Crítica – Resident Evil Degeneração

O anúncio de Resident Evil Degeneração, através de um release de imprensa liberado pela Sony Pictures e pela Capcom em outubro de 2007, pegou de surpresa não somente os fãs da série, mas também toda a comunidade gamer. O gosto amargo deixado pela trilogia de Paul Anderson ainda era muito forte, com “Resident Evil 3: A Extinção” tendo estreado menos de um mês antes nos Estados Unidos. As comparações eram inevitáveis, mas a escolha por realizar um filme em computação gráfica e lançá-lo diretamente em DVD tinha como objetivo, acima de tudo, distanciar este longa dos estrelados por Milla Jovovich.

Ainda assim, a divulgação de “Degeneração” começou com a chegada do DVD de “Extinção” às lojas, contendo o primeiro teaser da animação em seu conteúdo extra. Impressionados pela qualidade gráfica, todos os olhos estavam voltados para este filme e, a cada nova informação, divulgadas a conta-gotas através de sites especializados e por um blog oficial escrito pela equipe de produção, aumentava a ansiedade para a estréia, principalmente após exibições exclusivas no Japão e nos EUA, nas quais poucos privilegiados tiveram a oportunidade de conferir o filme na tela grande.

O filme se passa em 2005, um ano depois de Resident Evil 4 e sete após o desastre em Raccoon City. Os incidentes de bioterrorismo estão tomando conta do mundo, e o governo dos Estados Unidos tenta conter os ataques. Em Harvardville, integrantes da ONG Terrasave protestam contra os testes com T-Virus realizados pela Wilpharma, que acaba de inaugurar uma unidade de pesquisas no local.

É nesse ensejo que Claire Redfield aterrissa no aeroporto de Harvardville, pouco antes de um único zumbi atacar as pessoas que estavam no local. Ao mesmo tempo, um avião de passageiros se choca contra o terminal, trazendo ainda mais mortos-vivos, devido a um infectado que estava a bordo da aeronave. Com o caos instalado, o governo envia o agente especial Leon Kennedy para lidar com o acontecimento, que parece ter sido um ato terrorista, e salvar os sobreviventes no aeroporto. A trama, porém, vai muito mais além, e envolve uma conspiração que parece se estender até os níveis mais altos do governo dos EUA.

Resident Evil Degeneration foi lançado nos EUA e Japão no final de dezembro do ano passado, e chega ao Brasil em 28 de janeiro. A seguir, você confere críticas individuais de membros da equipe REVIL. Uma delas é de autoria de Léo Costa, que não conhece a série e é colaborador do site Cinema com Rapadura.

Felipe Demartini [-Evil Shady-]

Certa vez, li um artigo sobre animação por computador que dizia que, em determinado momento do avanço do CGI, as produções chegariam a um paradigma no qual a animação se torna tão real que passa a ser irreal. O autor exemplificava dizendo que as produções passariam a se preocupar com pequenos detalhes, como cutículas e veias, enquanto características mais marcantes como movimentos faciais e do corpo receberiam menos atenção. Este é justamente o maior erro de Resident Evil Degeneração. Enquanto cabelos balançam como se sempre fossem sedosos e macios e é possível enxergar até mesmo a textura do tecido das roupas, os personagens se movimentam como robôs e Leon é tão expressivo quanto o Macaco feito tão famoso pela seção Vale Tudo do Fórum UOL Jogos. Por outro lado, Claire é expressiva até demais e chega a ser assustadora às vezes. Um balanceamento nesse aspecto mostra-se mais do que necessário e, talvez, seja reflexo da falta de experiência do diretor e equipe com filmes desse tipo.

Apesar disso, Resident Evil Degeneração está exatamente de acordo com as minhas expectativas que, devo dizer, não eram muito grandes. A trama do filme é consistente, porém nada profunda. As ligações com os games anteriores ou posteriores são ínfimas e fazem falta, mas esse fato não é nada surpreendente, pois o longa deve agradar e ser entendido também por aqueles que não são fãs. O grande ponto positivo do roteiro é descentralizar os incidentes biológicos, que nos jogos parecem ser acontecimentos isolados, e transformá-los em eventos em escala global, que atraem a atenção e a preocupação do público, da mídia e dos governos. Certos aspectos do roteiro, talvez, exijam que o filme seja visto mais de uma vez para serem entendidos plenamente, pois muito da trama é nebuloso e algumas cenas causam estranheza quando surgem pela primeira vez.

Infelizmente, RE Degeneração não deve estar de acordo com o que a grande maioria da comunidade esperava: uma história completamente conectada aos jogos e que resolvesse pontas soltas. Pelo menos, houve um cuidado em não se criar novas dúvidas. O grande mérito do longa, porém, é acabar com as más lembranças que surgem quando escutamos as palavras “filme de Resident Evil.”
Nota: 8,0 / 10

Eric Aguiar [Dunkel]

Descrente com a trilogia de Paul Anderson, as minhas expectativas para “Degeneração”, assim que o longa fora anunciado, se resumiam a ver mais um filme de ação em que a história da série seria distorcida e os personagens seriam descaracterizados. Após alguns trailers e informações, minhas impressões felizmente foram mudando e, assim que assisti ao filme, não pude ficar mais feliz com tamanha consideração dos produtores do longa com a fidelidade ao game.

O contexto em que o filme se insere caracteriza a série de um ponto de vista inédito: o universo pós-Raccoon City e sua repercussão, não apenas nos Estados Unidos, mas no mundo inteiro. A população teme um novo incidente biológico, e diversos protestos por parte de ativistas contra empresas farmacêuticas ocorrem. Claire Redfield, a heroína de Resident Evil 2 e CODE: Veronica está de volta, agora sendo membro da ONG Terrasave (ou Salve a Terra, nome usado na dublagem brasileira), enquanto Leon está, teoricamente, o mesmo de Resident Evil 4.

Com uma dublagem nostálgica de Alyson Court, Claire é o principal gancho dos jogos. A moça é responsável pela maioria das referências à série, como, por exemplo, sua relação com Rani, lembrando as situações com Sherry Birkin. Por outro lado, Leon é uma decepção. Tão inexpressivo quanto uma parede, o ex-policial parece uma estátua em relação aos seus movimentos faciais e corporais. Como se não bastasse, o rapaz ficou ainda mais sério e mais durão, distanciando-se ainda mais do Leon dos jogos anteriores. Os personagens novos, exceto Angela, funcionam como uma reciclagem dos que apareceram nos jogos. É impossível ver Rani e não se lembrar de Sherry, ou associar Ron Davis a Brian Irons, sem mencionar outros para não estragar as surpresas que o filme proporciona.

A história do filme é boa. Possui algumas reviravoltas interessantes, mas tratam de algumas questões complexas, como bioterrorismo, de forma não muito clara, o que acaba deixando algumas dúvidas sobre a trama.

Em suma, Degeneração não adiciona muito à série (exceto por seu final), mas cumpre da melhor forma possível o papel de expandir as dimensões da franquia. Apesar disso, o maior ponto positivo do filme é, sendo fã, assistir a ele com a sensação boa de que, a qualquer momento, a cutscene irá ser interrompida e você começará a jogar.
Nota: 9,0 / 10

Bruna Mattos [Yuna]

Confesso que ao ver o primeiro trailer de “Degeneração”, fiquei bastante ansiosa. Aquilo sim mostrava o que deveria ser um filme de Resident Evil. Principalmente porque eu pude notar que haveria maior fidelidade à série de games e o retorno a antiga forma de medo dos jogos “clássicos”, em que o suspense e o inesperado fazem toda a diferença frente à ação desenfreada. “Degeneração” é nostálgico. Nos leva de volta à Raccoon City sem nos desligar da história atual da série.

A questão visual foi o que me deixou mais apreensiva. Os gráficos têm um aspecto bonito, mas não passam naturalidade. As expressões faciais podem parecer estranhas às vezes e alguns movimentos são um tanto artificiais, como o caminhar de alguns personagens ou os movimentos de tecidos e cabelos: enquanto alguns personagens, como Claire e Rani os têm sedosos ao extremo como em propagandas de xampu, outros o apresentam praticamente estático, como Leon.

Por falar em Leon, não somente seus cabelos são estáticos. A expressão é estática. A emoção é estática. Era de se esperar que, após sete anos desde o incidente em Raccoon, ele não seria mais o policial novato super preocupado com as pessoas. Mas o que aconteceu após os incidentes na Espanha para Leon tornar-se tão inexpressivo e sério? Arrisco-me a dizer que ele parece rabugento, ou até mesmo amargurado. Ao contrário dele, Claire mostrou uma maior fidelidade à personagem que vemos em Resident Evil 2 e CODE: Veronica: uma moça que sabe ser ao mesmo tempo doce e corajosa. A evolução de Claire de vítima do bioterrorismo à ativista mostra em sua própria história o desenvolvimento da trama da série. Apesar do discurso clichê de Leon que nos leva aos flashbacks, ela é o grande elo entre o passado e a trama que ocorre em “Degeneração”.

A história é interessante quando se analisa somente o filme. Ao inseri-la no contexto da grande trama dos games, porém, ela não responde perguntas e não adiciona tantos fatos. O fator diversão é garantido, para fãs e para o público em geral, principalmente para aqueles que gostam dos filmes clássicos de terror e de zumbis.
Nota: 8,5 / 10

Léo Francisco Rolim Costa [Colaborador]

Produzido totalmente em animação com captura de movimentos e com visual igual ao do game, o longa-metragem “Resident Evil: Degeneração” apresenta uma história de fácil compreensão para uma pessoa que, como eu, até hoje não conhece o game original e nem mesmo a trilogia de filmes produzidos em live-action.

Apresentando um roteiro interessante e até mesmo surpreendente em alguns momentos, a história como um todo não consegue prender os que não conhecem a franquia em nenhum momento, sendo uma animação que se mostra focada especialmente aos fãs e que não deverá chamar a atenção dos que não conhecem ou acompanham esse mundo de games.

A qualidade da animação é indiscutível. Feita por captura de movimentos, como vemos em animados como “O Expresso Polar” e “A Casa Monstro”, está bem realista e em vários momentos nos sentimos realmente assistindo ao game. As cenas de ação, como as de ataques dos zumbis, a transformação do monstro e todas as cenas de lutas e explosões acabam se destacando e se transformando em momentos altos do filme.

O grande problema é o final, que chega a ser apelativo e sentimentalista após as diversas boas cenas de ação. De maneira geral, todos os personagens são interessantes e o público consegue se envolver em suas histórias e com os problemas que estão acontecendo na cidade, mas a trama começa a perder seu impacto com o romance um pouco forçado entre Leon e Angela, que não emplaca e deixa o final cansativo. Assim, você termina a sessão com o sentimento de que algo ficou faltando na história.

“Resident Evil: Degeneração” não é algo memorável, mas está muito longe de ser um filme ruim. Podemos classificá-lo simplesmente como uma animação bem produzida e com uma boa técnica. Destinado aos fãs da franquia, o animado consegue ser um bom divertimento também para as pessoas que buscam por um bom filme de ação, sem preconceitos de conhecer algo novo.
Nota: 6,0 / 10

 

Felipe Demartini
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Eric Aguiar
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Bruna Mattos
8.5
Léo Francisco
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