Dragon's Dogma 2 - Análise - PlayStation 5
Arte: Frank Alcântara

Análise – Dragon’s Dogma 2 – PlayStation 5

O primeiro jogo da série Dragon’s Dogma não foi exatamente um sucesso no seu lançamento em 2012, para PlayStation 3 e Xbox 360, mas com o tempo, foi sendo reconhecido por jogadores de RPG, que viam ali uma joia injustiçada. O criador Hideaki Itsuno, nome importante dentro da Capcom que também está a frente de Devil May Cry, tinha como desejo uma sequência que vinha de um aumento de popularidade ao longo dos anos. Depois de algumas versões remasterizadas, pedidos dos fãs e uma recepção pra lá de excelente de Devil May Cry 5, a Capcom deu sinal verde e carta branca para Itsuno desenvolver a sequência desejada. Lançado no último em março deste ano, Dragon’s Dogma 2 chegou ao PlayStation 5, Xbox Series e PC (Steam) como um jogo muito esperado para fãs de RPG. Porém, será que a sequência entrega exatamente o que o público gostaria ou é apenas mais um jogo na vasta lista de jogos de 2024?

Dragon’s Dogma 2 é uma sequência quase direta do primeiro, tendo seus eventos iniciados algum tempo depois dos acontecimentos do jogo original, mas sem ter a dependência de entendimento por parte do jogador sobre, já que a narrativa do segundo jogo corre quase como de forma independente. Apesar de fazer referência aos eventos passados, o personagem que criamos no início, chamado de Arisen, aquele que tem o coração arrancado por um dragão e se torna um ser de habilidades extraordinárias por isso, acaba perdendo a memória, assim, deixando as coisas mais convenientes para o desenvolvimento dessa trama na sequência. Aqui, precisamos encarar o nascimento de um falso Arisen, que usa a figura de nosso personagem como se ele fosse o verdadeiro.

Meu Arisen em Dragon’s Dogma 2

A narrativa da continuação tende a ser bem mais política no seu início, apostando em situações das quais precisamos desenvolver alianças para nos envolvemos no cenário daquele local, algo que é feito de forma surpreendente e eu gostei bastante. Em alguns momentos, eu tive a sensação de estar vendo alguns diálogos que poderiam muito bem estar em jogos como da série The Witcher ou uma temporada de Game Of Thrones. A trama também possui seus momentos mais fantasiosos e grandiosos, mesmo que no fim ela não acabe sendo algo de maior destaque, mas ainda que não, tem realmente bons momentos dentro do jogo. O legal e que o que difere do jogo original é que Dragon’s Dogma 2 vem totalmente legendado em português do Brasil, deixando assim o entendimento da trama mais acessível a uma grande parcela de jogadores.

Legendas em português do Brasil em Dragon's Dogma 2

Porém, para mim, onde o jogo brilha e é em sua exploração e gameplay, que melhora e se torna mais divertido que o anterior. Quem conhece o trabalho de Hideaki Itsuno, sabe da influência que Devil May Cry deixou em Dragon’s Dogma, sendo certamente um RPG de ação muito mais frenético, já que ele vem exatamente de um trabalho em uma série que é considerada a maior referência quando vamos falar de Hack ‘n Slash. Tenho que confessar, um dos motivos que me fez olhar com ânimo para Dragon’s Dogma foi exatamente essa mistura que poderia ser bem interessante, já que sou muito fã de RPG e Hack n’ Slash. Me fez ver muito potencial na série, desde o primeiro jogo.

Itsuno leva a palavra sequência bem ao pé da letra pois, apesar de não ousar demais em apresentar mudanças drásticas na gameplay do jogo, ele e sua equipe de desenvolvimento acertam em cheio em mexer apenas em situações pontuais de gameplay, tornando Dragon’s Dogma 2 um jogo muito parecido com seu antecessor, mas que acerta muito em entregar uma experiência melhor e mais polida do original. O resultado disso é um jogo do qual a gente não quer parar de jogar, justamente porque jogar é divertido. Toda batalha é divertida – mesmo as lutas contra simples goblins são legais – porque o jogo funciona e funciona muito bem. Isso tudo também é potencializado pelo fator dificuldade, já que Dragon’s Dogma é um jogo que não é conhecido por facilitar a vida do jogador.

Durante a minha jogatina, me vi obrigado a racionar itens, calcular o tempo gasto de uma quest a outra, se valia a pena levar suprimentos para acampar, se havia necessidade de acampar ou se investir no transporte de uma carroça para algum local próximo e gastar meu dinheiro valia a pena. Apesar de parecer trabalhoso, a sensação de realização após completar uma missão, seja secundária ou da história principal, é recompensadora. Uma das habilidades do Arisen é poder trazer Pawns, conhecidos na tradução do jogo literalmente como peões de outros mundos, para fazerem parte da nossa equipe. Existem peões das mais diversas classes, assim como o seu peão fixo, que você também cria no início do jogo e escolhe a sua classe.

Escolher a personalidade dos peões que acompanham você e suas classes também é algo primordial para o sucesso das missões, dando ainda mais um senso gigantesco de estratégia. Muitas vezes eu chegava em um local novo, descansava e repassava as minhas estratégias, para que eu não passasse momentos de sufoco dentro do jogo, principalmente nas lutas épicas contra chefes, que podem ter proporções literalmente colossais, que além de desafiantes, são um deleite para o jogador em termos de espetáculo. Geralmente, eu não gosto de jogos burocráticos demais, não por ter preguiça de aprender a dançar conforme a música, mas pela falta de tempo que a vida adulta acaba demandando. Porém, ainda que seja um jogo trabalhoso e por muitas vezes burocrático, parece que tudo aqui acontece de forma orgânica, o que pode ser bom para uns jogadores, mas, também pode não ser o suficiente para animar outros a jogarem. O que é uma pena, pois aqueles que investem seu tempo no jogo, vão ver a progressão de ritmo de evolução melhorar a cada hora e a cada momento novo do jogo. Até a falta de fast travel tradicional passa a não ser um problema.

Arisen e equipe em Dragon's Dogma 2

Dragon’s Dogma 2 possui uma boa variedade de classes dentro do jogo, começando de forma simples, como Guerreiros e Magos. Com o passar do tempo, as opções de evolução de classe vão crescendo dentro do jogo, ganhando combinações inusitadas e que transformam a forma do jogador de jogar. Aqui é que vem a genialidade de Hideaki Itsuno, que mesmo não ousando e transformando demais o combate do jogo, ainda consegue entregar algo genuinamente criativo. Durante minha campanha, eu vi meu guerreiro se transformam em algo muito além do clássico guerreiro de um jogo de RPG, melhorando ainda mais algo que eu estava gostando e me dando uma injeção de prazer em continuar jogando esse jogo de vasto conteúdo, que poderia muito bem ficar massante pelo seu tamanho, mas ao apresentar novidades a cada momento ao jogador, continua interessante mesmo depois de mais de 40 horas de gameplay.

Visualmente, é um jogo muito bonito, além de ter uma direção de arte linda. Dragon’s Dogma é uma série que se situa em um mundo medieval muito cruel e difícil. Toda a construção do mundo lembra muito uma das obras que mais influenciaram Itsuno, o mangá Berserk, de Kentaro Miura. Dragon’s Dogma 2 continua bebendo da fonte da obra de Miura, nos brindando com um mundo brutal, mas muito bem realizado, com criaturas fantásticas, desde pássaros gigantes a dragões colossais. É simplesmente incrível como cada criatura apresentada durante a jornada é visualmente interessante. As localidades que passamos durante a aventura também são lindas e convincentes, conversando muito bem com a proposta visual de uma terra medieval por muitas vezes aterrorizada.

O grande problema de Dragon’s Dogma 2, contudo, não está em seu conteúdo como jogo, mas é um problema que infelizmente é resultado do que a indústria dos videogames tem sido nos últimos anos. Dragon’s Dogma 2 é um jogo que saiu, ao menos na versão de PC, bem mal otimizado, rodando mal em configurações de máquinas top de linha. A versão que analisei para o REVIL foi a do PlayStation 5, que na minha opinião, roda muito bem, mesmo que a taxa de quadros buscada aqui seja a de 30 FPS ou um pouco acima, depois de algumas atualizações, que ajudaram o jogo a ficar mais estável. Na primeira semana de lançamento, de fato, essa instabilidade incomodou um pouco e só melhorou quando eu travei nos 30 FPS.

Jogar assim, não me incomodou, mas entendo a frustração do jogador quanto a instabilidade. Rodando a 60 quadros ou não, nada afetou a minha experiência, mas é notável que é um jogo pesado, portanto, era melhor a Capcom ter dado um pouco mais de tempo de desenvolvimento para o jogo, já que o desempenho inicial dele foi muito frustrante para muitos jogadores, que chegaram até a pedir reembolso. Lançar algo com problemas de desempenho, pelo menos no meu entendimento, é um claro resultado de planejamento equivocado de sua desenvolvedora, que poderia sim ter sido evitado.

Dragon’s Dogma 2 é exatamente o que eu esperava que seria. É uma continuação do seu antecessor em todos os sentidos, que acerta muito no seu conteúdo quanto a jogo e é muito cirúrgico nas escolhas dos desenvolvedores de melhorias em relação à experiência anterior. É um RPG de ação brilhante no que ele se propõe a fazer, mesmo que não seja um jogo que agrade alguns jogadores, principalmente pelas suas horas iniciais e algumas mecânicas burocráticas. Apesar do lançamento conturbado, Dragon’s Dogma 2 é um grande jogo e tem tudo para ser considerado um dos melhores de 2024.

Pontos positivos:
Combate divertido e diversificado;
Lutas contra chefes;
Conteúdo;
Mundo interessante e muito bem construído.
Pontos negativos:
Desempenho inconsistente;
Burocrático demais em alguns momentos.
8.5