Análise – Dead Space (2008) – PC

Certamente 2008 foi um ano estupendo para o mundo dos games, visto que neste longínquo período foram lançados jogos como Metal Gear Solid 4, Fallout 3, Devil May Cry 4, Silent Hill: Homecoming e, finalmente, o temível Dead Space (2008).

O anúncio de Dead Space com certeza marcou as pessoas de forma geral, naquela época, haja vista a temática de terror no espaço fazendo alguns o denominarem como “Resident Evil no Espaço”. Uma coisa que realmente achei genial na época foi o HUD, mais precisamente o local em que se mostra a saúde do personagem, ou seja, em suas costas. Fora isto, eu dizia para mim mesmo que jamais jogaria Dead Space, pois tinha muito medo. Detalhe: eu tinha 13 anos na época.

Outra minúcia formidável nas propagandas do jogo é a icônica música “Brilha, Brilha, Estrelinha”, que combinou perfeitamente com a ideia do jogo, basta ver o final da letra:

“Como sua faísca brilhante e pequena,
Ilumina o viajante na escuridão,
Embora eu não saiba o que você é,
Brilha, Brilha, Estrelinha”.

Já fico arrepiado só de lembrar da canção. Além disso, Dead Space aborda um aspecto interessantíssimo: o medo do desconhecido, afinal naquela época tudo era novidade! Ninguém sabia o que é um necromorfo ou o que de fato aconteceu naquela espaçonave. Dito isto, o game concretiza muito bem as palavras do famoso autor H. P. Lovecraft: “a emoção mais antiga e mais forte do homem é o medo. E o medo mais antigo e mais forte é o medo do desconhecido”.

Diante da recriação do primeiro Dead Space, lançada no início deste ano (2023), torna-se necessário analisar o jogo original para compreender como tudo começou. Para alguns, o remake é desnecessário – contudo, evidentemente o mercado dos jogos está bastante focado em recriar games antigos e consagrados.

Pois bem, analisemos este clássico da indústria por partes a começar pelo enredo.

A FRONTEIRA FINAL

A trama sempre foi algo que me chamou atenção em inúmeros games, um fascínio que nasceu devido a saga Resident Evil. Impossível não ficar intrigado com os vários documentos que esclarecem diversos acontecimentos do jogo, especialmente eventos dos bastidores que justificam porque diabos tais coisas ocorrem em seu desenrolar. Com Dead Space não foi diferente, pois a história é um ponto forte, haja vista os mistérios que existem.

O game começa com um vídeo de uma mulher dizendo que queria poder falar com Isaac e que alguma coisa estranha está acontecendo em algum lugar. Este vídeo é uma mensagem de Nicole Brennan, uma médica e namorada do protagonista Isaac Clarke, a qual está desaparecida. Ela estava a bordo da grande espaçonave de mineração chamada USG Ishimura, que por alguma razão enigmática está incomunicável e parada na órbita do planeta Aegis VII.

Diante disto, Isaac Clarke, um engenheiro espacial, Kendra Daniels, uma especialista em computadores, Zach Hammond, chefe de segurança e comandante, e os pilotos Chen e Johnston se encaminham para a Ishimura por meio da USG Kellion com o objetivo de investigar o que aconteceu.

O grupo se aproxima da imensa espaçonave Ishimura, porém, como eles não conseguem desviar de todos os meteoros e destroços vagando pela órbita, a USG Kellion é danificada e faz um pouso forçado dentro da Ishimura. Todos sobrevivem e saem para investigar, mas logo percebem que a espaçonave está completamente inóspita, apesar de alguns sistemas ainda funcionarem. É neste momento que o game enfim começa!

O jogador deve explorar a Ishimura, descobrir o que aconteceu e encontrar Nicole, contudo, como não é segredo para ninguém, a espaçonave está infestada de criaturas brutais e bizarras chamadas necromorfos, as quais atacam com muita violência.

Diante deste caos, Isaac deve sobreviver ao horror, encontrar Nicole e dar um jeito de sair dali!

Dito tudo isto, percebe-se que o enredo do jogo é incrível, muito intrigante e macabro. Existem vários mistérios, inspirações, referências e semelhanças que lembram o Resident Evil original.

Há documentos, diários de voz e diálogos entre personagens que complementam outros aspectos importantíssimos da história, ou seja, é altamente necessário encontrar todos estes itens e lê-los (ou ouvi-los) para ter o entendimento completo da trama e, ainda assim, existem pontos que ficam em aberto. Em outras palavras, o roteiro possui uma estrutura bastante similar com a maioria dos games da saga Resident Evil.

Apesar disto, há alguns pontos que não são bem desenvolvidos e que podem incomodar, como por exemplo não haver um bom aproveitamento dos demais personagens, mas o principal “problema” se dá com o fato de que Isaac não fala em nenhum momento do jogo, mesmo diante de uma revelação ou quando algo macabro acontece. Ele não se assusta com nada! É uma pessoa extraordinariamente inabalável.

É claro que isto era algo comum em jogos desta época, como BioShock e Metro 2033, contudo, hoje em dia é algo esquisito. Como pode Isaac não falar nada? Por que ele não fala nada sobre Nicole? Como ele não se assusta com os necromorfos que aparecem do nada? Por que ele não responde quando é questionado por alguém? Enfim, trata-se de um aspecto que felizmente em Dead Space 2 não existe mais.

Evidentemente o silêncio de Isaac é proposital, pois a ideia é fazer com que o jogador fique imerso no game devido a esta quietude do personagem, pois possivelmente os momentos em que ele falasse poderiam quebrar o clima e fazer com que o jogador se sentisse mais calmo, o que discordo totalmente. Com certeza este silêncio de Isaac poderia ter sido feito de outra forma, haja vista ser muito estranho os outros falarem com ele e não haver uma resposta.

Os atores do jogo são ótimos, então pode ser que o silêncio de Isaac não incomode outras pessoas, mas para mim realmente atrapalhou o desenrolar da história, pois parecia que Isaac não estava realmente inserido no enredo, afinal ele não reage a nada. Considerando outros games do gênero, como as sagas Resident Evil e Silent Hill, não faz sentido o personagem ficar calado o tempo todo.

Enfim, certamente o jogador se surpreenderá com as descobertas e reviravoltas ao longo do jogo, sendo assim, não há dúvidas de que o enredo e a atuação são pontos positivos.

O MEDO DO DESCONHECIDO

Conforme supradito, Dead Space é um jogo de 2008, portanto, atualmente seu gráfico pode ser visto como ultrapassado, mas na época era fenomenal.

Isaac explorará vários cenários, pois a espaçonave Ishimura é gigantesca e possui diversos locais diferentes, alguns mais escuros e aterrorizantes do que outros. Além disso, existem diversos detalhes como sangue, cartazes, luzes de computadores, máquinas futuristas, a roupa de Isaac, dentre outras que enriquecem a parte visual transformando o game numa beleza gráfica intimidante.

Destaca-se principalmente as cenas de morte de Isaac, certamente o que mais chamou atenção na divulgação do jogo, haja vista a brutalidade das criaturas, algo à la Mortal Kombat. Inegavelmente, Dead Space possui cenas bastante fortes e desmembramentos do personagem, portanto, com certeza algo que pode impressionar.

Como se não bastasse a ambientação macabra, a aparência dos necromorfos é horripilante, o que já deixa o jogador ainda mais tenso ao longo do game, afinal, sabe-se lá como será a fisionomia do próximo necromorfo.

Algo deveras fascinante é contemplar o espaço, especialmente o planeta Aegis VII, o qual pode ser visto pelas janelas da Ishimura. Esta formosura cósmica foi um dos fatores que me motivou a jogar Dead Space, afinal, o espaço, a fronteira final, é um tema estimulante e, de certa forma, sinistro.

ELES ESTÃO VINDO…!

Dead Space possui uma jogabilidade incrível e que funciona muito bem até hoje, afinal, evidentemente sua inspiração adveio de Resident Evil 4, porém é mais dinâmica e melhorada.

A movimentação de Isaac não é no famoso “estilo tanque” e sim mais modernizada, sendo possível o personagem caminhar para várias direções, mirar e atirar ao mesmo tempo, carregar a arma enquanto caminha, dentre outras possibilidades que em que se percebe o aprimoramento da jogabilidade se comparada com a de Resident Evil 4.

Trata-se de um game do gênero survival horror com uma visão de terceira pessoa e câmera sobre o ombro do personagem, ou seja, Isaac está em um local hostil, cheio de criaturas horríveis e possui poucos recursos, quais devem ser usados com sabedoria para sobreviver ao horror.

Basicamente, o jogador deve solucionar quebra-cabeças, coletar munição, remédios e outros itens para avançar, usa várias armas de fogo para enfrentar os inimigos e chefes nos quais são os já mencionados necromorfos, monstros bizarros e muito violentos.

Para progredir no game, o jogador deverá usar dinheiro para comprar armas, munição e outras melhorias, e coletar Power Nodes para aprimorar a saúde de Isaac, o dano de uma arma, a duração do oxigênio do seu traje espacial, dentre outras coisas.

Além disso, Isaac possui duas ferramentas de suma importância para sua sobrevivência na Ishimura: o Kinesis e o Stasis. Com eles, o jogador pode, respectivamente, mover objetos e retardar coisas ou inimigos por um tempo limitado.

Dito tudo isto, a jogabilidade é ótima e o avanço no jogo é muito satisfatório, mas vale ressaltar que a movimentação de Isaac é um pouco travada, algo intencional justamente para deixar o jogador mais apreensivo ao enfrentar os necromorfos, haja vista que ele está usando um traje no qual é pesado, portanto, uma forma proposital e genial de dificultar a jogatina. Outro detalhe é que Isaac pode golpear os inimigos e pisoteá-los, uma coisa que é altamente recomendável.

Sendo assim, o combate é um pouco lento e o jogador deve usar todos os recursos a seu dispor para enfrentar os vários tipos de necromorfos, o que obriga o jogador a alterar sua estratégia constantemente, pois existem monstros mais ágeis que outros, então fique bastante esperto, tá? Pois um necromorfo pode aparecer a qualquer momento.

Combinando esta jogabilidade com cenários tenebrosos e criaturas grotescas, é impossível não ficar desesperado jogando Dead Space. A sensação é de solidão completa, de vulnerabilidade, de medo do desconhecido, pois para eliminar de vez um necromorfo é necessário incapacitá-lo, sendo assim, é preciso atirar nas pernas e braços, ou seja, siga à risca a dica que o game lhe dá: “corte os membros”.

E como se não bastasse inimigos perigosos e ferozes neste jogo amedrontador, o ambiente também pode ser fatal, pois, por exemplo, há partes da Ishimura que estão destruídas e não tem oxigênio, sendo necessário Isaac ter um bom estoque deste elemento químico crucial para sua sobrevivência.

Em suma, Dead Space é um jogo com uma série de adversidades que o jogador deverá confrontar para sobreviver. Claramente é um game bastante prazeroso de se jogar, entretanto, ressalto que seu final pode ser complicado. Na batalha final é praticamente impossível acertar o alvo, o que com certeza pode gerar frustração.

Espero que não aconteça com você, mas eu só consegui porque usei o mouse para a mira do Isaac ficar razoavelmente boa, para enfim acertar o alvo. É dose.

TRILHA SONORA E ÁUDIO

A trilha sonora de Dead Space é estupenda, sombria e mais presente em momentos tensos e de combate para gerar mais desespero, pois em grande parte do tempo o game é silencioso, acompanhado de vários efeitos sonoros sinistros e assustadores justamente para criar uma imersão maior.

Aliás, tais efeitos são muito bons e o ideal é jogar com fones de ouvido, isto é claro, se o jogador tiver coragem. O jogador caminha pelas instalações da Ishimura e escuta sons de coisas caindo, de repente vozes, grunhidos de monstros, barulhos de coisas andando pelas tubulações, ou seja, é uma ambientação completamente apavorante.

As músicas nos momentos de combate geram uma ansiedade indescritível. O lado bom é que quando a música encerra significa que os necromorfos foram todos eliminados… Ou será que não?

ISAAC, NOS FAÇA SER COMPLETOS DE NOVO

Finalizado em 11 horas, Dead Space é um jogo maravilhoso do gênero survival horror, cheio de bizarrices e desespero, portanto, um prato cheio para os amantes de games do gênero como Resident Evil e Silent Hill.

Apesar de algumas falhas aqui e acolá, com certeza um jogo memorável, assustador, instigante e espetacular.

Dead Space (2008) foi originalmente lançado para PC, PlayStation 3 e Xbox 360. É possível acessá-lo mais fácilmente via SteamEA Play (para PC) ou via retrocompatibilidade Xbox (Xbox One ou Xbox Series X|S). Usuários PlayStation só tem acesso a versão no próprio PlayStation 3 (rede fechada) ou por disco compatível no mesmo aparelho.

Dead Space (2008) foi analisado em versão digital para PC adquirida pelo próprio autor.

Colaboraram com a revisão deste conteúdo: Fred Hiro e Ricardo Andretto

Este conteúdo faz parte das Análises REVIL Lab. É uma produção alternativa da Equipe REVIL na seção REVIL Lab.

 

Pontos positivos:
Imersão;
Jogabilidade fluida;
História intrigante.
Pontos negativos:
Comprometimento do enredo em alguns pontos;
Mira impossível no fim do jogo.
9