Ao longo dos seus 41 anos de história, a Capcom se enveredou por vários ramos de jogos eletrônicos. Em muitos deles, os resultados foram um sucesso absoluto, o que resultou na criação de mais de uma dezena de franquias de videogame com milhões de vendas acumuladas por todo o mundo.
É um sucesso difícil de ser replicado pelo resto da indústria, ainda mais quando isso significa investir em jogos de vários gêneros diferentes. Entre eles estão os jogos de luta, com os quais a Capcom ainda reina soberana através da série Street Fighter, ganhando as mentes e os corações de entusiastas do gênero desde os anos 1990.
Além do domínio sobre o gênero de jogos de luta, a Capcom foi também de grande ajuda para alavancar o que se tornaria hoje uma das indústrias mais promissoras do momento: a de eSports. Os campeonatos oficiais (e não-oficiais) de Street Fighter II e suas sequências dentro e fora do Japão serviram como prova de que era possível que uma comunidade competitiva em torno de um jogo surgisse. Alguns anos depois, jogos de tiro, estratégia em tempo real e MOBAs começaram a dominar o espaço antes ocupado quase inteiramente por Street Fighter e por jogos inspirados na franquia.
Mas, apesar de Street Fighter II ser talvez o título mais significativo da empresa, a franquia mais bem-sucedida da Capcom é Resident Evil. Com seus 105 milhões de jogos vendidos e filmes baseados na série que arrecadaram mais de 1 bilhão de dólares em bilheteria, o jogo é certamente o “carro-chefe” da companhia.
Caso sua estrutura primária fosse mais propícia para o setor de eSports, é evidente que a Capcom – que nos últimos anos se encontra empreendendo esforços de se aprofundar na indústria – procuraria maneiras de implementar um formato competitivo para Resident Evil. Entretanto, essa perspectiva deixa de lado um jogo não tão antigo, mas quiçá esquecido, que carrega o potencial que a Capcom encontra: o jogo de tiro Umbrella Corps.
Combate tático em Raccoon City
Umbrella Corps é um jogo tático de tiro em formato multiplayer que foi lançado pela Capcom em junho de 2016 para PlayStation 4 e PCs. Sua ambientação envolvia a batalha entre várias corporações pelos segredos ocultos da Umbrella Corporation, logo após o fim de Resident Evil 6. Para capturar as tecnologias das armas biológicas criadas pela Umbrella, estas corporações contrataram mercenários que enfrentariam não só uns aos outros, mas também hordas de zumbis que ainda circulam por Raccoon City.
Com este background, foi desenvolvido um jogo do estilo “shooter” bastante inspirado em Call of Duty, como mostram seus modos de jogo de “mata-mata” e dominação, mas com alguns elementos interessantes, como a possibilidade de escolher entre jogar em primeira ou terceira pessoa e a variedade de armas disponíveis nos arsenais dos mercenários/jogadores. Entretanto, a recepção da crítica e do público no ocidente não foi tão favorável, indo contra as impressões de empresas de mídia no Japão, como a Famitsu, uma vez que a concorrência de jogos semelhantes no mesmo gênero, como Overwatch e Left 4 Dead, não deixariam espaço para Umbrella Corps ganhar mercado.
No entanto, Umbrella Corps é ainda um título promissor, que se reformulado pode até mesmo atingir o objetivo de integração ao mundo de eSports. Para tanto, seria necessário elevar os elementos que fazem o jogo ser competitivo e atraente ao público, como fez Fortnite logo após o seu lançamento. Depois disso, a criação de uma cena de eSports como a de Apex Legends, que é gerida pela sua desenvolvedora EA, não seria uma má ideia.
O sucesso dessa cena poderia levar Umbrella Corps a dividir espaço com outros jogos de sucesso, como Valorant e Dota 2, em plataformas especializadas no ramo de eSports. Exemplos de sites do tipo são o portal Globo Esporte, que disponibiliza notícias do setor, e a plataforma da Betway, que fornece odds de eSports em jogos e competições regionais e internacionais relacionadas a diferentes modalidades do gênero. Seria possível também lançar mão de uma tática de Call of Duty através de crossovers com outras franquias, incluindo quiçá alguns produtos da própria Capcom. E por fim, o lançamento do jogo em mais plataformas e aparelhos de telefone celular fariam com que Umbrella Corps pudesse alcançar uma base de jogadores bem maior.
Obviamente todos esses movimentos incorrem em custos que podem ser bem altos perante as barreiras que o mercado de eSports oferece para potenciais entrantes na indústria. Mas esse é também um investimento que pode dar muitos frutos, ainda mais se Umbrella Corps conseguir superar as expectativas daqueles que não perceberam em suas primeiras impressões um potencial muito grande no jogo.
Potencial inexplorado
Muitas das vezes, empresas que veem produtos como Umbrella Corps falharem antes mesmo de seu lançamento escolhem abandonar o projeto ou reformulá-lo por completo. No caso de Umbrella Corps, seu potencial em conjunto com o desejo da Capcom de expandir investimento em eSports faz do título um excelente candidato para a segunda opção.
O potencial de Umbrella Corps é notável não só por uma ambientação interessante, mas também por suas mecânicas. Um melhor polimento audiovisual e uma melhora no sistema de jogabilidade que deixe o jogo menos “genérico” são talvez os pontos-chave a serem endereçados neste cenário de reformulação.
Não há problemas na criação de um cenário de eSports de forma “artificial” e não autônoma, como ocorreu em outros jogos que hoje são grandes títulos do setor, como League of Legends e Counter-Strike. Estes são de fato exceções à regra, uma vez que as empresas com intenção de criar jogos voltados a eSports procuram “acoplar” um cenário competitivo assim que ele se mostre possível de ser explorado.