O REVIL teve a oportunidade de entrevistar a voz por trás da dublagem brasileira de Ashley Graham, de Resident Evil 4 (2023), Michelle Giudice. A profissional nos contou um pouco de seu processo de criação, influências e sobre a experiência em aproximar a filha do presidente norte-americano do público em português do Brasil.
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Abaixo você pode ler a transcrição da entrevista, onde algumas leves modificações foram feitas em relação à gravação para um melhor entendimento, mas tudo permanece fiel ao vídeo.
REVIL: Você já conhecia a franquia Resident Evil antes de trabalhar no jogo?
MICHELLE GIUDICE: Então, não e sim. Eu nunca tive videogame, então eu nunca fui desse universo. Eu ganhei um videogame recentemente, no natal de 2022, e foi aí que eu comecei a conhecer de fato os jogos e mais sobre esse mundo e saber das coisas efetivamente.
Porém, já que Resident Evil é uma das franquias mais famosas do mundo, é difícil que você nunca tenha ouvido falar. Eu não conhecia os personagens, as histórias, como uma pessoa que joga conhece, mas eu já tinha ouvido falar. Sabia que era um game de terror e sabia que era o favorito dos meus melhores amigos também. Foi por isso que numa live alguém perguntou: “Michelle, o quê você gostaria de localizar algum dia?” e eu citei Resident Evil por causa dos meus melhores amigos, então eu já tinha ouvido falar.
REVIL: Como foi trabalhar em um título que é considerado por muitos o ápice da franquia e um dos jogos mais importantes na indústria?
MICHELLE: Foi muito legal, mas também foi uma baita responsabilidade! Durante as gravações, rolava essa tensão assim de “Caraca! Estou dublando/localizando um jogo fodástico, muito conhecido, com uma comunidade de fãs muito exigente e muito assídua”. Lembro de ter sentido esse peso, essa responsabilidade. Lembro também de ter sentido medo (risos), não efetivamente dublando, mas eu fiquei com medo de como os fãs iriam reagir à minha voz. Eu fiquei com um pouco de receio de não ser bem aceita, mas tinha um lado muito realizado, muito feliz e muito animado também para tudo isso. Então foi uma mistura de sentimentos.
REVIL: Poderia falar um pouco sobre como surgiu a oportunidade de interpretar a personagem?
MICHELLE: Como em todos os outros games desses distribuidores muito grandes, quem escolhe as vozes geralmente é o cliente que, nesse caso, é a equipe responsável por Resident Evil. Geralmente eles fazem teste com 3 vozes para cada personagem principal, que é basicamente a gravação de alguns trechos selecionados, enviando para o cliente no final, onde ele vai escolher qual voz quer. Eu lembro que a única exigência deles era que a gravação fosse presencial, então marcaram um teste comigo, e só quando cheguei lá que descobri que era um teste para o Resident Evil. Depois disso, eles costumam não avisar se você passou ou não, só marcam uma escala com você, e só no dia que você descobre: “Olha, você passou no teste e é isso que você vai gravar agora, nesse momento. Vamos!” (risos). Então é tudo muito rápido, muito instantâneo.
REVIL: Você sabia da fama da personagem ser considerada irritante pelos jogadores na versão original?
MICHELLE: O diretor André Melo chegou a comentar comigo quando a gente foi gravar, mas isso só ficou evidente mesmo depois que o game foi lançado. O comentário que eu mais recebi foi “Ai! Eu odiava tanto a Ashley. Ela era tão irritante! Agora ela está mais carismática. Eu passei a gostar da Ashley nesse remake” e fico muito feliz que as pessoas tiveram essa percepção.
REVIL: O que você mais gostou na personagem?
MICHELLE: Me identifiquei muito fácil com a Ashley, gostei disso nela. Eu, enquanto estava jogando, estava dizendo “porque eu naquela situação, estaria exatamente igual a ela”, então essa foi a parte que eu mais gostei. Essa facilidade de identificação que não tinha no original, pelo que me relataram, mas que nesse fica muito fácil de você fala assim “nossa, tadinha dela” porque você consegue se colocar na mesma situação e pensa “eu estaria igual ou estaria pior, então assim, Amiga, tamo junto.”
REVIL: O quanto de trabalho da dubladora americana e da dublagem original do jogo impactou na sua versão da Ashley?
MICHELLE: 100%! A nossa função de ator “da voz” realmente não é criar um personagem novo, é apenas refazer o trabalho do ator original. O trabalho da Genevieve Buechner foi minha matéria prima. Eu só tentei ser o elo de ligação entre o jogador brasileiro, que não quer jogar em inglês, e o trabalho da Genevieve. Eu sou só esse fiozinho que liga uma coisa à outra. Essa é a nossa função: tentar ser o mais próximo possível do original. Genevieve é uma excelente atriz e me entregou uma Ashley muito perfeita, então eu não precisei alterar em nada e somente tentar refazer, ficando o mais perto possível do trabalho dela.
REVIL: Visto que você tem uma carreira com dublagem em mídias variadas, existe algum desafio na dublagem que seja específico do mundo dos games?
MICHELLE: A localização de games é uma técnica completamente diferente dentro da dublagem. Começando pelo principal: na dublagem, se sincroniza o áudio que está sendo gravado com a imagem e a boca, além do áudio original. No game, só se sincroniza com o áudio (e às vezes isso nem é feito!). Então são técnicas completamente diferentes, que não tem nem como comparar. São processos de gravações diferentes, técnicas diferentes e desafios diferentes.
REVIL: Mais uma vez, gostaríamos de agradecer por sua participação nesta entrevista. Você poderia deixar uma mensagem para os seguidores do REVIL?
MICHELLE: Um beijo enorme para todo o pessoal do REVIL! Eu queria agradecer à toda comunidade de Resident Evil por estar me acolhendo tão bem e eu fico muito feliz que vocês tenham gostado do meu trabalho. Eu fiz com todo o meu coração. Foi uma grande honra ter dado voz à Ashley. Um beijo enorme.
Resident Evil 4 é o segundo jogo da franquia a receber dublagem em português. O título está disponível para Playstation 4, Playstation 5, Xbox Series X|S e PC (Steam).
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Colaborou com a descrição textual: Caio Vale