Esta análise é sobre o jogo Ebenezer and the Invisible World, mas talvez Ebenezer não seja um nome tão comum por aqui. E se eu disser Scrooge? Assim soaria mais familiar? Ebenezer Scrooge é um personagem da obra de Charles Dickens, do livro Um Conto de Natal de 1843.
A história de Scrooge já foi representada em diversas mídias diferentes e talvez a mais famosa seja o filme da Disney de 2009, com Jim Carrey, Gary Oldman e Colin Firth que ganhou o nome de Os Fantasmas de Scrooge aqui no Brasil.
Com desenvolvimento da Orbit Studios e da Play on Worlds, o jogo conta uma história após a redenção de Ebenezer que, agora, passa a ajudar as pessoas de Londres.
Um Conto de Natal
Ebenezer recebe a visita de Eric Fellows, um espírito, que veio pedir ajuda para salvar seu amigo Caspar, o dono de uma fábrica em Londres que visa apenas o lucro, ignorando as mais básicas necessidades de seus funcionários.
Assim como Ebenezer no passado, Caspar também recebeu a visita dos espíritos do Natal Passado, Presente e Futuro, mas diferente do protagonista ele não passou a buscar um caminho de redenção, muito pelo contrário, tendo um vislumbre do seu futuro, ficou ainda mais obcecado em atingir seu objetivo.
Como Ebenezer é o único que consegue ver e interagir com os espíritos, apenas ele pode ajudar Caspar e as pessoas de Londres.
Com uma história morna, mas aceitável considerando que se baseia em um uma história natalina, Ebenezer entrega algo até que satisfatório. Cada personagem que encontramos precisa de alguma coisa e tem uma história a contar, para se contextualizar.
Ver como os espíritos querem ajudar o mundo mortal, mas não podem fazer isso diretamente ou como eles viveram antes, também é interessante, às vezes mais até do que o objetivo principal e o próprio Caspar.
Se frustrando em uma Londres Vitoriana
Ebenezer and The Invisible World é um metroidvania simples, mas que agrada em alguns aspectos. Sobretudo, infelizmente, seus defeitos se sobressaem perante seus pontos positivos. Apesar de não trazer inovações, sua proposta é bem feita, na medida do possível. Traz armas e habilidades bem satisfatórias e interessantes que funcionam na proposta do jogo.
O que estraga em muito a experiência com o título são os por menores que acabam virando “por maiores” de tanto que existem. Muitos bugs, e pequenos “defeitos” na jogabilidade que mais frustram o jogador do que o divertem.
Um dos maiores problemas que enfrentei foi me adaptar à esquiva. Diferente da maioria dos jogos, ela não funciona na direção em que está “apontando” o personagem, e sim ao contrário. O que é bem confuso no início e problemático, causando muitas vezes dano e até a morte desnecessariamente por acabar indo para o lado errado. Durante minha gameplay optei por não usá-la, era bem mais fácil – porém não prático – desviar apenas andando ou pulando dos golpes inimigos.
Outra grande frustração é o jogo não salvar o progresso ao morrer. Você perde praticamente tudo o que fez, dinheiro, mapa desbloqueado, chefes derrotados, itens coletados… a única coisa a ser mantida é algum item chave coletado durante o percurso – pelo menos esses ainda continuam. Provavelmente deve ser o maior defeito do jogo e que mais desmotiva o jogador a prosseguir. Existem salas de salvamento, mas elas não são tão bem localizadas e, ainda que fossem, perder todo seu esforço desbravando o mapa é matador.
Além de tudo isso, também ao morrer, sua arma equipada costuma se desequipar sozinha, voltando para a arma padrão, sendo necessário reequipá-la novamente. Só depois de muitas e muitas vezes reequipando é que ela ficou de fato gravada. O mesmo vale para quando iniciar o jogo, e neste caso, até sua habilidade passiva acaba por não estar equipada mais e, não há vezes suficientes que a deixem equipada ao iniciar o jogo.
Faltam, ainda, marcações de pontos de interesse no mapa para melhor guiar o jogador. Existem várias side quests espalhadas por toda Londres e muitas delas com seus objetivos bem longe de onde as coleta, porém o problema é saber para onde voltar para concluí-las, já que não existe nada no mapa que as aponte.
Outro ponto negativo referente ao mapa são os locais de viagem rápida, poucos e mal localizados. Mesmo usando-os ainda é necessário dar muitas voltas desnecessárias pelo mapa para chegar até o seu objetivo. Além disso, o próprio comando da viagem rápida buga com frequência, com o botão indicado para usá-lo aparecendo, mas ao executá-lo nada acontece. Precisei reiniciar o jogo duas vezes em que isso aconteceu.
Vale ressaltar que Ebenezer and The Invisible World ainda tem outros bugs que atrapalham a jogabilidade e a fluidez. Em certas vezes ele não entende o comando feito pelo jogador e simplesmente não acontece nada. Vivi algumas situações fatais por conta disso. Um pulo que não funcionou, um ataque que não aconteceu e por aí vai. Infelizmente foi algo recorrente durante minha experiência.
Um outro relato que faço é sobre o botão de ataque que simplesmente parou de funcionar, enquanto todos os outros comandos ainda eram reconhecidos. Pensei ser meu controle com defeito, mas ao voltar ao menu do Nintendo Switch vi que era problema com o jogo mesmo. Levou algum tempo para que voltasse a aceitar os comandos, enquanto eu apertava tudo e mudava as armas para ver se tinha algum sucesso. Felizmente esse bug não aconteceu com frequência, mas foi um momento desesperador, já que a última solução seria reiniciar o jogo e perder todo meu progresso.
E por fim, um bug de tela preta. Ao morrer, tudo ficou escuro, não havia mais som e nem imagem. Foi preciso reiniciar mais uma vez o jogo para que voltasse ao normal… apesar de ocorrer apenas uma vez, somado a todos os outros contratempos, é impossível ignorar.
Confesso que também senti falta de um atalho para trocar de armas sem ter que entrar no menu – algo parecido com a troca de espíritos seria muito bem-vindo, por exemplo.
Tudo que experimentei torna a experiência mais traumática do que prazerosa, mesmo que Ebenezer and The Invisible World tenha algum potencial por trás disso tudo.
Fantasmas do presente
É impressionante como a Orbit Studios não decepciona quando o quesito é a parte artística! Gosto muito do visual que o jogo tem, dos cenários e do design dos personagens, das armas e até dos inimigos. A estética de Ebenezer and The Invisible World é muito boa no geral.
É muito bom e legal ter um glossário que conta mais sobre a história dos personagens e dos inimigos. Por ele é possível ficar sabendo mais de diversos personagens e o que aconteceu em vida – e em morte – de nossos aliados e inimigos. Existe um destaque maior para os espíritos que nos ajudam, sejam de forma direta, dando novos poderes e habilidades à Ebenezer, ou de forma passiva. Já a trilha sonora é bem neutra, não impressiona, mas também não decepciona.
O jogo se comporta bem tanto no modo TV quanto no modo portátil. O único defeito do modo portátil são as falas dos personagens ao passarem por Ebenezer, pois os balões ficam quase ilegíveis, com as letras serrilhadas e embasadas, quase não sendo possível ler o que está escrito. Diferente do modo TV, onde os balões e as falas dentro deles são bem grandes e de fácil leitura.
Feliz Natal?
Quando soube que a Orbit Studios estava lançando outro jogo, logo me interessei por ele, principalmente porque recentemente joguei o Haunted House, um outro título deles em parceria com a Atari e que gostei bastante. Mas, infelizmente, não me diverti tanto quanto com Haunted House, sendo inclusive um gênero (Roguelite) que eu não gosto muito, diferente de um Metroidvania que me agrada um pouco mais. Creio que 70% do meu tempo jogando foi de frustração e não diversão com Ebenezer and The Invisible World.
É triste dizer que os pequenos defeitos são superiores aos pontos positivos e que mais desmotivam o jogador a se aprofundar no jogo do que continuar a desbravar ele. Ainda assim, com muita insistência é possível ter alguns momentos interessantes ao jogar. Imagino que algumas correções, principalmente nos bugs, já melhorariam a experiência dos jogadores.
A autora desta análise contou com uma cópia cedida do jogo pelos desenvolvedores.