REVIL: Como você conseguiu o papel?
Alyson Court: Trabalhei com a Capcom pela primeira vez em Toronto, como Jubileu em “Marvel Vs. Capcom”. Pouco depois, eles retornaram à cidade para escalar atores para Resident Evil 2 e, por causa das semelhanças entre Jubileu e Claire, fui chamada para um teste e consegui um papel. As duas possuem a inocência de um peixe fora d’água, cercadas por terror, mas Claire é uma personagem mais madura que Jubileu.
R: Claire é uma das poucas personagens que não teve grandes mudanças de personalidade. Como você enxerga a evolução dela ao longo da série? De que forma você trabalha a personagem?
AC: Claire passa por um certo amadurecimento a cada jogo. Em RE2, a experiência com os zumbis é nova para ela, e mesmo com o treinamento de combate dado pelo irmão mais velho, ela não é uma policial ou alguém especialmente treinado. Ela é uma personagem muito única nestes jogos, a única que se manteve viva mesmo sendo uma civil. Quando você a vê em CODE: Veronica, ela amadureceu bastante, está mais forte e durona. Apesar de possuir mais experiência, porém, ela ainda é humana e não entende completamente os objetivos da Umbrella e por que eles fazem aquelas coisas. Mas o mais importante, a força que impulsiona tudo, é o amor que ela sente pelo irmão e pelas pessoas com quem ela se importa: é isso que a faz seguir em frente. Esse tipo de relação afetuosa existe entre Claire e Sherry, e depois novamente em RE: Degeneração, por exemplo. Esse é um aspecto que você não vê em outros personagens, então, para que isso transparecesse em Claire, tento mantê-la o mais real possível. Acho que a maioria dos personagem de videogame tendem a parecer muito militarizados, portanto, tenho que deixá-la mais humana para alcançar níveis mais profundos e realmente demonstrar emoção. Eu gosto disso.
R: Quais as diferenças entre dublar Claire em 1998, para RE2, e agora, em RE: The Darkside Chronicles? De que forma os avanços na tecnologia e na trama modificaram sua atuação?
AC: RE2 foi feito para um sistema MUITO diferente. As limitações da plataforma, na época, faziam com que o jogo tivesse longas pausas para carregamento da próxima cena e muitos sons de personagens andando pelos corredores. Era um jogo muito lento, mas a Capcom, brilhantemente, soube usar essas limitações para beneficiar o jogo, e acho que a lentidão do ambiente contribui para deixar o jogo mais assustador. Quando gravamos, mantivemos as coisas mais sutis, com um clima mais profundo nos diálogos. Resident Evil 2 foi o primeiro jogo em que a dublagem realmente foi uma preocupação, e recebeu muitos elogios por isso. Como a tecnologia evoluiu, o tempo de espera pelo carregamento foi reduzido ao ponto em que você nem o percebe mais, e aquele clima de terror foi praticamente perdido. Como resultado, RE: The Darkside Chronicles é uma espécie de híbrido: é um jogo on-rails mas não se parece tanto com um, pois há momentos em que a tensão é construída. Na dublagem, tivemos que manter um ritmo mais acelerado e rápido, muito parecido com os filmes “Cloverfield – Monstro”, “REC” ou “Quarentena”. Muita respiração e tensão em todos os momentos, para que fosse diferente dos jogos anteriores.
R: Você está interpretando Claire novamente em situações já mostradas antes. Em RE: The Darkside Chronicles, há alguma diferença na personalidade dela ou em sua relação com Leon, Steve ou Chris?
AC: Embora a tecnologia usada em TDC seja bem diferente da usada nos jogos originais, a Capcom quis manter os aspectos e a história dos personagens o mais fiel possível. A relação de Claire com Leon ou Chris é semelhante ao que era antes. Acho que os fãs vão ficar muito contentes ao verem que é demonstrado todo um respeito aos games anteriores e apreciarão a autenticidade nos relacionamentos.
R: Em RE: TDC, vamos descobrir algo mais sobre Claire que ainda não havia sido revelado? De que forma ela se envolve com Sherry e a família Birkin?
AC: TDC ainda não foi lançado, então não tenho liberdade para revelar nada no que diz respeito à história, mas sim, os fãs vão ficar sabendo mais sobre certos personagens que não posso dizer agora. Existe algo bastante obscuro, profundo e perturbador sobre a relação de Claire com Sherry e a família Birkin, e espero que a Capcom permita aos fãs explorarem isso futuramente.
R: Os diálogos de TDC são muito mais naturais. Como foram as sessões de dublagem? Cada dublador gravou suas falas separadamente ou os atores puderam trabalhar juntos durante as cenas?
AC: A maioria dos diálogos de TDC foi gravada em Los Angeles. Sally Cahill, que fez a voz de Ada Wong, e eu moramos em Toronto. Então, tudo foi feito de forma individual, eu estava em uma cabine no Canadá e ouvia o diretor e o pessoal da Capcom por meio do meu fone de ouvido, já que eles estavam em Los Angeles e no Japão.
RE2 passou por várias mudanças antes do produto final, como vocês já conhecem. A única coisa que sei sobre os primeiros modelos de Claire é que ela era loira e usava uma roupa esporte rosa e azul. Visualmente, ela passou por várias mudanças.
R: De todas as vezes que interpretou Claire, qual sua cena favorita?
AC: Minha parte preferida é gritar. Adoro quando estou sendo atacada por um monstro, estrangulada por criaturas estranhas penduradas no teto ou fugindo para salvar minha vida.
R: Como foi interpretar Yoko Suzuki em Resident Evil Outbreak?
AC: Há um erro no IMDb que me credita como a dubladora dela em RE Outbreak. Eu não interpretei essa personagem. Uma atriz adorável chamada Laura Thorne fez a voz, e eu fui, na verdade, a diretora de dublagem e de captura de movimentos do game.
R: Como é transitar entre trabalhos infantis e outros com foco mais maduro?
AC: Tive muita sorte de trabalhar tanto em programas para crianças quanto para adultos durante toda a minha carreira. Estive em atividade dublando desenhos mesmo quando estava na frente das câmeras em Mr. Dressup ou como Loonette. Sempre existiu um grande equilíbrio, e acho que fui uma das poucas pessoas capazes de fazer isso. É maravilhoso trabalhar com crianças, é algo que ainda continuo a fazer e, agora como mãe, isso tem efeito e importância ainda maiores na minha vida. Mas mantenho minha sanidade me expressando e me liberando em projetos mais adultos.
R: Fale um pouco sobre seus próximos projetos.
AC: Atualmente, estou trabalhando em um novo título para Xbox 360 de uma companhia chamada Xavian, localizada em Atlanta. Não posso dizer mais nada sobre esse projeto, já que ele ainda está em estágios iniciais. Há também uma série chamada “Os Incríveis Espiões”, um spin-off de “Três Espiãs Demais” que vai ser lançado na América do Norte neste inverno, e um piloto chamado “Almost Naked Animals”, pela Nine Story, que acabou de receber o sinal verde para virar série. E, em termos de Resident Evil, espero poder trabalhar em novos projetos o mais rápido possível, dublando Claire, claro.
R: Deixe uma mensagem para os fãs brasileiros que nos ouvem agora.
AC: Muito obrigada a todos os fãs brasileiros pela lealdade e apoio. Amo saber que vocês estão aí apoiando os dubladores. Vocês são a razão pela qual a gente continua trabalhando e somos muito agradecidos por isso. E só para ficarem sabendo: se estiverem planejando um evento de videogames, Resident Evil ou qualquer coisa do tipo, eu adoraria conhecer todos os meus fãs brasileiros. Então me convidem, especialmente para o Carnaval! Obrigada gente!