1) Matt, como você teve a oportunidade de interpretar Leon em Resident Evil 6?
Eu fui pego de surpresa, na verdade. Eu fui chamado para um teste há uns dois anos atrás. Eu recebi as falas, mas os personagens não estavam listados. Mas ao ler as falas eu já tinha uma boa ideia do que seria. Eu já havia jogado todos os jogos da série Resident Evil. Foi muito interessante e, ao mesmo tempo, intimidador. Por que, conhecer esse personagem há tanto tempo e ter essa oportunidade foi uma situação maravilhosa. Então eu fui lá e fiz o teste. Tive que fazer algumas falas do personagem, em algumas sequências diferentes. Eu não fazia ideia de que era para Resident Evil 6 ou algo desse tamanho. Então foi uma oportunidade surpreendente que acabou se tornando algo muito melhor do que eu esperava. Foi resultado de muito trabalho e um pouco de sorte!
2) Como é interpretar um personagem tão popular como Leon?
É intimidador e muito bom. Ele é um personagem maravilhoso, muito dinâmico e podemos ver muito de sua personalidade, como de todos os outros personagens de Resident Evil. Mas ele tem essa dualidade entre fazer o que é certo e fazer o que é moralmente correto para ele, considerando seu próprio senso de honra, e o que é certo para a situação. Os dois nem sempre se misturam. Eu acho que dentre os personagens, ele é o que tem o maior senso moral e realmente passa maus bocados decidindo o que é melhor na situação, mas também o que ele considera melhor. Foi um papel muito interessante de interpretar, mas ao mesmo tempo (porque o personagem tem uma longa história e teve uma série de ótimos dubladores), foi um grande passo a ser dado. Uma grande responsabilidade, com uma enorme base de fãs empolgados, que poderiam estar julgando esta mudança e o que eu podia trazer para o personagem. Foi intimidador, mas muito empolgante, porque eu gosto do personagem há muito tempo e ter a oportunidade de fazer a minha versão dele e ajudá-lo a passar por essa transição em uma nova história, com o meu toque pessoal, foi uma grande oportunidade. Estou curioso para saber o que as pessoas acharam.
3) Você conhece o trabalho de outros dubladores de Leon, como Paul Haddad e Paul Mercier?
Sim. Aparentemente, eu sou a primeira pessoa a quebrar a sequência de “Pauls”. Eu joguei o primeiro jogo e depois joguei o segundo, e foi aí que eu conheci o personagem. Ele era jovem, com brilho nos olhos, mas ainda assim, evitava que a falta de experiência impedisse que as coisas fossem feitas no jogo. O Paul Haddad fez um ótimo trabalho ao trazer isso. Mas foi em Resident Evil 4 que eu me apaixonei pelo personagem. Tenho certeza de que muitos de vocês passaram pela mesma coisa. Eu tive a sorte de fazer amizade com Paul Mercier há muitos anos. Nós trabalhamos juntos em muitos projetos de dublagem e de captura de movimentos. Ele é um cara incrível. Eu adoro o que ele apresentou com o Leon, como personagem. Então fazer o papel do Leon após essa “linhagem” é meio… eu tinha que ter certeza se tinha feito jus ao personagem em comparação ao que eles fizeram antes. Assim como o toque pessoal que eu dei. Então, eu gostava muito do trabalho dele e o conhecia muito bem, então, definitivamente, ele me influenciou bastante na forma como eu abordei o personagem. Eu queria ter certeza de que não seria uma experiência completamente nova. Ele ainda seria o Leon que todo mundo conheceu e se apaixonou desde o começo. Na verdade, só o passar do tempo e a experiência o mudaram, ao mesmo tempo em que eu passei a fazer o papel. Então eu espero que esteja convincente.
4) Como você compôs o personagem e quais características do Leon são transmitidas pela sua voz?
Foi muito fácil entender o personagem me baseando nas minhas experiências anteriores com ele. Mas na primeira reunião com a Capcom, eles atribuíram um animal a cada personagem que transmitisse sua essência. Para o Leon, eles me deram o Pastor Alemão. O que passou pra mim essa coisa de ser honrável, forte, essa vontade de lutar e fazer o bem. Isso me deu um bom ponto de partida para entrar no personagem. E o sacrifício é uma coisa muito presente no Leon. Por que desde o primeiro dia de trabalho dele… sabe, ele tinha uns 20 anos, tinha acabado de começar a vida como um adulto e foi jogado nisso. Essa coisa continuamente bombardeou e destruiu qualquer tipo de normalidade que ele pudesse ter vivido. Eu acho que, definitivamente, há um ressentimento pelo dever que foi dado a ele, mas dá pra ver que ele se sente bem. Secretamente, ele sabe que está fazendo a coisa certa. Ele é como um escoteiro, ainda que a vida dele seja uma droga por causa disso, secretamente ele gosta. Eu acho que ele é o único que pode fazer aquilo. E ele sabe disso, embora seja difícil. Isso reverbera na vida amorosa dele, claro. Ah, Leon… garotas… é uma coisa que não dá muito certo. Mas eu acho que ele realmente gosta disso e sente que está cumprindo seu dever. Que está salvando vidas, e ainda que seja uma droga pra ele, é por um bem maior. Isso faz valer a pena pra ele no fim das contas. Então o sacrifício é algo muito importante. E além disso, tem a honra, o dever… e a única hora que você o vê reclamar por questões pessoais parece ser quando envolve, bem… Ada Wong. Aquela longa história… ela é a única faceta de toda essa experiência de sua vida… o único elemento de necessidade pessoal, mas ao mesmo tempo ele não confia nessa necessidade porque vai contra tudo aquilo que ele acredita, que ele representa. Tudo isso faz uma dinâmica de personagem muito interessante. Sobre as características do Leon, eu acho, pessoalmente, que também sou meio “escoteiro” (eu nunca fui um escoteiro na verdade – não contem isso pra ninguém). Eu acho que sou uma pessoa muito otimista, tenho um grande senso de moral e de fazer a coisa certa. Eu tive muitas experiências e oportunidades na vida que podia ter entrado de cabeça, mas iam contra um bem maior. Se outras pessoas fossem magoadas no processo, eu não poderia me permitir fazer isso. Então espero que aquela honestidade, aquela atitude positiva transpareçam no Leon, porque é isso que o faz um personagem forte. E o senso de dever e honra, claro. Ao mesmo tempo, eu também tive aquela coisa de nunca conseguir “a garota”. Isso mudou com o tempo, mas teve uma boa época da minha vida em que eu me senti como o Leon: “Ah, porque é tão difícil encontrar uma garota?” Eu acho que acabo entendendo como ele se sente.
5) Os produtores de Resident Evil 6 prometeram inserir um novo estilo de jogo na série chamado “Dramatic Horror”. Esse novo estilo influenciou no processo de dublagem?
Bastante, na verdade. O terror é um estilo muito imersivo, detalhista, com um clima que se constrói lentamente. E foi isso que embalou a série desde o começo. E o fato deles focarem em trazer isso mesclado com a ação dos jogos e da mídia em geral, pegando o melhor dos dois universos e combinando-os para contar a história, permitiu que nós, dubladores, e eu, pessoalmente, expressássemos os personagens em meio a essa gama de estilos. Você pode fazer performances lentas, assustadoras, tensas, cautelosas, quando a situação pede, mas ao mesmo tempo você precisa fazer performances com a voz mais alta, fugas, comandos agitados… você realmente tem que interpretar todo o espectro do personagem desde o ponto mais alto de sua conquista até estar no fundo do poço. Acho que esse jogo mostra esse enfoque. Como ator, foi muito agradável e recompensador ter podido fazer parte dessa forma de contar uma história.
6) Leon é acompanhado por personagens femininas desde Resident Evil 2, como Claire, Ada e Ashley. Como é o relacionamento dele com as mulheres em RE6?
A relação do Leon com as mulheres é sempre uma experiência muito interessante, por que ele quer ajudar. E mesmo que a situação pareça perigosa ou estúpida, que seja uma grande armadilha, se há uma mulher precisando de ajuda, ele não consegue evitar. É o maior instinto dele, de verdade. Mesmo que ele saiba que é arriscado, mesmo que seja uma péssima ideia. No final das contas, ele se sente bem consigo mesmo sabendo que pelo menos ele se arriscou e não se recusou a fazer isso pela mínima chance de que a ajuda era realmente necessária. O encontro dele com a Helena e como a relação deles começa… ele não confia nem um pouco nela, não há razão para confiar nela. Ele foi enganado muitas vezes no passado por mulheres que entraram na vida dele. Mesmo que ele saiba muito bem no que está metido, ele ainda quer respostas. Há um segredo a ser descoberto, ele precisa saber os motivos e as respostas para as coisas. Ela parece ser a única saída. Então ele se envolve nessa coisa, quase relutando, e através disso, desenvolve uma dinâmica muito interessante com a Helena, que vocês poderão ver no jogo. Em jogos anteriores, ele sempre foi o protetor. É a pessoa que intervém como no caso da Sherry, que também está em Resident Evil 6, apesar de ela estar crescida e saber cuidar de si mesma, aparentemente. O que traz uma dinâmica engraçada para ele, lembrando que ela era uma garotinha, que agora é uma mulher que trabalha para o governo e tem seu próprio protetor. E há aquele atrito entre ele e Jake também. Mas com a Helena, ela sabe cuidar de si mesma. Ele parece imaginar se pode entrar no papel de protetor e percebe que ela às vezes precisa de um. É assim que o trabalho em equipe aparece. Há um equilíbrio nisso, os dois estão em condições de alto nível, e eu acho isso muito interessante.
7) O que podemos esperar de Resient Evil 6?
Definitivamente, o maior Resident Evil de todos. Para mim, o que é mais legal são essas histórias diferentes que se passam no mundo inteiro, e personagens diferentes que se reúnem enquanto a história se torna global. Você vai ver as primeiras interações entre personagens antigos na série e vários novos participando dessa história elaborada. Tudo é mostrado e revelado com uma experiência de terror interessante, assustadora e intensa. E não só na pela parte do jogo que eu tive que interpretar, mas nas partes que eu joguei ao longo da produção do jogo. Fiquei muito empolgado. Eu acho que o “5” trouxe um enfoque muito voltado para ação. Este [RE6] retorna ao que fez Resident Evil ser tão incrível no começo, enquanto ainda mantém os aspectos maravilhosos e divertidos que a ação do “4” e do “5” tiveram no gameplay. Esperem ver muitos cenários legais, muitos efeitos de iluminação maravilhosos e de som. Cara, o som é tão bom nesse jogo. Vai ser uma experiência memorável e muito satisfatória. Eu estou muito orgulhoso de fazer parte desse projeto que acabou ficando tão bom. Estou empolgado.
8) Houve alguma diferença no processo de dublagem de RE6 e RE: Condenação?
Sim, na verdade foi muito bom poder fazer essa ponte, pelo menos para o Leon. Em “Condenação”, o Leon ainda está seguindo o estilo de Resident Evil 4. Ele ainda é um pouco convencido, ainda tem aquela atitude sarcástica e até rude às vezes, porque ele sobreviveu em várias situações. Ele acabou aceitando ao caos. E “Condenação” mostra a transição dele para Resident Evil 6, em que ele passa por muito mais dificuldades e as experiências pedem que ele aja mais como um ser humano. Você pode perceber que ele se torna mais maduro, um herói mais velho. Poder interpretar essa transição em “Condenação” e finalmente seguir em diante com isso em Resident Evil 6 permitiu que surgisse uma série de variações interessantes entre os dois projetos. Como ator, unir essas peças de arte foi uma experiência interessante e prazerosa.
9) Quais são seus projetos para o futuro?
Projetos futuros! Estou produzindo e participando de uma websérie chamada “Batgirl Spoiled”, que mostra a história da Batgirl Stephanie Brown, do universo DC. Muitas pessoas talentosas estão envolvidas nesse projeto, outros dubladores como Tara Platt, Christopher Smith, Allison. Mas é em live-action, então vocês vão vê-los em figurinos e cenas de luta legais, coreografadas pela Paradox Pollack, que já trabalhou em projetos como “Eu sou a Lenda” e “Thor”. É uma série muito legal que estreia logo, então fiquem de olho! Dublei alguns personagens legais da expansão de World of Warcraft, “The Mists of Pandaria”. Então jogadores de WoW, se preparem para destruir muitos inimigos, e chequem os itens que o meu personagem vai deixar para o seu personagem. Eu faço um inimigo, um vilão que eu acho que não posso dizer o nome ainda, mas fiquem de olho. Um filme de terror, que deve ser distribuído em breve, chamado “Dead Inside”, no qual eu interpreto um personagem chamado Malcom Wagner, um estudante de intercâmbio sul africano. As coisas dão horrivelmente errado. É de terror, é divertido. Mortes acontecem como acontecem nos filmes de terror. Então fiquem de olho nisso também. Ah, eu ainda tenho uma série animada, que atualmente está em pré-produção, que co-criei e escrevi. Chamada “The Four”. É sobre os quatro cavaleiros do apocalipse e se passa em Pasadena, enquanto eles esperam o mundo acabar. É, essas são as principais coisas que vieram na minha cabeça agora. Espero que vocês possam conferir em um futuro próximo e aproveitem.
10) Deixe uma mensagem para os fãs brasileiros!
Oi, fãs de Resident Evil do Brasil. Gostaria de agradecer a todos vocês por todo o apoio e empolgação com esse jogo. Espero que vocês gostem. Eu sei que vocês vão gostar. Está fantástico. Espero manter contato com vocês pela internet e participar de futuros jogos da franquia Resident Evil. Aproveitem muito e tentem me manter vivo. Morrer nesse jogo é meio tenso.
“AGRADECIMENTOS/Special Thanks: Just Cause Entertainment“.