Quando terminei a campanha principal de Resident Evil 4 (2023) no início do ano, mesmo satisfeito com o jogo, eu ainda tinha diversos questionamentos. Haviam alguns pontos da história que não foram tão bem explicados, inimigos que não apareceram ou cenários que foram cortados. Isso somado a falta da campanha adicional foram os poucos pontos que eu havia para reclamar do título. Agora, finalmente tivemos a estreia da campanha adicional Separate Ways (Caminhos Distintos), que chega não somente trazendo luz a diversas pontas soltas do jogo base, como também se apresenta como uma aventura própria e uma das melhores expansões de toda a franquia.
Caminhos Separados
Enquanto o Separate Ways original (Resident Evil 4, 2005) parecia mais um mod feito apressadamente para justificar a compra do título em um novo console, a nova versão se apresenta como uma história completa do ponto de vista de Ada Wong. A campanha principal trouxe diversas mudanças para que os fãs veteranos não pudessem esperar tudo exatamente como ocorria na versão original, e o mesmo acontece aqui.
Na trama do jogo acompanhamos Ada Wong em sua busca pelo âmbar a mando de Albert Wesker, e desde a primeira cena já temos noção do quão mais expandida a história do conteúdo adicional está, trazendo Ada resgatando Luis Serra em uma cena tão icônica quanto engraçada. Ao contrário do Separate Ways de 2005, não parece que estamos apenas vendo o que Ada estava fazendo durante a campanha de Leon S. Kennedy, mas sim acompanhando a própria jornada da espiã.
E um dos pontos mais interessantes do modo foi como conseguiram mesclar elementos que foram cortados da campanha de Leon e reapropriá-los em Caminhos Distintos. Há vários pequenos momentos, cenários ou até mesmo inimigos que foram transferidos para a campanha de Ada. Muitos fãs chegaram a especular que esse poderia ser o caso ao jogar a campanha principal, e de fato foi o que aconteceu. Esses elementos ganham vida nova e conseguem enriquecer muito mais a campanha de Ada de uma forma que faria muito mais sentido do que na trajetória de Leon.
O jogo continua um dos maiores acertos da reimaginação de Resident Evil 3 (2020) e foca muito nos personagens e nas suas interações: Ada tem muito mais cenas com Luis, incluindo partes de jogabilidade juntos. Wesker está muito mais inserido na história dessa vez, trazendo algumas mudanças que fazem muito mais sentido dentro do contexto atual, onde já sabemos os rumos que a trama da franquia tomou. Ter esses pontos durante a jogabilidade, ao invés de somente em cenas, enriquece e muito a experiência do jogador.
Um Novo Jogo
Ada passa por diversas situações inesperadas e frustrações na busca por seus objetivos, que vão contrastando com as suas interações com outros personagens. Durante a campanha o jogador irá percorrer por diversos cenários que já foram visitados durante a jornada de Leon, mas de uma forma bem original que não traz aquela sensação de repetição. Logo no início enfrentamos um Verdugo que acaba desaparecendo na campanha de Leon. Aqui ele é apresentado de uma forma interessante, infectando Ada e fazendo com que ela tenha alucinações, criando lutas que não se tornam apenas uma repetição das que jogamos na campanha principal. O simples posicionamento de inimigos em áreas diferentes torna muito da experiência completamente nova e inesperada.
O ritmo de Caminhos Distintos é muito mais acelerado que o jogo base, tendo um foco muito maior na ação e momento a momento. Mas isso não significa que o modo seja curto ou que ele corte o que funciona em Resident Evil 4. Todas as mecânicas e elementos básicos do jogo estão presentes aqui, incluindo backtracking (embora em uma escala menor) e gerenciamento de recursos . O jogador tem itens e armas exclusivas para a campanha de Ada que podem ser compradas com o Mercador, além de missões opcionais, inclusive com algumas requerindo uma exploração minuciosa do mapa para serem completadas.
Durante o jogo, Ada tem diversos objetivos durante sua busca pelo âmbar, que geram missões como recuperar algum objeto ou mesmo resolver puzzles. Para isso, Ada conta com sua lente de contato tecnológica que ajuda na resolução de alguns puzzles simples porém divertidos. A lente também serve para que a espiã possa encontrar pontos para acertar sua arma de gancho, uma das melhores mecânicas do conteúdo adicional. Com a arma de gancho, Ada pode se locomover para pontos mais altos, atravessar partes do cenário e até mesmo usá-la em combate, que combina muito com o estilo mais ágil da espiã e traz mais possibilidades de jogabilidade para um jogo que já permite que o jogador teste a sua abordagem preferida.
Ao longo da jornada, passamos por diversos momentos icônicos e Ada brilha mais do que nunca aqui. Mudanças na trama fazem com que o jogo flua muito melhor e se apresente realmente como uma campanha adicional e não apenas para “tapar os buracos” da campanha de Leon, apesar de que eu gostaria que a trama fosse mais aprofundada.
O cliente tem que ficar satisfeito
O placar do jogo ao finalizar a campanha de Ada mostrava que eu havia levado pouco mais de 5 horas para terminá-la pela primeira vez na dificuldade padrão, mas o tempo real não corresponde ao timer do jogo, então eu acabei gastando no total por volta de 7 horas para começar e terminar Separate Ways completando todas as side-quests e encontrando o máximo possível de tesouros.
O jogo felizmente conta com o modo new game plus, além de dificuldades adicionais, desafios, cosméticos e roupas desbloqueáveis para todos os personagens, então sim, Ada Wong tem um icônico vestido chinês e até mesmo Albert Wesker tem sua gola alta.
Mesmo com a campanha adicional não apresentando tanto conteúdo quanto os DLCs de Resident Evil 7, Separate Ways é praticamente um jogo completo por si só.
Conclusão
Separate Ways traz uma campanha icônica para Ada Wong que não apenas esclarece pontos da trama principal, mas também expande ainda mais o título naquele que pra mim é o melhor conteúdo adicional de toda a franquia. Embora eu gostaria que a história do jogo fosse mais aprofundada, Caminhos Distintos traz inovações o suficiente para a jogabilidade e uma trama que funciona muito bem por si só, com diversas referências e cenas marcantes, cheia de surpresas tanto para os fãs novatos quanto veteranos. Se a campanha de Ada era a única falta da nova versão de Resident Evil 4, agora, posso dizer que esse é sem dúvidas o melhor remake de toda a franquia.
O jogo foi analisado no PlayStation 5 em cópia digital cedida pela Capcom Brasil. O texto não representa a opinião do REVIL como um todo, e sim do autor da análise.