O Resident Evil 4 original é um dos jogos mais importantes da minha vida e até hoje o jogo regularmente, simplesmente por gostar muito do quarto título numerado da série e não achar que o jogo tenha envelhecido mal, mesmo que tenha sido lançado há quase vinte anos atrás. Portanto, desde que rumores sobre uma reimaginação de Resident Evil 4 surgiram, fiquei com um pé atrás e até vi pouca necessidade de fato da existência desse jogo. Aos poucos, à medida que o material de divulgação da Capcom saia, minha opinião foi mudando. Até que finalmente pude jogar o game e ver se estava certo na minha descrença ou completamente equivocado a respeito da existência dessa reimaginação.
Mesma história, só que melhor contada
Situado no ano de 2004, os eventos de Resident Evil 4 (2023) acontecem seis anos após os eventos de Resident Evil 2 e aqui temos Leon S. Kennedy de volta no papel de protagonista, agora como um agente do governo estadunidense e recebendo a missão de resgatar a filha do presidente, sequestrada e levada a um pequeno vilarejo do interior da Espanha. O que o agente não esperava era encontrar um cenário bizarro que assemelha ao terror vivido por ele em Raccoon City anos antes.
A premissa do jogo continua a mesma do original, mas, logo no início, já vemos algumas mudanças interessantes: logo na abertura narrada por Leon, vemos o personagem citar que os últimos anos foram de treinamentos intensos dos quais ele não teve muita escolha, pois sendo um sobrevivente dos horrores da Umbrella, ele foi recrutado e treinado pelo governo de seu país para ser um especialista em lidar com situações que envolvem atentados bioterroristas.
Esse tipo de mudanças e expansão da história dos personagens podem ser vistos durante todo o jogo, inclusive com a grande maioria do elenco, deixando eles mais interessantes e contribuindo melhor para com suas personalidades e amarrando seus papéis de forma mais harmônica dentro do universo da série.
O canastrão e misterioso Luis Serra, por exemplo, se torna um personagem com maior grau de participação e importância na trama, assim como Ashley Graham, que foi completamente reescrita e agora tem uma personalidade que faz dela uma personagem melhor que no original, não sendo só a carga de Leon, mas sim sua parceira. Mesmo estando na posição de vítima e ainda precisando ser salva em diversos momentos, ela segue sendo vital para o sucesso da missão. A narrativa foi reescrita de forma fenomenal, deixando tudo mais coeso, junto aos outros capítulos da série.
Embora existam muitas mudanças e diversas surpresas, tudo é feito de forma inteligente. A aventura de Leon na Espanha ainda é essencialmente a mesma que você conhece de outrora. Nada foi cortado de forma drástica e tudo que foi removido do jogo original é compensado de uma outra forma e, no meu entendimento, são bem melhores.
A Capcom reconstruiu todas as áreas, deixando todas elas bem mais interessantes e inserindo novos lugares. O Castelo, por exemplo, é um show de reconstrução à parte, mantendo a essência do produto original e ao mesmo tempo que faz daquele lugar algo completamente novo e melhor planejado. A Ilha, que era a área menos querida pelos fãs, se tornou um dos mapas mais interessantes do jogo com momentos de verdadeira tensão. E pra quem dizia que Resident Evil 4 era mais ação do que terror, eu acredito que a partir dessa versão, isso vai mudar sua opinião.
Apesar de sim, existirem partes mais puxadas para ação, o equilíbrio com o terror é bem maior, existindo segmentos novos e completamente bizarros. Eu não sou de me assustar com os jogos da série, mas passei por um trecho realmente assustador, justamente na Ilha e talvez seja um dos meus favoritos da série no geral.
E a jogabilidade? Será que é de milhões?
Nenhuma dessas mudanças teriam sido suficientes se a jogabilidade não tivesse sido melhorada também, correto? Pois bem, eu falo com propriedade que este Resident Evil 4 tem a melhor e mais completa gameplay da série. A mecânica de parry, novidade no jogo, é transformadora. O jogo se torna mais dinâmico e faz o jogador ter mais recursos em combate.
Passar os desafios propostos pelos desenvolvedores durante sua jornada (as sides quests) não é só uma questão de qual arma usar ou qual munição poupar e quais inimigos se esquivar, mas sim da sua habilidade como jogador, fazendo da curva de aprendizado do game algo muito orgânico e prazeroso, já que você que está com o controle de Leon é incentivado a usar todas as habilidades o tempo. E ainda que pareça muito, há diversos momentos em que as dificuldades aparecem e a tensão toma conta de você, independente do quanto você jogue bem. Foi a primeira vez que me senti dessa forma jogando um Resident Evil em minha primeira run, de forma que ao mesmo tempo que me sentia pronto para qualquer desafio que o jogo me colocasse – ou nem tanto.
As lutas contra chefes são um espetáculo à parte, trazendo embates totalmente revitalizados e melhores. A luta contra Ramon Salazar, era um dos meus grandes pontos de crítica no jogo original, pois achava pouco inspirada. Aqui, a história é completamente diferente, trazendo um embate reformulado e muito mais criativo. E criatividade também é o nome correto quando falamos dos puzzles, que aqui são encontrados em maior quantidade, mas também com uma construção muito mais inteligente e menos massante em relação a jogos passados.
Em aspectos gerais, eu não tenho nenhuma reclamação sobre o jogo, pelo contrário, talvez seja a melhor reimaginação que eu já joguei na vida, não só da série. E isso tudo é potencializado pela total localização em português do Brasil, com legendas e uma dublagem excelente. A Capcom está realmente de parabéns em todos os quesitos, seja no desenvolvimento do jogo e no suporte a nós, jogadores brasileiros.
Mas e o PC?
Por outro lado, a performance do jogo no PC fica um pouco a desejar por algumas decisões da própria Capcom. O jogo rodou muito bem em minha máquina, que possui uma RTX 3050, 16 GB de RAM e um processador I5 de décima primeira geração. São configurações que dão e sobram para rodar o game em qualidade alta, Full HD a 60 FPS com algumas quedas ocasionais, o que é normal, mas senti que em determinados momentos o jogo tinha quedas muito bruscas sem nada que causasse esforço extra na placa de vídeo que justificasse. Muito pelo contrário, minha RTX 3050 operava apenas com um pouco mais de 50% de sua capacidade nesses momentos, nunca tendo de fato chegado perto dos 100%, mesmo em situações com muitos elementos em tela. Muitos sabem que a Capcom usa o sistema de proteção anti-pirataria Denuvo que pesam os jogos e atrapalham em seu desempenho, às vezes prejudicando mais do que deveria.
Outra coisa que acabou me incomodando foi o jogo possuir apenas a opção do FSR da AMD e não o DLSS, oferecido pela NVIDIA. Essas tecnologias presentes em algumas placas de vídeo ajudam através de IA a otimizar os jogos, podendo rodar melhor com boa qualidade de imagem e altos frames. Muitos jogos atuais vem com a opção das duas tecnologias, independente de quem esteja divulgando a versão de PC.
No caso de RE4R, a AMD foi quem deu apoio e a falta de suporte ao DLSS da NVIDIA é sentida, já que ele funciona melhor que o FSR da própria AMD. Diversos jogos apoiados pela NVIDIA possuem o suporte ao FSR, portanto quem acabou prejudicado nessa situação fomos nós, jogadores de PC. No geral, o jogo está bem otimizado e roda bem, mas no fim acaba exigindo máquinas bem mais robustas do que deveria para atingir alto desempenho. Uma pena!
Veredito
Resident Evil 4 é fantástico e um exemplo de como se fazer uma reimaginação. A Capcom provou que sabe o que está fazendo trazendo novas versões de seus jogos mais antigos e, antes pessimista quanto às reimaginações de jogos mais atuais, agora não vejo a hora de jogos como Resident Evil 5 e Resident Evil 6 receberem o mesmo tratamento. RE4R vale cada segundo do seu tempo e com certeza é um dos grandes jogos de 2023.
O jogo foi analisado no PC em cópia digital cedida pelo site Green Man Gaming, em parceria com a Capcom. O texto não representa a opinião do REVIL como um todo e sim do autor da análise.
Colaboraram com a revisão deste conteúdo: João Alves e Natália Sampaio
Veja também: