Capcom reforça desejo de fazer filmes e séries com recursos próprios; RE7 ajudou nos lucros

A Capcom divulgou um resumo de sua 45ª Assembleia Geral Ordinária de Acionistas com as perguntas, respostas e comentários dados a investidores a questionamentos feitos durante o evento, que aconteceu no dia 20 de junho no Japão. Entre os conteúdos, a companhia reforçou o desejo de fazer filmes e séries com recursos próprios. Além disso, Resident Evil 7 é citado como uma das referências entre práticas que tem sido adotadas para ajudar a manter os lucros operacionais.

Com relação ao uso de propriedades intelectuais para filmes e programas de televisão, a Capcom disse que vai investir de forma estratégica para ter uma fonte de crescimento a longo prazo. O filme de Street Fighter (Street Fighter – A Última Batalha, no Brasil), lançado em 1994 com recursos próprios da companhia, é indicado como exemplo por render dinheiro até hoje. Por isso, a conclusão é de que há a necessidade de projetos de produção própria para que o negócio seja rentável. Recursos e um sistema estão sendo estabelecidos para que isso aconteça. O desejo de produções com recursos próprios já foi revelado a investidores no passado.

Jean-Claude Van Damme em uma produção de Street Fighter
Jean-Claude Van Damme (Coronel Guile) e Raúl Juliá (Bison) estão entre os destaques do filme de Street Fighter de 1994

Atualmente, a Capcom vende conteúdos para 235 países e regiões diferentes do mundo. Os live-actions de Resident Evil, entre eles Resident Evil: A Série, são licenciados a terceiros. Produção própria, a qual a companhia menciona, é ter um envolvimento mais direto com o produto, a exemplo do filme em computação gráfica Resident Evil: Death Island (Resident Evil: Ilha da Morte) ou, ainda, Resident Evil: No Escuro Absoluto, lançado inicialmente na plataforma de streaming Netflix, mas que pôde ser explorado em outras áreas sob controle da Capcom, em especial com merchandising e licenciamento de produtos.

Lucros e jogos

A companhia foi questionada sobre os lucros operacionais, que cresceram mais de 10% nos últimos anos, e sobre o passado, quando a indústria era muito volátil e um lançamento – de um grande jogo, por exemplo – era o que impulsionava o ano fiscal, mas que pouco tempo depois havia uma queda de receita. A Capcom respondeu que, no passado, havia uma disputa em lojas físicas por aproximadamente 6 meses, mas que acompanhando a mudança digital conseguiu definir estratégias, com preços e descontos em títulos de catálogo e projeções de lançamento. Como resultado, jogos como Resident Evil 7, lançado há sete anos, e Monster Hunter: World continuam a crescer dentro da estratégia que visa lucros.

Resident Evil 7
A família Baker apareceu mais recentemente em dispositivos Apple; jogo foi lançado para iPhone 15 Pro, iPad e Mac

Em relação ao desenvolvimento de jogos, há a manutenção de um cronograma médio de 5 anos que tem ajudado a inserir melhor novos lançamentos no mercado. A companhia também estendeu o negócio de vendas a longo prazo, por isso os números só aumentam. Outro planejamento acontece nas instalações de última geração e uso de propriedades intelectuais populares, o que tem colaborado na expansão global, em especial no campo digital e com aprimoramento de marketing.

A Capcom não pretende eliminar jogos físicos por entender que ainda há demanda significativa. Ainda em relação aos jogos, investidores estão preocupados com poucos novos que sejam dignos de notoriedade neste ano fiscal (com término em 31 de março de 2025) e insistiram em questionar o plano de vendas. A companhia respondeu que ao menos nos últimos nove anos fiscais houve crescimento no lucro operacional de pelo menos 10%, independente de novos jogos e com os catálogos sendo responsáveis pelo aumento no volume de vendas, e que está empenhada em manter o bom desempenho.

Sobre o mercado, a Capcom disse que monitora as variações. Quando questionada sobre a possibilidade de recompra de ações e mudanças relacionadas a preço/lucro, o retorno foi que há monitoramento contínuo para realizar uma “avaliação adequada” futura. Entre os apoiadores financeiros, há quem tenha perguntado se há a possibilidade de dar benefícios a investidores de longo prazo, algo que será considerado.

Franquias e públicos

Algumas perguntas e respostas giraram em torno de franquias e de públicos, como Mega Man e os planos para a série. Sobre o robozinho azul, a Capcom respondeu que esta é uma das mais valiosas propriedades e que considera criar uma base contínua de jogos.

Sobre Street Fighter 6, investidores estão preocupados com a implementação no campo dos eSports, que gera entusiasmo, mas que não parece ser um negócio lucrativo. Para a Capcom, o interesse doméstico (Japão) atingiu “novos patamares” no ano passado, o que traz motivação para continuar expandindo para o exterior, com a preocupação de tornar lucrativo a longo prazo. A ideia é continuar reacendendo o mercado de jogos de luta com campeonatos como o Capcom Pro Tour.

Também com relação à Street Fighter 6, investidores quiseram saber sobre as vendas de conteúdos adicionais DLC e qual a relação com a manutenção do time de desenvolvedores, mas a Capcom não respondeu a isso diretamente, se limitando apenas a dizer que adicionais ajudam a conectar jogadores por um período maior de tempo, com novas análises que acabam capturando novos jogadores e reforçam a marca.

O mundo de Fatal Fury chega em Street Fighter 6
Terry, da série Fatal Fury da SNK, está previsto para chegar como personagem de Street Fighter 6

Outro assunto foi Dragon’s Dogma 2, que em seu lançamento apresentou problemas e foi criticado por jogadores. A Capcom disse que leva as opiniões e pedidos a sério e está trabalhando para resolver assuntos assim respeitando a visão global do jogo, que vendeu aproximadamente 2,6 milhões no ano fiscal de 2023.

O anúncio de Monster Hunter Wilds somente no PlayStation 5, Xbox Series X|S e PC, excluindo plataformas portáteis, como Nintendo Switch, gera preocupação entre os investidores. A companhia falou que está levando a tecnologia ao limite e que, atualmente, o conceito está nas plataformas já anunciadas, mas que vai compartilhar mais informações no futuro. Por ser um título cross-plataform, acionistas se preocupam com trapaças e mods.

Alguns “títulos específicos” serão anunciados com o motor REX Engine, ainda em desenvolvimento, e que é evolução do RE Engine. Ao que disse a Capcom, o objetivo é melhorar a eficiência e a autenticidade foto realística com o mundo real.

Relançamentos e influência

Investidores receberam de forma positiva Marvel vs. Capcom Fighting Collection: Arcade Classics e pediram para que a companhia considere relançar mais jogos do passado na atual geração de plataformas, algo que a Capcom disse apreciar para alcançar uma gama maior de jogadores no mundo. Novos Toraware no Paruma e Ace Attorney Investigations foram pedidos na 45ª Assembleia Geral Ordinária de Acionistas.

Ainda sobre novos jogos, investidores acham que a companhia tem a seu favor uma grande variedade de títulos de aventura com características únicas, o que é considerado uma vantagem em relação a outras empresas, mas há a preocupação de que a Capcom crie novos tipos de experiência, diferenciando a produção.

Neste ano, a companhia promoveu uma dinâmica no site interativo Capcom Town com a Super Eleições Capcom, no qual Resident Evil foi eleito a série mais favorita e os fãs manifestaram o pedido por um novo Dino Crisis. Investidores quiseram saber se os resultados influenciariam títulos futuros populares e não apenas remakes de jogos existentes. A Capcom não respondeu diretamente, mas disse valorizar e tentar utilizar todas as suas propriedades não só em jogos, mas em outras mídias. Analisa não só novos remakes, mas também ports e coleções.

Apollo Justice e mais uma trilogia da Capcom
Ace Attorney Trilogy é um dos lançamentos de 2024; jogo segue como um dos catálogos no atual ano fiscal da Capcom

Com relação ao Capcom ID, utilizado em alguns jogos, acionistas disseram que parece que a companhia não está trabalhando em nada. A Capcom reconheceu o comentário, dando a entender que era algo subutilizado, e que vai trabalhar para resolver, levando o conhecimento a mais pessoas.

Direitos, mulheres e esportes

Investidores quiseram saber como a Capcom lida com questões de discriminação e diversidade no desenvolvimento de jogos. A companhia respondeu que cria jogos acreditando na importância do “respeito pelos direitos humanos” e na “realização de uma vida satisfatória”, trocando opiniões com as subsidiárias globais quando necessário.

Durante a 45ª Assembleia Geral Ordinária de Acionistas, a Capcom apresentou uma candidata mulher para um cargo de diretoria externa, mas foi questionada por ter todos os diretores internos homens e quais seriam os planos para aumentar a proporção de gestoras mulheres também internamente. A companhia admitiu o fato e disse que além de ampliar a quantidade de mulheres, considera diretores não japoneses. Sobre elas, 21,2% dos funcionários são mulheres e 13,6% delas estão entre os principais talentos. O objetivo é que 15% das mulheres estejam em cargos de gestão no futuro, com proporção maior de mulheres gestoras.

A Capcom é patrocinadora da Associação de Vôlei do Japão (Japan Volleyball Association) e investidores estavam curiosos quanto a como a parceria foi estabelecida. A companhia informou que compartilha do mesmo objetivo da organização em contribuir para o desenvolvimento saudável das crianças e dos jovens, além do crescimento mental e físico da nação. Que o apoio é de um cidadão corporativo responsável com a promoção de comunidades locais, esportes, cultura e artes.

Capcom x Japan Volleyball Association
Personagens da Capcom “vestem a camisa” da Associação de Vôlei do Japão

Via Capcom IR (Question and Answer Summary)