Análise – Kunitsu-Gami: Path of the Goddess – PlayStation 5

Depois de algum tempo investindo forças em suas principais franquias, a Capcom resolveu criar uma nova IP – todos concordamos que Exoprimal não conta, né?!. Kunitsu-Gami: Path of the Goddess chega de mansinho, sem muito alarde, mas marcando presença.

Com uma proposta um pouco diferente que mistura Tower Defense, Construção de base e Ação, é algo que funciona bem, sem ser complexo demais, apresentando de forma boa as mecânicas ao jogador.

O dever da Donzela e seu Guardião

A história gira em torno de Yoshiro, uma Miko (Sacerdotisa), ou Donzela, como chamam no jogo, e seu guardião, Soh. O elemento central é a Montanha Kafuku, onde estavam as 12 máscaras que continham o poder da Deusa, mas que acabam sendo roubadas pelos Seethe (Coléricos), que corrompem e contaminam a montanha, assim como tudo e todos nela.

Com as máscaras perdidas, Yoshiro e Soh precisam recuperá-las e, neste processo, purificar a montanha, suas vilas e aldeões. Soh tem a tarefa de guiar e proteger Yoshiro e ela, como uma Miko, expurgar todo o mal da contaminação dos Seethe.

Cultura e Tradição

Portão em Kunitsu-Gami: Path of the Goddess

Com fortes influências e inspirações no Xintoismo, a religião predominante no Japão, Kunitsu-Gami: Path of the Goddess é totalmente focado na cultura japonesa, apresentando com beleza e elegância tradições nipônicas.

Como foco principal está a Dança Kagura, usada por Yoshiro para realizar um ritual de purificação nos Portões Torii e expurgar todo o mal ali contido.

A Dança Kagura também está relacionada com práticas xintoístas, pois é uma dança feita para agradecer os Deuses, entre outras coisas. Parte de suas características são os dançarinos usarem roupas tradicionais e máscaras, assim como ter um Miko, pois é ela quem consegue se comunicar com os Deuses.

Os portões Torii ficam geralmente nas entradas dos santuários e marcam a transição do mundo mortal para o espiritual. Em Kunitsu-Gami é justamente o que permite que os Seethe passem para a terra mundana e causem o caos. Com sua purificação, eles não são mais capazes de cruzar essa linha.

Ainda é possível encontrar Placas Ema, que são características dos templos xinto, e são usadas para fazer um pedido aos Deuses. No caso do jogo, servem com um glossário de inimigos e aliados.

Doces tradicionais também estão presentes e com descrições muito interessantes que contam um pouco mais da história do Japão no processo de conhecer suas iguarias.

Como forma de galeria, há pinturas em em rolos Emaki, um tipo de pintura bem tradicional no Japão. Servem para contar um pouco mais sobre o mundo de Kunitsu-Gami e apresentar a arte japonesa aos jogadores.

O jogo traz uma paleta de cores bem característica também das pinturas japonesas, com cores acentuadas e vibrantes, além dos traços e designs puxandos para o tradicional nipônico.

Expurgando o mal da Terra do Sol Nascente

Livrar a terra das ameaças em Kunitsu-Gami: Path of the Goddess

Vamos ao que interessa, a mistura única e interessante que Kunitsu-Gami propõe. Situadas na montanha Kafuku, cada fase representa um vilarejo e local da montanha que deve ser purificado para devolver a paz às pessoas e restaurar a natureza, uma vez que não só os humanos são afetados pela maculação dos Seethe.

As fases funcionam em um sistema de dia e noite, em que durante o dia exploramos o local para libertar os aldeões, coletar cristais (moeda de troca para atribuir funções aos aldeões), tesouros, provisões (itens de cura) e traçar o caminho para Yoshiro chegar até o portão Torii e purificá-lo.

Durante a noite é quando os Seethe atacam e a batalha tem início. Neste ciclo é possível posicionar e comandar os aldeões que possuem funções para lutarem. Cada função tem sua própria característica e cabe ao jogador testar o que mais se adapta à sua estratégia.

Como as funções dos aldeões não são fixas e podem ser alteradas a qualquer momento, isso dá total liberdade ao jogador de mudar suas estratégias e tentar algo diferente a qualquer momento. Ainda que cada função tenha um custo diferente, com a administração dos cristais como uma das principais tarefas, o jogo não te impede de tentar a qualquer momento coisas novas.

Engenhocas podem ser encontradas nas fases para auxiliar o jogador na batalha ao cair da noite. Barreiras, canhões, armadilhas e outros elementos tornam o ambiente muito melhor, além de complementar e enriquecer a estratégia.

Durante a batalha também é possível controlar Soh. Enquanto os aldeões trabalham em um esquema de Tower Defense, o jogador é livre para comandar o guardião para lutar, com combos e golpes especiais, que embora simplificados, trazem a mistura de mais um gênero ao jogo, o Hack’n Slash. Os ciclos de dia e noite se repetem até que a fase termine e o local todo seja purificado.

Além disso, ainda lidamos com uma mecânica de Construção de Bases que é feita fora das fases. Com o vilarejo livre da podridão dos Seethe é preciso reconstruir e viver. Com isso, cada novo vilarejo se transforma em uma base e nela é possível usar os aldeões para reconstruir. As construções rendem itens e também pontos que são usados para fazer melhorias, tanto nas funções dos aldeões, quanto em Soh.

Devo confessar que apesar de ter combinado com o jogo, a construção de bases é a parte mais fraca dele, sendo bem repetitva e pouco atraente.

Diferente da maioria dos jogos em que os pontos são gastos permanentemente, em Kunitsu-Gami os pontos podem ser revertidos e experimentados em outras opções de melhorias a qualquer momento, sendo totalmente flexível às vontades e estratégias do jogador. Com certeza é uma das melhores mecânicas.

Um dos chefes gigantes de Kunitsu-Gami: Path of the Goddess

O jogo ainda apresenta fases com encontros únicos com chefes gigantes e poderosos. Diferente das fases comuns, as lutas contra chefes não apresentam ciclos de dia e noite. É uma batalha direta, mas com os recursos que estão disponíveis nas demais fases, como as engenhocas e aldeões. Ainda é preciso proteger Yoshiro, mas desta vez em uma arena fechada.

As batalhas contra os chefes rendem as máscaras roubadas, sempre adicionando alguma nova função aos aldeões ou a Soh.

Um dos pontos mais altos são essas batalhas. Cada chefe é único e demanda uma estratégia diferente para ser derrotado, desafiando o jogador a cada novo encontro.

A dificuldade progressiva do jogo também funciona muito bem, apresentando aos poucos ao jogador novas mecânicas – com o aumento delas, sobe também a dificuldade.

Á Noite Escura

Com uma temática linda e jogabilidade interessante, Kunitsu-Gami: Path of the Goddess não está livre de alguns “defeitos”.

Algumas funções não são focadas para a batalha e desempenham outros papeis. É o caso do Ladrão, que tem como objetivo saquear tesouros. O problema é que ele não consegue fazer isso sozinho, é preciso literalmente colocá-lo em cima do baú para desenterrá-lo e, mesmo assim, ainda é o jogador, como Soh, que precisa abri-lo e coletar o tesouro, fazendo com que percamos parte de um tempo precioso com isso.

Ao atribuir as funções aos aldeões, no menu de seleção delas, não é possível alterá-los para atrelar aos outros suas devidas tarefas. É preciso ir de um em um para realizar as atribuições, o que não é nada prático.

Outra coisa nada prática é o mapa. Ele ainda é útil? Bem, sim…mas poderia ser mais. Os ícones são pequenos e muitos deles parecidos, o que os torna confusos na maioria das vezes. Uma rápida olhada no mapa se torna mais confusa e demorada do que deveria. Além disso, falta poder fazer marcações nele, algo que poderia ajudar como guia nas fases.

No início pode não parecer, mas as fases aumentam bastante no decorrer do jogo, e poder marcar determinados lugares e seguir até eles fora do mapa ajudaria bastante, principalmente a gerenciar melhor o tempo durante o dia e nas bases para chegar até as construções.

Esses problemas não chegam a estragar o jogo, mas causam um certo desconforto, em especial por notar que poderiam ter sido mais bem trabalhados.

Viva os Deuses

Kunitsu-Gami: Path of the Goddess tem seus pontos fortes e fracos como qualquer obra, mas a Capcom soube fazer bem as partes boas, sobressaindo aos seus pequenos defeitos. Trouxe a cultura do Japão de uma forma muito bonita em seus gráficos, combinando com a jogabilidade.

Apesar de não muito longo, o título tem um alto fator replay e um New Game+ que oferece aos jogadores passar mais tempo se aventurando e se desafiando na montanha Kafuku.

E se você é um fã saudosista da Capcom e lembrou de um outro jogo que também remonta a idade feudal nipônica, saiba que a Capcom também lembrou dele! Para quem jogou a demo, estava rolando alguns desafios, que se fossem cumpridos pelos jogadores, eles seriam recompensados com itens inspirados em Okami. Afinal, Amaterasu é também uma das Deusas dos Xintoístas e como tal, a homenagem foi mais que bem vinda!

Kunitsu-Gami: Path of the Goddess está disponível para Xbox Series X|S, Xbox One, Windows, PlayStation 5, PlayStation 4 e Steam (PC). Assinantes do Xbox Game Pass tem o jogo acessível desde o lançamento, em 19 de julho.

O REVIL solicitou e recebeu uma chave para análise da Capcom Brasil.

Pontos positivos:
Excelente mistura de gêneros;
Pontos de melhorias não são fixos;
Excelente temática;
Bom fator replay.
Pontos negativos:
Não é possível alternar entre os aldeões no menu de seleção de funções;
Mapa com ícones muito parecidos e sem possibilidade de marcação de locais;
A função do Ladrão não é independente.
9