Análise – Ghost Trick: Phantom Detective – PlayStation 4

Não posso negar, claro, que minha franquia favorita da CAPCOM é Resident Evil, tanto é que estou há anos no REVIL produzindo conteúdos sobre tal universo, porém se fosse escolher uma outra franquia da empresa para ser fã, com certeza, eu escolheria Ace Attorney.

Todos que me conhecem sabem o quanto falo bem da franquia e o quanto a adoro, recomendando para todos jogarem – pelo menos, uma vez na vida.

Por conta disso, obviamente, que Ghost Trick em específico chamaria minha atenção! Com Sun Takumi a frente do desenvolvimento do game, conhecido também por trazer justo a franquia Ace Attorney à vida, vou te contar como está e se vale a pena dar uma chance ao Phantom Detective.

 

Ghost Trick: Phantom Detective foi originalmente lançado para Nintendo DS em 2010. Conta a história do falecido Sissel, o protagonista dessa história macabra. Acordando como um fantasma ao lado de seu corpo já morto, ele se encontra confuso, porém determinado em descobrir o que aconteceu, como morreu e quem o matou. Usando as suas novas habilidades fantasmagóricas, também está ali para ajudar a mulher ruiva misteriosa, chamada Lynne, que está ao lado de seu corpo, e parece ser a nova vítima de seu então desconhecido assassino. Vendo que Lynne é a chave para desvendar o mistério da sua morte e conseguir retornar para seu próprio corpo, Sissel começa sua jornada.

Ao longo de toda a trama de Ghost Trick: Phantom Detective, descobrimos quem é Lynne e o que Sissel tem de ligação com ela. Ambos estão sendo alvos e perseguidos por uma organização. Conhecemos também outros personagens importantes para o que se acredita ser “a noite mais importante” da vida (ou morte) de Sissel.

Não darei mais detalhes do enredo, porque vale descobrir dentro do game e o plot twist é MARAVILHOSO!

“Uma noite escura. Em um canto da cidade, nosso personagem principal perde a vida para uma bala.
Despertando novamente como um espírito, ele percebe ter perdido não só a vida, mas também sua memória.
“Quem sou eu?
Por que me mataram
Quem me matou?
… E qual o significado destes ‘Poderes dos Mortos’ que recebi?”
Amanhã de manhã, este espírito desaparecerá.
Uma história única de caça por pistas começou!
A primeira dessas pistas é uma detetive que parece ter testemunhado o assassinato…”

Controlando o fantasma Sissel

Ghost Trick: Phantom Detective nos coloca no papel de um detetive e, também, salvador de almas, um “herói”. Afinal, o nosso objetivo no game é sempre (sim, sempre) salvar a vida de Lynne, evitando que a mesma seja assassinada e, com isso, descobrir quem você é, quem Sissel é.

No primeiro momento, nos é ensinado os “Ghost Tricks”, ou como o nome já remete, nossos “Poderes dos Mortos” para interagir com objetos e, assim, poder alterar o destino de quem iremos salvar. Mas como fazer isso? Simples: fazer um barulho com o sino da bicicleta, por exemplo, para chamar a atenção do assassino e, com isso, dar uma chance de fuga para Lynne, ou simplesmente soltando a alça que prende uma bola de demolição bem em cima do assassino, matando-o. Temos opções e criatividades para isso.

Porém, nada é tão fácil assim. Sissel, com seus poderes, pode retornar somente quatro minutos antes da morte da pessoa que quer ajudar, dando assim pouco tempo para achar e traçar seu plano “fantasma” para salvar aquela alma. Mas calma, pois se isso não for possível, existe a possibilidade de voltar no começo desses quatro minutos, refazendo todo o cenário e tentando uma nova estratégia para, assim, tentar evitar a morte daquele personagem que precisa ser salvo. Podemos chamar isso de habilidade de voltar no tempo? Claro que podemos ao menos nesses quatro últimos minutos!

Confesso que ver aquela mensagem na tela aparecendo dizendo “Time is Passing” enquanto tentamos traçar uma rota e estratégias é agoniante, ainda mais quando começa uma trilha ainda mais agitada, indicando que o tempo está realmente acabando, aí querido, o desespero toma conta!

Com isso, a gameplay fica, sem dúvida, mais envolvente e totalmente eufórica. Se você é como eu e tem bastante dificuldade de jogar qualquer game que contenha uma contagem regressiva vulgo “self destruction system” de todos os laboratórios da Umbrella, vai sim se desesperar um pouquinho… Mas juro que é uma sensação gostosa quando você descobre o que tem que fazer e como fazer para avançar! Acredite quando eu digo que os puzzles que existem nesse game são extremamente gratificantes de serem realizados principalmente o do chapter 6.

Pode-se dizer que a maioria dos puzzles, ou aqueles mais demorados, remete a uma morte diferente da Lynne, então é nesse momento que iremos pensar mais e ter até menos tempo para salvá-la. Para você que assistiu a franquia de filmes Premonição, pode achar uma analogia interessante aqui: sabemos que se um personagem no filme “pula” a fila da Dona Morte, terá um fim ainda mais improvável e até mesmo surreal, algo muito difícil de acontecer, causando aquela morte inimaginável e difícil de esquecer. É mais ou menos o que acontece aqui no game também: Lynne “pula” a fila da Dona Morte, escapando sempre que possível dela, com a ajuda de Sissel, fazendo com que suas mortes acabem se tornando cada vez mais surreais do jeito de acontece (uma decoração de frango enorme caindo em sua cabeça, por exemplo).

Dona morte exagerou no peso desse frango!

Pronto, foi salva mais uma vida graças ao fantasma! Mas calma que nosso trabalho não termina por aí. Após toda a trama no cenário e evitar mais um assassinato, seja de quem for, Sissel também pode usar mais um de seus poderes fantasmagoricos, porém extremamente importantes para continuar sua investigação.

O game deixa disponível uma espécie de “viagem” para o personagem, onde podemos pular de uma ponto A ao ponto B através da linha telefônica. Com isso, Sissel consegue se transportar através da linha de telefone para o cenário necessário, onde vários personagens dessa história estão se comunicando. Isso torna possível a investigação de cada elemento dessa trama: quem são os mandantes do assassinato de Sissel e Lynne, o que realmente aconteceu para que ambos fossem um alvo mortal e demais contratempos na trama. Ou seja, a linha telefônica é o principal meio de se passar de um cenário para outro e saber bem mais sobre toda a história do game. Em alguns momentos, a linha telefônica também é usada para avançar em alguns puzzles.

Quem aí lembra do telefone com discador manual?

Ghost Trick: Phantom Detective se remete diretamente a Ace Attorney, devido ao seu gênero novel, aqui muito bem representado, onde todas as falas e diálogos do game são colocados em balões de fala, com leituras obrigatórias para entendimento do enredo e até dicas de como prosseguir. Uns acham isso cansativo e totalmente desanimador, porém o game torna os diálogos tão envolventes que fica difícil “skipar” qualquer história que seja relevante para o enredo principal, ou simplesmente uma piada feita pelo protagonista. Aquele jogador que vem de games assim, estilo Ace Attorney, como eu, acha essa essência em específico de games nesse gênero viciantes! O game te deixa tão preso no enredo que está sendo contado que até a famosa interação da “quebra da quarta parede” é realizada aqui com maestria: sério, quando isso acontece, você se arrepia todo!

Ghost Trick: Phantom Detective traz também, com esse gênero visual novel, cenários interativos e detalhados. Isso é extremamente necessário para que Sissel possa usar seus poderes. É muito bom usar todos os itens disponíveis nos cenários, mesmo que eles não alterem em nada seu progresso no game, mas claro, ter ainda mais interações e diálogos engraçados entre os personagens.

Para cada detalhe mega importante e ponto chave para o enredo descoberto pelo jogador, uma trilha mais agitada ou mais tensa começa a ser tocada, envolvendo você ainda mais no game. E para te ajudar a acompanhar todos esses mínimos detalhes descobertos durante a investigação de Sissel, Ghost Trick: Phantom Detective disponibiliza o menu “Record”, onde fica anotado tudo o que precisamos saber, e o que descobrimos até então, de todos os personagens que conversamos a todos os cenários que visitamos. Esse “Record” fica disponível após campanha principal com todas as alterações e memórias realizadas durante a gameplay.

Mencionando aqui, brevemente, que a trilha sonora desse remaster teve uma mudança muito bem-vinda, diminuindo os volumes exagerados das soundtracks do game original e suavizando, mesmo as mais tensas. Sim, uma delícia escutar essas melhoradas trilhas enquanto se está entendendo a história ou simplesmente tentar salvar alguém da morte.

Outra menção que deve ser comentada aqui é que alguns efeitos sonoros do game são idênticos aos que são escutados em Ace Attorney, então é impossível não dizer que os mesmo efeitos foram usados em Ghost Trick: Phantom Detective.

Imagem ilustrativa de quando descobri os mesmo efeitos sonoros do Ace Attorney no Ghost Trick: Phantom Detective

Um detetive fantasma e suas regalias

Esse remaster de Ghost Trick: Phantom Detective, além de trazer melhorias gráficas e de desempenho para o jogo originalmente lançado no Nintendo DS, disponibiliza também uma parte extra para os jogadores desfrutarem, com músicas, ilustrações e desafios.

A parte extra desse remaster fica por conta do menu especial dedicado a mostrar um pouco mais sobre os cenários e músicas do game, como por exemplo a parte de ilustrações do game, adicionando sempre uma nova imagem e mostrando mais dos personagens e cenários ao decorrer da conclusão dos capítulos, incluindo todo o processo de artwork e concept art.

Há também a sessão de músicas, onde é possível liberar e escutar as músicas presentes no game, tanto as remasterizadas quanto as do game original lançado em 2010.

E para quem gosta de continuar jogando, o game libera uma série de quebra-cabeças de formato quadrado para ser resolvida.

Vale a pena virar um detetive fantasma?

Ghost Trick: Phantom Detective é uma ótima chance de se divertir, ainda mais para aqueles que sentem falta de um Ace Attorney novo e esperam notícias da CAPCOM – tirando os ports que teremos, agora, de Apollo Justice e demais games da franquia.

Eu já me arrisco a dizer que podemos chamar o game de sucessor espiritual de Ace Attorney (tá na moda o termo né, vamos aproveitar e usar), pois Ghost Trick: Phantom Detective traz o gênero novel a um novo destaque, com um enredo totalmente envolvente e gameplay fissurante, capaz de te prender horas e horas, seja na história ou nos puzzles, porque vou te contar… Fiquei presa para caramba, mas avancei!

Tudo se assemelha às aventuras de Phoenix Wright, então quem já jogou os games do advogado, vai se encantar com as investigações de Sissel.

Porém, para quem nunca experimentou os games do Ace Attorney e esse gênero novel, vale a recomendação, ainda mais para aqueles que amam uma boa história, um bom plot twist e o momento de investigação.

Para provar tudo isso que eu disse, vai um relato pessoal: nos capítulos finais, eu abri via share do PlayStation para o namorado ver a história e como era o game, já que ele nunca teve contato com o gênero, e claro que acabei fazendo um resumo para ele da história até aquele ponto. Ele adorou todo o enredo construído, mesmo sendo um pouco confuso em algumas horas na explicação – e adorou me ajudar a resolver alguns puzzles. Além do mais, também se divertiu muito nas partes engraçadas que o game possui. E sim, ele me fez esperar até chegar do trabalho para eu jogar o capítulo final rs.

Infelizmente, o ponto mais negativo de toda essa experiência foi a não inclusão do idioma português no remaster. Então, para quem for jogar o game, terá que se dedicar e gostar de ler bastante, ainda mais tendo que traduzir do inglês ou espanhol (ou qualquer outro idioma disponível daquele que tenha mais facilidade de entender).

Aos platinadores/conquistadores de plantão, posso dizer para ir tranquilo em busca do 100% de Ghost Trick: Phantom Detective, pois o game é simples e bem gostoso de se dedicar e pegar todos os troféus/conquistas, precisando somente da dedicação do jogador de rejogar alguns capítulos específicos e fazer alguma tarefa, tanto é que eu consegui platinar para fazer esta análise!

Na minha opinião, a conquista mais chatinha vai ser terminar os três puzzles extras de 5×5 porém quem fez para mim foi o namorado, então tô no lucro.

O remaster de Ghost Trick: Phantom Detective está disponível para PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch e PC (Steam).

Esta análise foi feita com uma chave digital cedida pela Capcom Brasil.

Colaborou com a revisão deste conteúdo: Ricardo Andretto

Pontos Positivos:
Enredo envolvente do início ao fim;
Soundtracks viciantes;
Puzzles muito bem elaborados;
Cenários lindos;
Personagens cativantes.
Pontos Negativos:
Sem legendas em português;
Muitos textos em um idioma diferente [o que não foi um problema específico pra mim, mas pode ser a outro jogador brasileiro];
Não poder separar saves em slots diferentes.
8.5