Finalmente depois de mais de 1 ano de espera, chegaram os conteúdos adicionais de Resident Evil Village. Se mostrando receptiva aos fãs, a Capcom ouviu nossos lamentos e finalmente adicionou um modo em terceira pessoa – provando talvez que a abordagem em primeira pessoa foi um erro desde o início -, melhorou o modo Mercenaries (Raid) e ainda adicionou uma nova DLC, focada em Rose, filha do casal Winters. Ainda há mais novidades que essa nova edição/ expansão ganhou, e elas serão abordadas nesta análise. Lembrando que será analisada a expansão e seus conteúdos adicionais, a nota aqui não afeta a review feita em cima do jogo base anteriormente.
A tão aguarda Sombras da Rosa
Rosemary Winters, agora com 16 anos, se sente angustiada com seus poderes. Ela os vê como um grande inconveniente e deseja mais do que tudo se livrar deles. Essa premissa leva Rose a sua jornada em busca de um modo de se desfazer de seus poderes através de uma amostra do Megamiceto, se conectando a ele e suas memórias coletivas enquanto persegue um cristal capaz de absorver suas habilidades indesejadas e torná-la uma pessoa normal.
O enredo é simples e clichê, mas competente ao que se propõe. Ele explica mais sobre como o Megamiceto funciona, de como ele absorve as memórias das pessoas e as retém dentro de si, as interligando.
Velhos conhecidos são mostrados, alguns de forma bem diferente e outros nem tanto. Duque mesmo é uma das figuras que se apresentam a Rose como um vilão, não como um mercador pacífico e prestativo como na campanha de Ethan Winters.
Outros bons e maus elementos ainda se manifestam para Rose, cada qual com sua função diante da campanha da jovem.
Porém, quanto aos poderes de Rose, apesar de abordados, sinto que faltou falar mais deles. Mesmo com os arquivos coletados, não há um aprofundamento sobre eles, mantendo suas informações mais superficiais.
Confesso que iniciei essa DLC torcendo o nariz para Rose. O pouco que ela havia aparecido no final de Village não tinha me cativado. Iniciei então, sua campanha sem grandes expectativas, seja quanto a personagem ou a história que seria contada, mas tive uma surpresa positiva quanto a isso.
Pois, é impossível não mencionar sua personalidade forte e seu carisma, tornando bem difícil não simpatizar com ela.
(Só me pergunto de quem ela poderia ter puxado isso, já que sabemos que não foi de seus pais)
Felizmente a Capcom acertou em dar uma personalidade decente a personagem, isso nos faz comprar sua história e motivação, nos apegando a Rose mesmo com sua campanha curta, com cerca de 3 horas de duração.
Todos os cenários vistos são reaproveitados da campanha principal, mas estão bem diferentes, distorcidos e com uma exploração alternativa a original. Apesar de todo esse reaproveitamento, ficou interessado a nova estética e exploração.
Com toda certeza a DLC traz uma experiência completamente diferente da campanha de Ethan, seu foco passa bem longe de toda a ação experimentada com o pai. Com Rose o Survival Horror e o Stealth comandam seu jogo.
Mesclaram bem os dois elementos, e novamente temos uma parte toda dedicada ao terror, assim como mostrado com Ethan. Essa parte ficou bem mais plausível na jornada de Rose do que antes, e me atrevo a dizer que até mesmo mais assustadora. Felizmente não existem mais jump scares, mas nem por isso a sensação de medo diminui: a tensão e a apreensão são constantes.
Com um ritmo mais lento devido ao estilo abordado, Rose é nitidamente mais devagar em seus movimentos que seu pai. Uma abordagem inteligente, considerando que ela é uma adolescente frágil e confusa, mas que tem um ótimo amadurecimento durante sua busca.
A evolução da personagem é constante: começando com uma Rose bem assustada e indefesa, que vai se aperfeiçoando e se familiarizando com seus poderes e armas. Infelizmente a variação de armas para ela é bem pequena e também não há como fazer melhorias.
Já os poderes de Rose se manifestam em forma de luz. Graças a eles, ela pode paralisar inimigos e usá-los para se defender quando pega. Além de servirem para destruir o mofo que contamina os cenários, impedindo nossa passagem.
Mas o uso de seus poderes é racionado. É preciso usar uma erva branca para recarregá-los. Mesmo com ele esgotado, ainda é possível destruir o mofo, só não há como usá-lo como arma.
Assim como seus poderes, seus recursos são bem escassos. O gerenciamento é de extrema importância, uma vez que os inimigos costumam ser numerosos e as opções para eliminá-los… não. Isso força o jogador a ponderar bem quais inimigos matar e quais dele apenas fugir.
Também não há grande variedade de inimigos, mas eles são bem usados para seu tempo de campanha.
Curiosidade a parte, os inimigos mais comuns lembram múmias, porém com ataques que se assemelham muito ao dos Dementadores em Harry Potter.
Rose conta ainda com a ajuda de um anjo da guarda, como ela mesmo diz. Michael auxilia a jovem em sua jornada ao melhor estilo Thomas Zane, como em Alan Wake. Ele não se manifesta em forma humana, mas sim como uma luz, guiando Rose com palavras escritas nas paredes, lhe fornecendo itens que ele mesmo cria e a ajudando com dicas nas horas mais difíceis.
Pra quem jogou o título da Remedy, é impossível não pensar que isso foi inspirado em como Zane guiava também Wake em sua jornada.
No mais, a jogabilidade está ótima, bem fluida e gostosa, assim como a de Village mesmo. Felizmente a DLC é permanente em terceira pessoa, facilitando bastante a exploração e as fugas contra os inimigos.
Vale ressaltar que a dublagem continua excelente na nova expansão. Não foram usados novos dubladores, até porque não há personagens novos nessa DLC; tudo que Rose vê e sente remete ao que aconteceu em Village, com a reciclagem de cenários, personagens e também o elenco de dubladores.
Como a dublagem do jogo principal já havia ficado ótimo, já era de se esperar que a DLC também seguisse o mesmo padrão. Inclusive, a dublagem de uma das personagens, que aparece na parte de terror da DLC, merece uma atenção especial, ficou excelente! Não direi quem é para não estragar a experiência de ninguém, mas a dubladora já havia feito um bom trabalho na campanha principal, e se sobressaiu na DLC.
Vilarejo em edição de ouro
Com certeza a adição mais aguardada – inclusive por mim – é o modo em terceira pessoa, e devo dizer que foi feito um trabalho competente, mesmo com algumas ressalvas.
O modelo do personagem para a nova visão ficou muito bom, bem perceptível. Quando está cansado ou com pouca vida, Ethan se move lentamente. Também são notáveis os movimentos de corrida, luta, defesa e contra ataque.
Ao passar por vegetações elas se movem, o cabelo balança com o vento, assim como suas roupas. Felizmente houve um bom capricho para o novo modo de visão, e mesclado com o poder da RE Engine foi uma adaptação de sucesso.
Apesar do novo modo em terceira pessoa, praticamente todas as cenas, sejam elas cutscenes ou cenas rápidas in game permanecem as mesmas, ou seja, cenas em primeira pessoa.
A nova câmera só foi adaptada para as partes jogadas. O que é compreensível, já que refazer todas as cenas na nova perspectiva daria muito mais trabalho. Isso não muda o fato de que essas transições entre as perspectivas são bem incômodas. O vai e vem do zoom para a troca de visão do personagem é bem inconveniente e acontecem com bastante frequência.
Já as cenas rápidas in game citadas anteriormente deixam um ar meio estranho, já que elas passam a impressão de que algumas foram transferidas para a terceira pessoa e outras não. Em algumas ocasiões a visão alterna em situações muito semelhantes, como abrir uma porta, passar por algum lugar abaixado, pegar ou usar algum item e outras coisas simples, deixando as ações de Ethan ora em primeira e ora em terceira.
É fato que muito foi feito para adaptar o personagem a nova perspectiva, como novas animações para suas ações básicas, porém ainda é incompreensível algumas dessas ações alternarem de forma brusca. Acredito que se as tivessem mantido em apenas um ângulo criaria uma estranheza um pouco menor.
A gameplay em si ficou ótima, melhor que em primeira pessoa. Poder ter uma visão clara do personagem tira aquela sensação de estar com um capacete de moto, onde sua visão é muito limitada e qualquer coisa que queira ver no cenário precisa “se virar todo” pra ter uma vista clara.
Agora como é possível ver o personagem fica muito mais amplo o campo de visão, facilitando bastante o jogo. É melhor para ver inimigos chegando pelas laterais, para ter um tempo de reação e tudo mais.
A maior vantagem é que quem tem problemas em jogar FPS poderá desfrutar de Village tranquilamente agora: como não há oscilação do movimento da câmera na nova perspectiva, não teremos casos de Motion Sickness… (pelo menos eu quero acreditar nisso).
Em relação a bugs ou algo parecido, notei apenas que ao executar o giro 360 com o personagem, se perto de paredes, becos ou lugares muito estreitos a câmera não sabe bem como se localizar e acaba realizando um zoom in e out bem rapidamente, mesmo que sem alternar entre as perspectivas.
Dito tudo isso, a única coisa que ainda permanece incomoda é o fato de Ethan não ter um rosto. Mesmo que de pra vê-lo quase de perfil, todo e qualquer movimento para tentar mudar a câmera em direção ao rosto do personagem faz com que ele desvie do foco da câmera. Se isso foi proposital, nunca saberemos, né, dona Capcom?
Agora uma das melhores adições que puderam investir foi com certeza a acessibilidade. Graças a ela novas funções ficam disponíveis para melhorar a experiência dos jogadores.
É possível aumentar o tamanho da legenda, colocar fundo nela e mudar sua cor, além de poder escolher se os nomes dos personagens aparecerão antes de suas falas.
Até mesmo a opção de closed captions, aquela função que vemos normalmente nas TVs chegou por aqui, onde tudo é descrito na legenda, como os efeitos sonoros e/ ou músicas que ocorrem nas cenas. Recurso muito importante para pessoas com deficiência auditiva.
Ordens para os Mercenários
Agora é possível jogar com mais personagens no modo Mercenários. Chris Redfield, Heisenberg e Dimitrescu são as novas adições aos Mercenários.
De início todos não estão liberados, é preciso jogar e alcançar certos requisitos para desbloquear os novos personagens.
Infelizmente o Mercenaries não foi agraciado com o modo em terceira pessoa, ou seja, o jogador ainda é obrigado a permanecer com a visão em primeira pessoa. Uma pena, já que ter ele com a nova perspectiva também melhoraria sua jogabilidade.
Sobre os novos membros do modo extra:
Chris é brutal e embora não possuía defesa, sua alta resistência e golpes corpo a corpo que derrubam ou retardam a maioria dos inimigos é muito eficaz. Ele realmente se tornou a personificação de um verdadeiro socador de pedras que felizmente agora só usa os punhos pra socar os inimigos.
Dimitrescu traz toda sua gigantesca presença para enfrentar os inimigos, que mais parecem miniaturas perto dela, com toda sua elegância e agressividade. Suas garras são uma ótima arma, além de poder jogar móveis nos inimigos, que é muito, mas muito gratificante!
Heisenberg chega com todo seu poder magnético para abalar os inimigos com seu estilo e marra. Além de seu poderoso martelo ele conta ainda com o auxílio de objetos metálicos que pode arremessar contra seus adversários.
Não existe mais a necessidade de ficar esperando os inimigos nascerem ou decorar onde irão estar, já que agora eles
não são mais tão “lerdos”. Eles partem logo pra cima do jogador, como sempre deveria ter sido, facilitando os combos e agilizando a limpeza das áreas.
Mas isso ainda não tira a sensação do misto que este modo é, mesclando o mercenaries original e o modo raid, nascido nos Revelations.
Infelizmente, talvez a mais aguardada adição a este modo ainda está de fora, e não sabemos se um dia ela verá a luz do dia. Falo do modo online, presente tanto nos Mercenaries anteriores quanto nos modos Raids.
Considerações de inverno
Com toda a certeza a DLC de Rose se mostrou muito cativante, seja pela personagem ou por sua busca. Devo admitir que comprei muito mais sua motivação do que quando joguei a campanha de Ethan, mas muito disso se deve a carismática personalidade que deram a Rose, coisa que falta em seu pai (apesar da melhoria da personalidade no Village, Ethan ainda é um pedaço de mofo acarismático).
A câmera em terceira pessoa foi um grande adicional, mostrando que deveria ter sido assim desde o começo. A opção de mudança drástica em relação a franquia tomada no jogo anterior se mostrou ter pontos assertivos e outros nem tanto, onde acredito, que ter tornado a saga principalmente em FPS não foi uma das melhores escolhas.
E graças a acessibilidade, a experiência se tornou ainda melhor. Poder alternar o tamanho da legenda ajuda muito (principalmente para pessoas míopes como eu), além disso proporcionam a oportunidade a outras pessoas com outros tipos de deficiência visual desfrutarem da melhor forma possível do jogo. A acessibilidade só não é perfeita porque a alteração de tamanho é apenas para a legenda e não para todo o menu e interface.
Mesmo com certa demora, a expansão é bem gratificante, embora não ache certo ser cobrado por um conteúdo como a acessibilidade, o modo em terceira pessoa e as melhorias para o modo Mercenaries, visto que isso é uma melhoria para algo que já existia e não extras, como são de fato a DLC Shadow of Roses e os personagens adicionais para o Mercenaries.
No mais, Village Gold Edition é a experiência definitiva do jogo com certeza. Acredito que ela agrade tanto fãs antigos como os novos sem problemas, e com duas possibilidades de perspectiva de câmera agora, pode agradar ainda mais pessoas.
Resident Evil Village Gold Edition e os conteúdos adicionais da Expansão dos Winters e Os Mercenários já estão disponíveis.
O jogo foi analisado no PlayStation 4 em cópia digital cedida pela Capcom Brasil.
Colaborou com a revisão deste conteúdo: Dark Rickson
Capturas de imagens de Resident Evil Village Gold Edition foram realizadas pela autora da análise no PlayStation 4.