Apocalipse Zumbi no Brasil? Sim! Neste REVIL Indica abordo as histórias do universo literário e apocalíptico de Corpos Amarelos e entrevisto o autor, Juliano Loureiro.
O Universo Literário de Corpos Amarelos
Nascido em Belo Horizonte (MG), o autor e escritor, Juliano Loureiro, deixou a área de Engenharia Ambiental, na qual é formado, para abraçar uma paixão: a literatura. Após publicar o seu primeiro romance, Lucas: a Esperança do último, em 2021, e o conto ficcional, Antônio e o tempo, em 2022, Loureiro passou a se dedicar a um universo totalmente novo para a sua escrita, o universo autoral e de apocalipse zumbi chamado Corpos Amarelos.
Com 3 contos publicados, sendo eles: Terraço; Passagem e Olhos Mágicos, o universo literário de Corpos Amarelos só tende a crescer. Ambientado em uma Belo Horizonte apocalíptica, a obra de Juliano Loureiro aborda a sobrevivência de pessoas comuns em meio a Peste Dourada, uma doença altamente contagiosa, que dizimou o senso de humanidade das pessoas, tornando-as em criaturas sedentas por carne humana. Agora, os personagens precisam lidar com novas rotinas, dinâmicas sociais e ambientes hostis para sobreviver.
O público do universo POP já está acostumado com histórias de apocalipses zumbis em países como o Estados Unidos da América (EUA), Europa e a Ásia. Existem diversos exemplos de mídias que abordam a temática nesses lugares, como por exemplo, as HQs de “Walking Dead”, que se passam no país norte americano, o filme “28 Days Later” (Extermínio em Pt/Br), que se passa em Londres, e a série All Of Us Are Dead, que aborda um surto na cidade sul coreana, Hyesan. Mas quando se trata da América Latina, especialmente o Brasil, são poucas as mídias que vem à cabeça do público.
Juliano Loureiro, através de seu trabalho com o podcast “Pod Ler e Escrever”, a plataforma “Clube de Autores” e o portal para novos autores, “Bingo”, têm divulgado e chamado a atenção para o gênero entre os leitores brasileiros.
Seus contos possuem um senso de urgência bastante forte e dinâmicas próprias, exercendo assim quase como uma antologia de seu próprio universo. Em Terraço, temos um advogado preguiçoso que precisa chegar ao topo de um prédio para sobreviver, dessa forma, como se estivesse jogando fases de um jogo, o personagem principal terá que desbloquear habilidades, até então desconhecidas por ele, para chegar ao seu objetivo. É uma boa pedida para quem gosta de uma leitura rápida e energética.
Em Passagem, lidamos com uma amizade fraterna entre Edgard e André, amigos de longa data que precisam atravessar um território novo para sobreviver. Com vivências muito reais e dolorosas, Juliano escreve talvez o conto mais pessoal até então da série. Esse é para emocionar.
Já em Olhos Mágicos, a dinâmica social é colocada à prova. Os vizinhos de porta, Oliver e Rebeca, se encontram no início do surto da Peste Dourada, e através de seus olhos mágicos, vêem seus amigos e vizinhos se transformarem em criaturas violentas. O leitor que gosta de uma boa ambientação vai adorar.
Com uma gama de possibilidades, Juliano Loureiro desperta nos leitores brasileiros a vontade de acompanhar um universo incrivelmente rico, mas não pelas suas monstruosidades, mas pelas lembranças que revisitamos ao ler as suas obras. É um desfrute de humanidade dentro da ficção de zumbi.
Entrevistando Juliano Loureiro
João/REVIL: Juliano, o universo de Corpos Amarelos é praticamente uma celebração ao gênero e ao tema de zumbis/ mortos-vivos. Trazendo a “Peste Dourada” como o grande catalisador do horror, os seus livros exploram com detalhes a sobrevivência de pessoas comuns frente ao mundo hostil. Como você chegou a este universo?
Juliano: Me fascinam histórias apocalípticas que “celebram” o fim da humanidade. O “e se” me faz pensar muito sobre como seríamos em uma sociedade com novas ameaças, escassez de recursos e a eterna luta pela sobrevivência. Além disso, é possível trazer similaridade ao nosso modo atual de vida que, querendo ou não, é marcado pela incessante busca por dinheiro, status social e outras formas de sobrevivência.
Escrever sobre zumbis é uma celebração ao nosso modo capitalista de viver e a “Peste Dourada” simboliza o colapso deste modo. Gosto de histórias que mostram justamente este momento, onde somos surpreendidos com o novo, desde os primeiros infectados até as primeiras estratégias de sobrevivência.
João/REVIL: E já que estamos falando de mortos-vivos/zumbis, não poderia deixar de te perguntar sobre as suas influências e referências. Quais são? Resident Evil está entre elas?
Juliano: Resident Evil marcou minha adolescência nos jogos, mas confesso que tinha bastante medo de jogar. Inclusive, tentei jogar os recentes remakes e não consegui. Rs. O medo, inclusive, é um sentimento importante que viso despertar nas minhas histórias.
No entanto, a maior influência foi The Walking Dead. É a revisitação do “zumbi clássico”, após os filmes do George A. Romero. Me envolvo até hoje com as novas séries e consigo me inspirar. Também gosto muito do livro e do filme “Eu sou a lenda”, já que gosto bastante de jornadas solitárias.
Especificamente no campo da literatura, gosto bastante do livro “Apocalipse Z”, do autor espanhol Manel Loureiro. O livro tem tudo que gosto: início do surto, primeiras estratégias de sobrevivência, fuga de casa, enfrentamento dos inimigos e pets sobreviventes. rs.
João/REVIL: Ainda sobre Resident Evil, existe algum jogo ou personagem que te marcou? Qual e porquê?
Juliano: O Resident que mais joguei foi o 4, da adaptação do fatídico Zeebo, console nacional lançado há vários anos, que não vingou por aqui. O jogo era legendado em português e me fez gostar mais da franquia. Como o 4 tinha o Leon como protagonista, é dele que me recordo mais e mais gosto.
João/REVIL: Voltando ao universo dos Corpos Amarelos. Até o momento existem 3 livros, sendo eles o Terraço; Passagem e Olhos Mágicos. Até onde pude ler, todos são diferentes entre si, mas compartilham a mesma premissa, a luta pela sobrevivência e a “manutenção” das relações interpessoais. As histórias dos livros surgem como? São parte das suas vivências?
Juliano: As histórias são realmente diferentes, porém, se passam no mesmo universo. A premissa, as características dos corpos amarelos, a ambientação e outros elementos são iguais. Mas retratam histórias de pessoas distintas, em locais diferentes.
As histórias surgem ao acaso. Particularmente, fico atento ao que acontece ao meu redor, seja quando assisto a um filme, ando na rua ou quando estou confraternizando com amigos. Qualquer cena do dia a dia pode ser a premissa de uma história.
Em “Passagem”, em especial, me inspirei na amizade que tinha com meu amigo André, falecido em 2009. Assim como na vida real, onde nossa amizade foi interrompida abruptamente, imaginei que em uma história pós-apocalíptica isso poderia funcionar bem.
Apesar de serem livros de ficção, gosto de trazer muitos elementos da realidade para as histórias.
João/REVIL: À medida que os livros são lançados, o universo da “Peste Dourada” vai se tornando mais rico e maior. Existem planos para o lançamento de novas histórias? Será que alguma delas será sobre a origem da peste?
Juliano: Tenho rascunho de várias histórias. Inclusive, é um desafio escolher qual delas escrever. No momento, estou trabalhando no quarto livro da série, que se chamará “A garota e o zumbi’, onde temos a inusitada interação entre uma garotinha e um zumbi. Nesta história, pretendo trazer um pouco de “humanidade” aos corpos amarelos, endossando a minha premissa de que ele são bem diferentes uns dos outros, podendo até ter certa cognição e consciência.
Depois de “A garota e o zumbi”, juntarei as histórias em um único volume. Depois, é bem provável que continue escrevendo novas histórias de zumbis.
João/REVIL: Aqui no REVIL já indicamos o livro Corpos Secos: um Romance, vencedor do prémio Jabuti de 2021, em nosso quadro de recomendações. Após a veiculação, percebemos que muitos leitores, que são do universo gamer, não conheciam a obra ou não davam devida atenção para a literatura de horror e ficção pós apocalíptica brasileira. Você acredita que essa percepção do público brasileiro tem mudado?
Juliano: Gradualmente, sim. Por décadas fomos bombardeados de filmes, séries e livros estrangeiros de ficção científica. No entanto, nos últimos anos, surgiram histórias incríveis e talentosos escritores.
Quando um livro como Corpos Secos vence o Jabuti, temos a certeza que este cenário está mudando. Ainda é pouco, mas o suficiente para continuarmos a escrever e divulgar nossas obras.
João/REVIL: Por fim, que tal deixar um convite para os leitores do REVIL explorarem os livros do seu universo?!
Juliano: O Universo Corpos amarelos traz inovação para o recheado mundo dos zumbis no entretenimento. São histórias que se passam no Brasil, com personagens que enfrentam desafios pertinentes ao nosso país.
Os três livros são histórias únicas que podem ser lidas sem uma ordem pré-estabelecida. O grande diferencial fica justamente para os corpos amarelos, seres que fogem do tradicional zumbi lento e mordedor.
Ah, além dos livros, também possuo um blog com mais de 100 artigos sobre o universo pós-apocalíptico. Neste blog, discuto temas como “técnicas de sobrevivência”, “sustentabilidade em um mundo pós-apocalíptico”, “o papel da tecnologia em um apocalipse”, “como construir comunidades”, “como sobreviver em um apocalipse” e diversos outros assuntos para entender e aprender mais sobre como o nosso mundo seria em um apocalipse zumbi.
Para ficar por dentro de tudo sobre o universo, acesse: https://corposamarelos.com.br/
Colaborou com a revisão deste conteúdo: Ricardo Andretto