The Keeper’s Diary: A Biohazard Story, um fã filme baseado no “coça gostoso”

Aos fãs de longa data da franquia, a frase “coça gostoso” sempre foi a mais lembrada. Ela está presente praticamente no primeiro arquivo em um game Resident Evil que fala sobre a evolução de uma pessoa em um zumbi. Essa frase acabou como um bordão em toda a comunidade.

Pensando nisso, e dando vida a imaginação de muitos jogadores em relação ao file tão icônico, o pessoal da Residence of Evil decidiu apostar fundo e fazer um fan film contanto todo o documento e colocando detalhes que muitos nem imaginariam. É hora de assistir The Keeper’s Diary: A Biohazard Story, inspirado em Resident Evil.

 

Analiso a partir daqui cada pontinho do curta-metragem. Já vale lembrar que os desenvolvedores deste projeto colocaram legendas em português do Brasil para facilitar (coraçãozinho para eles) – ative ao assistir. O fan film é totalmente não canônico, e como o nome já diz, é um curta-metragem de fã para fãs, que sempre se aguçaram ao imaginar várias e várias cenas lendo o file The Keeper’s Diary.

Já em seus primeiros minutos, logo após algumas apresentações, temos o primeiro easter egg e a essência dos games clássicos: o nome do projeto, “The Keeper’s Diary: A Biohazard Story” sendo proferido totalmente com narração igual as introduções dos games clássicos de Resident Evil.

Nos minutos que se seguem, temos a frase “Quem luta contra monstros deve garantir que, no processo, ele não se torne um monstro. E se você olhar o suficiente para um abismo, o abismo voltará a olhar para você”, do pensador Friedrich Nietzsche. Essa frase do pensador em si já resume, praticamente, toda a história que vemos desde o Resident Evil 1, já mostrando como a ganância pelo poder transformou várias pessoas ali dentro da Umbrella ou não, diretamente ou indiretamente.

A Floresta Arklay em 24 de Julho de 1998 e tomadas tanto da floresta quanto da entrada da Mansão Spencer, chuvosa, como mostra o clima no remake de Resident Evil surgem a seguir. Há a entrada cautelosa da primeira protagonista que faz alusão à Jill Valentine (Gracie Madsen) trajando um clássico uniforme S.T.A.R.S. e empunhando uma shotgun. Ela entra em um corredor com todo o cuidado e já parte para a porta ali perto, movimento conhecido pelos fãs: quem nunca passou por um corredor assim no primeiro andar da Mansão Spencer, totalmente perdido e sem saber o que fazer ou para onde ir, né?

Usando habilidades de lockpicking, Jill adentra um quarto – aqui, com mais um easter egg da franquia e lembrando a todos que sim, Jill é “Master of Unlocking”. Uma curiosidade aqui é que o quarto alusivo do fan film está sim trancado na versão original do game, em Resident Evil 1, porém não está no remake do game. O fan film tem bastante detalhes lá do game primeirão da franquia.

No quarto, temos outro cenário familiar, sendo igualmente replicado aqui o cômodo que vemos tanto no clássico quanto no remake. A primeira surpresa e tensão do fan film aparece com uma trilha sonora bem tensa digna dos games clássicos: a personagem “Jill” encontra um cadáver na cama do quarto. Lembrando que no game não acontece isso, uma vez que encontramos o corpo somente abrindo o armário em RE1, algo que difere do remake com a presença de dois corpos.

A personagem, então, aparenta mal estar e volta sua atenção para a máquina de escrever presente no quarto. Na única folha que ainda paira no aparelho, se lê:

“4 //
Ytchy.
Tasty”.

Temos aqui a famosa frase que rege todos os fãs de Resident Evil e, também, a leitura do icônico file Keeper’s Diary. Isso, claro, tirando a referência ao principal meio de salvar o progresso nos games do universo RE, com a máquina de escrever.

Após a personagem folhear a primeira página que estava ali perto da máquina de escrever, parecendo ser uma carta de despedida do zelador manchada de sangue, temos também a primeira página do diário, onde já se começa a narração.

Só para ressaltar aqui, já de início, todo o file que foi narrado em The Keeper’s Diary: A Biohazard Story é o que é encontrado em Resident Evil Remake, e não a do clássico.

Nesse momento, para quem não acompanhou todos os bastidores e anúncios deste fan film, vem a primeira surpresa: o zelador é interpretado por ninguém menos que Charlie Kraslavsky, o ator que deu vida a Chris Redfield na introdução do primeiro Resident Evil. Ele é quem dá vida a todos os relatos do Zelador ao longo desta produção de fãs.

Na narração da primeira página do diário, datada do dia 09 de maio de 1998, conseguimos ver, e não só imaginar, a carinha dos seguranças Scott e Elias, e também do pesquisador Steve, todos jogando poker descontraidamente. Aqui a página se prolonga em alguns minutos, com ambos interagindo devido ao jogo, justamente aguçando nossa imaginação, onde ficamos nos perguntando o quanto era “normal” viver no ambiente da Mansão Spencer, onde tudo parecia estar sob controle.

E será que o Steve estava mesmo trapaceando?

Seguindo para a segunda página do diário, datada do dia 10 de maio de 1998, temos a imaginação ainda mais aguçada aqui. No diário, é relatado que o Zelador é recebido por um “pesquisador de alto escalão”, que mandou o Zelador tomar conta de uma nova criatura. Para a nossa alegria, temos aqui uma aparição que faz alusão ao maior vilão da franquia, Albert Wesker (Oscar Mansky), comandando a ordem, ali perto do Zelador e do pesquisador Steve. Isso já explode nossas ideias só de imaginar que o Zelador teve algum contato com Wesker quando ele ainda estava na Umbrella, e que presenciou também um dos primeiros testes com a nova criatura que conhecemos como Hunter, mostrado no fan film. Como nenhum nome é, de fato, escrito ou revelado no diário, essa cena alugou espaços inimagináveis na mente de vários jogadores viciados.

Na cena também dá pra ver que o Zelador fica assustado ao ver a reação animalesca do Hunter. Em meio a tudo isso, dá para ouvir barulhos familiares dos clicks e efeitos sonoros que se tornaram referência máxima para quem joga os clássicos até hoje.

Na terceira página do diário, datada do dia 11 de maio de 1998, temos uma cena rápida e interação, também rápida, do Zelador com Scott, onde já temos todo o caos acontecendo nos laboratórios da Mansão Spencer. Aqui, vemos Scott usando a roupa de segurança icônica da equipe de contenção da Umbrella, passando um traje igual para o Zelador e também já o alerta do acidente no laboratório. Hunk aparece. E aqui vai mais uma ideia para nos aguçar: seria Scott, o segurança, o cara que sobreviveu a tudo isso e se tornou o Mr. Death?

Antes de partir para a próxima página do diário, escutamos um barulho um tanto familiar: o tique-taque do relógio de parede do quarto do Zelador. Esse barulho já recorda, de imediato, o relógio que tanto passamos na sala de jantar da Mansão Spencer em Resident Evil 1 e que não parava de fazer barulho, até resolvemos o puzzle por trás daquilo.

Antes de continuar com a leitura do diário, percebemos uma referência aqui muito bacana, que não se deixa escapar aos olhos dos verdadeiros fã da franquia: no quarto do Zelador, temos um poster da banda Queen, precisamente do single Boemian Rhapsody, um dos maiores sucessos da banda. Um bom fã da franquia sabe que os diretores dos primeiros games de Resident Evil eram super fãs da banda e que eles colocaram várias referências de Queen em diversos games da franquia. Aqui, para homenagear tanto a franquia quanto a banda Queen, claro que se fez necessário, e com uma oportunidade ótima, colocar tal referência.

Na página seguinte, datada do dia 12 de maio de 1998, temos os relatos do Zelador que começa a sentir sua pele enrugando e com coceiras, mesmo com o traje de proteção especial. Vemos uma cena do Zelador indo até o canil para alimentar os cachorros dali. Porém, como eles estavam agindo diferente, e por vingança, o Zelador não os alimentou. Os dobermans são tão icônicos como os Cerberus da franquia.

Na página do dia 13 de maio de 1998, o Zelador relata pioras em sua situação clínica e resolve ir à enfermaria. A cena desta página também é rápida, porém conseguimos ver a interação do Zelador com o médico, onde o doutor lhe oferece medicamentos para a tosse, coceira e para dores que o Zelador está sentindo. Esses medicamentos não poderiam ser outros a não ser os comercializados pela Umbrella, não é mesmo? Lhe são ofertados os medicamentos AquaCure e Safsprin, que aparecem em grande destaque em Resident Evil 3 Nemesis, demonstrando outra referência aos clássicos games do universo Resident Evil.

Seguindo para a página do dia 14 de maio de 1998, o Zelador já relata ainda mais piora em seu quadro clínico, avançando no que seria sua infecção com o vírus ali espalhado pela Mansão Spencer. Ele retorna ao canil só para presenciar os cachorros com comportamentos mais tranquilos perto dele, o que acha estranho. Também percebe que alguns escaparam das celas. Também com cenas rápidas, essa página pode simplesmente se ligar às cenas iniciais de Resident Evil, onde os cachorros que escaparam dali atacam a Equipe Alpha do S.T.A.R.S. assim que a equipe chega próxima a Mansão Spencer.

Antes de começar os relatos da próxima página do diário, temos uma cena “extra”. O Zelador acorda desesperado com sons de tiros próximos ao seu quarto, onde vê dois dos soldados da equipe de contenção da Umbrella postos no corredor e atirando nos zumbis que estavam ali próximos. Assim que um dos soldados vê o Zelador, pede para que ele volte ao quarto pois ali não é seguro, onde o mesmo o faz. Aqui temos a ideia de que os infectados pelo vírus no laboratório subterrâneo já tiveram acesso a Mansão Spencer, que começou a ser tomada por  outras criaturas.

Temos também o que seria o começo da carta que o Zelador escreveria para sua “querida Nancy”, mostrando aqui que o Zelador já sabia seu possível final…

Voltando para as páginas do diário, a próxima sendo datada do dia 16 de maio de 1998, o Zelador relata, além de boatos de que um pesquisador fora morto tentando escapar da Mansão Spencer, que seu corpo inteiro está coçando e quente. Pedaços de carne podre estão caindo e ele fica suando o tempo todo, desesperado com o que está acontecendo.

Indícios, aqui, que a infecção do Zelador já está em estágios finais para ele se tornar um zumbi.

Na próxima página do diário, datada de 19 de maio de 1998 (não sendo narrada pelo Zelador aqui, porém faz parte do file original no game), o Zelador já tem indícios de pouca fala e raciocínio, sendo breve com o que se escreve e, também, já relatando sentir fome, sem febre, porém ainda “coçando”. Com isso, acaba relatando que comeu “comida de cachorrinho”.

Como cenas finais de The Keeper’s Diary: A Biohazard Story, temos a página datada do dia 21 de maio de 1998 (não sendo, novamente, narrada pelo Zelador, porém está no file original no game), mostrando o Zelador já transformado em zumbi, atacando Scott e o matando para saciar sua fome. A cena é mais interessante aqui. É que assim que ele mata Scott, o Zelador se senta para escrever a última e icônica página de seu diário:

“4 //
Ytchy.
Tasty”.

Isso mostra ainda um grau de entendimento e funcionamento do cérebro do infectado antes do estágio final para se tornar completamente um zumbi.

Após tal cena, voltamos para a “Jill” no quarto do Zelador. Assim que ela termina de ler o diário e se lamentar por tudo que leu ali, ela é surpreendida por uma cena que todos amam: o zumbi dentro do armário. Claro que não poderia faltar!

A personagem não pensa duas vezes e já elimina a ameaça, deixando os dois corpos dos zumbis ali no quarto mesmo e saindo do cômodo, fechando a porta e continuando sua investigação dentro desta “Mansão Spencer”. Isso encerra curta-metragem The Keeper’s Diary: A Biohazard Story.

A tela dos créditos finais apresenta toda a equipe que tornou o projeto realidade, tanto diretores quanto atores e seus respectivos papéis – tudo ao som da incrível trilha sonora remixada da save room de Resident Evil Remake, com mais referências a franquia e, principalmente, ao primeiro game da franquia na tela.

Mas calma que ainda não acabou! Bem vibe “filmes da Marvel” que todos conhecemos, a produção do curta-metragem colocou uma cena pós créditos. Vale a pena ver com os próprios olhos!

Após a cena pós créditos, temos mais um pouquinho de créditos, agora mais completos e ao som da linda Moonlight Sonata (remixada), clássica música de Beethoven que também é sempre lembrada pelos fãs de Resident Evil, principalmente os fãs de Jill Valentine. Temos aqui mais uma cena pós, que é mais rápida, e que vale ser conferida devido ao seu somzinho final.

Toda a construção feita em The Keeper’s Diary: A Biohazard Story é digna de ser assistida por todos os fãs que já imaginaram inúmeras cenas lendo não só o file no game, mas também todos os que nos pegam de surpresa. Temos a atmosfera e trilha sonora totalmente compatíveis com o que se é jogado nos games da franquia, fazendo você realmente entrar de cabeça no file que é narrado.

As imagens dos bastidores desse projeto mostram o quanto eles quiseram ser fiéis tanto ao file ali narrado quanto todo o cenário e demais aspectos que são passados dentro do game.

Relato mais pessoal: quando eu estava no terceiro ano do ensino médio, acabei apresentando, como trabalho de Artes, a leitura dramática do Diário da Jill e do Diário do Chris, em ordem cronológica, onde eu lia o Diário da Jill e meus outros 2 amigos se revezavam lendo o Diário do Chris. Isso mostra, como fãs, que somos totalmente marcados pela leitura desses files e o que eles relatam dentro da história de Resident Evil, sendo extremamente importantes para entender tudo ali e, claro, acabam ficando marcados para sempre na vida de um fã. Ter esse tipo de projeto é um sonho para aqueles que viviam Resident Evil nos anos 90-2000.

Colaborou com a revisão deste conteúdo: Ricardo Andretto