Seguindo a tendência de remakes/remasters de clássicos de grandes jogos feitos por publishers menores, como foi o caso do remake de Silent Hill 2 pela Bloober Team e recentemente os portes dos Resident Evil clássicos de PlayStation 1 pela GOG (analisados pelo REVIL: RE1, RE2 e RE3), temos agora mais um clássico de SNES e da era PlayStation que ganhou uma roupa atualizada para os nossos tempos modernos: Clock Tower!
Originalmente publicado em 1995 pela Capcom e pela Human Entertainment, Clock Tower foi lançado para Super Nintendo (SNES) e PlayStation 1 somente no Japão, sendo que só chegou ao ocidente graças às versões traduzidas por fãs. É um jogo no estilo clássico de point and click característico dos jogos de suspense com pitadas de investigação. Levando em consideração que nós só tivemos conhecimento da trilogia CT por meio do terceiro título (que é um reboot do primeiro), não é de se admirar que essa joia estivesse escondida numa gaveta por aí.
Mas será que esse remake/remaster trabalhado pela Wayforward, Limited Run Games e a Sunsoft fez jus ao peso que a trilogia carrega? Então, partiu!
EI GOG, TEMOS VISITAS!!!
Quando recebemos, DO NEIDA, a notícia de que um remaster/port do primeiro Clock Tower estava em desenvolvimento, lá em 2023, uma pontinha de esperança voltou ao bom fã de jogos de suspense sobre mais uma franquia da Capcom ser resgatada do churrasco, porém o trabalho de ressuscitar o clássico ficou a cargo da WayForward.
A proposta da desenvolvedora é, basicamente, trazer o primeiro título da trilogia nunca lançado no ocidente para os computadores e consoles de nova geração, algo semelhante ao que a GOG fez com a nossa trilogia Raccoon City de PlayStation 1, lançada recentemente. Assim, a experiência que a Wayforward está propondo é reviver esse título nos dias de hoje.
Mas, e aí, como tá o jogo??
ME SENTINDO DE VOLTA AOS ANOS 90
Aqui jaz o pulo do gato! Como eu nunca joguei a versão original, a experiência que eu irei contar aqui para vocês é literalmente a minha primeira vez jogando na vida. Clock Tower: Rewind, o nome da versão da Wayforward, nos leva direto ao túnel do tempo até 1995. O jogo literalmente é um port para a nova geração, seja PC ou consoles, mas que te permite algumas “modernidades” dos dias atuais.
Sendo a minha visão aqui baseada 100% só que no que eu joguei (e também puxando da minha memória dos jogos semelhantes da época), além de ter de fazer pesquisas sobre a versão original para poder entender algumas coisas da versão nova (sendo bem honesta aqui com vocês), eu achei o jogo MUITO charmoso. Para um jogo de 1995, o gráfico dele é bem bonitinho, naquele estilo pixelado comum nos jogos de investigação, tipo dos da franquia Gabriel Knight, cenários 2D com certa profundidade, com trilha sonora melhorada e alguns dos diálogos com tradução atualizada (lembrando que a versão que o ocidente teve acesso, no passado, foi a traduzida por fãs).
Mas já aviso logo aqui, não vou me ater a detalhes de gráficos no jogo, já que é um jogo de 95 e não vou ser extremamente rigorosa nesse quesito, por isso aponto só o que eu vi/senti da jogabilidade e do enredo (nele também não serei mega criteriosa). Mas uma coisa que já posso adiantar aqui é que ele é MUITO DIVERTIDO! Sim, me senti no anos 90 jogando! Dei boas risadas das minhas “tchonguisses” e dos jumpscares que tomei. Foi uma sensação nostálgica tão boa que me trouxe os meus tempos de infância/adolescência jogando o Resident Evil 1 com o meu tio.
UM CLÁSSICO RECEBENDO A LUZ DO DIA (E OS HOLOFOTES TAMBÉM)
Mas, ok, bora falar do jogo em si. Clock Tower: Rewind é um remaster portado para a nova geração de videogames e computadores da versão de SNES e PS1, trazendo luz ao clássico que mal viu a luz do dia em sua época e foi esquecido no churrasco ao longo dos anos (quase 30, né mores??). Aqui a Wayforward foi sagaz, pois ela te oferece a opção de jogar o jogo ORIGINAL ou a versão REWIND já no menu inicial. Imagino que não tenha muitas mudanças entre versões, MAS para a finalidade desta análise, escolhi a versão Rewind.
Lembrando que a versão analisada aqui é a de PC (Steam), com cópia gentilmente cedida pela Wayforward. Meu PC é um notebook gamer de configuração mediana [Intel® Core™ i5-11400H de 11ª geração, Placa de vídeo dedicada NVIDIA® GeForce RTX™ 3050 com 4GB GDDR6, Memória de 16GB (2x8GB), DDR4, 3200MHz; SSD de 512GB PCIe NVMe M.2]. O jogo é muito levinho e roda sem problemas. Como ele foi trazido para o século XXI, é compatível com os controles modernos e também confortavelmente jogável com teclado e mouse (já que ele é um point and click, né?). Porém, mesmo com a jogabilidade simples, isso não significa que ele seja fácil, já que mesmo que o jogo te dê uma tela de instruções dos botões do jogo (mais um manual de instrução), eu precisei dar uma estudada na versão original para entender como jogar (BEM VINDO AOS ANOS 90, BEBÊ!!!!).
É meus amores, aqui não tem tutorial, nem objetivos, nem mapa, nem GPS, nem a mãe com placa de setinha que brilha, não tem absolutamente NADA para te mostrar o que fazer, como fazer e onde ir. O jogo inicia com a animação linda toda novinha da nova versão (versão anime) que substituiu o CGI de intro da versão original, aí é colocar start no jogo, curtir a animação da intro, curta e direta, e depois é o famoso VOCÊ QUE LUTE! Aqui, meus queridos, você vai ter que agir como nós, gamers old school, e usar a memória e um papel e caneta para não se perder aqui (não é difícil, mas pode acontecer).
O jogo tem uma dificuldade moderada, que não chega a ser frustrante, mas podem acontecer algumas coisinhas aqui e ali te fazem arrancar boas bufadas de frustração, mas aí é engolir o choro e começar de novo (ah, que saudade que eu tava de amar odiar um jogo de novo… *suspiros*).
O jogo não tem save room ou save point, MAS tem checkpoint no qual te permite retomar pelo menu continue do jogo. Pelo amor de Deus, não caia na besteira de, se morrer, clicar em Start Game/Quick Start, pois você vai começar o jogo TODO DE NOVO e perder o checkpoint no menu continue (#quetistreza). Todavia, aí tem a parte da colher de chá da modernidade: apertando o botão R2|RT|ESC, jogando na versão REWIND, aparece um menu de pausa e lá tem a opção save game (um bálsamo para tempos difíceis). Outro presente da modernidade é o botão REWIND (pegou a referência??heim??heim??) no qual é só apertar e segurar o L2|LT|R para literalmente ativar o “wandavision” e retroceder alguns segundos do jogo para corrigir algo que queira (por exemplo, você queria subir uma escada, mas passou direto por ela, é só ativar o wandavision e GG).
Quando ela aparece, a trilha sonora é muito gostosinha, já que o jogo é 90% no mais absoluto silêncio. Você só escuta os passos da protagonista, 2% nas cutscenes e 8% nas perseguições, pois sim, temos uns desqueridos aqui querendo nos “tesourar”. As perseguições aqui são uma coisa bem interessante, já que a nossa protagonista é uma bela moça delicada e assustada, que não é super soldado – nem uma pedra a póbi sabe tacar. O que nos resta é apenas correr e se esconder.
Mas como ela não é nenhuma atleta olímpica com fôlego infinito e nervos de aço (o que é perfeitamente compreensível), ela vai se cansar MUITO rápido e você terá que reservar momentos para que a personagem se sente e se recupere (que acontece bem mais rápido na versão rewind, coisa de segundos). Por falar na nossa protagonista, uma pausa aqui para te contar rapidamente do enredo, mas SEM SPOILERS, pois aqui respeitamos a sua experiência.
AQUI TEMOS UMA MOCINHA EM PERIGO, MAS É ABUSADA, CORAJOSA E ESPERTA
O que sabemos é que 4 jovens e órfãs, Ann, Lotte, Laura e Jennifer (nossa protagonista) são adotadas por um homem rico e recluso chamado Simon Barrows. Elas são levadas por sua professora, Ms Mary, até sua mansão, que é bem afastada e isolada, reconhecida pela sua Clock Tower. As meninas ansiosas por começarem uma nova vida se veem em meio a uma trama de mistério e suspense, cabendo à Jennifer perambular pela mansão atrás de suas amigas que desapareceram subitamente e ainda tendo que sobreviver a perseguidores e aos inúmeros mistérios escondidos na Clock Tower.
Depois desse resuminho bem rápido do enredo, agora posso te explicar uma coisa que é fundamental para a jogabilidade: a própria Jennifer. A jogabilidade gira em torno do estado físico e mental da nossa protagonista. Como eu disse lá em cima, ela não tem armas e nem sabe lutar, o que sobra é somente correr e se esconder. Com as limitações técnicas da época, não dispomos de um inventário tipo RE que nos mostra o estado da personagem, o que nos faz confiar somente na fotinha dela que fica no canto inferior esquerdo, sendo que, em fundo azul, ela está ótima e, vermelho, pode morrer a qualquer momento.
É importante frisar aqui as cores no fundo da foto dela porque é por estes elementos que você vai saber se a personagem precisa de uma pausa, já que o jogo também não dispõe de itens de cura. Quanto mais próximo do vermelho a foto dela chegar, mais errática ela vai se comportar durante momentos de perigo, como ela começar a tropeçar durante as perseguições (podendo tropeçar mais de uma vez, inclusive) e vai ficar muito menos resistente de conseguir escapar da “tesourada” do nosso desquerido.
Por falar nele, outra coisa muito charmosa e engraçada no jogo, é o nosso desquerido que te persegue com um raio de tesoura gigante. O que ele não tem de altura, compensa em velocidade (pense numa bênção ligeira…). O inimigo aparece nos momentos mais aleatórios e 99% do tempo o jumpscare é certo! O que te obriga a correr e achar um lugar para se esconder ou um jeito de despistar – pois pense num sujeito insistente!
À parte das perseguições, quando tudo está calmo e você está explorando a mansão, preste a atenção na Jennifer para, de vez em quando, colocar ela sentada no chão para dar uma respirada em um lugar seguro. Estar atento a isso é a diferença entre você conseguir escapar da benção ou morrer rapidinho. Logo, se prepare para passar 80% do seu tempo de exploração ANDANDO por aí e não correndo (como estamos acostumados), o que pode te causar a impressão que o jogo é muito lento, mas é proposital, já que é pra te deixar atento a qualquer chegada surpresa do nosso desquerido e sua tesoura enferrujada (já tomaram vacina antitétano, meus amores??).
TÁ, MAS E AÍ??? TÁ COMPENSANDO ESSA JOIA VINTAGE???
Aqui eu posso dizer que jogar Clock Tower: Rewind me trouxe lembranças maravilhosas de como era jogar videogame nos anos 1990, no qual você tinha no caderno e caneta seus principais aliados, já que nem todos os jogos tinham como salvar progressos. Além disso, pude reviver o amor e ódio que a gente sentia quando se perdia o progresso e começava tudo de novo. Mesmo com as pouquíssimas colheres de chá que a versão REWIND te dá (só duas mesmo), você vai viver a completa experiência de uma época em que os jogos de videogames eram simples e o que importava era a diversão, além de te botar pra usar a cabeça!
Jogar Clock Tower: Rewind em 2024 traz uma sensação de alegria e nostalgia ao mesmo tempo. Alegria por esse título maravilhoso estar entre nós outra vez (e na esperança que os outros títulos da trilogia ganhem a luz do dia) e nostalgia ao lembrar que a simplicidade era o que nos fazia felizes! Os jogos de hoje, embora muito bons, entregam “tudo na mão” e não botam o jogador para pensar, memorizar estratégias e estudar possibilidades. Fazendo esta análise, me vi obrigada a pesquisar como era o jogo original. Me fez voltar à época das revistas de videogames (tempos de Super Game Power, Ação Games e Nintendo World que não voltam mais), quando não tinha internet para nos socorrer.
A sensação de amor e ódio no mesmo jogo era o que fazia a gente engolir o choro, respirar e depois estudar a fundo para entender e “desempacar” de onde paramos. Sinto isso tudo jogando Clock Tower! Logo, se você quer viver a experiência do “gamer raiz”, o que capinou o lote quando tudo era mato no mundo dos jogos, Clock Tower: Rewind é um título tem que estar na sua biblioteca. Isso além de ser um título de suspense e investigação com pitadas de terror obrigatório para quem gosta do gênero.
Ah! Antes de terminar, uma pequena observação: durante a análise houve um patch de atualização em 25/10/2024 no qual acabei encontrando uns pequenos bugs que sumiram com objetos do jogo. Nada crítico, mas às vezes eu tinha que recomeçar do checkpoint e o objeto desaparecido voltava. Como o jogo não é longo, numa primeira jogatina, explorando tudo, você fecha em 2 ou 3 horas, além de ter oito, eu disse OITO finais diferentes para explorar, e a RNG do jogo ser MUITO aleatória com os encontros com o nosso desquerido: a cada run é um susto diferente (#çocorro), o que aumenta e muito o fator replay.
Clock Tower: Rewind vai estar disponível para Nintendo Switch, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC (Steam) em 29 de outubro de 2024.
Colaborou com as capturas in game: Cláudio Corrêa (Just)
Colaborou com a revisão: Ricardo Andretto