Resident Evil: Revelations 2 está vindo aí como a promessa do jogo com a receita “para agradar os fãs”. A Capcom já usou essa abordagem antes, durante a divulgação de RE6, que seria um jogo que uniria terror e ação. O resultado saiu meio diferente do esperado, tanto para a empresa, que não conseguiu agradar a todo mundo, quanto para os fãs, que ficaram se perguntando onde estava aquela parte da fórmula que estaria dedicada a eles.
Revelations 2 está criando bastante expectativa, porque a promessa da Capcom é não somente de entregar o que supostamente agrada aos fãs, mas sim tentar devolver a série às suas raízes no terror e no survival horror. As análises iniciais parecem promissoras e a prévia aqui do REVIL, feita pelo Ceraldi, destaca um clima de tensão e vários elementos que parecem contribuir para isso.
Além de trazer alguns componentes de survival horror que muitos fãs tanto pediam, o que mais pode ser essencial para que Resident Evil: Revelations 2 realmente agrade? Reúno aqui não só os meus pensamentos, mas também algumas ideias que os fãs podem ter deixado nos comentários daqui do site.
1- Claire sendo Claire
Claire Redfield é um personagem especial. Não só por ser extremamente carismática e uma figura maternal que aquece o coração de 10 entre 10 fãs de Resident Evil. Claire é especial porque tem um grande diferencial: ela (ainda) é um dos personagens mais humanos que temos na série. Claire é forte, emotiva, guerreira. Uma sobrevivente, acima de tudo. Tem alguma experiência e um certo nível de treinamento, mas não é uma agente especializada, condecorada. Não vive de lutar contra o bioterrorismo, não é agente especial do governo. Claire, pelo menos até então, é a pessoa que não trata o terror como rotina. Por isso, é mais fácil se ver na pele da Claire do que na pele de Chris, Leon, Ada, Jill, etc. Se “sentir na pele do personagem” contribui para a imersão, para envolver a gente no game; não só na história, mas no gameplay também.
É de se esperar que Moira seja elo mais emocionalmente frágil da dupla de protagonistas (e que por isso seja também empática para a gente). O problema é que aí podemos cair em um roteiro que traga uma Claire insensível ao contexto traumático para servir como um ponto oposto à filha de Barry. Ainda, para intensificar o contraste entre as duas, corremos o risco de ter uma “Claire heroína”, que acabe agindo como Chris ou Leon em determinadas situações. Lembrem que ela é o personagem que lida com as armas e provavelmente quem irá dar um tom de mais “ação” durante o gameplay. A mudança na dubladora de Claire parece contribuir para deixar a personagem um pouco menos emotiva. A nova dublagem parece mais fria, enquanto a veterana Alyson Court parecia deixar Claire mais sensível.
A Claire já viveu os horrores da Umbrella na pele três vezes, mas o que se espera dela em Revelations 2 é que seja alguém que se tornou mais forte com essas experiências, porém não mais fria. Dos personagens antigos, Claire é o que mais pode dar o tom de certa insegurança, impotência e medo de lidar com aquela situação. Claire também é o melhor personagem para falar de temas mais emotivos. Um dos focos da relação entre ela e Moira certamente será a superação. É difícil pensar que alguém que vê o terror como algo trivial e diário consiga aconselhar ou apoiar alguém em um contexto extremo como aquele. Claire é mesmo a escolha certa, se for retratada como realmente foi criada. É claro que muitos anos se passaram e ela obviamente amadureceu, mas seria legal também ver um amadurecimento plausível, sem distorções de personalidade.
2- Mais sobrevivência, menos heroísmo
Salvamos a filha do presidente em RE4; salvamos o planeta da aniquilação pelo vírus Uroboros em RE5; fizemos tudo isso de novo quando o C-vírus se tornou ameaça mundial em RE6 ou quando o T-Abyss poderia infectar boa parte das águas do planeta. Desde a história de Leon no Pueblo, estamos sendo heróis, e não sobreviventes. O objetivo dos protagonistas saiu de “salvar a própria pele” para “salvar alguém” ou “salvar o mundo”. Revelations 2 pode ser a chance de voltarmos a ver personagens lutando pela própria vida, sendo eles os próprios agentes de superação de medos, traumas ou conspirações. Talvez seja esse o elemento do survival horror que mais falta nos jogos pós-RE4: ser, de fato, um sobrevivente.
Ao que tudo indica, estaremos sim na pele de duas sobreviventes. Claire e Moira estão enclausuradas em uma prisão/ilha e, aparentemente, não existe nenhuma ameaça global imediata a ser impedida. Ainda sabemos muito pouco sobre a história, mas seria muito bom que a Capcom investisse em uma trama mais simples e mais focada nos desafios impostos aos personagens, em vez da costumeira megalomania de destruição mundial. Isso já foi visto e revisto tantas vezes que, na história de Resident Evil, o apocalipse pode acontecer todos os dias.
3- Vilão plausível
No pacote de sequestros de parentes de líderes mundiais e ameaças de destruição do planeta, temos sempre de brinde um vilão megalomaníaco.
Além de mocinhos que criem empatia, Revelations 2 precisa de vilões mais críveis. A gente sempre se pergunta as motivações de um vilão e se elas são totalmente estapafúrdias, o interesse na história se esvai. O vilão é uma grande força motriz na trama, porque é ele quem determina as bases da história. A vilã de Revelations 2 (que observa Claire e Moira pelas câmeras) é quem fez com que as protagonistas fossem presas; ela é o ponto inicial que dá origem a todos os problemas, conspirações e conflitos que vão se desenrolar. Se um vilão é clichê ou tem motivações ruins (como quase todo vilão megalomaníaco) é provável que isso se reflita na história também.
Além de protagonistas mais humanos, precisamos também de vilões mais humanos, críveis, empáticos, inteligentes. O melhor antagonista é aquele que causa empatia, porque as motivações se tornam plausíveis. Dá muito mais prazer e motivação de enfrentar um vilão que a gente admira e respeita. Não é nada legal para uma história subestimar um vilão ou não entender os motivos pelos quais ele(a) é o antagonista ali.
Um bom vilão também traria mais maturidade para a trama de Revelations 2, o que anda bastante em falta nos últimos REs e está cada vez mais em alta em vários outros jogos de sucesso.
4- Drama de verdade
Por falar em maturidade, que tá faltando – e muito – em Resident Evil, Revelations 2 pode levar a gente para um bom drama. Resident Evil 6 prometeu trazer o “dramatic horror” e até agora ninguém sabe muito bem o que é isso, e se existe algo de realmente dramático ali, que mexa com as emoções do jogador, passou longe.
Temos uma Moira traumatizada e Claire, uma personagem bastante emotiva. Existe muita problemática boa para ser levantada aí, que pode ir desde o trauma da filha de Barry com armas até questões familiares que a gente ainda desconhece. É provável que as duas coisas estejam ligadas, já que Barry é aficionado por armas de fogo. Vale lembrar que Claire já esteve envolvida em tramas emocionais tendo a família como tema. Em RE2, ela tinha que lidar com Sherry que era deixada de lado pelos pais viciados em trabalho; em RE CV, ela lidou com Steve, que tinha problemas de relacionamento com o pai depois que ele se envolveu com a Umbrella.
Ainda que Moira pareça estar no centro de toda a abordagem dramática que Revelations 2 deve trazer, é bom que Claire seja parte importante disso e não só uma coadjuvante nesse aspecto da trama. Em RE2 e em CV, Claire é ferramenta essencial para o amadurecimento de Sherry e de Steve.
Acima de tudo, é essencial que os dramas sejam críveis. Moira ainda parece ser uma adolescente birrenta e desbocada (apesar de já ter uns 20 e poucos anos), mas é importante que o background que a levou a ter o trauma com armas e prováveis problemas de relacionamento com Barry sejam bem explorados e bem construídos. Moira ainda precisa ser empática e seus problemas precisam ser plausíveis para que o drama dela possa mexer com a gente.
5- Contribuições para a cronologia
Revelations 2 vai se passar no período entre RE5 em RE6, o que significa que vamos dar uma voltadinha no passado, em um período ainda desconhecido da história de Resident Evil. É uma pena que o título seja tratado diretamente como um spin-off (o primeiro Revelations não era referenciado assim). Não custa nada que alguns links com RE5 ou RE6 sejam feitos para que essa não seja mais uma peça solta na cronologia da série. Resident Evil tem uma trama muito complicada e longa, qualquer adição que ajude a contar essa história seria muito bem vinda.
Games que mostraram o passado, como Umbrella Chronicles, contribuíram muito para a complexidade da história e também serviram para explicar algumas pontas soltas. Existem muitos poucos links entre RE5 e RE6, com a exceção de Jake Muller, e Revelations 2 pode ser uma boa ponte para enriquecer o espaço de tempo entre a história dos dois jogos.
EXTRA – Easter eggs sim, senhor!
Revelations 2 promete agradar aos fãs, especialmente os de longa data. A Capcom já começou a mostrar isso com aquele trailer conceitual cheio de easter eggs.
O próprio conceito do jogo já é uma grande referência ao passado: Claire está em uma prisão, dentro de uma ilha. Bate um feeling de CODE Veronica, não é? No pouco material já divulgado, uma das frases ditas por Claire durante o gameplay é uma baita menção a Steve Burnside (“armas são mais confiáveis que algumas pessoas”).
Se eu quero easter egg? Quero sim, muito! Se Mikami pode fazer auto-homenagem em The Evil Within, Revelations 2 pode e deve fazer também!
O artigo reflete a opinião da autora, não do site REVIL.