Entrevista com Patt Souza, Cassandra Dimitrescu e Rose de Resident Evil Village

Seguindo a oportunidade que o REVIL teve de bater um papo com Bia Dellamonica, a voz de Bela Dimitrescu, e Rebeca Zadra, dubladora da infame Angie, desta vez conversamos com Patt Souza, a incrível dubladora que emprestou sua voz não apenas para Cassandra Dimitrescu, como também para Rose, em Resident Evil Village.

O conteúdo da entrevista está disponível em nosso canal do YouTube onde a Patt deixa uma surpresa para os fãs na voz de suas personagens. Assista e se inscreva para ter acesso antecipado aos próximos vídeos.

 

É perceptível o carinho de Patt pela dublagem e todo o amor dedicado a essa experiência no mundo dos jogos.

Confira a seguir a entrevista em forma de texto. Algumas leves modificações foram feitas em relação à gravação para um melhor entendimento da leitura.

E aí survivors, continuando nossos conteúdos especiais sobre Resident Evil Village, a gente trouxe pra vocês mais uma entrevista com uma das dubladoras do jogo. E hoje a nossa entrevista vai ser com a Patt Souza, a responsável por interpretar a Cassandra Dimitrescu como também a Rose.

PATT SOUZA: E aí gente linda, galera do REVIL, é um prazer estar aqui com vocês, eu sou a Patt Souza e faço a voz da Cassandra e da Rose em Resident Evil Village.

REVIL: Fala pra gente Patt, como foi sua reação quando ficou sabendo que tinha passado no teste para interpretar um personagem da franquia Resident Evil nos jogos? E você já conhecia ou era fã?

PATT: Eu fiquei muito feliz, muito feliz mesmo quando eu fiz o teste. Quando a gente faz o teste, dificilmente falam para que que é, então não foi falado, foi falado só que era pra fazer uma bruxa que tinha outras irmãs e a mãe era uma bruxa “mor”, e aí não contaram que era Resident, quando eu passei me contaram e eu fiquei muito, muito, muito feliz. Eu conhecia a franquia, as pessoas conhecem a franquia, é uma franquia muito famosa, mas eu não tinha jogado ainda, já tinha visto pessoas jogarem mas eu não tinha jogado ainda, mas eu fiquei muito feliz, primeiro porque curto jogar, e depois porque eu sei a importância que tem e como esse jogo é famoso e querido por tantas pessoas, então eu fiquei bem feliz.

REVIL: Como que foi teu preparo para dar voz a Cassandra e a Rose? Houve alguma inspiração na dublagem original? Teve algum desafio pra ti na dublagem?

PATT: Quando eu fui dar a voz pra Cassandra, o teste foi remoto, eles enviaram um arquivo de áudio com a voz original, que é a primeira pessoa que fez né, então eu tinha o original em inglês, eles mandaram esse arquivo de áudio e o texto, e aí eu tinha que gravar, devia ter uns 40, 50 segundos de falas da Cassandra, e aí eu busquei um pouco no original, prestei atenção no que tinha naquela voz, peguei um pouco sim do original, a gente não pode fugir muito do que está ali, e fui um pouco do meu repertório de bruxas, que é bem grande, porque eu gosto e já vi muitas, tanto em teatro, cinema, tv, desenho… Sempre achei um universo muito legal. Então eu misturei um pouco do meu repertório, com o que eu tava ouvindo na voz original e “criei” a Cassandra, porque ela já era criada, a voz original já vem com muita coisa, aí a gente vai nas sensações, nas invenções e coloca uma pitadinha de alguma coisa que você percebe: de um sarcasmo, de uma maldade, de tudo isso.

Foi um desafio, acho que é sempre um desafio as coisas novas, eu nunca tinha feito uma bruxa por exemplo, então acho que é um desafio sim, mas foi muito divertido, como acho esse universo muito interessante, então achei muito legal, e fiquei muito animada com o teste mesmo sem saber pra que que era, fiquei torcendo pra passar, sabe?

REVIL: Como foi o processo de colocar toda a emoção naquele personagem ficcional, naquele mundo de horror, para que as pessoas acreditassem naquilo ali? E você gosta mais de personagens espalhafatosos ou pacatos?

PATT: Quando eu passei no teste, e fiquei sabendo de tudo, qual era a franquia, aí foi mais legal ainda. Quando a gente chega pra gravar, o diretor fala mais algumas coisinhas que foram passadas para ele a respeito da personagem, da história do game, as vezes falam mais coisas, às vezes menos… Aí começamos a entender um pouco mais a personagem e começa a gravar de fato, lembrando que temos só os áudios originais, não temos a personagem, a boca, nada disso, por isso também que chamam de localização, eu não tinha a imagem dela, em alguns casos eles têm já o desenho e mostram “Olha, essa daqui é a fulana que você vai fazer”, nesse caso não tinha. Eu só fui saber a carinha da Cassandra quando o game lançou, junto com vocês, não sabia antes se ela era loira, morena… Não sabia nada, e aí o diretor contou mais coisas e começamos a gravar.

Eu gosto muito dos personagens que são complexos e que não são só uma coisa, sabe? Só mau, só bom, só engraçado. Aí depende se ele é mais pacato, se ele grita, eu gosto dos que tem bastante elementos, então não tem muito uma preferência. Os que gritam muito são mais cansativos de fazer porque demanda muita energia o tempo todo, a gente tem que tomar um pouco de cuidado também pra não machucar a garganta nem nada, mas de preferência eu acho que é mais pelo jeito do personagem, do que se ele grita ou é mais tranquilo.

REVIL: Como foi o processo de dublagem do jogo? Disponibilizaram todos os materiais prontos? As gravações aconteceram por home studio ou conseguiram gravar presencialmente? Pergunto isso tendo em vista toda a pandemia que nós passamos.

PATT: No processo de dublagem eu fui algumas vezes no estúdio gravar, a gente já estava na pandemia, mas foi tudo com muito cuidado, só tinha eu e o técnico, se não me engano o diretor já tava remoto, e aí também né, com touca, com máscara, tudo com muito cuidado, tem a luz ultravioleta, que é obrigatória nos estúdios, aquela roxinha que tem que ligar antes pra gente entrar, eu fui a primeira a gravar no dia que eu fui, então tem bastante cuidado, eles deixam também um intervalo muito grande para outra pessoa vir depois, então foi presencial. O teste foi remoto e eles perguntaram: “Esse game vai ter que ser presencial, tudo bem pra você?” E tem uns que dá pra você fazer remoto, depende muito do cliente e de outras coisas.

Como eu falei, não foi mostrado nada para a gente, além da carta criativa da personagem, que é contando um pouco mais da personagem, que isso é o diretor que tem e passa pra você, e foi isso que tínhamos, não tinha mais nada não, nem cena, nem trechos, nem nada.

REVIL: Houve algumas alterações no texto original, por sua parte ou parte da direção, para que as falas se adequassem mais ao idioma português?

PATT: Alterações eu acho que não, mas como a gente grava muitas coisas eu confesso que não lembro. O diretor normalmente tem isso, é passado pra ele se pode alterar, se não pode, se pode alterar pouco ou o que quiser, e aí eles avisam a gente. Normalmente pode fazer pequenas alterações. Não pode fazer nada muito…. Trocar palavras, assim, não pode, você pode deixar menos formal e mais fluido, mais natural, então em vez de falar “Eles estão aqui.”, se pode falar “Eles tão aqui.”, mas tem game que nem isso pode, mas aí isso é passado pro diretor e ele avisa a gente. Eu diria, se não estiver enganada, que pequenas alterações podiam ser feitas, mas não muita coisa.

REVIL: Cada vez mais estúdios procuram localizar seus jogos para português brasileiro, você considera isso uma pressão de mercado, como se o público estivesse demandando, ou um reconhecimento ao trabalho dos dubladores? Ou até mesmo os dois motivos? E qual a importância disso pra vocês, dubladores, e pro nosso mercado de dublagem no Brasil?

PATT: Eu acho essa coisa de começar a localizar em português muito, muito legal. É legal tanto pra quem joga quanto pra quem trabalha com isso, quanto pra franquia. Eu acho muito legal, nós não tínhamos isso, é algo mais recente, e acho que estão sendo feitos trabalhos muito bons e muito incríveis, e por mais que ainda tenha muita gente que prefira jogar em inglês, ou que joga em inglês por estar acostumado, eu acho, particularmente como quem joga, que é muito legal quando o jogo ta bem feito e está na nossa língua, sabe? Dá uma emoção a mais e é mais gostoso mesmo.

E agora como está sendo feito em maior escala e tem muita coisa bem feita, acaba ampliando esse mercado, e mais jogos acabam sendo localizados em português, eu acho isso sensacional, acho que todo mundo acaba ganhando, até porque se você não quer jogar em português, você pode escolher o idioma que você quer jogar. Mas acho isso incrível, o mercado do game é uma indústria bilionária, e acho que eles também só tem o que ganhar com isso, a gente recebe muito feedback de quem joga e as pessoas são muito felizes e animadas, então eu acho que é uma coisa muito legal e só tende a crescer. E aí quanto a pressão de localizarem em português, às vezes quando as pessoas gostam muito, franquias como Resident por exemplo, acaba tendo uma pressão para que dublem os outros Residents né, porque gostaram muito por exemplo, então eu acho que isso só tem coisa boa a trazer a todos.

REVIL: Qual outro protagonista ou antagonista você gostaria de interpretar?

PATT: Eu fiz a Rose… Eu “titubeio” porque eu nunca sei se as pessoas que estão vendo a entrevista já jogaram ou não, e aí tem spoiler… enfim. Além da Cassandra, eu fiz também a Rose, ela aparece só no final do jogo, não vou dizer quem é a Rose, ok? Quem jogou, sabe. E é muito legal, porque elas são totalmente diferentes, em todos os aspectos, aí eu já acho que tive um bônus, independente se a Rose vai aparecer no próximo Resident ou não, eu já tive uma vilã e uma mocinha, que são diferentes e no mesmo game. E se ela voltar, que tem muitas especulações e desejos que ela volte no próximo Resident, vai ser muito legal.

REVIL: Como foi pra ti o sentimento de participar do primeiro jogo de Resident Evil dublado, totalmente localizado, aqui para o Brasil?

PATT: Eu fico muito feliz de ter participado dessa franquia, muito feliz mesmo de ter passado no teste e feito a Cassandra e a Rose, eu acho que esses jogos que tem muita gente que curte e que é uma franquia desse tamanho todo, só traz mais visibilidade e reconhecimento pra gente que trabalha com a voz, então fico muito contente em fazer parte disso, ainda mais porque eu também curto jogar, eu compro jogos e jogo também, então tem toda uma mistura em estar feliz por fazer o trabalho e por fazer parte dessa galera toda, acho que o jogo foi muito, muito bem feito, foi bem feliz, as pessoas têm gostado e dado feedbacks muito legais, então acho que foi muito legal ter feito parte de tudo isso, e é o primeiro jogo da franquia localizado em português então acho que tem uma coisa assim de, ah, de ter sido o primeiro, sabe? Uma coisa alegre, contente e comemorativa.

REVIL: Muito obrigado Patt, e a gente queria saber se tu pudesse deixar uma mensagem pros fãs daqui do REVIL com a voz dos seus personagens.

PATT: (Rindo maniacamente na voz de Cassandra) “Vivo, morto, como prefere que eu te leve? Faz tempo que não abro um homem… DESGRAÇADO!”

E tem a Rose né, a Rose apesar de ser firme e tal, ela é mais doce, mais introspectiva, acho que a Rose seria mais ou menos assim:

(Na voz de Rose) “Oi, vocês estão bem? Espero que vocês tenham gostado… É isso aí.”

É isso gente, quero agradecer o convite, o carinho, tá aqui com vocês é muito legal, obrigada pra todo mundo que joga Resident, que se diverte, que toma sustos, a gente faz com muito carinho pra vocês e é muito legal fazer parte do primeiro jogo da franquia localizado em português. Um beijo grande, quem quiser me acompanha no Instagram: @patt_souza, que tô por lá, com um pouquinho do meu trabalho e um pouquinho do meu dia a dia também. Um beijo grande e se cuidem, até mais!


Resident Evil Village é o primeiro jogo da franquia a receber dublagem em português. O título está disponível para PC (Steam), PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X / S e Stadia.

Colaborou com a descrição textual: Nico Gomes