Comic Con Experience 2015 – não foi tão épico assim…

Entre os dias 3 e 6 de dezembro aconteceu em São Paulo a Comic Con Experience 2015, ou simplesmente CCXP. Essa foi a segunda edição do evento no Brasil, e nós estivemos lá para conferir o que prometia ser o maior evento nerd do Brasil e um dos maiores do mundo.

Sob o slogan de #VaiSerÉpico, a organização da CCXP investiu pesado trazendo inúmeras atrações de peso do mundo das séries, cinema, HQs, mangás, colecionismo e afins, e se há uma coisa que não pode ser criticada no evento é justamente a prerrogativa de trazer para o Brasil um pouco do gostinho das maiores Comic Cons do mundo, como a de San Diego e a de Nova Iorque, e foi isso que aconteceu, ao menos com relação a artistas, atrações, stands, itens exclusivos para compra no evento e a reunião de dezenas de milhares de pessoas em um mesmo evento compartilhando a paixão pela cultura geek e seus desdobramentos.

Infelizmente, existem diversos outros fatores que devem ser levados em consideração para poder afimar que o evento foi realmente épico, e justamente esses diversos outros fatores que acabram transformando a CCXP2015 em um grande espetáculo de desrespeito ao o público, desorganização generalizada, amadorismo em diversos aspectos e tudo isso sob a batuta de produtores soberbos que agiam como se tudo estivesse dentro da normalidade e correndo as mil maravilhas.

#FoiÉpico

Como citado na introdução desse texto, se tem algo que não pode ser criticado na CCXP2015 é a intenção e o esforço por parte dos produtores de trazer para o Brasil um gostinho das maiores Comic Cons do mundo. Atrações exclusivas, painéis, stands, interação entre visitantes, itens exclusivos, isso tudo estava impecável. Havia atrações para todos as tribos de nerds.

O evento contou por exemplo com presenças de peso como Frank Miller (autor de Sin City); Evangeline Lilly (Atriz de Lost e O Hobbit); David Tennant (o décimo doutor de Doctor Who); Krysten Ritter (a estrela da série Jessica Jones); Misha Collins (ator de Supernatural); Adam Sandler (estrela de diversos filmes de sucesso); Terry Crews (ator de Todo Mundo Odeia o Chris e Os Mercenários); entre dezenas de outros artistas. Além disso, a CCXP contou com a premiere de Creed, novo filme da franquia Rocky Balboa; além da exibição exclusiva de um novo trailer de Capitão América: Guerra Civil, um vídeo exclusivo dos bastidores da gravação de Star Wars: O Despertar da Força – que aliás foi uma das maiores atrações da feira, com dúzias de stands apresentando atrações temáticas da franquia… Enfim, deu pra notar que coisa boa não faltou no evento, né?!

A CCXP também era um paraíso de compras para os nerds, edições limitadas e exclusivas de action figures, estatuetas, roupas, acessórios, itens de decoração para casa, HQs, mangás, jogos de tabuleiro, fantasias, posteres, tinha praticamente de tudo e pra todos os gostos, seja você um amante de séries e do cinema hollywoodiano, seja você um amante dos mangás e animes.

Havia também uma enorme quantidade de atividades nos stands, que aliás eram um espetáculo a parte. Modelos em tamanho real de personagens como Batman, Superman, Dath Vader, Stormtroopers, Boba Fett, o andróide BB8, Deadpool, e até mesmo um ECTO-1 dos Caça-Fantasmas estavam espalhados pelos corredores do Imigrantes Expo. Stands chamativos, decorados, com brindes, fotos, interação com redes sociais atraiam a atenção dos olhos e as vezes não dava saber pra onde olhar e onde ir primeiro.

Claro que além disso tudo havia o público que por si só já é um espetáculo a parte, principalmente por conta dos cosplayers, que estavam presentes às centenas nos dois dias que estivemos no evento, e desfilavam pela CCXP exibindo suas fantasias quase sempre feitas a mão e também performances que muitas vezes atraiam mais a atenção da galera do que as próprias atrações e stands.

Enfim, havia muita coisa boa na CCXP, e em relação a atrações, stands e atividades, a edição 2015 foi bastante superior a de 2014, isso é praticamente indiscutível e a produção da CCXP merece congratulações por ter conseguido reunir tanta coisa boa sob um mesmo teto nos quatro dias do evento.

#NÃOfoiÉpico

A saga da credencial

Se tem uma coisa que eventos tem obrigação é de cumprir com as expectativas que geral e também melhorar em relação as suas edições anteriores, e a CCXP2015 não foi assim. Talvez vocês tenham visto nas redes sociais, dezenas de relatos de fãs e de comunidades falando da falta de respeito, da desorganização, de mudanças de preço e de cronograma feitas sem prévio aviso, entre diversas outras “pequenas” coisinhas que tiram o brilho de qualquer evento. Antes de entrar nesses aspectos mais gerais, vou contar um pouco da minha experiência com o evento.

Cheguei no local quinta-feira por volta das 15h, logo me deparei com uma fila imensa de fãs que aguardavam para poder entrar. Como estava credenciado como imprensa, me dirigi ao local que foi indicado pelos funcionários da CCXP e me espantei com o tamanho da fila para pegar a credencial, ainda mais considerando-se que para imprensa o evento havia abrido as 10h e já haviam se passado cinco horas. Okay, fui para a fila e lá fiquei durante meia hora sem que ela andasse um passo sequer. Ouvi de uma funcionária que estava dando informações, que as duas pessoas que estavam realizando o credenciamento de imprensa haviam saído para almoçar e que não ficou ninguém no lugar para entregar a credencial dos veículos de imprensa… oi?! Após cerca de mais 15 minutos, a fila de credenciamento de imprensa começou a andar… mas começou a andar porque resolveram trocar a fila de lugar e não porque realmente as credenciais estavam sendo entregues. Aliás, a fila trocou TRÊS vezes de lugar sem motivo algum, saímos de um lugar e fomos para outro, saímos desse outro lugar para outro, e depois fomos instruídos a voltar ao lugar da primeira fila. Tudo isso orquestrado por uma funcionária que ficava quase que o tempo todo conversando no Whatsapp ao invés de trabalhar e fazer aquilo que ela estava sendo paga para fazer: organizar e dar informações. Com essa confusão na fila, quem estava pra frente foi pra trás, quem chegou depois conseguiu a credencial primeiro e ali eu já vi que a bagunça era a palavra de ordem na CCXP.

Quando finalmente consigo ser atendido para pegar a minha credencial, a pessoa que me atendeu não sabia sequer onde procurar o meu registro, foram quase 10 minutos para ela achar meu nome no sistema (que aliás não era um sistema, era uma tabela xexelenta de Excel), imprimir a etiqueta e me entregar a credencial. E ainda me entregou a credencial com dois problemas: 1. o nome do REVIL estava escrito errado. Ela perguntou o nome do site, eu apontei para a camiseta que estava vestido que tem REVIL escrito em letras garrafais, e ainda assim ela escreveu Review… okay, depois de 1h nessa jornada pela credencial, eu só queria pegá-la, pendurá-la no pescoço e entrar no evento, mas não pude pendurá-la no pescoço, e esse é o problema 2. não havia cordão para pendurar a credencial no pescoço. Por mais simples que isso possa parecer, a funcionária me entregou a credencial e quando pedi um cordão (e não tava querendo aqueles cordões bonitos da feira, só uma cordinha simples), ela me disse que os mesmos haviam acabados e que eu teria que comprar um na loja oficial do evento… PORRA! No fim das contas, achei um funcionário com mais boa vontade e ele me arrumou cordão para pendurar minha credencial e se ficou morrendo de vergonha pela atitude da funcionária que me atendeu.

Caminho tortuoso

Credencial no pescoço, hora de entrar no evento… só que não! O Centro de Exposições Imigrantes, fica ao lado do São Paulo Expo, local que irá abrigar a Brasil Game Show em 2016, e que está passando por obras no momento. O local de credenciamento, retirada de ingressos, etc, ficava no estacionamento que serve aos dois espaços, e para chegar a entrada da CCXP todos tinham que passar praticamente no meio das obras do São Paulo Expo. Um percurso de cerca de 500 metros, com piso porcamente improvisado, cheio de placas soltando e irregular. Um baita de um perigo, fácil fácil de tropeçar e dar de cara no chão, além de ser uma absoluta falta de respeito com visitantes com mobilidade reduzida e até mesmo cadeira de rodas, aliás, eu tirei umas fotos com o celular mesmo, da escrotidão que é esse caminho:

Aliás, eu falei de problemas de acesso para pessoas com mobilidade reduzida e cadeirantes, bem, dentro da feira, as coisas estavam quase que funcionando em ordem para esse público especial, quase! No acesso ao local onde ficam os auditórios, há uma escada e ao lado uma rampa para deficientes, a rampa é relativamente íngreme, e não possuia corrimões adequados, tanto é que eu cheguei a ver um cadeirante simplesmente despencar por baixo do corrimão no local, isso porque eu estive nessa região alguns poucos minutos, quem sabe quantas vezes isso aconteceu durante os quatro dias de evento, ainda mais porque os funcionários mostravam-se bastante despreparados para situações como aquela.

Desrespeito com o público

Quando eu estava tentando pegar a minha credencial de imprensa, fiquei impressionado com o tamanho da fila do público logo ali ao lado, e dentro da CCXP, consegui bater um papo rápido com uma dessas pessoas. Rodrigo Azeredo de 22 anos, veio de Londrina para o evento, e além de ter tido problemas com o ônibus durante a viagem, passou mais de 2h30 na fila para conseguir entrar no evento. Ele contou que a desorganização não foi só com o credenciamento de imprensa, e que foi difícil saber qual era a fila correta para ele entrar na CCXP. Rodrigo também reclamou dos funcionários, que cada hora davam uma informação diferente e que chegaram a destratar uma outra pessoa na fila, pois ela constantemente questionava o staff da CCXP sobre a imensa demora para conseguir entrar no evento.

Outro problema que visitantes relataram pra mim, foi com relação a mudanças repentinas de preço na CCXP, isso desde o preço da entrada, até o preço de itens nos stands. Fábio Gurgel de 20 anos, relatou que na sexta-feira, os funcionários responsáveis por ingressos e credenciamento queriam cobrar dele um preço maior do que o anunciado no site pela entrada. Mesmo ele levando livros para doar e pagar meia-entrada, a funcionária que o atendeu cobrou dele um preço acima do tabelado no site da CCXP e ainda desdenhou, falando que se ele não tinha dinheiro para pagar, que saísse da fila porque outras pessoas tinham esse dinheiro e estavam dispostas a tal.

Sobre as filas, problemas na entrada e afins, a pergunta que fica é a seguinte: se a imensa maioria dos ingressos foram vendidos pela internet de forma antecipada, por quê a organização da CCXP não se preparou de forma devida para receber aquela quantidade de pessoas? A impressão que passa nesse aspecto é um grande amadorismo ou então a teoria de “a gente dá um jeito na hora”.

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Tennant e Krysten desconfortáveis após atitudes de Érico Borgo

Além de problemas de organização, informação e preços, os visitantes também sofreram com mudanças de cronograma nos painéis sem prévio aviso. Talvez o mais grave deles aconteceu no painel do Netflix que reuniu David Tennant (Doctor Who), Krysten Ritter (Jessica Jones). De acordo com relatos de inúmeros fãs, e inclusive da maior comunidade de Doctor Who no Brasil, houve mudanças no esquema das perguntas, no horário, na segurança e em diversos outros aspectos do painel, inclusive com atitudes tomadas pelo principal produtor da CCXP, Érico Borgo, que deixaram não só os fãs indignados, mas também os atores sem saber exatamente o que estava acontecendo, como aliás pode ser conferido de forma mais detalhas no post abaixo e também aqui e aqui.

 Após toda esse demonstração de falta de respeito, os fãs de Doctor Who ainda tiveram que engolir mensagens rudes e desrespeitosas postadas no Twitter do organizador da CCXP, como é possível ver abaixo:

Embora os produtores do evento tentem minimizar situações como essas, afirmando que tratam-se de fatos isolados, durante os dias de CCXP miltiplicaram-se nas redes sociais reclamações de fãs passando por situações parecidas com essas que acabei de citar e até coisas piores. E o desdém e desrespeito com o público começa lá de cima, como pode-se ver em algumas mensagens postadas pelo principal responsável pela CCXP em seu Twitter pessoal, referindo-se especificamente ao problema com os fãs de Doctor Who.

Infelizmente, a CCXP2015 que tinha tudo para ser épica de verdade, acabou derrapando na organização e em demonstrações explícitas de falta de respeito, de soberba e de amadorismo por parte dos responsáveis e organizadores, para 2016, a esperança é que com um novo local, a organização esteja melhor nos aspectos citados, mas acima de tudo é imprescindível que os responsáveis pela CCXP desçam de seus saltos, tomem um belo chá de humildade e entendam que quem faz a CCXP de verdade é o público que muitas vezes se desloca centenas e até milhares de quilômetros, gasta algumas centenas de Reais, esperando não só encontrar seus artistas, atrações ou produtos favoritos, mas também esperando o devido e necessário respeito.

Em tempo…

A Comic Con Experience 2015 infelizmente teve seus problemas e não foi tão épica quanto poderia ser, mas a nota mais triste e repugnante com relação ao evento, foi a “cobertura” realizada pelo programa Pânico na Band, que fez uma matéria extremamente preconceituosa e de mal gosto sobre a CCXP, desrespeitando cosplayers e todo o público da feira em geral. A equipe do programa chegou a LAMBER uma cosplayer, além de insultar diversos outros visitantes. Nossos amigos do Critical Hits fizeram um vídeo comentando o ocorrido, e atitudes ridículas, preconceituosas e canalhas como a do programa “humorístico”, mostram a ponta do iceberg da péssima qualidade dos programas de TV que são exibidos e cultuados na televisão aberta do Brasil de um modo geral.

Felizmente a organização da CCXP emitiu uma nota de repúdio ao programa Pânico, banindo eles do evento e de todas as atividades relacionadas a CCXP de agora em diante. A torcida é para que comportamentos assim sejam cada vez mais reprimidos e enfrentados, o Brasil já é um país bastante carente de eventos e feiras nesse nicho, e atitudes como a do programa Pânico mancham e atrasam cada vez mais o intercâmbio cultural.

Fotos

Pra finalizar esse post de forma positiva, deixamos abaixo uma pequena galeria de fotos que foram tiradas durante os dois dias de evento que fomos autorizados a cobrir: