMC – tudo isso seria parte da trama principal de Resident Evil 4. A jogabilidade seria baseada na dinâmica de ângulos fixos de câmera, como visto nos primeiros Resident Evil e seguiria algo mais fluído que o seu antecessor, Resident Evil CODE: Veronica, recém lançado na época.

Após esse beta e o início da criação de Devil May Cry, o novo título do Resident Evil teve um longo período de produção, obtendo mais dois betas chamados “Progenitor” e “Alucinações” até ter sua primeira demo estabelecida – já sendo reconhecida como o Resident Evil 4 que vemos hoje.

Para saber tudo sobre esse processo longo que foi a criação de Resident Evil 4 e o nascimento de Devil May Cry, é só clicar aqui!

Resident Evil versus Devil May Cry

Durante toda a jogatina de Devil May Cry, realmente dá para perceber algumas semelhanças da nossa franquia de zumbis tão querida, e parece que foram deixadas lá propositalmente, relembrando de onde o game surgiu.

Os cenários dos castelos, por exemplo, são totalmente iguais ao de Salazar.

A fonte principal dos textos de Devil May Cry é bem semelhante a fonte de textos de Resident Evil 4.

E essa porta gigante então… Lembram de algum lugar assim?

Outro ponto bem óbvio que os produtores deixaram como referencia meio que propositalmente foi neste cenário aqui. ÓBVIO, NÃO?

Vergil está mais para Albert Wesker do que para Vergil mesmo (risos).

Toda fuga final de Devil May Cry se assemelha muito a também fuga final em Resident Evil 4.

ENTÃO ME PROVES QUE TU ÉS O FILHO DO CAPETA SPARDA! – Vale a pena?

Divertido e um excelente desestressante, essa versão Devil May Cry pode ser uma boa opção para quem ainda não teve o primeiro contato com a franquia ou para que deseja conhecer a sua origem, já que muitos começaram recentemente com Devil May Cry 5.

Devil May Cry está sendo vendido somente em formato digital pela Nintendo eStore. O jogo também existe em uma coleção para Playstation 3, Playstation 4/4 Pro, Xbox 360, Xbox One/One X e PC (Steam).

Análise feita em conjunto por Paloma Cristini e Aluísio Teixeira.
Todas as imagens de Devil May Cry usadas na analise foram retiradas do game rodando no Switch.

O texto não representa a opinião do REVIL como um todo, e sim dos autores da análise.

Devil May Cry (Nintendo Switch)
Pontos positivos:
Mantém a magia de um clássico da era PS2;
Modo portátil é um enorme adicional;
É um Devil May Cry.
Pontos negativos:
Controles podem parecer arcaicos demais para novos jogadores;
Campanha curta e poucos desbloqueáveis reduzem drasticamente o fator replay;
Câmera fixa as vezes atrapalha demais no combate;
Games em vários idiomas e legendas, menos em português.
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