Arte: Frank Alcântara

Análise – Daymare: 1994 Sandcastle – PS5

Quando Daymare: 1994 Sandcastle foi anunciado, não havia pessoa mais empolgada do que eu, pois sou amante do primeiro jogo, desde o primeiro contato! Tive a oportunidade de fazer a análise de PC (junto a outros membros da equipe) e a análise de PlayStation 4 do Daymare: 1998 e, agora, pude finalmente colocar minhas mãos no segundo jogo, que na verdade é um prequel.

Era pra ser só mais uma missão

Dalila Reyes é a personagem principal de Daymare: 1994. Diferente de seu antecessor, em Sandcastle não há mais personagens jogáveis, o que não é um problema, já que Reyes é excelente – arrisco a dizer que até mesmo mais carismática que os três juntos do primeiro jogo.

Ela parte com mais 2 companheiros, Radek e o comandante Foster, para se infiltrar na Área 51, encontrar seu contato na base e recuperar uma maleta que guarda algo sigiloso. Infelizmente, ao chegarem ao local, as coisas vão de mal a pior, e o que era pra ser mais uma missão se torna um terrível pesadelo. Envolta em atividades estranhas e com terríveis criaturas derivadas de energia eletromagnética, a base se torna um verdadeiro inferno.

Reyes tem de sobreviver aos piores monstros que já viu enquanto faz de tudo para cumprir sua missão. Ela descobre aos poucos que a Área 51 é muito pior do que imaginava. O lugar não abriga apenas criaturas aterrorizantes, mas também guarda muitos segredos, sejam eles sobre o governo dos Estados Unidos, da própria Hexacore (companhia de biotecnologia do jogo) ou até mesmo de eventos do passado que ela sequer imaginava que poderiam voltar para assombrá-la.

O enredo traz uma trama muito interessante envolvendo a Área 51 e os experimentos que são feitos por lá. Com uma ideia que não envolve exatamente o óbvio – Ets – Daymare: 1994 Sandcastle irá te prender para tentar descobrir o que de fato aconteceu nessa base do governo, passando por suas diversas camadas. Além de possuir alguns ótimos pequenos plot twists durante a trama e um sensacional ao final.

O fato de Reyes ser uma personagem tão carismática também ajuda a conduzir facilmente o jogador pela trama – embora o jogo conte com outros personagens interessantes, nenhum chega perto da protagonista.

Caso tenha jogado Daymare: 1998, será possível ainda pegar diversas referências do caso explorado nele, embora de fato seus eventos só ocorrem 4 anos após o jogo atual (Daymare: 1994). Não só isso, mas o desfecho do jogo tem grande impacto para os eventos de 98.

Por dentro da área 51

Bebendo demais da fonte de suas inspirações, que são jogos, filmes e séries, principalmente dos anos 90 – Resident Evil, mais que incluso nisso – Daymare: 1994 traz uma ambientação sensacional. A Invader Studios consegue mesclar bem o nostálgico ao novo, buscando toda a ambientação dos anos 90, mas sem perder a fluidez moderna.

Considerando o local abordado, a Área 51, se tem margem para muita especulação e ideias para trabalhar, até  porque o local é envolto de mistérios e lendas até hoje. Felizmente, como já citei, eles não usaram nada tão óbvio (ETs), até porque isso não combinaria com a temática do jogo em si. Mas como a Área 51 não guarda só ETs, e suas pesquisas confidenciais vão muito além disso, é possível explorar outros segmentos facilmente.

E nessa parte o jogo acerta bastante, já que o intuito não é caçar aliens e sim anomalias eletromagnéticas que eram estudadas e criadas no local. Ao se fundirem com matéria orgânica, essas anomalias acabam em um estado deformado, lembrando algo como os ETs, mas muito mais aterrorizantes.

As referências são tantas e de diversas formas diferentes que deixam um jogador de olhar atento muito feliz ao encontrá-las. São de filmes a séries, desenhos, jogos, livros e afins. Elas estão espalhadas pelos cenários, em conversas entre os personagens, arquivos e colecionáveis

Para deixar o jogador ainda mais apreensivo ao passar pelos cenários desolados por morte e violência, uma trilha sonora eleva a experiência a outro nível.

Daymare: 1998 já contava com uma trilha sonora excelente (ouça via Spofity), e em Sandcastle não desceram o nível. Na maior parte existe quase uma ausência da música, deixando ela bem de fundo, priorizando os sons do ambiente, para elevar a tensão.

Quando a música vem, pode ter certeza que está em apuros, já que ela se intensifica nos combates. Também é parte importante durante as cutscenes do jogo, que agora estão mais longas que antes.

Tal como antes, não existe uma variedade muito grande de inimigos, ou mesmo sequer lutas com chefes que não sejam o confronto final. As armas e ferramentas também não sofrem alterações, sendo as mesmas do início ao fim de Daymare: 1994 – não que isso incomode ou tire a graça do jogo. Você não precisa de um super arsenal, desde que as armas que possui funcionem bem.

Como novidade, a agente Reyes usa uma arma chamada Frost Grip, um equipamento que consegue congelar basicamente qualquer coisa e é o único ponto fraco para as anomalias eletromagnéticas. É uma das melhores ideias de Sandcastle, já que ela tem múltiplas funções, pode ser usada como arma para congelar os inimigos, serve para liberar caminho por parte dos cenários resfriando algumas áreas em chamas, por exemplo, e ainda é essencial na resolução de alguns puzzles.

A lanterna manual também está de volta. Como o jogo conta com diversos cenários bem escuros, o uso dela é mais que necessário para se guiar pelo caminho e encontrar itens, principalmente os colecionáveis.

Outro equipamento indispensável de Reyes é o cabo de hackeamento, um item que antes era consumível. Em Daymare: 1994 Sandcastle passou a ser um item chave em seu inventário. Locais hackeaveis são uma característica forte em Daymare e, felizmente, isso se mantém bem presente e de modo muito bem aplicado.

Um dos pontos mais altos de Daymare: 1998 eram seus puzzles, um show a parte! Felizmente a prequel conta com ótimos quebra-cabeças também. Embora mais fáceis se comparados ao seu jogo antecessor, ainda assim, são muito interessantes e divertidos de serem feitos, não jogando a solução de mão beijada ao jogador, mas também não deixando-o completamente no escuro.

Para o PlayStation 5 (PS5) os loadings quase não existem. Quando aparece uma tela de carregamento, se ela dura 5 segundos é muito. É piscar e o carregamento já acabou. Agora, sobre bugs, experimentei alguns durante meu jogo. O primeiro deles foi na iluminação em algumas cutscenes do início, mas que depois normalizaram. Outro foi ao interagir com um ponto de interesse no cenário e o jogo travar, sem retornar mais ao controle do personagem, sendo necessário fechar e abrir novamente. E o último deles foi quanto às legendas, pois elas falham em alguns momentos durante os diálogos – não nas cenas, mas sim in game, quando um personagem conversa com outro.

Evolução, mas nem tanto

Daymare: 1994 evoluiu em muitos aspectos – infelizmente não todos – se comparado a seu antecessor. A evolução gráfica é a mais nítida. Para um jogo indie os gráficos oferecidos são belíssimos! Os personagens já não parecem mais bonecos de cera, tem mais naturalidade, são mais suaves e fluidos que no primeiro título.

Houve toda uma melhora na parte de iluminação, texturas e detalhes envolvendo os cenários também. A movimentação do personagem está mais natural, além de corrigirem o maior erro de Daymare: 1998, o carregamento das armas – agora este aspecto funciona como em qualquer jogo, sem complicações, apenas com o apertar do botão respectivo e pronto, arma carregada!

Infelizmente as melhorias param por aí. Alguns erros menores, por piores que sejam, ainda podem passar batidos, mas um erro grave consegue estragar toda a experiência do jogador. No decorrer do jogo, tirando o enredo e a movimentação do personagem, tive uma sucessão de desgostos.

Daymare: 1994 Sandcastle é um jogo bem linear e conta com pouquíssimo backtracking. Um dos principais problemas também está na ausência de um mapa.

Por maior que seja a linearidade, a falta de um mapa é uma falha grotesca. Em diversas partes é totalmente possível se perder nos cenários, e mesmo com as poucas idas e vindas, um mapa seria crucial para saber a localização de portas trancadas que são opcionais, contendo algum item ou colecionável.

Outro erro foi terem retirado o golpe físico que existe em Daymare: 1998, um recurso essencial para a sobrevivência contra os inimigos, pois servia para afastar os inimigos e ganhar algum fôlego ao enfrentá-los. Em Daymare: 1994 Sandcastle isso é muito mais necessário do que no primeiro.

Dito isso, vou falar do erro mais grave de todos: os inimigos! Um pouco de dificuldade seria plausível e é algo que se espera em um survival horror coerente, com ameaças e claro alguns desafios a mais com sub chefes. Só que os inimigos em Daymare: 1994 são tão desbalanceados e quebrados que cada confronto é vencido literalmente na força do ódio. Esse desequilíbrio entre os inimigos e o personagem não torna o jogo punitivo, mas sim totalmente INJUSTO!

Os inimigos são extremamente ágeis e é impossível correr deles. Não há uma parte sequer que seja possível evitar o combate, e isso se faz mais que necessário em jogos do gênero survival horror.

E acredite em mim, em 90% dos confrontos você irá morrer! O jogo foi feito pra ser assim, totalmente injusto com o jogador. São hordas de inimigos vindo pra cima sem lhe dar tempo de trocar de arma, atirar, congelar ou reagir de qualquer maneira na maioria das vezes.

Isso sem contar os momentos em que os inimigos nascem propositalmente na frente e atrás do jogador, tornando impossível sequer correr para tentar bolar uma estratégia de contra-ataque.

Mesmo com as melhorias que são possíveis adquirir com a Frost Grip, Reyes não é rápida o suficiente para dar conta de um inimigo que se lança em sua direção, seja para mirar e atirar com a arma de gelo, ou de repente trocar de arma quando acabar a munição. Justamente por esses fatores é que o jogo te obriga a morrer várias e várias vezes. Cada combate é absolutamente frustrante e desmotivacional.

Fique longe da área 51

Infelizmente não há enredo e personagens que carreguem um jogo com uma gameplay totalmente desagradável, e tudo se dá ao fato dos inimigos serem totalmente quebrados. Eu esperava um survival horror e ganhei praticamente um Souls Like mascarado de survival horror. Tenho certeza que ⅓ do tempo que passei jogando foram gastos em mortes.

Daymare: 1994 Sandcastle foi uma experiência muito decepcionante, principalmente pelo fato de Daymare: 1998, que anos atrás me proporcionou uma experiência completamente oposta.

É uma pena que tenham errado a mão quanto aos inimigos, pois sem um equilíbrio nos confrontos, o jogo mais te afasta dele do que que te cativa a continuar jogando.

O jogo foi analisado no PlayStation 5 em cópia digital cedida pela Leonardo Interactive e Invader Studios. O texto não representa a opinião do REVIL como um todo, e sim da autora da análise.

Colaborou com a revisão deste conteúdo: Ricardo Andretto

Pontos positivos:
Trilha Sonora;
Bons Gráficos;
História interessante e protagonista cativante;
Carregamento das armas melhorado em comparação ao primeiro jogo.
Pontos negativos:
Não possui mapa;
Inimigos desbalanceadas em comparação ao personagem jogável;
Combates frustrantes e injustos que obrigam o jogador a levar dano e morrer a todo momento;
Não tem o soquinho característico do primeiro jogo para afastar os inimigos.
6.5