Nos últimos anos a Capcom tem investido muito na franquia Monster Hunter, que vem crescendo em popularidade e vendas também. Sabendo disso, os spin-offs começaram a pipocar por aí e certamente os mais interessantes são os da sub-série Stories. Lançado originalmente para Nintendo Switch e PC (via Steam), Monster Hunter Stories 2: Wings Of Ruin é uma das grandes surpresas do estúdio que finalmente chegou ao PlayStation 4 em 2024. Se você é fã de RPGs, deveria ficar de olho.
Monster Hunter Stories é um spin-off da série principal de caçadas da Capcom que surgiu como um jogo exclusivo de Nintendo 3DS em 2016. Ele foi muito bem recebido pelo público japonês na época, sobretudo pelos mais novos, já que era um RPG de turnos leve e com um apelo muito grande a uma audiência mais jovem, até por ser bastante influenciado por Pokémon. Apesar de ser um bom jogo, ele pode acabar se tornando pouco interessante para um público mais velho, justamente por não conversar tão bem com seus possíveis públicos alvos. Algo que já não ocorre com Wings Of Ruin, que trabalha melhor na amplitude do seu público e busca estabelecer a série Stories para mais pessoas.
Em Stories 2, a Capcom procurou trabalhar com muito mais ousadia e, certamente, com um pouco mais de orçamento, vendo o que a série principal se tornou após 2018, depois do lançamento de Monster Hunter: World. Wings Of Ruin apresenta lindos gráficos em cel shading, que como artista eu posso dizer com propriedade que foi muito influenciado pelo trabalho do estúdio Ghibli, responsável por filmes como A Viagem de Chihiro e Princesa Mononoke. A influência visual é bem grande, mas na medida, pois os desenvolvedores e artistas da Capcom trabalharam muito bem para também entregar algo original e incrivelmente bonito. Os designs dos monstros, personagens, armas e mundo é encantador, sendo tudo muito colorido e vibrante na tela. O salto de qualidade visual é realmente grande e a diferença de abordagem de apresentação também, fazendo do segundo jogo muito mais atrativo não só para crianças, mas também para um público mais velho que pode se sentir mais incentivado a jogar a sequência por isso.
Se visualmente o jogo busca fisgar outros públicos, a narrativa também acompanha essa ideia. Em Monster Hunter Stories 2: Wings Of Ruin nós acompanhamos um jovem que é neto de um grande montador de monstros em sua vila, sendo uma lenda entre os habitantes do lugar. Com o peso do legado do seu avô, iniciamos a nossa jornada com uma premissa até bem parecida com a do jogo original, porém, as semelhanças param por aqui. Após encontrar um ovo de uma espécie incomum de Rathalos, iniciamos uma jornada para protegê-lo, já que um grupo busca exterminá-lo, pois essa espécie de Rathalos pode se tornar extremamente perigosa e com o poder de destruir vilas e cidades facilmente.
Apesar de ainda ser um jogo com resoluções menos complexas, a narrativa busca trabalhar muito bem a relação entre humanos e monstros, desenvolvendo de forma interessante vários pontos e abordando assuntos como companheirismo e preconceito, de uma maneira bem feita. A narrativa do jogo em si me lembrou a abordagem do filme Como Treinar o Seu Dragão em alguns momentos, podendo ter servido como influência ao jogo também. A Capcom conseguiu manter a leveza do jogo, mas soube também trabalhar diversas temáticas de formas mais profundas e o resultado vai agradar quem busca uma boa jornada, que pode ser jogada com legendas em português do Brasil.
A exploração desse mundo continua bastante divertida, ainda que seja o básico dentro do gênero do RPG. Ainda assim, é muito legal explorar, fazer missões extras e conhecer um lado diferente desse mundo em relação aos jogos principais da série que possuem um foco mais nas caçadas, não tanto em narrativa como Stories. Ver como esse mundo é culturalmente e conversar com pessoas que não estão inseridas nele como caçadoras é realmente bem interessante e se você é fã da série, vai ser bem recompensador.
Stories 2 também é muito competente na sua parte técnica, sendo um jogo bem superior em resolução e frames, em relação a versão de Nintendo Switch, sendo muito mais próximo da qualidade alcançada na sua versão de PC. Eu joguei em um PlayStation 5 através da retrocompatibilidade e o jogo rodou muito bem em uma TV 4K e com altas taxas de quadros, sendo um jogo muito bem portado, ao contrário de outros que vemos no mercado onde muitas vezes recebem novas versões preguiçosas, não sendo este o caso.
Um dos grandes acertos da série sempre foi o seu combate por turnos, que desde o jogo original foi muito bem construído. O modo de batalhas aqui é muito parecido com o jogo original, ainda mantendo o esquema de triângulo de ações, onde um tipo de golpe leva vantagem sobre outro e por aí vai. Algumas adições de mecânicas de golpes especiais foram adicionadas, além de novas animações de habilidades que são incríveis, algo que poderiam muito bem ter saído de um anime de ação como Dragon Ball ou Naruto, aumentando em muito a escala das batalhas. O modo cooperativo também é algo mais do que bem-vindo em qualquer jogo. Monster Hunter Stories 2: Wings Of Ruin, nos brinda com um modo multiplayer que, apesar de simples, deixa o jogo com uma camada a mais de diversão para quem optar em jogar com outra pessoa.
Apesar do combate bem realizado com mudanças pontuais que melhoram muito a experiência original, Stories 2 peca muito na sua repetição, se tornando um jogo de atividades repetitivas. Isso se agrava bastante dado ao fato do jogo ter por volta de 40 horas (para zerar a campanha principal), sendo um RPG relativamente longo, o que pode acabar frustrando algumas pessoas e se tornar cansativo, principalmente em trechos de muitas batalhas. Em certas ocasiões fiquei realmente desmotivado em continuar jogando, principalmente já com o cansaço na parte da noite, deixando para jogar em momentos onde eu não estivesse tão fatigado, como nos finais de semana.
No geral, Monster Hunter Stories 2: Wings Of Ruin é um ótimo RPG e um jogo bem superior ao original. A Capcom buscou contar uma história um pouco mais madura, ainda que leve, mas sendo bem certeira na escolha, o que vai atrair fãs e não fãs da série além de um público mais amplo que busca um bom JRPG clássico. Visualmente é um título lindo, vibrante e cheio de personalidade que vai te cativar e te divertir. Ainda que possa se tornar cansativo e repetitivo em alguns momentos, Wings Of Ruin brilha pela competência como jogo e é uma ótima pedida para donos do PlayStation 4 / PlayStation 5.
