Análise – Marvel vs. Capcom Fighting Collection: Arcade Classics – Nintendo Switch

Fazem alguns anos em que não faço análises. Parei por conta de outras obrigações da vida, em especial com a família e trabalho. Também faziam alguns anos em que não me propunha a mergulhar firme em um jogo, despretensiosamente ou não. Mudou quando vi o anúncio de Marvel vs. Capcom Fighting Collection: Arcade Classics. Um friozinho gostoso na espinha tomou conta. Lembrei imediatamente das fichas de bar, dos pedidos por trocados para jogar no arcade e, ainda, da sorte em encontrar qualquer máquina com algum crédito ativo – ficava de bituca.

Quando surgiu a oportunidade, me prontifiquei logo a analisar o jogo. Como os tempos são outros, escolhi a maneira mais flexível de jogar, com a versão de Nintendo Switch. A partir daqui, relato o que eu achei da coleção que reúne SETE títulos clássicos do mundo dos arcades. Tenho os meus preferidos, ou até mesmo aqueles que eu não gostei muito, e um que não vi sentido em estar presente (mas tudo bem estar). Falo de cada um deles na medida do possível, mas é uma experiência individual. O que vale mesmo é efetivamente jogar por si só.

 

Jogando sem fichas

É uma experiência deveras diferente. Logo no começo, há o aviso de que os jogos da coleção tiveram “mudanças mínimas a fim de preservar a experiência autêntica dos lançamentos originais”. Posso dizer que isso, de fato, é uma realidade. Marvel vs. Capcom Fighting Collection: Arcade Classics possui modos de jogo offline e online (a exceção é The Punisher). Há um Museu com a história dos clássicos que contém uma Galeria e artes originais, além de Músicas. No Switch, os Prêmios do Lutador assumem o papel de conquistas de outras plataformas (PlayStation 4 e Steam).

Ao jogo offline, cada título da coleção permite duas escolhas iniciais, na versão do jogo (inglês ou japonês), assim como o lado do jogador (player 1 ou player 2 – para quem se recorda dos arcades). É possível, ainda, fazer algumas “trapaças” nas Configurações de jogo. Em The Punisher, por exemplo, é escolher a dificuldade, vidas e pontos. Já em Marvel vs. Capcom 2: New Age of Heroes é possível mexer na dificuldade, força do ataque, velocidade de cronômetro e da seleção. Todas são mudanças que não são mínimas, mas que podem ajudar a novatos que acabam em muitas repetições de partidas.

Particularmente, e para analisar o que também pode ser chamado de coletânea, preferi não mexer essencialmente em nenhuma das configurações – com exceção de um teste na tela de MvC2. Joguei cada um dos setes títulos como eles foram entregues pela Capcom. Acabei usando diversas “fichas” para conseguir chegar ao menos uma vez até o final de cada um deles. Afinal, se não é assim, na raça, não fica tão autêntico quanto os arcades.

Gastando fichas

O jogo que eu mais ansiava entre todos era Marvel vs. Capcom 2: New Age of Heroes. Não pela presença de Jill Valentine (mas que bom que ela está lá), mas pela nostalgia dos arcades. Esta máquina é a que mais se fez ou está presente no Brasil. Ao menos na minha região (Paraná) – desde locais com máquinas de fliperama a barbearias e festas infantis.

Aqui, os movimentos de vários personagens da Marvel foram “herdados” de versões anteriores de outros jogos da Capcom nos arcades. É algo familiar entre os diversos títulos da própria coletânea – modos de se comportar, sucos, chutes e até mesmo os especiais. O diferencial de MvC2 está na quantidade de personagens e a escolha de três em um mesmo time. Além disso, é preciso selecionar logo de início o modo de assistência. Jill tem um de “cura” com a sua erva verde. Ainda sobre personagens, há assistências que fazem parte da vida deles em determinada série/franquia e que ajudam a atrapalhar o adversário, como corvos e zumbis de Resident Evil.

Não encontrei problemas de modo geral em Marvel vs. Capcom 2: New Age of Heroes e tive que gastar 13 fichas, daqueles “continue”, para chegar ao final. Muitas delas, foram antes de finalizar, em especial com aquele risadinha dos infernos. Meu time contou com Jill, Spider-Man e Akuma (ou Ryu, ou Ken).

Tela de seleção de Marvel vs. Capcom 2: New Age of Heroes

A minha segunda jogada foi em Marvel vs. Capcom Clash of Super Heroes. A lista de movimentos/especiais, como já falei, é meio que a mesma do outro jogo e entre todas da coletânea pela história dos arcades. Tive que gastar 7 fichas para chegar ao final, que tal como MvC2 tem um chefe que tem suas várias facetas. Só que antes de finalizar, tive a primeira decepção. Algumas lutas apresentavam alguns “engasgos”, com os lutadores/cenário travando. A sensação é que isso acontecia mais com personagens que tinham golpes mais elaborados. Em uma dessas oportunidades, rolou com Morigan e Spider-Man.

Também, aqui, tive outra decepção. Entre as opções de Marvel vs. Capcom Fighting Collection: Arcade Classics, há a possibilidade de fazer um “salvamento rápido”, que é gravar o estado atual do jogo/posição da luta e voltar de onde parou. Precisei fazer isso com Marvel vs. Capcom 2: New Age of Heroes, pois fiquei irritado com o chefe final. Como o chefe de Marvel vs. Capcom Clash of Super Heroes já tinha me exigido ao menos 1 ficha e eu estava sem paciência ao momento, tentei fazer um novo salvamento para este outro jogo, mas me frustrei pois só dá para deixar um jogo estacionado assim.

Acho essa uma falha na coletânea. Até os jogos emulados do Nintendo Switch Online (NES, Super NES, Game Boy e Nintendo 64) possuem várias opções para salvar. Quando acionado um recurso de salvamento parecido no Switch, é possível ter acesso a 4 espaços – e não um só.

Segui, então, para Marvel Super Heroes vs. Street Fighter. De novo, os golpes e habilidades especiais são praticamente os mesmos. Este é um jogo que muitos já tiveram a oportunidade de jogar no arcade. Antes de gravar tanto Marvel vs. Capcom 2 na memória, e ao ouvir a introdução “Are you ready” e “Capcom and Marvel has joining forces once again“, identifiquei que este era outro que tinha jogado bastante nos fliperamas da vida.

Valeu a pena lembrar, mas infelizmente foi outro jogo em que alguns travamentos aconteceram. Desta vez, com Wolverine. Foi algo momentâneo e que não causou muito incômodo, no entanto. Só aconteceu. Gastei 5 fichas neste.

A minha jornada na coleção seguiu para X-men vs Street Fighter. Aos jogadores menos familiarizados com avanços em jogos de luta, este é o mais parecido com Street Fighter II. Golpes são mais tranquilos de fazer, ou até acionar algum Marvelous. Recomendo, inclusive, que qualquer jogador inicie por este jogo. Não experimentei nenhum travamento aqui e gastei 4 fichas. A recomendação que deixo é: personagens mais gigantes precisam de alguém com a altura adequada para serem derrotados – aprendi com pelo menos três fichas.

Ken em X-men vs Street Fighter

Ao Marvel Super Heroes, o diferencial aqui são as Jóias (Gem) que trazem algumas vantagens, como recuperação de vida e velocidade. As lutas podem ter até três rounds, a depender se o jogador ganha dois confrontos seguidos ou não. Notei que o sistema do jogo percebe, já no segundo round, quem está em vantagem e faz um equilíbrio. Por exemplo, se você ganhou o primeiro, logo no segundo o adversário estará mais forte e habilidoso em ataques, e o contrário também acontece caso o jogador perca o primeiro, neste caso no segundo o adversário estará mais moderado.

O problema de Marvel Super Heroes é, tal como outros, alguns travamentos em lutas. Não acontecem com tanta frequência, o que poderia atrapalhar o jogo, mas incomodam. Não rolou, por exemplo, enquanto eu jogava com Spider-Man e fiz alguns Maximum Spider, mas com outros dois personagens sim. Neste precisei de 11 fichas.

Wolverine em Marvel Super Heroes
Com alguns engasgos, consegui derrotar o bicho!

Por fim, até joguei X-men Children of the Atom e The Punisher, só que os dois não despertaram tanto o meu interesse. Tenho que ser sincero e dizer que são títulos que eu nunca tinha jogado, mas fui lá e gastei 1 ficha com o X-men (que tem até Akuma, e pode até ter três rounds) e 5 fichas com O Justiceiro. O The Punisher tem uma trapaça que pode ser definida, que é a escolha da Fase Inicial no Menu de Pausa (após abrir o jogo e antes de começar). Nesses dois não enfrentei travamentos. Achei que O Justiceiro é o “estranho no ninho” desta coletânea.

Online e falhas pontuais

Infelizmente não recomendo o modo online. Encontrar algum adversário foi terrível. Tudo bem antes do lançamento, mas após também foi algo complicado. Quando encontrei, as partidas que tive foram recheadas de travamentos. É compreensível que depende de uma ponta a outra, de uma conexão a outra, mas poderia ter alguma solução tecnológica envolvida para tentar suavizar o problema. Todos os jogos de Marvel vs. Capcom Fighting Collection: Arcade Classics são emulados para rodarem no Nintendo Switch (ou no PlayStation e Steam). Eu realmente não entendo como a Capcom, do tamanho que é como uma companhia, não cuida melhor deste aspecto.

Marvel vs. Capcom

Todos os jogos de luta desta coleção estão acessíveis online, com exceção de The Punisher. Quanto à emuladores, há entre a comunidade soluções de fãs que trazem melhores respostas do que o online complicado que vi entregue pela Capcom. Outro aspecto do online que eu não curti é: se é perguntado se quer esperar algum adversário de modo “padrão”, na tela, no “jogo” ou no “museu”. Eu defini que queria no “jogo”, pois nada melhor do que seguir jogando enquanto ninguém aparece. Acontece que, em um desses momentos, ninguém apareceu, e o que aconteceu? Depois de um tempo pulou uma mensagem de que ninguém tinha sido encontrado, só que também não consegui seguir jogando normalmente (de onde eu estava) – perdi o progresso pela mensagem.

Há uma outra coisa que me incomodou. A coletânea em si está quase completa em português do Brasil. Os jogos em si estão em sua versão original, portanto, somente em inglês ou japonês, mas a interface está em português. É um ponto positivo, porém nem tanto quando se pausa algum jogo. Quando acionado o Menu de Pausa, há um Cartão de Instruções que é basicamente o que encontrávamos nos Arcades para nos orientar dos golpes dos personagens, com uma arte bonitinha, mas que está totalmente em inglês. A sorte é que, ainda no Menu de Pausa, logo abaixo, há a um orientativo com uma Lista de Golpes – e, ali sim, com instruções em português.

Dito isso, o Cartão de Instruções não faz sentido onde está posicionado. É algo que poderia estar só no Museu. Entendo, no entanto, a ideia da inserção no Menu de Pausa com o “ei, olha só, se você estivesse no Arcade, poderia ver isso aqui”, só que talvez quase ninguém dê esta importância, não se o conteúdo não foi localizado.

Here Comes a New Challenger

Depois de 46 fichas, tenho que dizer que gostei de poder chegar a Marvel vs. Capcom Fighting Collection: Arcade Classics. São vários mundos com legados bem definidos na memória dos jogadores. Se você procura por algo casual, lembrando que arcades também eram casualmente acessados, esta coletânea é para você. Há vantagem na versão do Nintendo Switch por conta da mobilidade. Com três filhos em casa e uma TV ocupada, coube a mim entrar nos jogos de luta mais da forma portátil. Também joguei, claro, na tela maior, mas em menor quantidade.

Imagem de um Nintendo Switch rodando Marvel vs. Capcom Fighting Collection: Arcade Classics
Meus filhos ao fundo ocupando a TV enquanto me distraio no Nintendo Switch – Foto: Ricardo Andretto

Pequenos detalhes fizeram a diferença na minha experiência, como o cuidado em ter uma voz narrando cada título selecionado, tal como o próprio nome da coleção inicialmente (em inglês). Faz parte da experiência de quem passou pelos arcades e era de fato um atrativo para se atentar às máquinas. Além disso, gostei do modo de seleção dos jogos, das opções (incluindo, de modo de tela) e das artes em alta definição.

A Capcom tem tudo para mandar ainda melhor em novas reuniões de jogos, só precisa se atentar em especial ao online. É algo que não faz falta para mim (prefiro o jogo offline), mas que certamente faz a diferença com públicos mais novos. O desafio é se ajustar e não só lançar algo apenas para os nostálgicos.

Marvel vs. Capcom Fighting Collection: Arcade Classics está disponível para Nintendo Switch, PlayStation 4 e PC via Steam. Uma versão para Xbox One está prevista para 2025.

A coletânea foi analisada com uma chave cedida pela Capcom Brasil.

Pontos positivos:
Quantidade de jogos;
Vários tipos de configurações;
Qualidade dos menus e Museu.
Pontos negativos:
Travamentos em alguns jogos;
Online que não funciona adequadamente.
8