A.I.L.A é o segundo jogo do estúdio brasileiro Pulsatrix, que teve uma excelente recepção de seu primeiro título, Fobia – St. Dinfna Hotel, tanto pela crítica quanto pelo público, o que fez crescer as expectativas para esse segundo título.
Tenho que dizer que A.I.L.A conseguiu me cativar em meia hora de jogo, com a demo que a Pulsatrix disponibilizou na Gamescom desse ano, que aconteceu em maio e desde então me vi aguardando ansiosamente para poder jogar.
A era das IAs
Em um futuro não tão distante assim, o mundo está totalmente integrado com as IAs, usando-as para praticamente tudo no dia a dia, inclusive contando com casas inteligentes que fazem tudo com apenas um comando de voz.
Nesse cenário tecnológico, controlamos Samuel, um testador de jogos de terror em realidade virtual. Como seu novo trabalho, ele precisa testar e avaliar um novo modelo de IA que promete tornar sua experiência o mais imersiva possível, criando sempre uma narrativa única, moldando ela a seus medos, desejos e muito mais. Essa poderosa IA é A.I.L.A, que ao interagir e observar Samuel começa a aprender tudo sobre ele, adaptando tudo isso em cada nova experiência de jogo.
O problema é quando os limites entre realidade, jogo e vida real passam a não existirem mais… Como saber onde a manipulação da realidade começa e o real fora do imaginário termina? Ou os limites éticos e de privacidade? E quando você para de fato de testar o terror e passa a vivenciá-lo?
Com essa premissa interessantíssima e com escolhas que o jogador faz que podem alterar o rumo da história, que o jogo nos coloca pra pensar e muito sobre o uso de IAs. Tocando num tópico em alta e bem sensível hoje em dia, A.I.L.A traz um ótimo entretenimento em seu enredo e ainda convida o jogador a fazer uma reflexão sobre o uso de IAs.
O enredo é bom, bem interessante, mas quando o jogo tenta responder as perguntas que ele mesmo criou e dar um desfecho pra história de Samuel e A.I.L.A, ele desliza. Pouco mais da metade pro fim, quando começam as “reviravoltas” o enredo se perde um pouco, tomando um rumo diferente do que dá a entender no começo do jogo.
O que me frustrou um pouco, pois me vi diversas vezes mais interessado em saber os efeitos posteriores na vida de Samuel após cada experiência do que em viver a próxima experiência em si, mas a “conclusão” em si não foi tão interessante. Digo isso sem entrar no mérito dos múltiplos finais, que embora eles mudem uma coisa ou outra, as revelações acontecem antes deles, mudando apenas as ações de Samuel nos finalmentes.
Ainda assim, é bem interessante ver cada novo contato com A.I.L.A e como ela faz suas análises, algumas vezes baseadas nas escolhas do jogador e outras de forma scripuidadas. Ver a evolução e a forma como ela vai manipulando tudo ao redor de Samuel também é legal.
Realidade Virtual
O jogo conta com 5 experiências distintas que abraçam o Survivor Horror de diferentes formas e em variadas épocas. O level design merece elogios, pois o jogo conta com bastante backtracking (idas e vindas pelo cenário para desbloquear novas áreas) e ótimos puzzles, que merecem mais elogios ainda.
Começamos mais devagar, com uma experiência mais simples, quase sem inimigos, poucas opções de armas, mas já com ótimos puzzles e muitas idas e vindas pelo cenário, que vai ganhando cada vez mais força e tamanho ao longo das outras experiências.
Certos cenários são bem grandes e embora o jogo “empurre” o jogador para o caminho certo, se ele quiser descobrir cada segredo daquele local vai precisar ter uma boa memória, o que cai no primeiro ponto negativo, a falta de um mapa.
A partir da segunda experiência os cenários crescem exponencialmente o que faz com que as vezes, esqueçamos um certo lugar, uma certa porta, principalmente se jogado de formas pausadas, pra quem tem pouco tempo para se dedicar a jogar e não pode fazer todo o cenário de uma única vez. Me peguei uma vez ou outra, terminando a experiência com itens que não me lembrava mais onde deveriam ser usados…Um mapa simples, básico, já ajudaria muito!
Outro ponto a ser mencionado são as portas que fecham sozinhas depois de um tempo que passamos por elas. Em momentos em que precisamos fugir, correndo desesperados por lugares que já visitamos, as portas estarem fechadas atrapalham um bocado, nos deixando presos ou desacelerando a fuga. Já que abrir/ fechar as portas são um recurso manual, ficar no último comando que o jogador deixou, iria facilitar bastante. O engraçado é que gavetas e armários funcionam, eles não se fecham depois, mas as portas tem vida própria.
Outra mecânica clássica de Survival Horror que está bem presente, são os itens escassos e o gerenciamento deles para não acabar em apuros. Há uma boa variedade de armas também, tanto as de fogo quanto as brancas.
Apesar da variedade, o combate em si não muda muito e tem alguns problemas quando se tratando do corpo a corpo. Como parte da estratégia para sobreviver, vai ser imprescindível não usar as armas brancas, porém seu combate é bem travado, dificultando matar os inimigos com elas. Mesmo usando a defesa ou o ataque carregado, a velocidade dos inimigos, superior em movimentação e ataque e o alto dano causado, geram momentos de frustração ao precisar entrar em combate corpo a corpo com eles. E se tiver mais de um, a situação fica ainda pior. Isso sem contar os momentos em que os golpes passam direto pelos inimigos sem causar dano ou reconhecer o acerto.
O engraçado que enfrentar os chefes é bem mais fácil do que os inimigos comuns das fases, mesmo se for no corpo a corpo. Não que isso seja necessariamente ruim, mas o desafio maior de combate não acabou ficando com eles, que seria o esperado.
Agora um dos pontos chave desse jogo e que brilhou demais foram os puzzles! Existe um equilíbrio excelente em não deixar os puzzles ridiculamente fáceis e entregar tudo na cara do jogador, e nem mesmo algo mirabolante demais de difícil pra te fazer arrancar os cabelos. A exploração e a atenção recompensam muitas vezes o jogador, dando até satisfação em resolver alguns que são mais bem elaborados.
A primeira e a quarta experiências foram as que me cativaram mais em relação aos puzzles. Na verdade, em relação a tudo. A experiência da reta final do jogo também é excelente, brincando bastante com o psicólogo de Samuel e consequentemente com o nosso.
IA Imersiva
É claro que não poderia faltar uma boa trilha sonora para deixar A.I.L.A ainda mais imersivo no terror. Os sons ambientes dominam a maior parte do jogo, mas eles variam bastante de acordo com as experiências, que podem conter vozes macabras sussurrando em seus ouvidos, o vento soando sinistro, seguido de grunhidos ou então ser pego desprevenido pela música de combate, que quebra totalmente os sons ambientes, entregando uma ótima trilha agitada e cheia de tensão. Definitivamente mandaram bem na trilha sonora!
Destaque também para a dublagem, que conta com nomes conhecidos como Flávio Azevedo, conhecido por dar voz ao Dr. estranho nos filmes da Marvel e Hidan no anime e nos jogos de Naruto, como Samuel. Luiza Caspary, que já deu voz a Ellie em The Last os Us, tanto no jogo quanto na série e Seraphine nos jogos de League of Legends, dubla A.I.L.A. Outro nome conhecido é o do dublador Cassius Romero, que deu voz ao Negan em The Walking Dead. Ainda há participações de dubladores como Ricardo Juarez, que é a voz de Kratos nos jogos de God Of War e Gabriel Noya que já dublou o personagem Shang-Chi em Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis.
A dublagem deixa a experiência bem melhor e ficou muito boa. Além da dublagem em português, A.I.L.A também conta com dublagem em inglês e localização para diversos idiomas, aumentando muito o alcance, levando o Brasil para o mundo, mas sem deixar nosso jeitinho e marca. São excelentes as referências que encontramos em A.I.L.A, sejam elas a cultura pop no geral, como filmes e jogos ou então a memes e algumas zoeirinhas que só nós iremos entender.
IA para o bem ou para o mal?
A.I.L.A apresenta uma premissa e desenvolvimento muito bom, infelizmente deixando a desejar apenas na conclusão da história, mas tem um fator replay interessante por mudar os finais de acordo com as escolhas do jogador durante as experiências e mesmo que o combate corpo a corpo não seja dos melhores, você se acostuma e acaba se adaptando como pode a ele. Somando a dublagem, trilha sonora e os excelentes puzzles, A.I.L.A é um bom jogo de Survivor Horror!
A.I.L.A foi analisado em cópia digital cedida pela Pulsatrix Studios via assessoria Jesús Fabre
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