Sabe aquele ditado que diz “panela velha é que faz comida boa”??? Lá em 2021 durante tempos trevosos, fomos agraciados com Tormented Souls, uma aposta certeira da Dual Effect e da PQube. Conseguiram pegar o coração do gamer veterano pela nostalgia, com uma baita homenagem ao gênero survival horror e fortemente inspirado nas nossas franquias queridas como Silent Hill, Alone in the Dark e, por óbvio, Resident Evil (afinal, é a nossa indústria vital, né?).
Em meio a tantos remakes e jogos com caras (as mesmas) mais modernas, Tormented Souls reapresentou o chame dos survivals antigos, com direito à câmera tanque, inventário e itens limitados, além de muita lore espalhada pelos arquivos e documentos encontrados durante a gameplay. Em um mundo gamer onde o que manda é a linearidade dos caminhos, bússolas dizendo que o seu objetivo é ir do ponto A ao B, ver (e também jogar) um jogo feito o Tormented é um refresco a quem tá acostumado a ter papel e caneta como seu companheiro, além de exercitar a memória visual, habilidades de cartografia e raciocínio lógico para resolver puzzles.
Do absoluto nada, no início do segundo semestre deste ano, 4 anos depois do primeiro Tormented, veio o anúncio de Tormented Souls 2. A gameplay apresentada inicialmente só atiçou ainda mais a minha vontade de jogar o novo título. Assim que a demo saiu, joguei inclusive em live.
Nesta análise de Tormented Souls 2 vou fazer comparações entre o primeiro e o segundo jogo, pois joguei ambos, além de tecer comentários sobre enredo, jogabilidade e parte técnica também, ok? Dito isso, partiu!
ENREDO DIGNO DE FILME DE TERROR CLASSUDO E CHEIO DE REFERÊNCIAS
Esta análise é SEM SPOILERS, logo leia sem se preocupar. O que quero é falar sobre a experiência jogando essa joia, tá?
Tormented Souls 2 continua diretamente de onde o primeiro terminou, no qual a nossa Caroline Walker parte para uma nova jornada rumo à Vila Hess em busca de respostas para ajudar a sua irmã que vem sofrendo com episódios de pesadelos (bem enredo de filme de terror, AMO). Elas chegam a um convento buscando ajuda especializada para a condição de sua irmã com alguém que mora junto com as religiosas.
Como deu pra notar só pelo trechinho da sinopse, que é bem de um bom filme de terror, o trauma da vez é em um convento, UM CONVENTOOOOOOO (socorro Deus!). E como desgraça pouca é bobagem na vida da póbi da Caroline, em um determinado momento sua irmã desaparece e ela parte em busca pelo convento, explorando cada canto escuro e descobrindo segredos macabros. Embora cheio de clichês (como um bom roteiro de survival horror), o enredo do Tormeted 2 entrega o que promete e achei bem competente, além dos arquivos encontrados no jogo adicionarem uma camada extra a esta jornada.
Só com esse pano de fundo aí desenhado você já consegue perceber que o jogo tem uma atmosfera escura e macabra, repetindo um dos pontos positivos do primeiro jogo: a ambientação. Mas a narrativa que o jogo desenrola expande para além dos muros claustrofóbicos do convento, aumentando ainda mais a sensação de desespero e de perseguição, mas dizer por onde mais nossa diva das gambiarras vai passar seria um baita spoiler e não irei servir isso. Outra coisa bacana é a quantidade de referências à cultura Pop que o jogo trouxe por meio dos elementos do cenário e de gameplay, como referências a De volta do Futuro, Street Fighter e até Pottergeist.
E NÃO É QUE ESSA CRIANÇA CRESCEU E FICOU AINDA MAIS BONITA
Antes de entrar na parte técnica jogo, vou colocar aqui o meu setup que usei para analisar o jogo: um notebook gamer de configuração mediana.
Tive ZERO problema para rodar (ao contrário da demo disponibilizada em junho). Não aconteceram travamentos, quedas de frames ou bugs que pudessem prejudicar a jogatina. Me deparei só com duas coisinhas, uma foi um trecho de diálogo de uma cutscene que estava com o áudio dessincronizado, e a outra com algumas questões de iluminação levemente zoada, mas não é nada que atrapalhe a experiência e que com certeza irão corrigir em algum futuro patch de correção.
A jogabilidade flui bem, seja com o controle ou no teclado e no mouse, uma evolução em relação ao primeiro título – há uma única ressalva que vou comentar depois. Além disso, os loadings de porta são relativamente rápidos, a trilha sonora (ou a ausência dela, na maioria das vezes) é fantástica, fora a ambientação que, como comentei acima, é novamente um dos seus pontos fortes. Vale lembrar que o diferencial de Tormented é no trabalho com a escuridão dos cenários e a sensação de vulnerabilidade que você vai se encontrar ao longo da jornada, mas aí eu vou, também, explicar melhor mais na frente.
Ademais, Tormented 2 repetiu o que deu certo no primeiro, trazendo de volta o seu charme e a a sensação de terror e sobrevivência “raiz”, com poucos recursos disponíveis, inventário limitado e armas customizadas (Caroline Mcgaiver ataca novamente). Dou dois exemplos de armas: a pistola de pregos e a espingarda de pressão, que assim como no primeiro jogo é preciso ir encontrando peças para customizar, deixando-as mais “ignorantes”.
A escuridão é o seu maior inimigo, sendo indispensável para a sobrevivência andar com o isqueiro na mão o tempo todo. Como um dos elementos a serem explorados (e muito) na gameplay, você não consegue equipar sua arma e combater os inimigos em qualquer lugar livremente. Tenha isso sempre em mente na hora de montar a estratégia de combate.
NEM TUDO É DEDO NO CY E GRITARIA (…mentira, é sim!)
Em Tormented Souls 2, o jogo brinca o tempo inteiro com aquela sensação de desespero do inesperado, afinal, você se encontra em um lugar que faz parte de qualquer checklist de pesadelo, completamente sozinho (será?) em um lugar completamente (ou quase) no mais completo breu.
O inimigo aqui é tudo ao seu redor, o silêncio (ou o som ambiente que, na maioria das vezes, te arrepia todos os cabelos) e o escuro e o que ele esconde. Tirando as salas de save, você nunca terá um respiro durante a gameplay. E falando nos inimigos, creideuspai! Um mais feio que outro que aparecem do absoluto NADA e te dá um mini ataque cardíaco a cada esquina (odiei, cinco estrelas!). Outra coisa que vale nota é, apesar da pouca variedade, o design desses cornos é digno de um bom Silent Hill das antigas, fora que pode vir inimigos de onde se menos espera (literalmente).
Outra coisa que mantiveram no segundo foi a forma de apresentar os arquivos, onde cada file pertence a um caderno que você vai montando ao longo da jornada, como um quebra-cabeça. Essa forma é bem mais interessante se você quer entender a lore do jogo. O mesmo também vale para o mapa que, ao estilo SH de cartografia, Caroline vai marcando tudo. Logo, exploração aqui é a chave do negócio. Aqui eu tenho uma crítica em relação ao mapa: tem trechos em que a passagem está bloqueada, como um buraco e o mapa não marca esses obstáculos.
Por falar em lore, o jogo está totalmente localizado em português do Brasil (assim como o primeiro) e dá pra perceber aqui o capricho da equipe em deixar o nosso idioma mais fluido de ler. Infelizmente, o jogo não conta com dublagem em português.
Agora, falando das novidades que o Tormented 2 trouxe, destaco 2: um hotkey de acesso rápido às armas e ao isqueiro e a seleção de dificuldade. Ao contrário do primeiro, que tinha uma única dificuldade e mediana, o segundo te dá a opção de seleção de dificuldade (que, pra mim, não vi muita diferença), sendo uma facilitada (como eu chamo), a padrão e outra no hard (desbloqueada zerando 1x), aumentando o fator replay e também afetando a resolução de alguns puzzles.
Com relação ao hotkey, tenho algumas ressalvas. A ideia de ter um menu rápido para acessar o seu arsenal é algo comum nos jogos mais modernos do gênero, inclusive temos essa ferramenta nos RE mais recentes e no Silent Hill 2, por exemplo. Mas no caso do Tormented Souls 2, não sei se foi a melhor escolha escolher o analógico direito (no caso dos controles) para exercer essa função ou se ele não está devidamente calibrado, já que por diversas vezes eu achei mais rápido entrar e equipar as armas dentro do inventário mesmo (como se fosse no REmake), pois tentar usar a hotkey não tava adiantando muito (morri algumas vezes por conta disso). Por outro lado, os movimentos de andar, correr, atirar, esquivar e recarregar a arma (inclusive andando) são uma delícia, muito satisfatória essa resposta de gameplay, outra evolução em relação ao primeiro.
Além disso, assim como no primeiro, você pode usar, combinar e examinar itens dentro do seu inventário, seja para o consumo da Caroline, como um analgésico, ou para encontrar itens e/ou informações chave para a resolução dos puzzles. Os puzzles desse jogo, assim como os do primeiro, têm a dificuldade média, não são dados de bandeja, mas também não são impossíveis de resolver. Aqui vale a máxima dos jogadores veteranos em survival horror: tenha papel e caneta à mão, leitura afiada dos documentos que encontra no jogo e atenção aos diálogos.
Com relação aos gráficos, é notória a evolução em comparação aos dois títulos, sendo refletida nos demais itens do jogo, como iluminação, ambientação e no desenvolvimento dos diálogos, que parecem mais naturais em comparação ao primeiro jogo. Só tenho uma ressalva nesse quesito: a expressão facial dos personagens. No Tormented 2, os coitados parecem bonequinhos de massa com a boquinha achatada (achei engraçado porque o primeiro estava mais “natural”). Isso não é algo que atrapalhe a minha gameplay, mas há quem vá reclamar.
Outro ponto a destacar, assim como todo survival clássico, é o backtracking. Assim como o primeiro, e que o segundo repetiu também, é o vai e vem na medida, onde tudo se encaixa bem redondinho (passando quase a impressão de linearidade…mas aí é quase mesmo) e nada fica maçante. Esse é outro diferencial do Tormented, o jogo traz para modernidade ferramentas de jogabilidade dos clássicos, mas pensadas para os dias atuais, agradando tanto veteranos quanto novatos.
MAS E AÍ, TÁ VALENDO A PENA?
Não querendo ser tendenciosa, já que o Tormented Souls trouxe absolutamente tudo que amo em um survival horror (inclusive a câmera tank… vou defendê-la até o fim), mas diria o seguinte: se você tá a fim de ter a experiência de jogar um survival nos moldes dos REs clássicos, mais próximos do Resident Evil ou Resident Evil 0, e sentir e experiência da qual a gente aprendeu a amar lá nos anos 90 e 2000, mas com uma pegada atualizada, se joga no Tormented Soul 2 (e também no primeiro título). Tormented 2 é uma baita homenagem às nossas franquias de survival favoritas em plena sua era de ouro, trazendo o que as destacou e as juntou em um jogo de 2025. Vale muito a experiência!
Tormented Souls 2 traz aquela sensação de nostalgia gostosa para os jogadores veteranos e uma novidade vintage para os novatos. É um jogo que foge do padrão de lançamentos que vemos recentemente, coisa que os indies fazem com uma maestria que impressiona. O fator replay é uma qualidade fortíssima (e os troféus, pra quem curte platina, conquista, ou como quiser chamar) do game, pois há a sensação de que sempre falta algo para explorar ao longo da jornada.
O jogo está disponível para PC via Steam, Playstation 5 e Xbox Series S|X.
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Tormented Souls 2 foi analisado com uma chave digital cedida pela PQube.












