Esqueça os preconceitos
Em Resident Evil 4: Recomeço, Paul Anderson faz um sinal aos fãs
e lembra os bons tempos de O Hóspede Maldito
Enquanto amantes fervorosos dos games execram os filmes de Resident Evil, os fãs dos longas exibem uma verdadeira devoção às obras. Em Resident Evil 4: Recomeço, que estreia no Brasil em 17 de setembro, o roteirista e (novamente) diretor Paul W.S. Anderson parece disposto a agradar a gregos e troianos. Dá para dizer que ele teve sucesso nessa empreitada.
O filme se passa quatro anos após o incidente em Raccoon City, e o deserto de Extinction dá lugar às instalações hi-tech da sede da Umbrella em Tóquio, onde Alice e seus clones iniciam seu golpe final sobre a empresa. Batalha vencida, Alice segue em busca de Claire e K-Mart, se encontra com mais sobreviventes e descobre que Arcadia, o suposto porto seguro, na verdade é mais um capítulo de uma longa batalha pela sobrevivência.
Agora sem seus poderes, Alice (Milla Jovovich) desce do pedestal construído para ela nas duas últimas sequências e abre espaço para o desenvolvimento dos personagens secundários, principalmente Luther (Boris Kodjoe) e Claire (Ali Larter). Na verdade, incluí-la no rol dos coadjuvantes pode ser considerado uma injustiça, já que boa parte do mistério de Arcadia é elucidado por ela, ou com sua participação direta.
Para se unir a uma Claire que nada tem a ver com os jogos, Anderson incluiu Chris (Wentworth Miller), que também não carrega traços do personagem original. O ator tenta simular o tom de voz de Roger Craig Smith em RE5, mas as semelhanças param por aí. A relação entre os irmãos não é explorada da maneira devida, e é simplesmente deixada de lado em prol de outras questões do roteiro. Os dois, porém, são protagonistas de um dos principais momentos do longa, que parece inclusive ser uma resposta do roteirista a algumas críticas sofridas pelo quinto game.
Resident Evil 4: Recomeço não seria nada sem um antagonista de respeito, e Wesker (Shawn Roberts) cumpre muito bem esse papel. Apesar de não convencer nas primeiras sequências em que aparece, o presidente da Umbrella mostra a que veio mais tarde e faz os fãs esquecerem o péssimo personagem de Extinção. Destaque para o ator que, mesmo sendo jovem demais para o papel, parece ter estudado com cuidado os trejeitos do vilão em RE5.
Resident Evil 4: Recomeço vai muito além dos anteriores. As cenas são maiores, as lutas são mais bem coreografadas e, o principal, são verossímeis. Com exceção de um ou dois momentos, o retorno da humanidade de Alice também trouxe mais realidade ao longa. Anderson soube usar muito bem o Fusion Camera System, o mesmo de Avatar. Gotas de água, tiros e pedaços de cérebro voam com muita fluidez em direção ao espectador. Os efeitos são sempre utilizados no momento certo. O resultado é uma impressionante experiência de imersão.
A dica é assistir em 3D e, se possível, em IMAX. Apesar dos ingressos serem mais caros, o filme faz cada centavo valer a pena. Sem isso, o longa perde grande parte de seus atrativos, pois resta apenas o roteiro simples. Apesar de ser objetivo e lembrar muito filmes tradicionais de zumbi, faltam explicações de alguns elementos cruciais para a trama e o final deixa dúvidas sobre os destinos de alguns personagens.
Para quem gosta dos filmes, Recomeço é um prato cheio, com mais ação, monstros e o retorno dos personagens queridos. Mas o foco principal de Resident Evil 4 parece mesmo ser os fãs dos games que, se não saírem satisfeitos da sessão, pelo menos não sentirão o gosto amargo de Apocalipse e Extinção. Mesmo perdendo a mão nos cinco últimos minutos, o quarto filme tem potencial de mudar a forma como os filmes de Anderson serão vistos daqui em diante, caso ele permaneça como diretor e roteirista. Claro, a produção tem suas falhas e liberdades em relação à história, mas passa longe de ser a deturpação que foi vista nos dois últimos filmes. Deixe suas opiniões sobre os filmes anteriores de lado e assista a Recomeço com a cabeça aberta. E fique até o final dos créditos.
Nota: 8
Por: Felipe Demartini (-Evil Shady-)