Crítica – Resident Evil Condenação

Resident Evil Condenação ou Resident Evil: Damnation é o segundo filme de animação em computação gráfica da franquia RE, sendo precedido por Resident Evil Degeneração (Degeneration), que foi lançado em 2008.

O longa foi lançado envolto em muitos mistérios. Pouco se sabia sobre o seu enredo e sobre os perosnagens que estariam presentes na trama. De certo, apenas a presença de Leon S. Kennedy como personagem principal, e algumas outras poucas informações como por exemplo de que o filme se passaria em uma zona de conflito no Leste Europeu além de nomes e curtas descrições dos personagens secundários que iriam interagir com Leon.

O mistério em torno dos detalhes do filme, aconteu muito pelo fato de o título ter tido uma divulgação pequena na mídia, talvez isso pelo período em que seu lançamento foi marcado – o mesmo período do filme de Paul Anderson, Resident Evil 5: Retribuição, e do jogo Resident Evil 6, ambos com enorme apelo entre os fãs e na mídia, fazendo com que o lançamento de RE: Condenação fosse sufocado por estes dois gigantes.

Aspectos Técnicos

Quase todo mundo que assistiu a RE: Degeneração tem ainda bem fresco na memória o “boneco de cera” que batizaram de Leon S. Kennedy. Pois é, felizmente, ele ficou no passado e não deixou saudades. RE: Condenação dá uma aula a seu antecessor no quesito visual. Obviamente, não podemos esperar que o filme faça com que confundamos a realidade com animação, mas fica evidente, desde o primeiro minuto, que a qualidade técnica de Condenação está muito à frente de Degeneração. Muito se deve, de fato, à evolução da tecnologia nesses quatro anos que separam os dois longas. Mas, além disso, notoriamente houve um maior cuidado na hora da renderização de personagens, cenários, objetos e na hora da aplicação de texturas.

Essa maior qualidade gráfica, fica ainda mais evidente quando observamos a complexidade dos cenários e das B.O.W.s presentes em Condenação. A cidade, as construções, ambientes internos extremamente bem trabalhados, texturas de roupas, cabelos, efeitos de iluminação e até partículas de poeira são apresentadas de forma bastante competente. Obviamente que a diferença visual entre RE: Condenação e os jogos top no quesito gráfico ainda existe e em alguns momentos mostra-se grande, mas há lampejos de brilhantismo que por vezes, podem nos fazer lembrar das cutscenes mais bem trabalhadas de alguns dos melhores jogos dos consoles mais modernos.

A ambientação sonora do filme também deu um salto de qualidade enorme em relação a Degeneração. Sons ambientes se fazem presentes de forma mais harmoniosa, sem falar nos efeitos sonoros provenientes das cenas de ação, que aliados a uma trilha sonora poderosa, fazem com que o telespectador seja transportado para dentro da cena, tamanha sensação de imersão em alguns momentos.

Enredo e Ambientação

RE: Condenação tem um enredo bastante grandioso e de certo modo complexo, lembrando em muito a evolução que a série de jogos teve nesse sentido, tendo em Resident Evil 6 um expoente de grandiosidade e abrangência de enredo. Ao contrário do seu antecessor – até pelo cenário em que os filmes se passam, podemos notar uma grande preocupação com a ambientação local. Houve de certo, um grande trabalho de pesquisa visual para reproduzir da forma mais assertiva uma cidade do Leste Europeu. Aliás, não só na caracterização local, mas a ambientação política também mostra-se bastante fiel a algumas das instáveis repúblicas situadas no Leste do Velho Continente.

Alianças complicadas, interesses obscuros, e a guerra – as vezes velada pelo poder, tornam o enredo de RE: Condenação, algo um pouco mais adulto do que estamos acostumados a ver na franquia Resident Evil como um todo. Mesmo que em alguns dos jogos antigos e até mesmo em RE: Degeneração tivéssemos em vários momentos guerras pelo poder, é a primeira vez que a franquia explora isso colocando na linha de frente políticos importantes e líderes militares de primeira linha.

Toda essa mistura de instabilidade, poder, jogo de interesses, com a adição de B.O.W.s, torna o cenário geral do longa uma bomba relógio prestes a explodir, e é nesse contexto que Leon é enviado par ao local para investigar eventos envolvendo a compra e venda de armas biológicas em meio a uma guerra cívil na república Eslava. Além de todo esse macro cenário, há também toques bastante pessoais no enredo, principalmente sob a ótica de Leon e do outro protagonista do filme, Buddy. Os dois personagens interagem durante quase todo filme e tem suas jornadas e experiências pessoais exploradas em meio a guerra civil da república Eslava. Momentos de tensão envolvendo os dois são bastante constantes, e adicionam ao filme um toque realista e uma desconfiança necessária, que aliadas ao clima de instabilidade política e militar, fazem de RE: Condenação não apenas um filme de combate ao bio-terrorismo, mas também um filme onde as experiências pessoais e relações entre os personagens podem fazer com que o rumo da história mude a qualquer momento. Ainda mais quando no meio de toda essa instabilidade de poder e a tensão gerada pela falta de confiança entre Leon e Buddy, adicionamos Ada Wong, que na trama representa um outro grande ponto de tensão, que de certa forma interliga Leon, Buddy, a guerra civil e as B.O.W.s, mas sem se posicionar de nenhum dos lados, ou seja: Ada Wong agindo como Ada Wong.

Outro ponto importante que vale ser destacado, são as B.O.W.s presentes no filme, com destaque especial para os Lickers e Tyrants. Se você achou os lickers de RE5 agressivos, esqueça, os linguarudos babões de RE: Condenação fazem com que seus “primos” de RE5 pareçam bichinhos de estimação. É impressionante também o capricho na construção dos Lickers, com texturas muito bem definidas, eles estão nojentos como sempre e assustadores como nunca. Há até uma cena em que Leon, ao adentrar em um hall cheio de soldados trucidados, vê gotas de sangue caindo do teto, onde está um Licker – cena com clara referência a primeira aparição da criatura na franquia, em Resident Evil 2. Os Tyrants são um espetáculo a parte, e a exemplo dos Lickers, estão mais assustadores do que nunca. Em um modelo que lembra muito o Tyrant T-103 (Mr. X  de RE2), eles estão maiores, e há inclusive uma batalha em que Lickers e Tyrants se enfrentam de forma bastante brutal e sangrenta. Também a exemplo do que acontece em RE2, o Tyrant possui uma roupa limitadora de poder, e ele também se transforma em Super Tyrant, e essa criatura é capaz, dentre outras coisas, de pegar um tiro de Rocket Launcher com a mão e mudar a sua tragetória, reprisando o que o T-103 de RE: The Darkside Chornicles é capaz de fazer.

As falhas

Em um filme que retrata uma guerra civil, as cenas de ação são bastante frequentes e em sua grande maioria, muito bem elaboradas e exploradas, mas, há momentos em que estas cenas de ação são simplesmente quebradas. Quem assistiu a Resident Evil 4: Recomeço, sabe bem do que estou falando: uma cena de ação no seu ápice é quebrada para que um detalhe quase que irrelevante da cena ganhe o o foco. No caso do filme de Paul Anderson, isso ocorreu por conta do uso – exagerado e desmedido da tecnologia 3D, e em RE: Condenação é provável que se trate da mesma falha, já que, o filme tem versões em Blu-Ray 3D.

Outro ponto bastante controverso, provavelmente só vai ser percebido por aqueles que conhecem a história da franquia Resident Evil um pouco mais a fundo. Após RE4 e RE5, ficou bem claro que, para assuntos de segurança nacional que envolvessem descrição e investigações mais silenciosas, Leon seria o escolhido justamente por sua posição e experiência no assunto – vide eventos de Operation Javier – de RE: The Darkside Chronicles, e eventos de Resident Evil 4. Já para eventos que envolvessem guerras civis, ou problemas de maior proporção, o enviado deveria ser Chris Redfield, um dos fundadores e mais importantes membros da BSAA, responsável por combater a proliferação e o contrabando de armas bio-orgânicas ao redor do mundo. Nesse cenário, é muito mais lógico que a BSAA fosse enviada para a república Eslava, que vivia um cenário de guerra civil com o envolvimento de B.O.W.s. De fato, a presença de Leon faz bem menos sentido do que a de Chris, não só por isso, mas também pela ligação direta que poderia ser feita entre os eventos na república Eslava e os eventos em Edonia, local para onde Chris e um esquadrão da BSAA são enviados logo no começo de Resident Evil 6.

Talvez a escolha de Leon para o papel principal, tenha sido feita para que o clima instável gerado por governo – guerra – B.O.W – Ada Wong seja maior ainda, devido ao envolvimento do agente do governo americano com a espiã, além do fato que, Leon atua praticamente sozinho, tornando tudo mais tenso, mais problemático e mais difícil, já Chris teria o suporte de um esquadrão da BSAA, o que facilitaria a tomada do controle.

Conclusão

Resident Evil: Condenação é não só um bom filme, como um bom filme de Resident Evil, e para isso não foi necessário copiar a torto e a direito inúmeros elementos dos jogos, ou trazer novamente a tona fatos do passado para que o longa tivesse um apelo com o público da franquia. É um filme independente dos jogos, mas que deixa algumas pontas para a ligação com os mesmos. Algumas referências e clichês (sim, eles são necessários em muitos casos), fazem com que os fãs que acompanham a franquia a mais tempo, tenham certeza de que cuidados foram tomados para que, apesar da independência, RE: Condenação não fosse apenas uma ilha perdida e distante do restante dos games.

 

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