Na nova série de artigos “E se?“, o REVIL irá questionar possibilidades e criar teorias sobre eventos que poderiam ter acontecido, e suas consequências na história de Resident Evil e seus personagens.
Aproveitando um questionamento quase que atemporal, tentaremos imaginar um universo alternativo em que o herói Chris Redfield tivesse morrido em Resident Evil 6, e tentaremos responder as perguntas decorrentes das mudanças que esse acontecimento pudesse trazer em diversos aspectos da trama da série.
Era pra ter acontecido?
Quem acompanhou a divulgação de Resident Evil 6 durante o ano de 2012, se lembra que antes mesmo do jogo ser lançado, a campanha de Chris Redfield foi descrita como a jornada de um soldado decadente, cujo o peso dos anos e das diversas mortes e traumas envolvendo o trabalho contra o bioterrorismo está em seus ombros – talvez a hora de parar tivesse chegado.
Não é segredo que os produtores do título viam o parceiro de Chris em RE6, Piers Nivans, como um sucessor espiritual do veterano e que o jogo era a oportunidade perfeita para introduzir o personagem que “pertence(ria) a nova geração de líderes da B.S.A.A.”, de acordo com os mesmos em uma entrevista cedida ao site 411mania durante o desenvolvimento de Resident Evil 6. Essas informações foram o suficiente para, na época, um temor crescer no coração dos fãs, que se perguntavam: “será o fim da linha para o grande Chris Redfield?”; e tudo apontava para o “SIM” – aquele era o desfecho quase ideal para a história de um dos maiores personagens da franquia, mas por falta de colhões e medo de enfrentar uma possível represália por parte dos fãs, a equipe de desenvolvimento resolveu voltar a trás (de acordo com um dos diretores do game, Eichiiro Sasaki, em entrevista para o site IGN), e a história é a que todos conhecemos: Piers se sacrifica para salvar o capitão da B.S.A.A. e todo o resto do mundo em uma das cenas mais emocionantes do game – mas que fizeram muitos jogadores torcerem o nariz para Resident Evil 6, ao contrário do que os desenvolvedores esperavam, enquanto outros fãs suspiravam de alívio.
Apesar dos muitos defeitos, RE6 apresentou um forte apelo emocional em torno de Chris, e no desenrolar da história fica evidente que “a hora de parar” é eminente para o herói; já que o próprio revela que após a missão em Lashiang (China), iria se aposentar e deixar o seu posto de capitão dentro da organização para Piers Nivans – Resident Evil 6 poderia ter sido, de fato, um adeus para Chris Redfield.
A história de Chris já foi contada
Toda boa história precisa de um começo, um meio e um fim, e todos sabemos que o enredo da franquia tem enfrentado problemas de continuidade e consistência. Um final para a saga de um personagem de longa data na franquia, seria uma boa aposta para finalizar tramas e dar uma nova roupagem para o enredo.Com a morte de Albert Wesker confirmada pela Capcom, um dos maiores arcos de Resident Evil foi finalizado; e com isso, podemos dizer que Chris não tem mais uma motivação maior para continuar atuando como protagonista na franquia. Antes do chorume escorrer pela tela, através dos comentários (o que já é esperado), vamos aos fatos: a Umbrella não existe mais, bem como os planos de Ozwell Spencer; novos vilões e empresas mal intencionadas irão surgir, mas através dos esforços de Chris e seus companheiros, a B.S.A.A. se estabeleceu como a maior organização antibioterrorista do mundo, e o soldado não precisa mais se preocupar em colocar a “mão na massa”, afinal, graças a ele existem muitos pessoas a capacitados para isso; a idade chegou para Chris e como todo ser humano, ele precisa de descanso e em algum momento será a hora de abandonar o campo de batalha.Como a ideia inicial era ter Piers como sucessor do veterano no comando da B.S.A.A. e estabelecer o personagem no coração dos fãs da franquia, é de se prever que a morte de Chris pudesse ter sido benéfica em diversos aspectos. Enquanto Chris demonstra cansaço e abatimento de tantos conflitos e abalos por causa da luta contra o bioterrorismo, Piers exala jovialidade e vitalidade necessários para continuar a batalha contra armas biológicas e levar consigo todo o legado do herói de forma veemente e honrosa.
Novas oportunidades
Se Chris tivesse morrido em Resident Evil 6, muitas oportunidades surgiriam e novas histórias poderiam ser contadas. Ao sair de cena, Chris abriria espaços para outros personagens entrarem em foco, seus problemas pessoais e potenciais inimigos também poderiam ser abordados – trazendo um frescor necessário à franquia.
Como novo capitão da B.S.A.A., Piers enfrentaria muitas personalidades malévolas e consequentemente, atrairia a atenção de organizações e vilões – seria a chance da Capcom inserir inimigos com a força de Albert Wesker, na franquia novamente – como foi feito em Resident Evil: Revelations 2 com Alex Wesker e seus planos que deverão ser abordados no futuro (esperamos).
A despedida de Chris poderia também motivar sua irmã, Claire Redfield, a deixar de vez a diplomacia na Terra Save e seguir os passos de seu irmão, se aliando a B.S.A.A. e enfrentando o bioterrorismo de frente, ao lado de Jill, Leon, Sherry, Jake e Piers, caso ele não tivesse morrido. Entretanto, isso poderia culminar na distância cada vez maior do Survival Horror amado pelos fãs, já que, com um elenco de personagens preparados e bem armados, seria difícil ver uma atmosfera de terror bem construída.
Chris continua são e salvo, e vai continuar protagonizando novos títulos da série. Outra pergunta surge: qual o lado bom de Chris continuar em destaque, afinal?
Já que não morreu…
Após o lançamento de Resident Evil HD Remaster, Resident Evil: Revelations 2 e do recente Resident Evil 0 HD Remaster, fica claro o interesse da Capcom em trazer a franquia de volta às origens do Survival Horror – muitos rumores apontam que Resident Evil 7 poderá seguir o gênero. Como Resident Evil 6 não foi bem recebido, foi um fracasso comercial, e muitos fãs não gostaram das novidades que ele trouxe, como Jake Muller e os vilões Carla Radames e Derek Simmons, é de se esperar que a empresa se distancie cada vez mais daquilo que os jogadores não gostaram no último título numerado. Caso Chris tivesse morrido, Piers estaria no comando; mas como muitos fãs querem um título voltado para o terror, muito provavelmente não teríamos protagonistas guerrilheiros, como é o caso de Piers, Jill e Jake. A substituição de Chris por um personagem que não “combina” com o gênero colaboraria para a criação e retorno de personagens despreparados, como Moira Burton, por exemplo. Todos esses fatores colaborariam para o encorajamento da Capcom em deixar os antigos personagens cada vez mais de lado, para dar atenção a rumos totalmente diferentes à franquia, o que talvez, se bem executado, não seria tão ruim.
Mas é de comum senso que não seria nada legal ver a franquia voltar às origens sem seus personagens que a estabeleceram como uma das precursoras no gênero.
Chris motivado a lutar após a morte de Piers, garante a aparição do mesmo em futuros jogos, assim como o foco contínuo na B.S.A.A., Jill Valentine, e pitadas de ação, que muitos fãs também gostam – mas uma hora todos deverão dar adeus, inclusive personagens “rostos da franquia” *cof cof* Jill e Leon *cof cof*.
O caminho mais fácil
A morte de Chris certamente traria muitas reclamações, assim como foi com a morte de Albert Wesker que gera muitos “mimimis” até hoje. Basicamente, por falta de coragem, a Capcom decidiu apostar em estratégias já conhecidas e manjadas, ao invés de arriscar e surpreender os fãs com algo que poderia renovar a fórmula da franquia, e possivelmente, conseguir se libertar da ausência de criatividade que paira sobre os novos lançamentos, que tentam tirar “leite de pedra”, através de acontecimentos pouco inéditos e personagens sem muito motivo aparente para estarem ali, além do fanservice que garante o interesse dos fãs.
Antes que pensem que quem vos escreve não gosta do personagem, não se enganem; Chris é meu personagem preferido, e eu reconheço que sua despedida da franquia, poderia sim, ser saudável para a progressão da história de Resident Evil, por mais doloroso que isso fosse.
O fato de Piers ter sido um personagem promissor, sem dúvida, é o elemento que causa tanta frustração acerca da sua morte em Resident Evil 6. Ele tinha tudo para ser um novo rosto na franquia, que honraria com louvor todos os esforços de Chris Redfield contra o bioterrorismo.Certamente a decisão dos produtores em não matar Chris em Resident Evil 6 foi influenciada por essa pressão imposta pelos jogadores, que por medo de desapegar, acabam por tirar a liberdade criativa dos desenvolvedores. O que poderia surpreender e inovar, acaba por ser mais do mesmo, pelo simples medo de rejeição por parte dos fãs, que deveriam treinar o desapego e estarem receptivos a renovação conveniente da franquia.
O texto acima representa a opinião do autor do artigo, e não do REVIL como um todo.