Uma coisa é certa de se dizer com o passar dos anos: A fanbase de Resident Evil está dividida desde Resident Evil 4. O jogo trouxe uma série de novidades que mudou muitos aspectos da série, desde a ausência de zumbis até a própria jogabilidade – abandonando as câmeras fixas e cenários apertados e te dando uma mira livre e liberdade de movimentação.
A realidade é que muitos fãs dos jogos antigos não encararam muito bem o novo direcionamento e ao longo dos anos o caminho que a série foi tomando em Resident Evil 5 e 6 – mais focados na ação e nos combates, ajudou a cimentar ainda mais essa divisão, deixando os fãs da era “Survival Horror“ meio desamparados.
Não podemos dizer que a Capcom não tentou voltar ao horror, tanto que em Revelations a promessa era de que o clima seria muito similar aos antigos jogos da era de ouro. Infelizmente Revelations no Nintendo 3DS não foi o sucesso que a Capcom esperava, tanto que, durante a produção de Resident Evil 6, o seu produtor, Yoshiaki Hirabayashi, disse que Survival Horror era um gênero de nicho e eles não poderiam direcionar a série dessa maneira já que visavam as massas.
Quão enganada estava a Capcom quando pouco mais de 6 meses depois do lançamento (e subsequentes duras criticas) de Resident Evil 6, aconteceu o lançamento de The Last of Us. A nova franquia arrematou a crítica e caiu no gosto da maioria dos fãs de Survival Horror, trazendo ar fresco ao gênero e um tom de seriedade com a história que parece que a Capcom esqueceu anos atrás. O jogo vendeu mais de 7 milhões de unidades apenas no PS3 – sem contar a versão Remastered para PS4, o que é um número bastante expressivo para uma franquia nova e exclusiva. Se pudesse voltar no tempo com certeza Hirabayashi jamais diria que o gênero tinha virado um nicho.
Apesar do fato de The Last of Us ser um Survival Horror ou não ainda ser um motivo de debate, ele tem elementos que os fãs do gênero procuram, como recursos limitadíssimos e uma constante preocupação com a própria sobrevivência, uma vez que decisões erradas na estratégia definitivamente lhe levariam a morte. Somado a isso, novas mecânicas no gênero, como a possibilidade de construir itens, grande foco no stealth e uma história bastante humana e focada no desenvolvimento dos personagens tornaram The Last of Us um dos grandes queridinhos do gênero.
Uma grande curiosidade porém, é que os produtores de The Last of Us falaram que uma das inspirações para o jogo foi Resident Evil 4. Apesar de ser o motivo de uma enorme rachadura na base de fãs de Resident Evil, RE4 é considerado um marco na indústria e influenciou muitos jogos depois dele, tornando-se referência para os próximos TPS – Third Person Shooter – a serem lançados, como Gears of War.
O tempo passou, e a Capcom viu o erro que foi relegar o gênero Survival Horror a nicho e resolveu apostar novamente no gênero com Revelations 2. A promessa é de um jogo focado no horror e ao mesmo tempo carregado de novidades para a série Resident Evil… Porém, um olhar mais clínico no último gameplay liberado revela muitas semelhanças com The Last of Us, fazendo as pessoas inclusive considerarem como um certo “plágio” da Capcom. Abaixo eu vou listar coisas que são estranhamente parecidas entre os dois jogos:
O design de Barry Burton x Joel de The Last of Us
Quando foi revelado que a filha de Barry seria um dos personagens jogáveis em Revelations 2, muito se especulou que talvez o próprio Barry fosse jogável – o que se confirmou algum tempo depois. Entretanto, um dos debates sempre foi que talvez isso não fosse possível, porque Barry está na casa dos 50 anos e provavelmente ele estaria muito velho… Pois bem, eis que Barry é apresentado e ele está um coroa boa pinta, forte e durão como o… protagonista de The Last of Us (Joel está nos seus 40 e tantos – quase chegando aos 50 anos também, e é completamente casca grossa).
Não se sabe se a Capcom se inspirou em Joel para o visual de Barry, mas ele ficou bem mais “coroa galã” do que era esperado. Até sua roupa durante o gameplay lembra bastante o Joel, com uma mochila, armas penduradas nas costas e uma lanterna na alça da mochila – exatamente como Joel carrega as coisas. (Só faltou uma máscara para evitar os esporos, mas aí já seria demais né?)
A relação de “pai e filha”
Um dos tons marcantes de The Last of Us é o senso de “paternidade” de Joel e a construção da relação dele com Ellie, a quem no fim do jogo ele trata como se fosse sua própria filha. Quando ficamos sabendo que Barry sairia em missão para salvar Moira, isso poderia servir para dar um “estalo de lembrança” dessa mesma questão, porém isso não foi o suficiente… Para completar, nos cenários de Barry ele terá a companhia de Natalia Korda, uma misteriosa menina que aguça os sensos paternos de Barry – ele então a coloca sob sua “guarda” no caminho de resgatar sua filha.
Se isso não fosse o suficiente para lembrar TLoU, Natalia se comporta de forma muito parecida com Ellie, podendo ajudar jogando tijolos, falando onde estão os inimigos, passando por passagens estreitas para abrir caminho; e aparentemente, está infectada como a Ellie. Isto que deve garantir a Natalia a habilidade especial de observar através de obstáculos onde os inimigos estão – que é extremamente similar a técnica do “modo de escuta” presente em The Last of Us.
Mecânicas do jogo
Além desses elementos subjetivos que remetem a TLoU, a coisa que mais chamou a atenção e causou o início dessas comparações foi o próprio gameplay. Assim como TLoU, o cenário de Barry (e alguns segmentos de Claire), carrega elementos de stealth, como andar abaixado atrás de obstáculos, traçando a melhor forma de confrontar os inimigos passou a ser a melhor opção de abordagem.
Além disso, o jogo também tem câmera livre ao redor do personagem e conta com um sistema de construção de itens – podemos ver Barry combinando alguns suprimentos para fazer um torniquete e depois aplicá-lo em si mesmo, praticamente da mesma forma que Joel lida com seus recursos.
A própria forma como eles se locomovem – se esgueirando, lembra muito Joel e Ellie, somado a já citada habilidade de Natalia de detectar os inimigos e a frequente utilização da lanterna deixaram o jogo visualmente e mecanicamente muito parecido com The Last of Us, gerando todos essas comparações.
Porém, não podemos esquecer que Revelations 2 tem características próprias como o sistema de troca de personagens em tempo real, jogatina co-op (ambos ausentes em TLoU) e não sabemos se a campanha de Claire e Moira irá se comportar exatamente da mesma forma ou se trará outros elementos completamente diferentes da campanha de Barry.
De uma certa forma não é de todo ruim que a Capcom se inspire no que vem dando certo na indústria para tentar melhorar a série, só esperamos que realmente seja apenas uma inspiração e não um mero clone de um jogo de sucesso. Assim como TLoU se inspirou em RE4 e foi um grande jogo, Revelations 2 pode pegar essa inspiração e melhorar consideravelmente a série. Vale lembrar que esse tipo de troca mútua acontece com frequência na indústria, como no caso de Tomb Raider x Uncharted que vivem emprestando elementos um ao outro.
Como comprovação de que Revelations 2 tem seus próprios méritos, o REVIL está bombando de artigos sobre o jogo, não deixe de conferir os excelentes textos abaixo e tem mais coisas por aí vindo em breve!