Resident Evil está completando 26 anos de existência. Este que vos escreve tem 28 anos, quase completando 29, idade próxima a da série. E aqui, neste texto, irei refletir com vocês sobre como a existência de RE e a minha estão conectadas. Já adianto caro leitor(a), essa ligação não é pelo o que a série se tornou, mas sim o que eu aprendi a construir e a experimentar com ela.
Não sei exatamente quando foi o meu primeiro contato com a série, mas me atrevo a dizer que foi no início do anos 2000. Nesta época quem tinha vídeo game era o diferenciado da rua e todos queriam saber quando o amigo estaria em casa para a turma ir lá jogar. No meu caso, eu só assistia mesmo, pois não gostava de jogos esportivos e quando um RE aparecia no pacote, eu tinha muito medo de dar dois passos dentro da mansão ou da delegacia. Resumidamente, a minha experiência gamer era mediada por outras pessoas por conta das limitações financeiras, ou seja, eu era a criança que não tinha videogame, mas nem por isso deixei de compartilhar bons momentos.
Talvez este seja o primeiro ponto de interseção entre as existências, a partilha do medo e da emoção. Jogar Resident Evil com a turma, seja ela da escola, dos amigos, familiares ou vizinhos, sempre proporcionou tensão e sustos, e quando isso ocorria – Nemesis estou falando de você –, uma grande onda de valentia tomava conta de quem estava no controle e dos outros que estavam na mesma sala. A tensão subia e a emoção também, os gritos de “Vai, vai, vai… Atira! Atira! Usa a erva” se confundiam com a trilha sonora e aos sonoros “Staaaarrsss” e, por fim, éramos lançados a momentos tão preciosos e únicos que nenhuma experiência proporcionadas por jogos multiplayer online ousou repetir. Saudosismo? Com certeza! Mas o arremate pessoal a partir dessas experiências fizeram com que eu valorizasse cada momento que poderia viver com a série a partir dali.
Com o passar dos anos, outros jogos do mesmo gênero entraram no repertório, mas nenhum chegou a repetir a experiência descrita. E parte disso veio com um entendimento que passei a ter ao jogar o Resident Evil 4: “Pode ter zumbi, pode ter infecção, pode ter vírus e o escambau no jogo… Mas mesmo assim, ainda não é Resident Evil”. O que o universo significava para mim é muito maior afetivamente do que os inimigos, a câmera no ombro ou qualquer liberdade criativa de Mikami na época. E este foi o segundo ponto de interseção: aprendi a compreender as liberdades criativas que a indústria cultural exerce sobre nós. Por exemplo, quantas cantoras e bandas já tiveram fases duvidosas ou completamente disruptivas com a fanbase original, a ponto de você duvidar daquele trabalho, mas não do artista? Algumas dessas decisões são as favoritas? Não, definitivamente não, mas entendi que a cada novo Resident Evil, o universo poderia me proporcionar algo. Inclusive, RE me fez entender que as diferenças pessoais fazem parte da nossa história (ô, se fazem!).
Continuando, o terceiro ponto é o criativo. Utilizo muitas referências, esboços, artes conceituais, roteiros, fan arts e, principalmente, trilhas sonoras no meu dia a dia para me inspirar. “Mas como você pode se inspirar com temas tão mórbidos e assustadores?” Simples, procuro extrair cada sentimento e intenção que os realizadores colocaram naquela entrega. Claro, sou um pouco privilegiado neste sentido porque trabalho com construção emocional por meio do som. Mas é impressionante como a série é uma fonte inesgotável de ideias e insights para todas as áreas. Aliás, escrevo este texto ao som da trilha do primeiro filme, Resident Evil: O Hóspede Maldito, que é uma verdadeira obra prima sci-hi horror milenium.
O quarto ponto pode ser até polêmico para a fanbase, mas é um indício de como a existência midiática pode estar entrelaçada com os momentos pessoais. Quando Resident Evil 6 foi lançado, lá em 2012, muito foi especulado sobre a sexualidade de Chris Redfield, protagonista e símbolo másculo da série, e a relação que o mesmo teria com o Piers Nivans, o fiel escudeiro da B.S.A.A. Nesta época, eu não tinha um Playstation 3, mas graças a Lord Spencer, havia o YouTube e o REVIL para acompanhar todas as notícias e as gameplays do jogo. A questão é, ver o seu personagem masculino favorito da série em uma relação de cumplicidade e lealdade com outro homem, me fez ter um outro entendimento sobre o Chris e, de uma certa maneira, sobre mim mesmo. Ter um personagem com este tipo de abordagem, mesmo que sem explorar explicitamente qual era o tipo de envolvimento entre eles, me fez sentir representado. E, convenhamos, a série sempre explorou esse tipo de relação entre os casais nucleares, homem e mulher, nos jogos. Portanto, o quarto ponto de interseção é este, a representatividade que este encontro, o Nivanfield, me fez sentir. Após anos de identificação com a Jill Valentine e o seu cropped reagindo por Raccoon City, finalmente nós, gays, tínhamos um outro ponto de representatividade (mais genuíno) a ser celebrado.
Por fim, e não menos importante, o quinto e último ponto, o senso de comunidade. Nós sabemos como a comunidade de Resident Evil pode ser tóxica, mas também sabemos como podemos ser acolhidos por ela e por pessoas que realmente valem a pena. Após anos sem encontrar uma pessoa para conversar sobre a série, hoje eu tenho verdadeiros amigos que compartilham comigo as suas impressões, opiniões, críticas e argumentos, sem que isso se transforme numa guerra entre fãs e ataques pessoais. Isso se deve ao trabalho excepcional do REVIL e de seus streamers com a comunidade – eles não me pagaram para escrever isso, tá! É do fundo do coração mesmo. Então, coexistir com a série, numa mesma época em que temos pessoas que proporcionam esse tipo de troca, é algo muito importante e especial para mim. Então obrigado! Existir com vocês torna a minha vida mais feliz.
Para concluir, no início deste texto eu avisei que seria mais sobre o que eu construí e experimentei com a série do que qual seria o jogo meu favorito ou não. Ter em mente esse tipo de reflexão faz com que a série continue se perpetuando através de nós, os seus fãs, independente das expectativas e entregas. Seguimos, desejando de coração, “vida longa a Resident Evil”.
Continue a comemorar com o REVIL
Fizemos uma singela homenagem a essa incrível franquia que completa 26 anos e postamos no nosso canal do YouTube:
Concorra a um Resident Evil Village
Hoje, 22/03, Resident Evil completa 26 anos, e quem ganha é você! Teremos live em dupla, a partir das 18hrs, de RE1 1996 no nosso canal do @YouTubeBrasil e iremos sortear 3 (três) cópias digitais de RE:VILLAGE para o @XboxBR, gentilmente cedidas pela @CapcomBrasil. #REBHFun pic.twitter.com/06k2mt3M9a
— REVIL (@revilbr) March 22, 2022
Mais dos 26 anos
A inspiração, a criação, a renovação e o futuro! Uma franquia que se mantém firme mesmo depois de 26 anos de mercado! Vamos celebrar mais um ano de vida dessa franquia que tanto amamos! #REBHFun #ResidentEvil #Biohazard pic.twitter.com/EamlrjF14w
— REVIL (@revilbr) March 22, 2022
Resident Evil 1 comemora hoje 26 anos de seu lançamento no Japão. Seis anos mais tarde, o remake de Resident Evil saiu para o GameCube, tornando-se um favorito instantâneo no gênero terror de sobrevivência para muitos. Quais são suas lembranças favoritas desses clássicos?#REBHFun pic.twitter.com/qFAIT8dT1W
— REVIL (@revilbr) March 22, 2022