Paul Anderson fala sobre protagonismo feminino, Resident Evil e Monster Hunter em painel

O principal responsável pelos seis primeiros filmes em live-action de Resident Evil, Paul W. S. Anderson, falou sobre o seu trabalho com a franquia em um painel digital da New York Comic Con, que também contou com um histórico sobre sua carreira e um novo projeto. Quando questionado se Resident Evil 6: O Capítulo Final representou o fim dele e Milla Jovovich com RE, o profissional disse ter feito um ótimo trabalho com arrecadação de 1,2 bilhões de dólares (mais de 6,7 bilhões de reais) e que eles fecharam bem esse ciclo se lançando ao novo desafio com Monster Hunter.

Especificamente sobre Resident Evil, Paul Anderson relembrou aspectos da produção. Em relação a sua visão criativa, ele pontou as diferenças sobre jogos e filmes. Jogadores tem experiências de 30-50 horas de jogo a depender do título, já nos filmes é difícil resumir isso em duas horas. Então, é preciso operar as coisas de maneiras diferentes. Para RE, Paul disse que é bom quando há uma sinergia, no caso, quando os criadores e ele tem o mesmo gosto por filmes da década de 80 – de fato, Resident Evil surgiu meio que inspirado em um jogo que, por sua vez, teve como base um filme, Sweet Home. Então, é como se fazer RE fosse uma homenagem à George Romero e outros diretores de filmes de zumbis dessa época.

Sobre a personagem Alice (Milla Jovovich), Paul contou que haviam outras visões criativas sobre o live-action que tinham passado por mãos de pessoas diferentes, todas elas envolvendo um homem como protagonista. Em um passado não tão distante, havia uma crença de que filmes com mulheres liderando histórias não faziam sucesso. O profissional diz ter se esforçado para ir contra essa maré, seguindo por algo diferente.

Apesar de Alice não estar nos jogos, a força das mulheres que fazem parte dos títulos da Capcom é representada por ela, por isso eles meio que tiveram essa licença dramática em inseri-la em um pequel, que faz meio que parte do mesmo universo ficcional. Alice veio também para que eles não produzissem algo que pudesse ser tão óbvio, com uma adaptação direta com os fãs já sabendo o que ia acontecer ou quem ia morrer, aposta que talvez não funcionasse para o universo do cinemas – e é exatamente essa direção para onde o reboot está sendo levado. Sobre os poderes de Alice, Paul disse ter mantido um limite, com regras, para que não parecesse algo ultrajante para a audiência.

O primeiro filme, Resident Evil: O Hóspede Maldito, é o que Paul Anderson diz acreditar ser o mais imersivo ao universo dos jogos, com cada peça de design de produção estrategicamente colocada para referenciar, como letras, o trem, mas com todo um novo conjunto de personagens, como se fosse um novo jogo da franquia, mas para os cinemas. De fato, tudo funcionou tão bem que até um dos elementos do filme foi incorporado aos jogos. A cena dos lasers, de 2002, entrou em Resident Evil 4, com lançamento original em 2005. Ainda sobre os lasers, Paul contou que tudo funciona bem quando você consegue surpreender a audiência – não é só um feixe de luz assassino qualquer, ele se torna algo imprevisível.

Sobre as trilhas dos filmes, Paul diz que cada um dos seis idealizados possui diferenças e que tudo faz parte de uma construção. No primeiro a trilha dar o ar de casa mal assombrada, já no segundo (Resident Evil 2: Apocalipse) um ar mais expansivo para ação, no terceiro (Resident Evil 3: A Extinção) um pós-apocalíptico na estrada, o quarto (Resident Evil 4: Recomeço) um cerco aos sobreviventes e por aí vai. Resident Evil 5: Retribuição e Resident Evil 6: O Capítulo Final, por exemplo, tem a mesma equipe criativa, mas as diferenças visuais entre um e outro os tornam filmes únicos.

Um dos sons citados é da banda Slipknot. Confira o vídeo oficial de My Plague:

 

Para os fãs mais afoitos, há alguns conteúdos extras que não estavam disponíveis previamente que vão ser lançados junto com uma coleção de blu-rays em 4k dos filmes ainda neste ano. Há cenas a mais de Resident Evil 2: Apocalipse, entre outras.

Monster Hunter

Sobre o novo desafio de Paul W. S. Anderson e Milla Jovovich, é bom que a comunidade saiba que as negociações desse filme em específico já duravam longos 10 anos. Paul contou na entrevista que a Capcom queria alguém que pudesse ter paixão sobre a franquia Monster Hunter e que a companhia sabia que a sua visão para os filmes de Resident Evil tinha ajudado a tornar o jogo de zumbis um dos seus maiores sucessos comerciais. Quando Monster Hunter: World chegou ao mercado, Paul revela que diversos produtores correram atrás da Capcom para tentar surfar nessa onda milionária, mas os direitos já estavam com ele, que apostou no título antes mesmo de um sucesso comercial fora do Japão.

Em relação à Monster Hunter, Paul Anderson conta que o trabalho foi muito próximo com os desenvolvedores da Capcom. Desde as roupas, ao desenvolvimento das criaturas, as paisagens, os machados e todo o processo de fotografia. Tudo era remetido ao Japão com o objetivo de trazer os detalhes dos jogos para o cinema. Sobre o processo de gravação, as cenas foram feitas em localidades da África do Sul e da Namíbia, com a equipe literalmente vivendo sob a realidade do jogo. O trabalho foi feito a quilômetros de distância de cidades, com todo o pessoal permanecendo em tendas, como uma vila criada só para o trabalho com Monster Hunter.

Falando sobre o processo visual, Paul afirma ter valorizado o MUNDO real ao invés da computação gráfica, apesar dos monstro terem que ser criados por meio deste processo. Ele contou ter usado fundo verde somente um dia, com outros dois em um estúdio fechado, e o restante com visões sobre as belas paisagens das regiões das locações. Os atores também tiveram que imergir nesse mundo, permanecendo sob sol quente de dia, e lutando com o frio a noite junto com o restante da produção.

A personagem de Milla Jovovich faz meio que o papel de uma caçadora novata, algo que os jogadores também são nos jogos da franquia Monster Hunter. Sabe quando você cria um personagem do zero, é jogado em um mundo gigante e repleto de criaturas onde tem que aprender a se virar? Mais ou menos essa é a ideia. A personagem dela pode até ter conhecimento de armamentos pesados, mas que não têm efeito nenhum com rathalos e diablos, criaturas do jogo. Os atores Tony Jaa e Ron Perlman serão meio que guias de Milla. Eles já conhecem tudo sobre esse novo mundo e a carregam debaixo do braço para educá-la.

Para Paul Anderson, Monster Hunter traz uma mensagem de cooperativismo, com pessoas que se conhecem, que são de diferentes culturas e se juntam para lutar por um único objetivo. Paul considera que isso é algo que vem se perdendo no mundo real, com pessoas criando barreiras entre tudo e seguindo por conta própria ao invés de cooperar pelo bem de todos. E ah, os Palicos, os gatinhos ajudantes, vão dar o ar da graça nesse live-action.

Mortal Kombat

Paul W. S. Anderson também falou sobre sua experiência com o live-action de Mortal Kombat. Ele disse ter jogado bastante os jogos em arcades de Londres e que quando se mudou para Los Angeles ouviu falar que alguém estava buscando a adaptação para os cinemas e procurou se envolver. Uma das primeiras coisas em hollywood sobre filmes baseados em jogos que ele ouviu é que eles não tinham história e que os personagens não tinham potencial. Ele assimilo as críticas, entendeu a mitologia dos jogos e criou a sua visão trazendo o estilo de luta da indústria de filmes chinesa, algo que não se via muito próximo dos anos 2000 no mercado norte-americano.

Por esse motivo, Robin Shou, que fez Liu Kang, e que cresceu com a indústria de Hong Kong, foi escalado. Outro personagem que Paul gosta particularmente é Johnny Cage pelo seu jeito extravagante de ser. Ainda nessa época, o uso de computação gráfica já incomodava o profissional, que afirmou ter tentado trazer as belas paisagens tailandesas às telas e não algo que pudesse ficar ultrapassado com os anos. O monstro Goro é um exemplo do que eles não conseguiram fugir na época.

O primeiro Mortal Kombat foi um verdadeiro sucesso comercial, algo que fez hollywood pedir por um segundo filme, Mortal Kombat 2: A Aniquilação, que não teve participação ativa de Paul Anderson. Ele contou não ter participado pela sua pouca experiência e por não conhecer os jogos mais profundamente para essa continuação na época.