Introdução
Este blog oficial é escrito por Adam, um personagem fictício que vive em Kijuju. Ele não está realmente no game, mas oferece informações muito interessantes sobre a cidade e sobre alguns personagens (como Allyson, Reynard Fisher e até mesmo Chris e Sheva) e vilões do jogo (o homem com megafone, Adjules, Executioner, etc), desde os bons tempos de Kijuju até a época em que o caos toma conta da região devido à infecção parasita.
O estilo do texto se assemelha aos clássicos diários que sempre estiveram presentes na série e, dessa forma, fecha o grupo de componentes da Campanha Viral de Resident Evil 5. Clique aqui para saber mais sobre a Camapanha e confira a seguir a tradução dos posts feitos por Adam.
Domingo, 14 de Dezembro de 2008
Olá pessoal! Desculpem-me por não ter atualizado o meu blog por um tempo. Não é fácil ligar um computador em Kijuju (que é onde eu estou trabalhando, para aqueles que não têm lido!). Eu finalmente consegui uma conexão de rede (obrigado http://kijuju.blogspot.com!), então agora eu posso atualizar vocês com todas as minhas façanhas como um “estranho numa terra estranha”.
O trabalho está ficando melhor; melhor dizendo, agora eu estou me acostumando a trabalhar aqui. Finalmente consegui botar a minha vida em ordem. Agora eu posso voltar ao que realmente importa: bebida e mulher. Ou, melhor ainda, bebida com mulher!
Por enquanto, apenas uma rápida atualização. Escreverei mais em breve.
Terça-feira, 16 de Dezembro de 2008
Todo mundo fica me perguntando, “Adam, como é trabalhar em Kijuju?”. Eu sempre respondo que é como ser um gari numa praia. O trabalho em si não é lá muito glamuroso, mas o lugar é ótimo. Bem, talvez seja apenas bom. Eu trabalho numa mina e, como vocês podem imaginar, não há muitos rostos bonitos pra te distrair lá em baixo! O que geralmente ajuda a passar o tempo no trabalho é tentar ficar prevendo como o meu chefe vai vir encher o saco. A idiotice desse cara não tem limites. Ele até nos disse que nós podemos usar a água desperdiçada para tomar banho e beber! Claro, se eu quisesse que a minha pele caísse e eu me tornasse algum tipo de monstro, então é isso o que eu faria.
A melhor parte do trabalho é a hora de ir embora, porque aí eu e alguns dos caras podemos tomar umas bebidas. Contanto que eu possa tomar a minha cerveja gelada no fim do dia, eu posso encarar qualquer coisa (não quero nem falar do tumulto que aconteceu uma vez que ficamos sem energia e eles só serviram cerveja quente por dois dias seguidos. Aquilo foi um inferno.).
De qualquer forma, eu encontrei algo bem melhor pra me concentrar (e não é mais cerveja! LOL). Eu vi uma linda garota loira hoje. Foi como se eu estivesse caminhando por um deserto durante um ano e então alguém me oferecesse um copo de água gelada (ou cerveja!). Nós temos recebido aqui um monte de trabalhadores estrangeiros, como eu, então eu não sei o que ela faz – ainda. Inferno, eu nem sei se ela fala inglês! (a maioria fala, exceto aquele cara francês. Eu acho que ele fala inglês sim, mas eu não consigo entendê-lo por nada nesse mundo. Ele simplesmente parece que está bravo o tempo todo.)
Eu vou manter vocês atualizados sobre como as coisas estão indo com essa mulher. A primeira coisa a se fazer é descobrir quem ela é. Se você tem tempo, não seja tímido e deixe um comentário.
Sexta-feira, 19 de Dezembro de 2008
Consegui!
Bem, mais ou menos.
Eu vi aquela mulher sobre a qual escrevi da última vez (e que vergonhoso se você não leu!) na cidade de novo. Infelizmente eu estava a caminho do trabalho e eu não queria me atrasar, uma vez que eu já cheguei atrasado duas vezes nessa semana. Acho uma boa não aparecer no trabalho de ressaca, então eu prefiro dormir. Meu chefe, no entanto, não concorda. Acho que ele prefere que eu seja pontual e coloque a vida de todos em risco com os meus reflexos comprometidos. Eu gostaria que tivéssemos normas de segurança por aqui.
Mas voltando ao assunto…
Mesmo não tendo conversado com ela, eu descobri algumas coisas. Ela não cresceu aqui; ela veio pra cá com o namorado que, se os rumores estiverem certos, não tem aparecido muito no trabalho. Eu posso chegar atrasado de vez em quando, mas pelo menos eu estou lá todos os dias. Esse idiota nem se dá ao trabalho de aparecer! Mas com as bebidas estando tão baratas eu dificilmente posso culpar o cara.
Eu sei que na teoria ela tem um namorado, mas se esse cara está deixando de trabalhar o tempo todo, talvez ele também esteja deixando ela de lado. Pode ser a hora de Sir Adam salvar a princesa em perigo. Se alguém tem idéia do que eu possa fazer daqui em diante, por favor, deixe um comentário e me conte. A vida em Kijuju está ficando melhor a cada dia.
É sexta-feira, logo, hora de mais uma noite de bebedeira! Talvez eu trombe com a minha misteriosa princesa loira…
Terça-feira, 23 de Dezembro de 2008
Hoje eu vi algo muito nojento. Não sei nem se eu consigo descrever.
Eu estava andando numa das ruas de Kijuju quando vi um cachorro morto deitado lá. Eu já vi animais mortos algumas vezes, então o fato em si não foi tão chocante (pode ser um pouco perturbador da primeira vez, mas não é como se eu nunca tivesse visto algo morto voltando pra casa. Estou tentando ser mente aberta aqui). Desta vez, no entanto, o cachorro estava sem a cabeça! Eu não sei quem ou o quê o decapitou, mas o que quer que tenha arrancado a cabeça daquele cachorro, não largou ela lá no chão. Simplesmente não estava lá. Porque alguém iria querer a cabeça de um cachorro? E a cabeça dele foi arrancada antes ou depois dele morrer/ser morto?
Eu fico enjoado com cachorros sem cabeça por perto, então eu dei meia volta e me deparei com a parte de trás do açougue, e o que eu encontro? O açougueiro em pessoa lavando uma machadinha cheia de sangue. Eu não acredito que ele mataria um cachorro sem motivo, mas se foi ele, então porque levar só a cabeça e largar o corpo? Ele talvez nem tenha nada a ver com o cachorro, mas ele não é lá a pessoa mais amigável da vizinhança. Ele só meio que resmunga quando eu dou oi a ele. Eu geralmente não falo muito com ele porque, sejamos realistas, quem iria querer comprar uma cabra morta que está pendurada ao ar livre por três dias? Um açougueiro sem um freezer. É isso o que acontece quando não há leis e inspetores de saúde.
Sabe, enquanto escrevo isso, não posso deixar de sentir que há algo diferente no ar da tarde. Não é algo em que eu possa tocar, e eu não saberia responder se você me perguntasse, mas eu simplesmente sei. Acho que eu preciso beber.
Quinta-feira, 25 de Dezembro de 2008
Mas que dia pra chegar cedo no trabalho! O chefe nem apareceu por lá a manhã inteira! Quando ele finalmente chegou, eu realmente desejei que ele não tivesse aparecido. Ele disse que iria transferir cinco de nós para outro local de trabalho, então ele pegou um pedaço de papel e começou a falar os nomes. Eu não sei se foi uma escolha aleatória ou se alguém escolheu estes nomes especificamente, o que eu sei é que alguns dos meus companheiros de bebida estavam entre eles. Maravilha. Com quem eu vou beber depois do trabalho agora? O novo local de trabalho é a um dia e meio de viagem daqui, então, quem sabe quando ou se eu sequer os verei de novo? Eles eram boa gente. Não vai ser fácil afogar as minhas mágoas sozinho. Vou beber uma por vocês, caras!
Cara, hoje provavelmente foi o melhor dia da minha vida! Eu fui a um dos meus bares favoritos depois do trabalho, mas de início eu não estava lá de coração, uma vez que alguns dos meus amigos foram transferidos para fora da mina. Eu bebi algumas para honrar os bons tempos que nós tivemos juntos.
Eu teria ficado lá sentado sozinho o dia todo se ELA não tivesse aparecido. Sim, era a misteriosa loira sobre a qual eu tenho escrevido nos meus posts! Já que eu já tinha bebido um pouco, resolvi deixar o álcool fazer a conversa (adoro aquela coragem líquida!) e perguntei se ela gostaria de se juntar a mim. Naturalmente, ela aceitou.
No começo ela estava quieta e eu não tinha certeza do que falar, mas depois que ela pediu um uísque e uma água (o meu tipo de mulher!) ela ficou tagarela e eu soube que as coisas estavam indo do meu jeito. Ela começou falando tudo sobre a vida dela em Kijuju. Ela tem visto algumas coisas estranhas nos últimos dias, como animais sem as vísceras ou dos quais as carcaças parecem ter sido arrastadas por alguma coisa. Ela disse que só está em Kijuju há algumas semanas, mas, desde o começo desse mês, parece que o lugar está completamente diferente do que ela encontrou quando chegou aqui. Ela não conseguiu explicar, mas às vezes ela fica assustada sem motivo. Se eu estava entendendo-a direito, acho que ela estava indiretamente me dizendo que ela quer passar mais tempo comigo.
Eu não queria parecer desesperado fazendo perguntas, então eu simplesmente concordava com tudo o que ela falava. Eu tentei complementar a conversa contando sobre a minha experiência com o cachorro no outro dia, sem falar do açougueiro que tem agido de forma estranha. Eu também contei a ela que eu tenho visto rastros de sangue sem corpo algum. Também houve um aumento das áreas grafitadas, assim como estranhos cartazes espalhados pela cidade (eu não me foquei muito nas áreas grafitadas, já que algumas delas devem ter sido feitas por mim nas minhas noitadas). O lugar definitivamente tomou um ar diferente desde que eu cheguei aqui meses atrás. É como se a cidade estivesse mudando bem debaixo do meu nariz, mas ninguém se importasse em me contar que está mudando.
Eu disse para ela não se preocupar, que a maioria das coisas que aconteceram pode ter sido por causa de algum tigre selvagem ou coisa do tipo. Ela pareceu mais confortada com as minhas palavras, então eu arrastei a minha cadeira um pouco mais perto da dela. Foi quando ela realmente se abriu pra mim. Eu não sei se foi devido ao álcool ou se ela estava se sentindo à vontade comigo, mas ela começou a reclamar do namorado (é sempre um bom sinal quando uma garota começa a reclamar do namorado). Aparentemente ele foi trabalhar certo dia e não voltou mais. Todo o mundo fica dizendo a ela que ele está ocupado. Eu não acho que o trabalho poderia me deixar tão ocupado a ponto de me fazer negligenciar uma mulher tão atraente quanto ela.
Eu falei a ela que, se ela precisar de qualquer coisa, ela pode sempre contar comigo. Ela agradeceu e deu um sorriso antes de sair andando. Eu provavelmente deveria ter seguido ela, mas acho que eu devo me fazer de difícil um pouquinho para que ela se mantenha interessada.
Como eu disse, o melhor dia da minha vida!
E o melhor presente de Natal que eu já recebi!!
Lembre-se, comentários são sempre bem-vindos!
P.S.: Eu me esqueci completamente de perguntar o nome dela! Vou ter que esperar pela próxima vez.
Sexta-feira, 9 de Janeiro de 2009
Eu finalmente consegui uma folga e fui passar os feriados de fim de ano com a minha família. Como vocês provavelmente já devem ter tido a experiência, feriados com a família podem ser bem agradáveis ou angustiantemente enlouquecedores. Eu esperava apenas dormir, comer e tomar algumas bebidas, mas se você passar um tempo com a minha família, a última coisa que você vai poder fazer é relaxar.
Eles ficaram me perguntando sobre Kijuju, mas quanto mais eu contava sobre a vida por aqui, especialmente sobre os eventos recentes, mais eles ficavam preocupados ou irritados. Não consigo entender por que. Você conta às pessoas sobre alguns cachorros mortos e elas pensam que o perigo está à espreita em cada esquina. Minha mãe ficou especialmente preocupada, e ela só balançava a cabeça e me implorava pra não voltar para Kijuju. Com o meu pai não foi melhor; ele me disse para dar ouvidos a ela antes que ela ficasse mais preocupada. Apesar de eu odiar trabalhar, Kijuju é o único lugar que oferece serviço a um salário decente, e por eu enviar dinheiro para casa a minha família pode desfrutar de uma vida melhor do que normalmente poderia. A vida não é fácil por aqui. Dificilmente há algum trabalho aqui, e quando há, não oferecem nem metade do que é pago na mina.
Eu tentei explicar isso a eles, mas eles não me deram ouvidos. Eu nem mesmo cheguei a contar sobre a mulher loira. Ela é outra razão pela qual eu quero ficar em Kijuju, mas eles também não entenderiam isso.
Quando eu voltei a Kijuju, parte de mim começou a se sentir como se a minha família estivesse certa. O ar estava opressivo, senão completamente sufocante. Eu corri pro mercado para comprar o meu jantar, mas eu senti como se alguém estivesse me observando o tempo todo. Eu me virei e vi o açougueiro conversando com alguém que vestia um turbante. Não parecia que eles estavam tendo uma conversa de amigos, mas sim que estavam discutindo algo grave. E durante o tempo inteiro eles ficaram lançando olhares desconfiados em minha direção.
Não quero tirar conclusões precipitadas, mas na primeira vez em que eu encontrei aquele cachorro, o açougueiro estava próximo. Se a minha memória não falha, eu tenho certeza de que vi alguns animais mortos perto de seu açougue. Talvez ele esteja vendendo carne de cachorro e de gato como uma iguaria. E quer saber? Por mim tudo bem. Se é assim que ele quer ganhar dinheiro, o problema é dele. Mas e se há algo mais? E se for ele quem está grafitando por aí e colocando os cartazes estranhos? E se ele estiver começando uma revolução ou algo do tipo? Infelizmente, não há ninguém para quem eu possa contar aqui. Mesmo se houvesse, de qualquer forma ninguém faria nada a respeito.
Fico imaginando o que a minha garota pensa sobre disso (eu sei que ela não é a minha garota ainda, mas ela ainda vai ser!). Eu também quero saber o que você pensa, então deixe um comentário.
Sexta-feira, 16 de Janeiro de 2009
Desculpem-me por não atualizá-los antes. Tanta coisa tem acontecido na minha vida ultimamente que eu não tive a chance de postar. Lembra daquela garota loira que estava lentamente se apaixonando por mim? Agora nós nos chamamos pelo primeiro nome, e o dela é Allyson. Achei incrível ambos os nossos nomes começarem com A!
Essa é a novidade boa. A notícia ruim é que Kijuju está ficando mais louca, até mesmo perigosa e incerta. Eu me encontrei com a Allyson no nosso bar favorito para tomar alguma coisa. Eu achava que as coisas estavam indo bem: ela estava com um uísque duplo e eu estava bebendo um mini barril de cerveja. Eu estava realmente curtindo (e como não poderia?) quando um cara que eu nunca havia visto começou a falar muito alto. Ele estava usando óculos escuros e ficava batendo o copo de cerveja na mesa enquanto falava. Na verdade, pareceu mais que ele estava gritando. Ele ficava falando coisas como “Estrangeiros devem ser expulsos da nossa terra!” e “Nós vamos tomar a nossa cidade de volta!”. Ele estava derramando cerveja em todo lugar! Allyson ficava me olhando como se estivesse dizendo que eu devesse me levantar e falar algo a ele. Eu iria, mas não queria deixar a minha cerveja abandonada.
Na esquina eu vi que não era o único a observar esse cara. Aquele açougueiro assustador estava com os olhos fixos no homem que berrava. Então, do nada, eu ouvi alguém gritar “Cala essa boca!” e uma garrafa foi atirada pelos ares. O bar inteiro começou a brigar, então eu segurei a mão da Allyson (ou ela segurou a minha?) e nós corremos pelas nossas vidas!
Eu corri com ela para minha casa, uma vez que eu moro perto e ela vive no outro lado da cidade (muito fácil, né?). Nós chegamos à minha casa e eu tentei segurar a mão dela para confortá-la, mas ela tinha enterrado o rosto nas mãos. Coloquei o meu braço sobre o seu ombro. Eu não sabia o que dizer enquanto ela se sentava. Nós passamos o resto da noite assim. Pela manhã ela me disse, “Não posso ficar mais aqui. Essa não é a vida que eu queria. Eu vou encontrar o meu namorado e dizer a ele para nos tirar do país. Quero ir para casa”.
Eu tentei convencê-la a ficar comigo, que eu a protegeria, mas ela simplesmente saiu sem dizer uma só palavra. Conte-me – esse comportamento é normal pra uma mulher? Eu deveria ter seguido ela?
Sexta-feira, 13 de Janeiro de 2009
Eu acordei mais cedo nesta manhã devido a uma confusão lá fora (eu realmente odeio acordar antes do alarme do meu despertador tocar). Kijuju é sempre barulhenta pela manhã porque geralmente todos levantam no finzinho da madrugada. Eu nunca vou entender isso. Nesta manhã eu não ouvi a típica agitação que deixa os meus nervos à flor da pele. Eu ouvi gritos, gritos irritados. Eu relutantemente levantei da cama e saí para ver o que estava acontecendo.
O que eu vi eu acho que nunca me esquecerei. Foi cem vezes mais apavorante do que ver aquele cachorro morto. Havia uma aglomeração em volta do palanque e eles estavam empilhando umas sacas de Deus-sabe-o-quê lá no meio. Eu vi uma substância viscosa preta escorrendo pra fora de algumas sacas. Não era petróleo. Talvez sangue?
Quando a pilha estava com uns dois metros de altura, aquele cara de óculos escuros do outro dia no bar apareceu e começou a falar num megafone. Não acredito que “falar” seria a palavra certa. Era como se as palavras dele fossem fogo e ele as tivesse cuspindo. Eu não consegui entender direito o que ele estava falando (muita gente gritando, sem falar que o meu coração estava batendo nos meus ouvidos), mas eu o ouvi vomitar palavras como “justiça” e “celebração da morte”. Eu sentia os pelos da nuca arrepiar a cada vez que ele falava “morte”.
A multidão estava bem irritada, mas então eu os vi abrindo caminho para um homem que carregava uma tocha em direção à pilha. Ele acendeu a tocha e todo o mundo explodiu de alegria. Eu nunca pensei que pessoas comemorando poderiam me causar tanto pavor. Isso me fez estremecer. Conforme o fogo consumia a pilha, uma das sacas rolou do topo. O fogo a havia queimado, e o que estava dentro saiu pra fora. Eu não conseguiria explicar, mas parecia o próprio corpo do açougueiro! Em nome de Deus, criador da terra, o que está acontecendo aqui!?
Eu rapidamente fechei as minhas cortinas e corri de volta para a cama. Eu só tive coragem de vir escrever este post quando tive certeza absoluta de que a multidão tinha se dispersado. Nem preciso dizer que hoje eu não vou aparecer no trabalho.
Sexta-feira, 30 de Janeiro de 2009
Eu não abri as minhas cortinas desde que vi aquela multidão maluca e sua fogueira na semana passada. Não ajuda ficar ouvindo aquele homem com o megafone fazendo aqueles discursos venenosos para as pessoas ficarem irritadas. Eu queria que alguém calasse a boca dele. Não estou falando de vocês. Não sou um daqueles que colocam lenha na fogueira.
Eventualmente a minha curiosidade me vence e eu afastei a cortina só um pouquinho para espiar lá fora. Desta vez eu vi milhares de pessoas agitadas, quase duas ou três vezes mais do que na semana passada! Pra começo de conversa, eu nem sabia que existia tanta gente vivendo nesta parte de Kijuju. Eu não acredito que eles sejam estrangeiros devido ao desdém que o Sr. Óculos Escuros tem por estes, mas só Deus sabe onde eles estavam se escondendo. Eu não havia prestado atenção nos rostos de cada um da multidão até ver algo que me fez gritar de surpresa: Era um dos meus velhos companheiros de bebida do trabalho! Eu não havia visto ele desde que alguns dos caras haviam sido “transferidos” para outro local. Toda vez que eu perguntava ao meu chefe sobre eles ele me vinha com desculpas esfarrapadas. Agora eu vejo um deles justo aqui. Eu queria muito abrir a minha janela, chamá-lo e dizer “Ei, vamos beber alguma coisa – por minha conta!”, mas eu não queria que todas aquelas pessoas me vissem.
Á noite a multidão se dispersou, então eu pensei em sair para verificar o velho bar a que nós costumávamos ir, para ver se ele ou qualquer um dos meus companheiros de bebida estariam lá. O bar estava completamente em ruínas. Eu não fazia idéia de que aquela briga há algumas semanas o havia totalmente demolido. Agora, pensando melhor, eu ouvi falar que o dono do bar havia sido morto durante a confusão. Pobre homem. Deve ser por isso que o bar foi saqueado. Não havia uma só coisa lá que não estava quebrada. Todas as garrafas de álcool estavam vazias.
Eu me virei para ir pra casa. Você sabe o que dizem: nunca se apaixone por um bar. Eu devia ter seguido esse conselho. Agora eu não tenho bar, amigos e mulher. E o pior de tudo, eu nem sequer tenho algo pra beber.
Quando eu comecei a andar, o meu pé chutou alguma coisa dura. Eu abaixei para pegar. Foi o meu dia de sorte. Eu havia tropeçado numa garrafa fechada de uísque! Hoje se tornou um dia melhor do que eu pensei que seria. Estou sentado aqui curtindo o resto da minha pequena expedição. Mais alguém está bebendo enquanto lê isso?
Sexta-feira, 6 de Fevereiro de 2009
Começaram a bater tão furiosamente na minha porta que eu quase derrubei a minha taça de uísque. Felizmente os meus rápidos reflexos evitaram uma perda lamentável. Eu não estava certo sobre eu dever ou não abrir a porta. Eu não quero dizer que eu temi pela minha vida a esse ponto, mas devido ao estado de loucura geral de Kijuju, um pouco de cuidado nunca é de mais. Eu estava desconfiado de abrir a porta, mas a curiosidade me venceu – de novo!
Eu não pude acreditar no que vi quando abri a porta. Era a Allyson! Ela parecia abatida, como se não dormisse por uma semana, mas eu não liguei pra isso porque ela ainda é a minha princesa. Eu a chamei depressa para entrar, disse para ela se sentar e ofereci um pouco de uísque para acalmar os seus nervos. Eu não consegui acompanhar o que ela estava dizendo por que eu estava muito feliz simplesmente por tê-la de volta. Pelo que eu pude entender, ela não conseguiu encontrar o namorado e aquele hotel no qual ela estava hospedada foi atacado por moradores anti-estrangeiros. Algumas pessoas foram arrastadas para a rua e desapareceram no mar de mãos de uma multidão furiosa. O que aconteceu com elas é só suposição. Allyson conseguiu se esconder e veio direto para a minha casa. Uma vez que eu nasci neste país, ela pensou que estaria mais segura aqui do que no hotel. Eu não pude culpar a lógica dela, mas nem mesmo eu me sinto mais seguro aqui.
Allyson está morando aqui comigo desde então, portanto eu não posso dizer que a situação aqui em Kijuju está tão ruim. 🙂 Infelizmente ela fica nervosa toda vez que aquele cara com o megafone começa com os seus discursos. Eles simplesmente não param. Todos os dias cada vez mais pessoas vêm para escutá-lo. Não, não é verdade. As pessoas começam a agir mais como uma gangue de motoqueiros bêbados num show de rock.
O que há de errado com este lugar?
Sexta-feira, 13 de Fevereiro de 2009
Para aqueles que têm acompanhado, Allyson está vivendo comigo desde a última semana. Quando eu deveria estar dançando na rua de alegria, tem sido simplesmente um pesadelo atrás de outro. Tudo o que você está prestes a ler é verdade, por mais horrível que possa parecer. E, não, eu não me esqueci do fato de eu estar postando isso numa sexta-feira 13.
Está sendo construído algum tipo de armação/tablado no palanque onde o cara com os óculos escuros e o megafone fica fazendo os discursos cheios de ódio quase que diariamente. Eu não entendi pra que isso serviria até que eles arrastaram um de nós lá pra cima (Quando eu digo “eles”, estou falando de qualquer um de Kijuju que tenha aquele olhar de um carcaju maluco no rosto. “Nós” se refere a qualquer um que, como eu, ainda pensa, parece e age como uma pessoa normal, alguém que esteja confuso com a insana Kijuju). Aquele pobre homem; ele lutou para se libertar da horda conforme eles o arrastavam para cima do palanque. Dois homens o imobilizaram lá em cima, e em seguida um homem do tamanho de uma montanha apareceu do nada carregando um machado que era tão grande quanto um carro pequeno! A cabeça dele era coberta por um saco ou capuz preto e só de olhar pra ele eu já fiquei apavorado. Senti as minhas pernas ficarem bambas. Eu sabia pela boca do meu estômago pra quê era aquele machado. Era uma execução. Eu me virei para não ver a cena no momento em aquele monstro gigante começou a lançar o machado no ar. Houve um momento de silêncio (talvez tenha sido a minha imaginação) e então um altíssimo BAQUE. Eu sabia que tinha terminado quando ouvi a multidão voltar a gritar. Olhei para trás e vi a cabeça decapitada rolar pra fora do palanque. Nesse momento as minhas pernas cederam e eu simplesmente caí no chão. Allyson correu pra perto de mim. Ela tentou olhar pra fora para ver o que tinha me assustado tanto, mas eu a puxei para longe da janela. Não há necessidade de ela ver aquilo.
Quando eu ouso me aventurar lá fora, normalmente quando a multidão já se dispersou, a única coisa que eu vejo são “eles”. Eles andam distraídos, sem muito vigor, mas os seus olhos… estão preenchidos com uma coisa que eu só consigo descrever como raiva. Eles ficam me encarando com um olhar violento toda vez que eu tento passar por eles. Posso senti-los perfurando buracos atrás da minha cabeça. Aonde quer que eu vá eu posso sentir os seus olhares sobre mim. É por isso que eu sempre digo à Allyson para ela ficar dentro de casa sempre que possível. Não é seguro pra ela.
As pessoas já não são as únicas esquisitices por aqui. Toda parede está grafitada, geralmente com as mesmas uma ou duas palavras rabiscadas por todo lugar. É tão comum encontrar corpos de animais violentamente rasgados e despedaçados que ficou impossível andar sem tropeçar em alguma carcaça. Tenho certeza de que alguns pedaços que eu já vi são de humanos, mas eu não quis chegar muito perto pra descobrir.
Outro dia eu vi alguém ser arrastado para trás de um prédio. Ele tentava escapar, mas o cara que estava arrastando-o era muito forte. Metade de mim queria saber o que estava acontecendo, metade queria simplesmente ignorar. Infelizmente eu não agüentei sair de lá sozinho, então eu cuidadosamente segui para o beco onde os dois homens desapareceram. Quando será que eu vou conseguir vencer a minha curiosidade? Havia sangue em todas as paredes e parecia que o homem mais forte estava comendo o mais fraco. Eu não tenho certeza se foi isso o que eu vi, mas parecia que um cara estava fazendo uma máscara usando a cabeça do outro. Eu apenas corri dali o mais rápido que pude.
Eu vi um grupo de pessoas chutando alguma coisa dentro de um grande saco de pano, igual àqueles em que eles tacaram fogo algumas semanas atrás. Quando eu passei por perto eles pararam de chutar e ficaram me encarando. Eu podia jurar que o saco estava se mexendo. Lá dentro tinha algum tipo de animal… ou era uma pessoa?
Também vi jogarem um cadáver humano dentro de um poço. E tinha um cara maluco correndo com uma tenda de comida que ficava agitando a sua faca descontroladamente. Parecia que ele estava vendendo intestinos ou alguma substância pastosa. Eu quase vomitei quando vi.
A coisa mais estranha que eu vi recentemente foi um cachorro com algumas sanguessugas ou tentáculos saindo do seu focinho. Não sei se ele estava doente ou se foi infectado por um parasita, mas foi a coisa mais esquisita que eu já vi na vida. Quando o cachorro me olhou, ele rosnou e todos os tentáculos saíram pra fora antes dele fugir. Não me peça para explicar, porque eu não sei o que foi aquilo.
Enquanto eu digito, eles estão arrastando outro de nós para cima do palanque. Que diabos está acontecendo com este lugar!? Que diabos está acontecendo!? Se tiver alguém aí que possa ajudar a mim e à Allyson, por favor, venha e nos salve! Qualquer um! Por favor, depressa!
Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2009
O exército está aqui. Eu pensei que a ajuda enfim teria chegado, mas tudo o que eles fizeram foi construir rapidamente um muro para nos deixarem aprisionados dentro deste inferno. Eles patrulham o perímetro lá fora, armas de fogo automáticas nas mãos. Eles não vão nos deixar sair. Eles não têm problema em deixar as pessoas entrarem em Kijuju, mas se alguém sequer pensar em pular aquele muro… bem, que descanse em paz. Eles não estão aqui para nos ajudar; estão aqui para nos conter. Eles esperam simplesmente nos deixarem aprisionados aqui dentro e nos verem destruir uns aos outros.
Eu não posso nem mais olhar para fora da minha janela e muito menos me aventurar lá fora. Eu ainda sei o que acontece. Eu sei por que os gritos de congelar o coração das vítimas que estão sendo assassinadas ecoam nos meus ouvidos todos os dias. Então eu ouço a comemoração daquela multidão selvagem e sei que perdemos um de nós – um humano. Eu tento bloquear esses sons, onde você sabe que carnes estão sendo rasgadas e ossos estão sendo quebrados. Eles me dão calafrios até a espinha!
O exército não faz porcaria nenhuma. Eles só ficam de guarda do outro lado do muro esperando que nós deixemos de ser um problema para eles. Não posso mais confiar no governo.
Por favor, se você está lendo isso, não me dê mais nenhum conselho! Ajude-me! Conte a alguém que você conheça que trabalhe para um jornal ou algo do tipo para denunciar a loucura que está acontecendo aqui. Você precisa divulgar! Se você conhecer alguém que tenha um amigo que trabalhe para alguma agência do governo, conte a ele! Deixe saberem que ainda há pessoas boas em Kijuju – pessoas que precisam ser resgatadas! Nós precisamos de ajuda agora mesmo! Mande o exército, a Força Aérea, ou até mesmo a N.A.S.A.! Por favor, se você já sentiu qualquer coisa pelo seu amigo aqui, agora é hora de agir! Por favor!
Sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2009
Eu acordei de manhã para descobrir que a Allyson não estava deitada do meu lado. Pensei que ela poderia ter saído para ver se encontrava comida ou alguma outra coisa. Eu fiquei irritado por ela ter sido tão estúpida de sair lá fora. Então eu percebi um recado pra mim em cima do meu teclado. Era dela. Ela disse que ficou farta de me ver simplesmente sentado em frente ao computador o dia todo. Ela não podia ficar enfiada o dia todo aqui sem fazer nada e não agüentava mais o fato de eu não estar tentando fazer nada para nos tirar daqui. Mas isso não é verdade! Eu tenho tentado ir atrás de informações importantes e tentado achar alguém para nos ajudar. Não é como se eu ficasse sentado aqui o dia todo lendo fofocas de celebridades! Eu quero dizer isso a ela para que ela entenda.
Eu deveria ter falado isso pra ela.
É tarde de mais para arrependimentos. Agora ela se foi, provavelmente atrás de uma saída de Kijuju. Pensando bem, ela ficava me perguntando sobre a mina e se tinha nela alguma passagem subterrânea. Eu disse a ela tudo o que queria saber, sem perguntar por que ela queria saber essas coisas. As coisas estavam tensas ultimamente, nós estávamos discutindo muito, então eu ficava feliz por ter uma noite sem nenhuma briga. Eu não fazia idéia de que ela estava pensando em fazer algo assim…
Porque ela me abandonaria? Ela estava segura aqui. Eu estava aqui. Ela estava melhor aqui comigo, mas agora ela está por aí sozinha. Eu quero sair e procurá-la – trazê-la de volta. Quero ir atrás dela e encontrá-la, mas não posso ficar lá fora. Sei que vão me matar. Eu me odeio por ceder aos meus medos, mas o meu medo é maior do que qualquer tristeza. Eu rezo para que ela volte pra mim bem. É tudo o que eu posso fazer.
Se tiver alguém aí que possa ajudá-la, por favor, ajude-a! Diga a ela para voltar pra mim! Eu vou protegê-la.
Sexta-feira, 6 de Março de 2009
Hoje eu ouvi outro homem ser arrastado para cima do palanque para encontrar a sua morte. Isso se tornou tão comum que eu aprendi a simplesmente tampar os ouvidos para bloquear a maldição dos homens condenados sempre que isso acontece. Mesmo com os meus ouvidos tampados eu ainda consigo sentir o baque do machado roubando mais uma vida. E a comemoração da multidão continua a me encher de medo e pavor. Eu poderia ter feito uma oração no meu coração para este pobre homem (pelo menos eu pensei que fiz), mas eu parei de pensar nele. Não pude acreditar no quanto eu fiquei entorpecido com isso. Outro dia, outra execução. Ou era o que eu pensava.
Desta vez, não terminou com a comemoração da multidão. Em vez disso, ouvi disparos. Confuso, abri cuidadosamente uma das cortinas para ver o que estava acontecendo lá fora (isso botou a minha vida em grande risco, vale lembrar). Eu vi um homem e uma mulher dentro de um prédio cercado pelo povo. Pensei que eles com certeza já estavam perdidos, mas então eu percebi que eram eles que estavam carregando armas. Devem ter sido eles que atiraram! Os dois trabalhavam em equipe conforme eles seguiam pelo largo e davam conta do tanto de loucos que conseguissem. Eu deveria ter ficado chocado por ver mais mortes, mas acho que eu fiquei mais chocado pela presença daqueles dois.
Enquanto eu os observava eu ouvi um helicóptero aparecer do nada e atirar um míssil contra um grande portão de metal. O tremor da colisão sacudiu a minha casa como se fosse um terremoto. Não acredito que alguém que tenha estado perto da explosão possa ter sobrevivido. Quando eu olhei pela minha janela novamente eu vi que todo o mundo exceto aquele homem e aquela mulher havia sumido. Acho que eles têm medo de mísseis.
Parecia que tudo tinha se acalmado, então eu peguei os meus binóculos para olhar mais de perto aqueles dois malucos. Tipo, você tem que ser louco pra pensar que você pode dar conta de milhares de pessoas que agem como cães raivosos! A mulher parecia ser daqui. Ela vestia roupas esportivas, estava usando um coldre e tinha uma faca enorme. Parecia que ela sabia como usá-los. O homem estava vestindo roupas semelhantes, mas debaixo de seu coldre ele parecia usar algum tipo de uniforme. Ele era bastante musculoso, como um astro de cinema dos anos 80. Havia um distintivo em uma de suas mangas que dizia B.S.A.A. Quando eu vi o distintivo, um monte de coisas começou a fazer sentido pra mim. Pelo que eu sei, a B.S.A.A. só se envolve com situações em que é preciso lidar com bioterrorismo. Aposto que alguém soltou algum vírus ou alguma coisa para fazer as pessoas agirem tão descontroladamente. Poderia ser como uma super versão da doença da vaca louca.
O que quer que isso seja, aposto que a B.S.A.A. trouxe algumas vacinas para ajudar todo o mundo. Graças a Deus. Também espero que eles tenham trazido algum uísque, porque eu não bebo há uma eternidade. Eu também não me importaria de dividir uma bebida ou duas com aquela linda agente da B.S.A.A. Tenho certeza de que ela sabe fazer alguns bons movimentos.
De qualquer forma, eu vou ficar bem! Obrigado a todos aqueles que ajudaram a divulgar. Agora eu posso voltar a escrever sobre o que importa – bebida e mulher!