Crítica – Resident Evil 6: O Capítulo Final

Quando Resident Evil 6 O Capítulo Final foi anunciado como o último filme da franquia, o público ficou um tanto incrédulo. Parecia que Paul WS Anderson, diretor, produtor e roteirista de boa parte dos longas iria expandir a franquia até não poder mais, ou até os números pararem de crescer.

Resident Evil 5 Retribuição ficou um pouco aquém do esperado, seja em bilheteria, seja em qualquer aspecto que remonte qualidade. O quinto filme tem, de longe, o pior roteiro e não consegue nem fazer bom uso do 3D como seu antecessor conseguiu.

Em Resident Evil 6 O Capítulo Final, Alice é a única esperança para salvar o pouco que resta da humanidade. A Umbrella possui um plano para acabar com toda a raça humana e com os zumbis que povoam o planeta. As motivações são baseadas na Bíblia: criar um novo mundo para os fortes e os justos – uma versão 2.0 do dilúvio do Antigo Testamento. Com a ajuda da (pasmem) Rainha Vermelha, Alice deve voltar para a Colmeia, em Raccoon City, e impedir essa insanidade.

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Logo de cara, percebemos que Resident Evil 6 O Capítulo Final não está preocupado com a estética limpinha, perfeitinha e simétrica dos filmes anteriores. Não é um longa voltado para o 3D, com objetos voando pela tela ou efeitos de partículas e um slow motion desnecessário. Acredite ou não, parece que a maior prioridade do sexto filme da franquia Resident Evil é realmente contar uma história pós-apocalíptica e dar um fim digno para a série.

Resident Evil 6 O Capítulo Final é o melhor filme da franquia desde “O Hóspede Maldito”.

Esqueça Claire e Alice limpas e maquiadas, que não parecem estar lutando há anos para sobreviver em um mundo inóspito. Resident Evil 6 O Capítulo Final está cheio de cenários sujos, crus e escuros. Parece que Paul WS Anderson resolveu se lembrar  do mundo devastado novamente, como o conhecemos em Resident Evil 3 A Extinção.

Por falar no terceiro filme, em termos da cronologia e do universo da franquia como um todo, Resident Evil 6 O Capítulo Final tornou “Recomeço” e “Retribuição” completamente esquecíveis. O longa parece mais uma continuação direta de “A Extinção”, sendo a única ponte relevante dos filmes 4 e 5 o fato de Claire ter sido sequestrada pela Umbrella em Arcadia. Os sobreviventes do último filme simplesmente são mortos fora da tela, em uma batalha causada por Wesker em Washington. Simples assim.

Milla Jovovich stars in Screen Gems' RESIDENT EVIL: THE FINAL CHAPTER.

A gravidez de Milla Jovovich pode ter atrasado as filmagens, mas certamente o tempo a mais que Paul WS Anderson teve para trabalhar no roteiro valeu a pena. Resident Evil 6 O Capítulo Final não é nenhum primor em termos de história, mas certamente é o melhor da franquia desde “O Hóspede Maldito”. Esta pode ser a segunda vez na franquia que o diretor e roteirista realmente tenha se preocupado em contar (ou concluir) a história de Alice e do universo criado por ele ao em vez de fazer um compilado de cenas explosivas.

As sequências de ação, aliás, estão bastante interessantes. Ao contrário dos filmes anteriores, muito exagerados e acrobáticos, com movimentos que denunciavam claramente o uso de cabos e outras artimanhas para fazerem Milla Jovovich voar pelo cenário, Resident Evil 6 O Capítulo Final traz lutas mais “pés no chão”. Os combates são, literalmente falando, porradaria pura. Nada de saltos absurdos e chutes incríveis, mas sequências de CQC bem seco, daquele que dá para ouvir os socos atingindo os ossos do outro. Apesar das lutas mais realistas, o filme acaba prejudicando algumas cenas com uma edição exageradamente cheia de cortes, tornando algumas sequências um tanto incompreensíveis de tão frenéticas (especialmente sob efeito do 3D).

Essas mudanças de abordagem nas sequências de ação refletem uma alteração na forma como Alice é mostrada no filme. A heroína continua a ser a badass da franquia, como sempre, mas é nítido como os exageros em torno da protagonista foram bastante atenuados. É possível dizer que literal e metaforicamente, Alice se torna mais humana do que nunca aos olhos do espectador, e trazê-la mais falha e menos impressionante ajuda muito a tornar essa nova faceta da personagem bem mais convincente. Neste ponto, Milla Jovovich também se aproxima da Alice introduzida no primeiro filme: finalmente foi dado espaço para que a atriz realmente atuasse com emoção em alguns momentos, e não somente com as caras, bocas e acrobacias de outros filmes.

Milla Jovovich stars in Screen Gems' RESIDENT EVIL: THE FINAL CHAPTER.

Enquanto o sexto filme tentou amarrar pontas soltas e encontrou estratégias criativas para a origem da Umbrella e de Alice, acabou criando inconsistências dentro de seu próprio universo. Com uma parte da trama fortemente inspirada em Resident Evil 0, “O Capítulo Final” acabou ignorando o arco de Dr. Ashford em Resident Evil 2 Apocalipse para explicar as origens do T-vírus.

No entanto, se a história dos mil clones era uma boa desculpa para trazer atores de volta, ela foi bem usada no retorno de Dr. Issacs, interpretado por Iain Glen. Ainda que o vilão tenha partido dessa para a melhor (?) em Resident Evil 3 A Extinção como um Tyrant com tentáculos de borracha, voltou muito bem aplicado no sexto filme. Glen realmente consegue trazer um vilão que transparece maldade nos olhos, no sorriso e na voz, mas sem ficar caricato como Wesker. Resident Evil 6 O Capítulo Final consagra o Isaacs de Glen como o grande vilão da franquia, e o maior nemesis de Alice.

Milla Jovovich stars in Screen Gems' RESIDENT EVIL: THE FINAL CHAPTER.

O filme acaba usando um slogan semelhante ao de Resident Evil 7, “o mal volta para casa”, para também apostar na nostalgia. Assim como o jogo, que voltou às raízes totalmente reformulado, Resident Evil 6 O Capítulo Final traz um tom semelhante ao de “O Hóspede Maldito”. A localização da história na Colmeia também cria alguns momentos nostálgicos, como uma visita ao corredor dos lasers e alguns flashbacks.

O resultado de Resident Evil 6 O Capítulo Final é satisfatório como uma conclusão da história de Alice. Paul Anderson e Milla Jovovich tentaram amarrar, como podiam, as várias pontas soltas de uma franquia claramente produzida sem um planejamento em termos de história. Algumas perguntas permaneceram sem resposta, inconsistências foram criadas e decisões criativas duvidosas podem ter prejudicado o andamento da série, mas, pelo menos, essa saga se encerra com um filme que surpreende por ser melhor do que o esperado.

Resident Evil 6 O Capítulo Final estreia em 26 de janeiro nos cinemas brasileiros.

Resident Evil 6 O Capítulo Final
Roteiro mais encorpado que dos filmes anteiores
Inspiração em Resident Evil 0
Retorno de Dr. Isaacs
Edição cheia de cortes "secos"
Inconsistências com Resident Evil 2 Apocalipse
7
Bom