O melhor Resident Evil dos últimos 10 anos. É com essa frase curta e direta que começo a esta análise de Resident Evil Revelations. O jogo foi lançado originalmente para Nintendo 3DS em 2012, mas neste ano chegou ao PlayStation 3, Xbox 360 e PC com gráficos remasterizados e jogabilidade totalmente adaptada aos novos consoles.
Depois de uma série de lançamentos que dividiram opiniões e até mesmo decepcionaram os fãs, Revelations vem como um oásis em meio ao deserto, agradando uma esmagadora maioria dos fãs da saga e até mesmo conquistando os mais novos.
Com um equilíbrio quase perfeito entre a jogabilidade moderna e o clima de terror e suspense da “época de ouro”, o título com certeza entra para a galeria das grandes adições da franquia trazendo esperança aos fãs, que torcem por uma guinada positiva no rumo que RE vem tomando nos últimos anos.
Gráficos
Embora Revelations não seja um primor em quesito gráfico, não há do que reclamar do visual. Estamos falando de um jogo que foi feito originalmente para um console portátil e que foi “portado” para as potentes plataformas de mesa – portado entre aspas mesmo, pois apesar da nomenclatura deixar passar a ideia de que o título foi apenas levado aos outros aparelhos, houve todo um retrabalho na renderização de cenários e texturas, trazendo um resultado que acabou sendo muito bom.
É possível, mesmo assim, apontar falhas, especialmente nas áreas dos cenários – ao se aproximar de algo, o jogador percebe que a qualidade não é tão alta assim. Há também algumas quebras de polígono – mais uma vez é importante frisar que se trata de um jogo que não foi inicialmente produzido para as plataformas de mesa.
Fazendo uma comparação bem grosseira, Resident Evil Revelations dá um banho gráfico em Operation Raccoon City, título que foi desenvolvido desde o início para os consoles da atual geração (PS3, X360 e PC).
Indo um pouco além, o jogo não fica muito atrás de RE5 e até mesmo de RE6. O trabalho, de fato, foi muito bem feito e surpreendeu desde a primeira vez em que tive contato com o jogo no console da Sony. O título surpreendeu ainda mais quando coloquei as mãos na versão final do jogo para PC.
Acredito que houve uma atenção especial, principalmente aos personagens e monstros, que além de apresentarem um nível de qualidade gráfica superior em relação aos demais elementos, também estão com movimentação bastante suave e fluída.
Como apontado, a parte negativa dos gráficos fica por conta da baixa resolução de alguns elementos do cenário. Apesar de isso ser relativamente compreensível, não posso deixar de citar que o jogo poderia ser ainda mais belo se os cenários tivessem recebido a mesma atenção que foi dada aos personagens e monstros.
O Queen Zenobia é belíssimo, mas poderia ter ido um pouco além do que foi – essa “falha”, apesar de tudo, não chega a comprometer a experiência do jogador em momento algum.
Som
Revelations talvez tenha uma das melhores trilhas sonoras dos últimos jogos da franquia. A Capcom conseguiu escolher músicas a dedo para cada momento do título, deixando a impressão de que tudo foi magistralmente composto para ajudar em toda as fases dos personagens.
Revelations é um jogo muito focado em dramas, reviravoltas e momentos de tensão. Sem uma trilha sonora competente, o título poderia ter sido perdido em meio aos corredores dos navios envolvidos na trama.
Os efeitos sonoros são bons também, especialmente os emitidos pelos inimigos – aposto que o “monstro do Mayday” vai ficar na sua mente por muito tempo. Até mesmo os de navio, como o ranger do metal, vidros quebrando e uma porção de outros sons ficaram bacanas.
Só não dá para dizer que o jogo possua uma parte sonora perfeita, porque os Oozes, monstros mais presentes no jogo, tem uma variedade bastante pequena de sons, e também porque o disparo das armas soa sempre um tanto abafado, mesmo quando você está em um dos corredores do navio – não há efeitos de eco nos tiros, é sempre um estampido abafado, algo que de início o jogador não percebe, mas que no decorrer da aventura começa a “incomodar” um pouco.
Jogabilidade
A jogabilidade é sem dúvida um dos pontos altos do título. O atributo alia o melhor dos jogos modernos, mas não faz com que Revelations seja apenas um “atira e corre frenético”. Seguindo a tendência atual, é possível andar e atirar ao mesmo tempo, porém isso pode ser uma faca de dois gumes, já que com isso você acaba pensando menos antes de atirar. Por se tratar de um título com menos foco na ação, há menos munição e isso pode te deixar em apuros em certos momentos.
A câmera é um pouco mais travada que a de RE6, deixando o jogador um pouco às escuras – nem sempre você consegue ver o que te aguarda a cada esquina, garantindo assim um maior suspense. Por ser mais travada, os ângulos facilitam certas ações para que você não fique perdido com o movimento de giro, diferentemente do que pode acontecer com certos momentos no sexto título numerado da franquia.
Um ponto bastante positivo é a inclusão da esquiva, que não é difícil de ser dominada e ajuda o jogador a se livrar de situações difíceis diversas vezes, principalmente nos estreitos corredores dos navios. Outra novidade interessante é o scanner Genesis, que permite encontrar objetos escondidos nos cenários e também “transformar” os Oozes mortos em ervas verdes através do acumulo de inimigos mortos.
A movimentação é bastante precisa, assim como as respostas aos comandos. No geral, o título tem uma jogabilidade melhor que todos os outros da atual geração (RE5, REORC e RE6). Só não pode ser considerada perfeita porque o sistema de mira deixa um pouco a desejar – não é tão precisa quanto a de RE5, por exemplo.
Mesmo alterando as configurações na procura por uma calibragem melhor, Revelations ainda fica devendo um pouco nesse quesito, mas nada que chegue a atrapalhar ou comprometer a jornada – na verdade é perfeitamente “acostumável” depois de duas ou três horas de jogo.
Enredo
Envolvente e um tanto confuso. É assim que é o enredo de RE: Revelations, que apresenta tramas que tem muitos pontos em comum com o restante da série, tornando o jogo extremamente atrativo.
Como sempre, temos um novo e poderoso vírus que pode colocar a humanidade em risco (T-Abyss). Também temos uma cidade (Terragrigia) sacrificada por conta das BOWs (armas biológicas) que tomaram o lugar, dois protagonistas bastante conhecidos, uma organização tentando mostrar ao mundo o seu poder e um traidor desconhecido.
Isso lembra algo muito familiar, não? Todos esses elementos são bastante característicos das tramas de RE, e graças a um sistema episódico que conta a história quase como uma série (ou uma novela) o jogador fica preso à história, sempre querendo saber o que haverá no final do próximo capítulo.
Talvez o ponto nebuloso de toda essa história seja a relação entre as organizações Veltro, Federal Bioterrorism Commission (F.B.C.) e B.S.A.A., representadas por Jack Norman, Morgan Lansdale e Clive O’Brian, respectivamente. Para os jogadores menos atentos, o emaranhado desses três é tão grande que pode até passar desapercebido.
A impressão é que tentou-se criar tantas reviravoltas entre os três que os roteiristas perderam um pouco a mão. Uma pena, pois isso prejudica o bom entendimento e a compreensão de toda a conspiração por trás do desastre em Terragrigia e do Queen Zenobia, principal navio da trama.
Desafio
RE: Revelations apresenta um nível de desafio bastante interessante, especialmente no Raid Mode. Na campanha principal, o desafio é elevado apenas no Infernal Mode, que muda a localização de itens de cura e munições, fazendo com que o jogador tenha de vasculhar cada canto dos cenários atrás dos itens – até porque, nesse modo, os inimigos aparecem em uma quantidade absurda.
A dificuldade do Infernal lembra um pouco a do modo Professional de RE5, guardadas as devidas proporções. Você não morre com um único ataque do inimigo, mas eles aparecem aos montes, e não serão raros os momentos em que oito ou dez Oozes se acumularão na sua frente em um estreito corredor. Na modalidade, os inimigos também são mais resistentes e é essencial dominar a técnica de esquiva do título, que é bastante útil, especialmente no Infernal.
No mais, a campanha principal não apresenta grandes desafios nas demais dificuldades. Mesmo se o jogador quiser achar todas handprints (marcas de mãos espalhadas pelos cenários) e itens para customização de armas, a jornada é relativamente tranquila, e a tendência é que se você não fizer nenhuma grande besteira e souber economizar munições poderosas para os chefes, dificilmente verá a famosa tela “you are dead”.
O grande desafio mesmo é o Raid Mode, modalidade que apresenta uma enorme quantidade de níveis que vão ficando mais difíceis conforme você vai avançando. O desafio aqui é ir de um ponto a outro matando a maior quantidade de inimigos. Existe uma série de fatores que dão bônus em cada um dos níveis.
A grande diversidade de personagens ao lado da possibilidade de personalizar armas e as inúmeras dificuldades fazem o Raid Mode extremamente viciante. E você começar a jogá-lo antes de terminar a campanha principal, corre o risco de até deixar a história do título um pouco de lado.
É um dos grandes modos extras da franquia Resident Evil – mais diversificado que Mercenaries de RE5, tão dinâmico quanto o Battle Game de RECVX e empolgante como Mercenaries de RE3.
Fator replay
Muito do fator replay de RE: Revelations passa pelo Raid Mode. Como sugerido anteriormente, o modo é viciante e pode fazer até mesmo o jogador abandonar a campanha principal antes de terminá-la.
Os desafios impostos, ao menos em um primeiro momento, parecem fáceis, mas a partir do nível 12 ficam bem mais complexos e levam o jogador a testar suas habilidades, fazendo com que a cada falha force uma revisão de estratégia. Com certeza o Raid Mode pode garantir horas infindáveis de diversão.
Na campanha principal, os diferentes modos de dificuldade podem dar um bom impulso para o jogador manter Resident Evil Revelations dentro de seu console, especialmente na dificuldade Infernal. Muitas mortes em partes “simples” levam o jogador, assim como no Raid Mode, a rever a sua estratégia para determinados pontos – e também para afiar suas habilidades, especialmente a mira e a esquiva.
Mesmo tendo uma campanha que dura cerca de 1/3 da de RE6, Revelations tem atrativos maiores do que o do sexto título numerado, seja por ter uma campanha mais coesa, ou pelo Raid Mode.
Conclusão
Termino a avaliação da mesma forma que comecei: Resident Evil Revelations é o melhor Resident Evil dos últimos 10 anos. A forma com que o título alia o clima de terror com corredores estreitos e suspense à jogabilidade moderna, o tornam um jogo ímpar. A decisão de portá-lo para os consoles de mesa somente personifica a sua qualidade: seria um desperdício deixar um título com tamanho zelo relegado somente ao portátil Nintendo 3DS.
A versão lançada em 2013 para PS3, X360 e PC dá a RE: Revelations transparece uma sensação mais grandiosa do que a percebida no 3DS. Embora o jogo deixe a desejar um pouco em gráficos, a sua jogabilidade quase perfeita e seus modos compensam com louvor.
É impossível não torcer para que o jogo seja um sucesso de vendas e que dite os rumos do futuro da franquia Resident Evil. A recepção positiva que o título teve tanto pelos fãs quanto pela mídia, só dá mais força a esse desejo. Acima de tudo, Revelations é um jogo com alma de Resident Evil, algo que não víamos a um bom tempo e que todos os fãs torcem para que se repita nos próximos lançamentos.
Extras
- Resident Evil Revelations, na sua versão em alta-definição, apresenta legendas em português, assim como RE6. O trabalho está um pouco mais bem feito do que no título anterior. Os erros e as traduções literais diminuíram bastante, mas ainda assim poderia haver bom senso na equipe de tradução para que nomes de BOWs sejam mantidos em inglês – não é estranho ler “Elimine todos os caçadores”, quando se refere a eliminar todos os Hunters do local?
- O jogo também teve integração com a RE.net – que, curiosamente, ainda não está disponível em português. Eventos para obtenção de RE Points, dioramas e até mesmo itens para o título também acontecem, mas a impressão é de que a rede social de Resident Evil não terá um futuro muito promissor, já que a aderência ao serviço cai cada vez mais entre os fãs da franquia.
- Os puzzles estão presentes, mas são um pouco decepcionantes, já que a grande maioria deles se resumem a um “ligue os pontos” em painéis para reestabelecer a energia e poder abrir certas portas. Esse ainda é um ponto que fica um pouco a desejar, ao menos nas versões em alta-definição – no portátil 3DS, tudo se encaixa perfeitamente para um toque de mão na tela sensível do aparelho.
CRÉDITOS
Escrito por: André Ceraldi (Ceraldi)
Revisão: Ricardo Andretto (ThE cRaZy)
Data de Publicação: 17/07/2013
O texto não reflete a opinião do REVIL, e sim do autor da análise. O jogo foi analisado no Xbox 360.