Dentro do entretenimento de terror, quem é mais entusiasta do gênero, vai consumir essas obras no intuito de sentir esse medo. Seja através da ansiedade por algo aparecer e te assustar, ou por se sentir aflito e tenso pela obra passar uma sensação de perigo constante, mas tudo isso é apenas entretenimento, ficção, um escapismo da realidade… Mas e se essa obra de terror virasse a sua realidade?
A.I.L.A é o novo jogo de terror da Pulsatrix, estúdio brasileiro que ficou conhecido pelo jogo Fobia St. Dinfna Hotel lançado em 2022. Jogos de terror normalmente são voltados para despertar algum medo que temos, seja alguma fobia como medo de palhaços ou aranhas, ou trazer o medo do paranormal com demônios e fantasmas, e até medo do que o próprio ser humano é capaz de fazer, mas A.I.L.A aborda esses medos comuns no entretenimento e também além de trazer um medo que é difícil de enfrentar, o jogo despertou um medo novo em mim, o medo de VR.
Veja a análise em vídeo no canal @revil no YouTube:
Realidade Virtual, Medo Real
O jogo de início nos coloca num cenário estranho e claustrofóbico, onde estamos presos de ponta cabeça e temos que nos soltar de alguma forma, após nos soltarmos e explorarmos esse lugar encontramos provavelmente, quem nos prendeu e vemos que ele é fã de Star Trek usando o Machado dele pra gente fazer o vida longa e próspera.

Após escapar desse lugar e ver uma explosão acontecendo nós vemos exatamente o que esse mundo é, um jogo em realidade aumentada. O nosso personagem é o Samuel, um beta tester de jogos. Samuel que é dublado pelo Fábio Azevedo, conhecido pela voz do Dr Estranho nos filmes da Marvel. Vamos pelo seu apartamento que Samuel além de guardar alguns segredos, é uma pessoa meio reclusa e até meio desleixado, meio que se preocupando pouco com seu modo de viver e pelo jeito até gosta disso. Após conhecer o apartamento dele e também conhecer o Jones o gatinho e outros projetos de robótica que ele ta fazendo, nós recebemos uma encomenda via Drone com uma caixa escrito “A.I.L.A” dizendo ser a revolução no mundo de criação de jogos e nós fomos incumbidos de testar esse novo programa.
Após instalar isso no nosso PC, colocar os óculos de realidade virtual e iniciar o programa, somos apresentados a A.I.L.A: uma inteligência artificial que cria experiências em jogos em realidade aumentada querendo nos trazer experiências cada vez mais realistas e imersivas, coletando nosso feedback e usando ele pra nos surpreender cada vez mais. A.I.L.A é apresentada como essa garotinha com a voz da Luiza Caspary, conhecida por interpretar Ellie em The last of us. Agora que tipo de experiência de jogo vamos ter? Será que teremos um Devil May Cry em realidade aumentada para que a gente se sinta como a própria tempestade que se aproxima? Ou um jogo aos moldes de Skyrim ou Zelda que nos apresenta uma aventura num mundo gigantesco?…. É… não, as experiências são de terror.

Horror de Sobrevivência
É nesse momento que a gameplay de A.I.L.A se desdobra, seguindo uma jogabilidade comum em survival horror com inspirações em Resident Evil 7. Somos introduzidos a vários cenários, com histórias diferentes e mecânicas que mesmo seguindo o mesmo molde, tem as suas individualidades, passando por cenários com armas mais tradicionais nesse estilo de jogo e até mesmo por cenários medievais onde teremos uma besta como nossa única arma a distância, e espadas e machados como armas principais. Mas ainda seguindo o mesmo esquema de survival horror, com recursos limitados, puzzles e muito backtracking, o que já dá um gancho pra eu falar do level design desse jogo. Os cenários do jogo são muito bem interligados, no início o título apresenta cenários mais compactos e limitados e no decorrer da trama, outros cenários maiores e mais ambiciosos vão surgindo, com ideias simples porém muito bem assertivas de conectar vários caminhos e atalhos de maneira muito bem estruturada e até colocando uns easter eggs pelo cenário que me tiraram muitas risadas.

Os puzzles são bem criativos, muitos deles querendo mais que você use a cabeça sem duvidar da sua capacidade de resolver cada enigma, alguns me deram até satisfação de resolver. Já o combate não se destaca muito na minha opinião, ele é simples, gunplay básica que funciona bem, mas o combate com armas corpo a corpo é meio travado em alguns momentos, e como em alguns cenários as armas corpo a corpo são as principais, o combate acaba virando mais um teste de paciência do que estratégia, principalmente nos bosses do jogo que, para mim, são o ponto fraco de A.I.L.A. Em design eles surpreendem vide o escopo do jogo, mas em combate a tática é sempre a mesma, você roda correndo em volta da arena, pega distância e atira, ou usando uma arma branca pra se defender dos golpes até achar uma brecha no boss e repete o processo até vencer o combate.
No desempenho o jogo rodou bem na configuração alta a 60 fps travado, eu testei o jogo em uma AMD 5600XT e tiveram pouquíssimos engasgos, mas o que atrapalhou minha experiência foram alguns bugs, mas não de maneira negativa, porque eu acabei rindo muito deles (mostrar os bugs engraçados do jogo). Beleza, falamos da jogabilidade, mas e a história do jogo? Vamos ver agora, então já vai o alerta de spoilers! Se quiser jogar sabendo o mínimo possível pule para o Veredito mais abaixo!
Essa é a vida real?
A.I.L.A tem uma história que tem ideias interessantes voltadas a essa ideia de uma IA criando jogos em pouco tempo, preparando uma experiência diferente por dia, que eu vejo como uma alegoria para o que estamos vendo de empresas do entretenimento querendo botar IA pra fazer tudo, seja na área de produção bruta quanto até de produção criativa, e sacrificando no processo o que torna cada obra única, a individualidade criativa de um ser humano.
Imagina comigo: você tem com você uma fábrica portátil de jogos, jogos que sempre vão analisar seus gostos, suas preferências, seu perfil e sempre vai te entregar o que se encaixa com você, mas será que cada experiência vai ser única ou é só a mesma numa roupagem diferente. Vendo como o mercado do entretenimento tá caminhando para querer colocar IA em tudo, esse pensamento é algo que me veio à mente analisando a história. Agora outra coisa que essa história me fez questionar é: o quão longe essa IA vai na sua mente? Qual é o limite ético que ela foi programada para ter? E será que esse limite pode ser burlado?
Na narrativa do jogo, A.I.L.A começa te apresentando suas ideias quase como se estivesse te servindo um jantar. Começando com a entrada, numa experiência contida num ambiente pequeno, com esquemas diferentes de mudança de cenário, com puzzles mais crus numa experiência de terror, porém criativo a seu modo, com a participação constante da nossa nova amiga que vou chamar de Márcia.

Somos bem introduzidos em uma aventura curta porém promissora. Seguindo para uma experiência bem Resident Evil like, numa exploração de ambiente com bastante backtracking ambientado numa fazenda cheia de alienígenas.
A gunplay mais constante e até um futuro stalker nos perseguindo pelo cenário e a nossa melhor opção é nos esconder e nos momentos que podemos explorar temos que ser rápidos, cautelosos e estar sempre atentos, pois vemos que até o policial Leon S. Michael foi uma vítima dessa situação. A segunda experiência mostra do que mais essa IA é capaz e qual vai ser o próximo cenário, as próximas surpresas.

A terceira experiência se passa num cenário medieval, onde o reino está sendo assolado pela maldição de uma bruxa. Aqui o foco do combate são mais armas brancas, uma variedade maior de cenários e puzzles e até mesmo NPCs que conversamos pra entender não só o que tá acontecendo como até nos dar escolhas do que fazer em algumas ocasiões, isso me faz até pensar em quem mais podemos encontrar nesse lugar. Aqui vemos como as experiências criadas pela A.I.L.A podem crescer de escopo e de ideias atiçando a curiosidade do Samuel e despertando o meu medo de VR.
A.I.L.A ainda tem muito mais a nos apresentar em trama e gameplay, trazendo mais desenvolvimento para Samuel e pra própria A.I.L.A ao mesmo tempo que os envolve em mais mistérios. Daqui pra frente as experiências que nos são apresentadas nos fazem até questionar “se essa IA é capaz de nos dar experiências que nos fazem nos sentir imersos até demais, será que ela conseguiria nos fazer acreditar que estamos mesmo no mundo real?”.
Embora A.I.L.A desenvolva essa trama interessante do que é realidade e o que é simulação, sua conclusão não me cativou muito. A.I.L.A apresenta uma entrada boa a esses questionamentos, porém a conclusão não faz jus ao terror apresentado, tornando o final meio sem sal. Apesar disso A.I.L.A é uma boa experiência para quem busca algo original nesse cenário de survival horror.

Veredito
A.I.L.A tem mais em sua história pra mostrar, mas não quero estragar a surpresa. Mesmo com mecânicas repetidas e um combate simples, A.I.L.A é uma experiência com gostinho diferente de outros jogos, puzzles interessantes e uma narrativa instigante.
A Pulsatrix já se mostrou ser muito boa na produção de jogos de terror com o Fobia, e A.I.L.A é uma evolução do aprendizado que o estúdio teve com o seu primeiro jogo, com potencial para fazer mais jogos interessantes no futuro. Mas o que me traz mais curiosidade é quais serão as novas histórias que eles vão criar, quais temas vão abordar… e se a Márcia vai estar no próximo jogo.

A.I.L.A foi analisado em cópia digital cedida pela Pulsatrix Studios via assessoria Jesús Fabre




