Análise – Echoes of the Living – Steam (acesso antecipado)

A não ser que você esteja vivendo dentro de uma caverna nos últimos 10 anos, com certeza já ouviu a expressão “souls-like” para descrever jogos de RPG com níveis de dificuldade covardes. Nesses termos, podemos alcunhar o estilo de jogo de Echoes of the Living como Resident Evil-like, se juntando a títulos como Tormented Souls e Fobia, jogos estes inspirados na trilogia original de Resident Evil.

Desenvolvido e publicado pela MoonGlint, um estúdio indie espanhol composto por dois desenvolvedores, Alvaro e Laura, Echoes of the Living é um jogo que pode ser definido como uma carta de amor aos survival horrors da década de 90. O jogo te coloca na pele de dois protagonistas que devem sobreviver à cidade dominada pelos mortos enquanto desvendam mistérios sobre suas vidas. Mesmo em acesso antecipado, já entrega uma experiência nostálgica e envolvente, ainda que possua seus defeitos.



O jogo, quando finalizado, oferecerá a opção de duas campanhas: Liam Oakwood, ex-veterano de guerra à procura de sua esposa, e Laurel Reaves, uma policial em busca de seu pai. Como o jogo no estado que se encontra apenas disponibiliza a campanha de Liam Oakwood, o foco na sinopse será do ponto de vista dele.

O jogador assume o controle de Liam Oakwood, um marido à procura de sua esposa (tal qual outros grandes personagens como Ethan Winters, Sebastian Castellanos, James Sunderland e Alan Wake) que deve navegar pelo sombrio e violento cenário urbano para progredir na sua odisseia de resgate. O jogador deverá vencer inimigos, resolver puzzles, sofrer para achar chaves e analisar documentos para descobrir a verdade por trás dessa tragédia.

O jogo se passa em Alba City, uma cidade europeia que foi atingida por uma névoa misteriosa que transforma aqueles desafortunados o suficiente para respirá-la em monstros. Ela em si é dominada há séculos por uma família corrupta que luta pelo controle da cidade. De motel ao hospital, bar à mansão, vielas da cidade ao subterrâneo, Echoes of the Living apresenta uma enorme variedade de cenários em um mapa consideravelmente grande, possibilitando ao jogador explorar o quanto quiser a desolada cidade.

Gameplay

O jogo proporciona uma experiência muito similar à trilogia supramencionada: exploração independente, com um mínimo de dicas disponíveis, inventário limitado, item boxes, backtracking, itens de cura herbais, pontos fixos para salvar o progresso, roupas extras, múltiplos finais e, possivelmente a característica mais marcante, câmera fixa.

Assim como Resident Evil 5, Echoes of the Living também proporciona uma excelente variedade de armamento, desde armas brancas e crossbows até fuzis de assalto e granadas especiais. Além disso, alguns tipos de armas possuem variações, como escopetas e submetralhadoras, cada uma com sua característica positiva e negativa (como número de balas versus dano causado), sendo o jogador o responsável por pesar os prós e contras para determinar o que irá ajudá-lo ao longo da jornada.

Os inimigos também têm uma excelente diversidade: nosso antigo conhecido, o zumbi padrão, lento, podre, que apresenta riscos apenas quando em grupos; insetos rastejantes e voadores, fáceis de driblar, mas que conseguem te incomodar a ponto de ser mais conveniente matá-los de uma vez; aranhas capazes de te envenenar e te mandar correr pelo mapa atrás de uma erva azul; inimigos humanóides que são extremamente ágeis e causam danos severos; entre outros.

Inclusive, existe um stalker enemy que, muito como no Resident Evil 3, oferece confrontos opcionais e obrigatórios. Se optar por enfrentá-lo, ele dropará peças para personalizar seu arsenal ou até mesmo armas inéditas. Quanto ao stalker em si, ele não é um adversário implacável, que se torna um verdadeiro nemesis a ponto de você se apegar a ele. MAS, ele te incomoda o suficiente para te deixar com um sentimento de “esse cara de novo não, pelo amor de Deus”. Longe de fazê-lo sentir que está sendo perseguido pelo Nemesis, mais próximo de encontrar alguém do seu Ensino Médio que você tem 0 vontade de conversar, mas que insiste em falar com você. Talvez compense mais pular o encontro e fugir para um safe room.

Acesso antecipado

O jogo está em early access, com duas campanhas previstas para serem lançadas, mas apenas uma delas está atualmente disponível. Conforme a página do Steam dos desenvolvedores, o objetivo do acesso antecipado é obter feedback dos jogadores para polirem o jogo até a data de lançamento completo.

Mas, a pergunta que importa é: o jogo está jogável? A resposta curta é sim. A resposta completa necessita de uma elaboração com base na experiência que o jogo ofereceu.

Os desenvolvedores estão a todo momento atualizando o jogo conforme os relatos dos jogadores. Um excelente exemplo é o tipo de controle que o jogador pode escolher: o “tank” clássico ou o controle mais moderno, ainda em fase de teste, das versões HD do remake de Resident Evil e Resident Evil 0. Como o resenhista é um jogador que vem da geração de fãs de Resident Evil que começaram após a trilogia clássica, foi escolhido o controle mais moderno. Quando jogado três dias após o lançamento, o controle moderno apresentava certas inconsistências, mas, após uma atualização, já é possível jogar com mínimos problemas.

Outro problema recorrente encontrado foi a instabilidade no sistema de save game. Para lidar com isso, os desenvolvedores instituíram uma forma de checkpoint a cada área nova que o jogador entra. Ainda, o mapa da cidade não estava disponível quando lançado o jogo, mas, gradualmente, foi incluído o mapa para certas áreas. Por fim, cumpre dizer que em 21.9 horas de gameplay, apenas ocorreu um crash.

Dessa forma, há de se concluir que o jogo está em um estado muito além de “jogável”, mas, sim, quase perfeito, muito próximo do que se espera de um produto final.

Positivos e negativos

Echoes of the Living brilha na sua gameplay, que se sustenta por meio de um sistema de jogo clássico que nos traz nostalgia, mas com uma pegada mais moderna, com menos telas de carregamento e gráficos superiores. Além disso, a trilha sonora, em especial a do menu, é sensacional. Completamente compatível com o tema sombrio do jogo, é algo que o jogador deveria parar para apreciar durante sua jogatina, de preferência de fone de ouvido.

Como mencionado anteriormente, a variedade de armamento e de inimigos concede ampla liberdade para abordar cada cenário, seja fugindo ou lutando, caberá a VOCÊ decidir como quer sobreviver.

O mapa é massivo, mas não é maçante. O backtracking, mesmo sem o mapa disponível pela maior parte do jogo, é recompensador: é possível retornar a partes da cidade às quais o jogador anteriormente não tinha acesso, mas que não são necessárias para a progressão do jogo. Dessa forma, o jogador pode ir além do essencial para expandir seu arsenal e obter novos recursos.

Porém, existem ressalvas a serem feitas. A história deixa a desejar. Ela é interessante o suficiente para te manter engajado e motivado para completar o jogo, mas com certeza você vai esquecer a trama em uma semana.

O sistema de inventário, até o momento, tem seus defeitos: não é possível descartar itens não essenciais, como munição, ervas ou partes de fabricação, o que força o jogador a dar a volta pelo mapa para achar um item box, o que causa uma enorme perda de tempo. Ainda no sistema de inventário, para selecionar a arma que o jogador vai usar, em vez de você selecionar com um botão o que você quer, basta passar o analógico ou o mouse por cima do item. Isso causa enorme confusão na hora de entrar e sair do inventário, deixando o jogador, por vezes, com a arma errada equipada.

O posicionamento de alguns inimigos precisa de ajustes. Por muitas vezes, há inimigos bem à da frente da porta pela qual você está atravessando, tão perto que não há como se defender a tempo. Na página de discussão do Steam, é possível ver que esta é uma reclamação recorrente, o que causa certo conforto, pois os desenvolvedores, que são muito ativos, seguramente irão resolver esse problema.

Finalmente, alguns dos puzzles são deficientes. Em especial, o do tablete de pedra da Coruja, que consiste em encaixar uma peça na outra, analisando as fendas e saliências da parte a ser sobreposta. Como é possível ver na imagem abaixo, o puzzle ficou extremamente confuso.

Conclusão

Echoes of the Living entrega o que propõe: uma experiência nostálgica nos moldes de suas inspirações que garante que o fã de Resident Evil se sentirá em casa. A gameplay clássica está em sintonia com o grande cenário de uma cidade desolada, o que oferece ao jogador liberdade para explorar a cidade ao seu tempo. Apesar de sua história deixar a desejar e mesmo ainda estando em acesso antecipado, faz mais do que o suficiente para matar a sede daqueles que amam o estilo de Survival Horror dos anos 90 e faz valer seu tempo.

Echoes of the Living foi adquirido diretamente no Steam pelo autor da análise.

Pontos positivos:
Atmosfera envolvente;
Backtracking gratificante;
Variedade de inimigos e armamento.
Pontos negativos:
História esquecível;
Sistema de inventário não-intuitivo;
Certos puzzles são deficientes.
8.5