Resident Evil: The Umbrella Chronicles, lançado em 2007 para o Nintendo Wii, desde o início teve a premissa de ser um divisor de águas. Após Resident Evil 4, onde é dito que a Umbrella estava acabada, o verdadeiro motivo do fim da empresa foi uma questão fortemente presente na comunidade de Resident Evil mundial. Pensando nisso, a Capcom decidiu lançar um jogo que, além de dar essa resposta, resolveria muitos outros problemas dentro da cronologia RE, ou pelo menos, se esperava que fosse assim.
Após o game chegar às lojas, percebeu-se que as crônicas da Umbrella estavam mais para crônicas de Wesker, já que era ele o principal narrador e personagem dos fatos mostrados. Isso não é nada ruim, e, ainda assim, muitas histórias foram complementadas, porém, alguns outros aspectos importantes foram deixados de lado. Já era imaginado que, devido à natureza do jogo, não seria possível contar as histórias dos games já lançados com a mesma profundidade que nos jogos originais. Entretanto, em UC, os games originais foram modificados, e suas histórias foram contadas sem profundidade alguma. Ao chegar ao final, os fãs se viam frente à seguinte pergunta: “O que é válido e o que não é?”
Neste artigo, tentaremos elucidar um pouco essa questão, no que pode ser visto como um verdadeiro guia de como encaixar Resident Evil: The Umbrella Chronicles na cronologia da série.
Capítulo 1 – Train Derailment
Este capítulo mostra a luta de Rebecca e Billy para fugirem a salvo do pesadelo que se tornou o Ecliptic Express e o Centro de Treinamento da Umbrella. Esta crônica pode ser considerada a que mais se aproxima do game original, um resumo bem feito que, apesar de excluir aspectos importantes do game original, não modificou sua história básica.
Deve-se notar, entretanto, que James Marcus aparece o tempo todo com a aparência que possuía no momento em que foi assassinado, e em nenhum momento é dito que ele seria capaz de controlar sua forma física, apesar de ainda se transformar na Queen Leech ao final do capítulo. A aparência jovem do cientista foi totalmente deixada de lado, e ficou a dúvida se ela ainda é válida para a série. Porém, esta não é uma questão que interfere na cronologia. De maneira geral, “Train Derailment” deve ser deixado de lado, ficando valendo para a cronologia o game Resident Evil 0.
Em “Beginnings”, como o próprio nome já diz, Albert Wesker dá os primeiros passos de sua traição para com os S.T.A.R.S. e a Umbrella, deixando o laboratório sob o Centro de Treinamento e voltando a Raccoon City para liderar o Alpha Team de volta à floresta. Esta subtrama é completamente inédita e mostra também a inimizade entre Wesker e Sergei, que mais a frente levaria ao confronto final do jogo, e o ex-coronel russo se dirigindo à mansão para recuperar o “Talos”, fato que seria mostrado em outro cenário mais à frente. Este cenário deve ser levado em conta para o cânon.
Capítulo 2 – Mansion Incident
Os membros do Alpha Team fogem para a mansão de Spencer após serem atacados por Cerberus na floresta, mas o que parecia ser um porto seguro acaba se tornando um inferno. Este capítulo resume demais a história do primeiro game da série, deixando de lado a participação de personagens importantes como Barry e Enrico. Jill e Chris andam juntos pela mansão, algo também inexistente no game original. Este cenário não deve ser levado em conta, pois os próprios files de UC mostram a existência de Barry e seus atos durante o incidente na mansão. Ainda, REUC não resolveu um dos principais problemas deste game: a sobrevivência de Rebecca ao lado de Barry. No game original, não existe um final que mostre ambos sobrevivendo, mas é certo que ambos saíram vivos.
Ao final do capítulo “Mansion Incident 3”, Wesker aparece injetando o vírus no mesmo momento em que Chris e Jill entram no laboratório. Este seria o único aspecto a ser adicionado à história original, e todo o restante ficaria inalterado, como no Remake, para o Gamecube.
“Nightmare”, um dos cenários originais, mostra o dia de Rebecca na mansão de Spencer, após a fuga do Centro de Treinamento da Umbrella. Neste cenário, a policial é mostrada dormindo e acorda após um pesadelo, se unindo a Richard Aiken e percorrendo o caminho entre a Guardhouse e a mansão ao mesmo tempo em que Chris e Jill chegam no local. O encontro entre os quatro se dá na biblioteca, diferentemente do game original.
O cenário mostra como Richard obteve seu ferimento e adiciona um pouco ao envolvimento do Bravo Team no incidente da mansão. Durante o capítulo, ainda, Rebecca vê pela janela Sergei e Ivan deixando a mansão pela floresta, carregando o corpo de T-A.L.O.S., como o russo havia dito no capítulo “Beginnings”. Se deixadas de lado as inconsistências em relação à passagem de tempo (Rebecca dormiu na Guardhouse durante todo o dia e tarde, sem ser atacada) e localização (o encontro entre ela e Chris se dá no segundo andar da mansão, e não na biblioteca), este cenário pode ser levado em conta para a cronologia, substituindo-se as contradições por aquelas vistas no game original.
Após ser “morto” pelo Tyrant, Albert Wesker acorda e percebe que a mansão está a poucos minutos de explodir, e que seu plano foi por água abaixo devido à interferência de Chris e Jill. É assim que começa “Rebirth”, cenário centrado no ex-policial e mostra sua fuga da mansão. Dois grandes questionamentos são resolvidos aqui: o modo como Wesker fugiu do local e a sobrevivência ou não de Lisa Trevor.
O capitão do Alpha Team encontra a principal cobaia de testes da Umbrella na saída do laboratório, onde tem o primeiro confronto contra ela. Como se imaginava, Lisa não morreu após a queda no abismo, em Resident Evil Remake, e continuou vagando pelo local. Após acabar com ela, Wesker volta à mansão, e tem um último confronto com a criatura no hall, prendendo-a com um lustre antes de fugir pela porta da frente. A mansão explode, matando a cobaia, e Wesker foge a pé pela floresta. Cenário totalmente encaixável na cronologia original e sem inconsistências.
Capítulo 3 – Raccoon’s Destruction
Raccoon City está completamente destruída. Como uma das poucas habitantes não infectadas pelo T-Virus, Jill Valentine une forças com Carlos Oliveira, um mercenário da Umbrella enviado à cidade com a falsa missão de resgatar os sobreviventes. Este é o cenário que passa mais longe da história original dos games. Dos locais vistos em Resident Evil 3, a dupla passa somente pela delegacia. Não existe Barry, outros mercenários, muito menos a traição de Nicholai e, o pior de tudo, Nemesis não é um monstro perseguidor e é enfrentado somente em “Raccoon’s Destruction 3”. Porém, nem tudo depõe contra este cenário, já que a estranha passagem do tempo entre as duas metades de Resident Evil 3 inexiste aqui.
Este capítulo deve ser completamente descartado como parte da cronologia, ficando Resident Evil 3 para o cânon. Não é possível nem mesmo considerar parte dele para resolver a questão das 36 horas que Jill passa dormindo na Clock Tower, o cenário deve ser deixado de lado por inteiro, já que também não é possível unir RE3 em um único momento, seja antes da chegada de Leon e Claire (devido á explosão da cidade) ou depois (devido à passagem de Jill por uma delegacia ainda vazia e com tábuas nas portas).
“Death’s Door” é o primeiro subcapítulo deste cenário, e mostra a fuga de Ada Wong do laboratório de Resident Evil 2. Uma das grandes discussões nas comunidades de RE do ocidente tinham relação à ordem dos cenários em RE2. Enquanto o primeiro Wesker’s Report demonstrava a ordem Claire A – Leon B como a correta, ela não fazia sentido, pois ninguém poderia sobreviver a uma queda como a vista em Leon A, além desta ordem não mostrar o envolvimento entre a espiã e o policial e não corresponder ao ferimento visto no abdome da moça no epílogo de RE3. Esta discussão ocorria somente no ocidente pois, nos epílogos originais japoneses, Ada diz que salvou o homem que amava, algo que só acontece no cenário B. A tradução para o inglês, por algum motivo, descartou esta frase. O problema foi resolvido definitivamente na abertura do cenário, em uma imagem de Ada “morta” nos braços de Leon, exatamente como no final do cenário B.
De maneira geral, o capítulo conta um pouco mais do envolvimento de Wesker e Ada e, como curiosidade, mostra a espiã usando sua Gapling Gun pela primeira vez. Passando por cenários conhecidos da série Outbreak, Ada chega a um viaduto, onde foge pegando carona em um helicóptero da Umbrella que carrega um mainframe da companhia, pilotado por Sergei e tendo Spencer como passageiro. “Death’s Door” é totalmente encaixável na cronologia e não deixa flancos abertos ou contradições.
Um dos motivos para a infecção em Raccoon City, de acordo com Resident Evil 2, foi o vazamento dos vírus nos esgotos, após a missão da equipe de Hunk, que deveria recuperar o G-Virus e levá-lo de volta à Umbrella. A infecção na cidade começou a se manifestar por volta do dia 20 de junho, mas a delegacia foi tomada apenas no dia 28 de setembro, e só depois disso é que o agente consegue fugir dos esgotos. A passagem de tempo, com Hunk ficando mais de uma semana vagando pelo subsolo, ou desmaiado, sempre foi uma grande inconsistência. Resident Evil: The Umbrella Chronicles resolve isso no cenário “The 4th Survivor”.
Logo no início do cenário, a data mostrada é 30 de setembro de 1998, mostrando que Hunk foge da delegacia na mesma madrugada que Leon e Claire, e isso se dá imediatamente após a missão com sua equipe. Isso exclui a contaminação através dos ratos como fator predominante para a dispersão do contágio em Raccoon City (deixando apenas a contaminação pela água como principal), além de mostrar que a cidade não estava completamente dizimada como parece nos games originais. Através do rádio de Hunk, é possível ouvir muitos pedidos de socorro dos cidadãos de Raccoon, uma indicação de que, mesmo no momento da explosão, diversas pessoas ainda poderiam estar vivas e até sadias. O cenário “The 4th Survivor” é levado em conta para a cronologia, e substitui o minigame de mesmo nome, contido em Resident Evil 2.
Capítulo 4 – Umbrella’s End
Não há muito o que dizer sobre este capítulo em relação à cronologia. Em 2003, Chris e Jill, agora parte de uma organização para contenção de incidentes biológicos, atacam uma base da Umbrella na Rússia, onde uma nova arma biológica estaria sendo desenvolvida. No local, além de uma horda de monstros, são confrontados por Sergei e acabam enfrentando T-A.L.O.S., destruindo-o. O que seria o golpe final na Umbrella, na verdade, vem pelas mãos de Albert Wesker no subcapítulo “Dark Legacy”, onde ocorre a batalha final contra o russo. Após matá-lo, Wesker rouba todos os dados disponíveis sobre as pesquisas da Umbrella e apaga o mainframe da companhia, dando um fim definitivo na empresa.
Ao final, o vilão aparece acessando os dados de outro local e com total acesso a todos os sistemas da Umbrella, como é visto em Resident Evil 4. Sendo assim, o cenário é parte da cronologia principal e, apesar de não resolver problemas já existentes da saga, também não cria novos furos.
Sumário
Finalmente, após a adição, ou não, dos eventos mostrados em Resident Evil: The Umbrella Chronicles, a cronologia da saga ficaria desta forma, em ordem cronológica:
– 23/07/1998: Incidente a bordo do Ecliptic Express e no Centro de Treinamento (Resident Evil Ø; Resident Evil: The Umbrella Chronicles, no cenário Beginnings)
– 24/07/1998: Incidente na mansão de Spencer (Resident Evil; Resident Evil: The Umbrella Chronicles, nos cenários Nightmare e Rebirth)
– 28/09/1998: Raccoon City está completamente tomada por zumbis e sitiada pelas autoridades. Jill Valentine tenta escapar da cidade, mas acaba desmaiando após ser infectada por Nemesis. (Primeira metade de Resident Evil 3)
– 29/09/1998: Acontecimentos em Raccoon City com Leon e Claire (Resident Evil 2)
– 30/09/1998: Hunk foge do laboratório com uma amostra de G-Virus (Resident Evil: The Umbrella Chronicles no cenário “The Fourth Survivor”)
– 01/10/1998: Fuga de Jill Valentine e Ada Wong. Explosão de Raccoon City (Resident Evil 3 e Resident Evil: The Umbrella Chronicles, no cenário “Death’s Door”)
– 11/1998: Incidente na Ilha Sheena (Resident Evil Survivor)
– 12/1998: Incidente na Ilha Rockfort e na base da Umbrella no Ártico (Resident Evil CODE: Veronica)
– 09/2002: Incidente a bordo do Cruzeiro Starlight e na Biosfera (Resident Evil Dead Aim)
– 18/02/2003: Ataque à base da Umbrella na Rússia (Resident Evil: The Umbrella Chronicles, nos cenários “Umbrella’s End” e “Dark Legacy”)
– ??/2004: Leon Kennedy é enviado para resgatar a filha do presidente norte-americano em uma vila no interior da Europa (Resident Evil 4)
A partir daí, a série continua normalmente, com a inclusão de fatos dos jogos seguintes.
Créditos
Escrito por: Felipe Demartini (-Evil Shady-)
Publicado em: 11/02/2009