Por que justamente o Leon vai retornar a Raccoon City?

De todos os protagonistas clássicos da franquia Resident Evil, Leon S. Kennedy foi o escolhido para coprotagonizar Resident Evil Requiem. O novo título marca o retorno à até então intocada Raccoon City e promete revelar um grande segredo por trás do incidente de 1998, além de explorar o impacto dessa tragédia na vida dos personagens.

A escolha, no entanto, levanta uma pergunta inevitável: por que justamente o Leon? Personagens como Jill Valentine, por exemplo, não apenas viviam na cidade, como atuavam ativamente na sua proteção e testemunharam de perto o colapso e a destruição de Raccoon City como consequência das ações da Corporação Umbrella. Então, qual seria a real razão por trás dessa decisão?



Sucesso garantido?

A resposta mais imediata está no fator comercial. Entre todos os protagonistas da franquia, Leon é, sem dúvida, o personagem mais popular. Considerado o “garoto de ouro” da Capcom, ele é o rosto de Resident Evil 4 (2004), um dos jogos mais influentes e populares da história dos videogames. Como resultado, Leon se tornou o favorito de muitos fãs e, naturalmente, um nome capaz de alavancar vendas e garantir visibilidade – sendo assim, uma escolha estrategicamente segura.

No entanto, é preciso admitir que reduzir sua presença em Resident Evil Requiem apenas à popularidade seria simplificar demais a questão.

Lembrança e luto

Entre todos os sobreviventes do Incidente de Raccoon City, Leon é aquele que carrega as marcas psicológicas mais profundas. Mesmo após 28 anos, o trauma daquela noite continua a assombrá-lo – algo que fica evidente em praticamente todas as suas aparições ao longo da série.

Em Resident Evil 4 (2023), Leon expressa isso de forma direta ao afirmar:

30 de setembro de 1998. É um dia que eu nunca vou esquecer. O policial dentro de mim morreu naquele dia.

A frase não apenas relembra o evento, mas simboliza a perda de sua inocência e o início de um fardo emocional que ele jamais conseguiu abandonar.

Esse peso se torna ainda mais explícito em um dos arquivos extras de Resident Evil 6, que revela que Leon chegou a considerar tirar a própria vida. O que o impediu foi seu profundo senso de responsabilidade em relação a Sherry Birkin e a necessidade de protegê-la.

Dor que não cicatriza

Os filmes em animação Resident Evil: Condenação e Resident Evil: A Vingança reforçam essa deterioração emocional. Neles, Leon recorre ao uso excessivo de álcool como uma forma de anestesiar a dor, evitando encarar de frente seus traumas. É um retrato claro de alguém que nunca conseguiu, de fato, deixar Raccoon City para trás.

Reconexão e encerramento

É aqui que o título Réquiem ganha peso narrativo. O termo remete à reconciliação com o passado e ao descanso final de um capítulo doloroso, permitindo que algo novo possa surgir em seu lugar. Quando esse significado é associado ao estado psicológico de Leon, a escolha se torna clara.

Nesse caso, seu retorno a Raccoon City em Resident Evil 9 não representaria repetição, mas sim um confronto definitivo – a chance de encarar a origem de seu trauma, compreender suas feridas e, finalmente, fechá-las. Nesse contexto, mais do que qualquer outro personagem, Leon é aquele que precisa voltar. Não para reviver o passado, mas para enterrá-lo de uma vez por todas.