Entrevista com Rebeca Zadra, a Angie de Resident Evil Village

Seguindo a oportunidade que o REVIL teve de bater um papo com a ilustre Bia Dellamonica, a voz de Bela Dimitrescu em Resident Evil Village, desta vez conversamos com a grandessíssima Rebeca Zadra, dubladora responsável pela voz em português de Angie, antagonista tão icônica do último título da franquia, que já vem se mostrando uma favorita entre os fãs.

O conteúdo da entrevista está disponível em nosso canal do YouTube onde a Rebeca deixa uma mensagem muito especial na voz de Angie. Assista e se inscreva para ter acesso antecipado aos próximos vídeos.

 

Confira a seguir a entrevista em forma de texto. Algumas leves modificações foram feitas em relação à gravação para um melhor entendimento da leitura.

E aí survivors, continuando os conteúdos especiais de Resident Evil Village, hoje a gente traz pra você mais uma dubladora do último jogo da franquia: a Rebeca Zadra, a responsável por interpretar uma das personagens mais queridas desse jogo, a Angie.

REBECA ZADRA: Oi galerinha, eu sou a Rebeca Zadra e vim aqui responder algumas perguntas para o REVIL sobre Resident Evil Village, vamô lá!

REVIL: Como foi sua reação ao saber que tinha passado em teste para interpretar um personagem da franquia Resident Evil? Você já era fã da franquia anteriormente?

REBECA: Primeiro de tudo eu sou muito fã da franquia, a minha reação foi muito maravilhosa porque foi uma surpresa, e foi uma surpresa de fato porque eu não achei que eu fosse fazer nada no Resident. A ansiedade, a vontade de fazer era muito grande, mas eu já tinha conversado com alguns amigos que já tinham gravado jogo, e eu não fui chamada para nenhum teste, então pensei “Não vai ser desta vez.” Então eu estava bem desanimada, e quando fiquei sabendo que marcaram essa escala comigo eu fiquei tipo “Como??!!?” Eu fiquei muito feliz mesmo.

REVIL: Como é que foi o teu preparo pra dar voz a Angie? Foi um desafio para ti? Chegou a se inspirar na dublagem original?

REBECA: Sempre é um desafio né, porque você chega e tem aquele primeiro contato com o personagem e já tem que fazer, então é sempre um desafio, você tem que chegar aquecido e preparado porque sabe-se Deus o que você vai fazer.

Com certeza eu me inspirei muito na voz original, até porque quando a gente vai gravar não temos outra referência, então é só o áudio, você tem que fazer o mais fiel possível, e claro, assim, você vai ser chamado para fazer um personagem que consegue fazer, eu não vou chegar lá e fazer um vozerão que eu não tenho, então quando você é escalado eles já pensam nisso, mas sempre é um desafio, principalmente quando é um personagem completamente fora da casinha, que o céu e o limite, e é muito doidão né.

Cheguei aquecida, já tinha um pouco de experiência de voz caricata demoníaca, de outros jogos que eu fiz, então acho que um pouquinho da bagagem, com um pouquinho da felicidade de estar participando desse projeto me ajudou bastante a me entregar de fato, normalmente eu me entrego 100%, mas realmente foi um trabalho que eu me entreguei 200%

REVIL: Como que foi esse processo de colocar todo aquele sentimento naquela criaturinha pequena, a Angie, e fazer nós, os jogadores, acreditarmos naquela realidade?

REBECA: O processo pra entender a Angie foi muito legal porque quando eu cheguei lá, coloquei o fone e falei com o diretor, ele te dá um resumo mais ou menos de como é o personagem, e no caso da Angie eu tinha uma pequena referência de uma ceninha que não estava finalizada, mas eu conseguia ver mais ou menos como seria o projeto, de que tamanho ela seria, como ela iria se movimentar né, que me ajudou muito a entender esse coisa de como ela ia na cara do Ethan, foi muito pouco, mas foi fundamental. E acho que a minha alegria e euforia de fazer esse personagem era tanta, que acabou casando muito com a euforia que a própria Angie tem em caçar o Ethan naquele jogo, já que basicamente 80% das falas dela são desse momento, então acho que essa coisa de estar lá, de estar fazendo e de ela estar buscando ele tinha muito a ver com a minha vontade de tá buscando aquele personagem e de tá achando um lugar muito divertido, porque ela também tá se divertindo (do jeitinho dela, meio macabro né), mas eu estava me divertindo muito, então acho que esse caminho de juntar a fome com a vontade de comer, de participar de um projeto desse e estar fazendo uma vilã, explorando toda minha capacidade vocal ao máximo foi o que me ajudou muito no processo de encarnar e baixar a Angie que existe em mim.

REVIL: Normalmente você costuma gostar de personagens como a Angie, que grita e é espalhafatosa, ou você gosta de personagens mais tranquilos?

REBECA: Acho que depende muito, normalmente os personagens mais expansivos a gente se solta e consegue fazer uma coisa de repente mais divertida né, mesmo se ele for bravo ou doido tipo a Angie, já os personagens pacatos eu acho que são mais difíceis porque se ele é muito parado ele tem um subtexto e você tem que captar esse subtexto. Então eu acho que são duas dores e duas alegrias, tem o lado bom de um e de outro, e o lado difícil dos dois.

REVIL: Como foi o processo de dublagem desse jogo? Eles disponibilizaram todos os materiais prontos? Vocês tiveram que gravar em home office ou conseguiram gravar pessoalmente?

REBECA: O processo foi igualzinho a todos os processos. Você chega lá: Ouve, grava, ouve, grava. Mas no caso dela, como eu disse, eu tinha um pequeno vídeo que me mostraram ali na hora e eu tinha um esboço do personagem, sabia que existia a Donna, quem eu também faria, e ela tinha uma voz normal, e que ela seria a Angie e de todas essas características muitilocas né, mas a gente não tinha muito mais referência, até mesmo porque, enquanto a gente grava, todo material também está sendo preparado, o jogo ainda não tá finalizado, provavelmente nem os materiais gráficos, pra lançar tudo junto, então dificilmente temos muita informação antes de gravar, não foi disponibilizado todos os materiais, e isso é comum, até o pouco material que disponibilizaram já ajudou muito, porque isso não é a norma, muitas vezes a gente grava e não sabe nada, você vai ver a cara do personagem quando o jogo sair, então nesse caso ajudou muito o pouco que tinha.

As gravações aconteceram, no caso desse jogo, presencialmente; alguns jogos não dá para fazer em casa, mesmo que todo mundo tenha equipamento – alguns dão, eu estou, nessa pandemia, gravando jogos na minha casa sim – mas alguns jogos até pela quantidade de tonalidades diferentes da personagem, é uma coisa que você precisa de fato não só de um bom equipamento pra captar isso, mas de um bom técnico pra captar isso lindamente, então quem captou a minha gravação foi o Felipe Lopes, ele é um dos melhores técnicos do mercado, acredito que não seria diferente porque realmente não é fácil, parece que é só chegar lá e mandar bala, mas não é. Então foi um trabalho necessário de se fazer pessoalmente e eu entendo, mas eu fui consultada se eu iria, se teria algum problema e me passaram todos os protocolos do que estava acontecendo na empresa, então realmente, no dia em que fui gravar não tinha ninguém na empresa, não encontrei com nenhuma outra pessoa a não ser o técnico que abriu a porta do estúdio, já que ele fica higienizado, tem a luz UV e tudo, então, eu fico em uma sala e o técnico em outra, mas o diretor em sua casa, o cliente em sua casa, todos conectados ali, mas a gravação em si foi presencial.

REVIL: Houve alterações no texto na sua parte ou da direção para que as falas fizessem mais sentido em português?

REBECA: Acredito que sim, a minha personagem não era muito grande, então não precisei trabalhar muito no texto, até porque as provocações dela são maravilhosas e não tem muito contexto para dizer que precisei, eu não me lembro de ter mexido em nenhuma fala, talvez alguma coisa por métrica, mas o texto que eu recebi estava muito bom.

Eu acredito que já tinha tido uma boa tradução, onde se foi necessário uma adaptação, já tinha sido feita, além de passar pela revisão do diretor, e como eu já recebi o texto lindo e pronto, nem eu gravando e nem me colocando no lugar do jogador – às vezes eu também me coloco no lugar do jogador, e posso pensar “Isso aí não é legal no jogo por alguma razão” – Mas nesse caso não, nada me soou estranho, nada achei necessário mexer, as vezes acontece, mas no caso da Angie, não.

REVIL: Cada vez mais estúdios demonstram interesse em localizar os seus jogos em nosso idioma, você considera isso uma pressão de mercado ou um reconhecimento ao trabalho de vocês, dubladores? E como você vê essa mudança? Ela é positiva para o futuro do mercado brasileiro de dublagem?

REBECA: Realmente o Brasil é um dos maiores mercados consumidores de jogos, então quando uma empresa olha pra esse mercado e fala “vamos fazer em português” significa que essa empresa reconheceu que aqui temos um público grande e nada mais justo do que você ter uma imersão no seu idioma. Eu conheço algumas pessoas que tem interesse em jogar Resident, mas não jogaram porque não tinha dublado, então eu acredito que ter a opção de jogos em português é você abrir o mercado para que mais pessoas se interessem por isso e atingir um público maior, sem contar que a imersão é outra, pra quem joga, pegar um jogo que tá bem dublado, que você nem lembra que é dublado, você olha e fala “esse personagem tá falando meu idioma e isso não me incomoda” é diferente a imersão.

Eu quero muito, meu sonho da vida é que eles dublem o Resident Evil 7, porque o 7 no VR, você ouvindo uma voz em português deve ser maravilhoso, nem consigo imaginar, mas com certeza vou jogar ele todo de novo se sair dublado. E acho que é sim o reconhecimento de um bom trabalho porque se a experiência com os jogos dublados fosse ruim, acredito que não insistiriam, e se uma empresa como a Capcom que nunca tinha feito, resolveu apostar e fazer essa escolha, é porque ela viu que tem público para isso, que a boa dublagem é apreciada, e que isso é interessante para os jogadores, é um reconhecimento não só do profissional da dublagem, mas também do jogador, do público que eles têm aqui, e a importância dessa mudança é a acessibilidade né, mesmo que uma pessoa não saiba ou até saiba o idioma original do jogo, algumas pessoas não sabem porque não tiveram a oportunidade de aprender outro idioma, outras não quiseram aprender, mas acredito que mesmo você tendo um bom conhecimento da língua, você ouvir na sua língua nativa é uma outra imersão, pois quando você está jogando você tá trabalhando diversas áreas do seu cérebro, então quando você coloca aquilo na sua língua mãe, é diferente o nível de entretenimento que aquilo te proporciona, eu acho muito legal e muito importante, não somente pelos profissionais, mas também pelos gamers.

REVIL: Para qual outro protagonista ou antagonista da franquia você gostaria de emprestar a sua voz?

REBECA: Antes de se falar de Village, eu falava para mim mesmo que se um dia eu fosse fazer eu ia gostar de fazer a Mia, porque eu a acho um personagem MUITO interessante, ela parece que não fede nem cheira, mas ela tá dentro de todas as tretas, você olha a foto: tá ela do lado da Miranda, você olha não sei o que lá dos Backers e ela tá lá, você pensa “coitada, foi aprisionada”, mas o que essa menina estava fazendo lá? Ai você vai cavucando a história e descobre que ela tem a ver com aquilo também. Então eu acho que ela tem muita história pra contar, acho que ela é um personagem muito interessante e que deveria ter um jogo só pra contar de verdade quem é essa pessoa e em tudo que ela tá envolvida, porque ela só engana o Ethan, só ele é trouxa o suficiente pra salvar ela, se meter em tudo que se meteu no 7 e depois no 8, só o Ethan que é trouxa, a gente não é trouxa não e queremos saber o que essa Mia está fazendo por trás das câmeras. Mas Mia foi brilhantemente interpretada em português pela Priscila Franco, que é uma pessoa que, além de eu ser suspeita porque gosto dela, eu amo o trabalho dela, e ficou do car****, do car**** mesmo a voz dela na Mia, então eu já nem acho que eu combinaria, até porque quando eu pensava em fazê-la, eu pensava porque gostava dela, não porque combinaria, então acredito hoje que pra dublar talvez eu escolhesse a Claire, ela tem um lado investigativo, ela é mais diretona, ela é impulsiva porque é jovem né, então acho que ela seria um personagem interessante de fazer, confesso que seria feliz fazendo ela e acho que iria combinar minha voz com a dela, ia dar bom!

REVIL: Diz pra gente, ficou algum sentimento especial de ter participado do primeiro Resident Evil totalmente dublado em português?

REBECA: Amor, é um sentimento inexplicável, porque eu como gamer sempre quis muito um Resident dublado, só que a gente sabe o quanto esse projeto foi um marco pra trajetória dos games e de seu crescimento no Brasil. Quanto pra importância do trabalho do ator e dublador para esses projetos, então eu sei que é um projeto que foi muito pensado, que a Capcom apostou, sonhou, pensou e falou “Vamos fazer em português.” Eu sei que assim, o estúdio também, todo mundo sabia da responsabilidade de entregar um bom resultado porque estava todo mundo muito ansioso e todo mundo preparado para julgar essa dublagem, e fazer parte desse elenco me deixa muito feliz, não só pelo lado gamer mas pelo lado profissional, de saber que consideraram a solidez do meu trabalho para fazer parte de um projeto tão importante como esse, então significa que confiam no resultado, acreditam que eu entregaria uma coisa legal, então como profissional para mim foi uma coisa muito incrível, e como gamer… Não tem nem como falar, é um marco na história e eu fiz parte dele!

REVIL: Rebeca, muito obrigado por ter participado, gostaria de pedir que deixasse uma mensagem para os fãs do REVIL, de preferência na voz da personagem né, e obviamente, os xingamentos estão liberados.

REBECA (na voz de Angie): “HIHIHIHI E aí, você gostou, gostou da entrevista?? É, mas se não gostou, deixa o like mesmo assim, se não eu vou te pegaaar, HAHAHAHA, eu pego mesmo!”

REBECA: É muito estranho né, ver uma pessoa normal com essa voz, mas é isso gente, obrigada pelo convite, obrigada pela oportunidade, obrigada por todo conteúdo que vocês tem de Resident, mas principalmente por esse espaço que vocês estão dando para a dublagem, para a gente poder falar do nosso trabalho e fortalecer esse mercado que é tão legal, principalmente nos bons jogos dublados, e que venham mais! Brigadão, beijo!


Resident Evil Village é o primeiro jogo da franquia a receber dublagem em português. O título está disponível para PC (Steam), PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X / S e Stadia.

O site Green Man Gaming, parceiro do REVIL, tem o jogo com desconto para PCclique aqui e acesse.

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Colaborou com a descrição textual: Nico Gomes