Toda a comunidade fã de Resident Evil não aguenta mais esperar pelo remake de Resident Evil 2. Diversos jogadores fazendo maratonas do game original para que no dia 25 de janeiro de 2019 estejam prontos para ver o que mudou ou foi incluído na releitura. Só que muitos que não tem a oportunidade nem o tempo de jogar novamente o conteúdo do clássico Resident Evil 2 podem se preparar de um jeito diferente. Nesta analise detalhamos e contamos como é o livro de S.D. Perry, Resident Evil – A Cidade dos Mortos, mais uma adaptação da franquia.
É sempre bom avisar: neste texto há spoilers tanto do livro como de eventos de Resident Evil 2 e, apesar da publicação se “inspirar” no jogo, nada dele é considerado cronológico para a franquia. Então prossiga com isso em mente.
Enredo detalhado
O livro inicia com um prólogo mostrando artigos de jornais de Raccoon City, contando como ficou a rotina da cidade após os ataques na Floresta Arklay entre maio e julho de 1998, onde as duas equipes dos S.T.A.R.S. enfrentaram situações horríveis na Mansão Spencer e no Centro de Treinamento da Umbrella (todos esses enredos anteriores são encontrados nos livros Resident Evil – A Conspiração Umbrella e Resident Evil – Hora Zero), vivenciando os experimentos ilegais da empresa farmacêutica.
Notícias como o fim do S.T.A.R.S, reforços e reformulação da R.P.D. (Departamento de Polícia de Raccoon) e a corrida política para a Prefeitura da cidade eram destaques, até aparecer um novo ataque no parque de Raccoon City.
Seguindo a partir daí, RE – A Cidade dos Mortos se estende por 32 capítulos, todos curtos e precisos com os acontecimentos e enredo vivenciados por muitos jogadores que ficaram horas debruçados em Resident Evil 2.
O primeiro capítulo do livro é um diferencial que junta o enredo das publicações anteriores a esse, RE – A Conspiração Umbrella e Resident Evil – O Incidente de Caliban Cove. Nele, o desespero dos personagens Jill Valentine, Chris Redfield e Barry Burton para sair de Raccoon City é evidenciado, com os três querendo investigar mais a fundo quais são os experimentos da Corporação Umbrella, já que eles vivenciaram tudo na Mansão Spencer. Tudo isso sem levantar nenhuma suspeita em qualquer lugar que eles fossem pela cidade, pois como o S.T.A.R.S. foram dissolvidos e estão sendo procurados por conspiração, todo cuidado é pouco.
Após o trio saber da missão fracassada da equipe de Rebecca Chambers em Caliban Cove, todos estavam tensos com o que os resultados da investigação iria trazer e Jill mostrava um mau pressentimento.
A partir do capítulo 2 até o capítulo 5 do livro, temos a introdução de Resident Evil 2. Leon S. Kennedy se dirige para seu primeiro dia como policial na R.P.D. empolgado com seu novo emprego e pensando nos assassinatos que poderia ajudar a resolver. No mesmo dia, Claire Redfield também parte para a cidade em sua moto atrás de seu irmão, Chris. Ela queria saber se o irmão estava seguro.
Chegando à cidade, os dois têm contato com os primeiros zumbis e são pegos pelo desespero. Logo eles acabam se encontram e decidem ficar juntos, conseguindo um carro e indo em direção a Delegacia da Raccoon, achando ser o local mais seguro.
O capítulo 5 introduz no enredo a Ada Wong, mostrando já quem ela realmente é e qual sua missão em Raccoon, que é conseguir uma amostra do novo trabalho da Umbrella, o G-Vírus.
Nos capítulos 7 até o 11 começa a primeira parte que remete à jogabilidade de Resident Evil 2, com Leon passando pelo loja de armas de Kendo, que já está morto, e Claire já na delegacia de polícia testemunhando o acidente com o helicóptero da delegacia (isso conta para seguir a linha de enredo mostrado no cenário A de Leon e cenário B de Claire).
Personagens como Sherry Birkin, Brian Irons, Marvin Branagh e a filha do então atual Prefeito da cidade, Bervely Harris, aparecem no enredo com breves conversas, recordando mais os diálogos encontrados no jogo original.
No capítulo 12 temos o encontro mais icônico e nostálgico até hoje na franquia, com Ada e Leon no estacionamento da delegacia. Até no livro, a cena é retratada de forma excelente, muito parecida com a presenciada no game original.
Os capítulos 13 e 15 contam com o fator de exploração da delegacia e os personagens enfrentando alguns inimigos, entre eles o Tyrant-103 (popularmente conhecido como Mr. X, apelidado assim no livro pela Claire) e Lickers (conhecidos no livro como Re3) . Vale lembrar que entre esses capítulos também temos o breve encontro com Ben Bertolucci, relembrando o dialogo clássico entre ele, Leon e Ada.
O capítulo 16 é inteiramente de introdução a Annette Birkin no laboratório subterrâneo da Umbrella, pensando e relembrando tudo o que aconteceu antes da epidemia de Raccoon. Tem de tudo, desde a sua pesquisa com o marido dando vida ao G-Vírus e como ela está “louca”, com raiva, e frustrada com a empresa farmacêutica por ter roubado algo tão importante para o casal às consequências da decisão da Umbrella, que causaram a transformação de William Birkin.
Já os capítulos 17 ao 22 ficam novamente por conta da exploração, onde ambos os protagonistas acham a passagem subterrânea da delegacia que dá acesso ao centro de tratamento de esgoto, onde por lá enfrentam as aranhas infectadas, o famoso Baby-G e também o jacaré infectado. Nesse período, também é detalhada mais a cena em que Ada persegue Annette e Leon acaba levando o tiro no lugar da espiã para protegê-la. Também é descrita a cena em que Claire conversa com a pesquisadora sobre os recentes acontecimentos e Sherry.
Os capítulos 23, 24 e 25 já mostra o caminho dos personagens para a entrada e chegada ao laboratório subterrâneo da Umbrella que ficava abaixo da cidade de Raccoon. Nesse momento, Leon enfrenta a segunda mutação de William Birkin, enquanto Claire se encarrega do Tyrant-103. Também temos a ativação do sistema de autodestruição do laboratório feito por Annette.
A verdade para Leon vem à tona no capítulo 26 do livro, quando ele encontra Annette nos laboratórios, onde ela acaba contando para o policial novato que Ada Wong é uma espia.
Do capítulo 27 até o 32 são os momentos finais do enredo de Resident Evil 2, onde Ada conta a verdadeira identidade dela para Leon, como Claire e Sherry enfrentaram e derrotaram o Tyrant-103, como Leon conseguiu dar fim a mais duas mutações de William e como toda a fuga do laboratório subterrâneo da Umbrella foi eletrizante antes da total explosão do local. O final de personagens como Ada, William e Annette prendem o leitor nas últimas paginas do livro.
No epílogo descreve a equipe de Rebecca Chambers, que vivenciou o incidente em Caliban Cove, voltando por perto de Raccoon City para conseguir ajudar Leon, Claire e Sherry a sair da estrada. É evidente, no fim, que todas aquelas pessoas iriam fazer de tudo para mostrar o que era a Corporação Umbrella de verdade, dando um gancho para outro livro de S.D. Perry, Resident Evil – Submundo.
Personagens
Resident Evil – A Cidade dos Mortos retrata os envolvidos na história e muda os personagens de acordo com o que se esperaria no mundo real, como por exemplo alguém que evolui seu modo de agir ou personalidade ao vivenciar ou experimentar algo – aprendendo a lutar ou a se defender, quando preciso, ou aprendendo a lidar com o que é certo ou errado e escolhendo um caminho a seguir.
Leon S. Kennedy, por exemplo, passa de um policial novato para especialista em B.O.W. em apenas uma noite, tudo graças a seu “primeiro dia de trabalho”. Leon evolui bem durante todo o enredo: seu objetivo principal, assim que vê Raccoon tomada por zumbis, é achar um local seguro, procurar possíveis sobreviventes e proteger aqueles que já estão consigo, e isso não muda até o final, tendo que lidar com a situação calmamente, mesmo com seu medo e desespero, fazendo dele um dos melhores protagonistas nesse livro.
Leon sai da sua zona de conforto assim que enfrenta e derrota o Baby G, tendo de superar seu medo, desespero e inexperiência constantes para proteger Ada. Nesse momento, vai se criando um laço totalmente amoroso em que todos os jogadores já estão cientes que acontece durante longos anos de franquia e poxa, até no livro o Leon é trouxa. É notável no livro todo esse carinho que o policial cria em torno da espiã, que mesmo descobrindo a verdadeira identidade da moça, não muda o seu objetivo principal: sair da cidade vivo com ela.
Claire Redfield, outra protagonista nessa incrível história, também tem toda sua personalidade mudada assim que chega à Raccoon City. No começo, ela estava apenas determinada a procurar o seu irmão, que era a sua única família, mas tudo muda e o medo toma conta da moça quando ela começa a encontrar inimigos inimagináveis até então em seu caminho. Assim que conhece Sherry, seu objetivo muda e ela até passa a se esquecer um pouco do irmão, focando somente em manter a garotinha viva e sair da cidade sã e salva com ela.
Mesmo com todo seu desespero em ver os monstros criados pela Corporação Umbrella, Claire se mostra durona e com uma certa experiência em lidar com essas situações sobre pressão.
Sherry Birkin é outra personagem que merece destaque no livro. Mesmo sendo somente uma garotinha de 12 anos de idade, ainda com medo do “bicho papão” que fica andando pela R.P.D., ela passa por cima desse medo “de criança” e se inspira na coragem e determinação de Claire para conseguir encarar toda a situação praticamente como uma adulta. Ela percebe que já teve que passar por isso devido às várias vezes que foi deixada de lado pelos pais cientistas.
Ada Wong tem sua personalidade bem detalhada, destrinchada e mudada conforme o caminhar da história do livro. A espiã fica totalmente focada na missão assim que o surto inicia em Raccoon e tem como única tarefa recuperar uma amostra de G-Vírus para seu contato, Trent, um misterioso personagem novo e exclusivo do universo de livros de S.D. Perry.
Ela muda seu jeito de agir quando conhece Leon e até altera a maneira de trabalho – antes dele, Ada se mostrava capaz de matar um policial na hora, sem hesitação. Só que ela não consegue não ter empatia pelo novato, ficando até mesmo desatenta e não percebendo muitos detalhes em sua volta, o que poderia custar até mesmo a sua vida. Ela, então, acaba por tirar proveito da boa vontade do policial, pensando em como sairia daquela situação sem ter que tomar uma medida drástica contra ele.
Ela faz isso com o pobre Leon durante todo o enredo. Assim que o policial toma um tiro para salvar a vida da espiã, Ada muda completamente e acaba querendo protegê-lo, tentando ao máximo conciliar sua identidade secreta, o carinho que desenvolvia por Leon e o perigo de um trabalho não executado devido toda essa situação.
Outros personagens como Annette Birkin, Brian Irons, Ben Bertolucci e Marvin Branagh também tem suas aparições e emoções destacadas no livro, em pequenas partes em cada capítulo antes de suas mortes.
Brian, por exemplo, tem um grande destaque nos capítulos devido suas loucuras e pensamentos doentios com o surto na cidade e não saber o que houve para que a Umbrella o punisse desse jeito, já que ele fizera tudo que a Corporação desejava.
Annette também é destacada pelo meio e final do livro, onde conta seu desespero, raiva e angustia por tudo que a Umbrella está fazendo-a passar, e se culpando pelo seu maior pecado: não ter sido uma verdadeira mãe para Sherry.
Os mínimos detalhes do horror
Resident Evil – A Cidade dos Mortos vem com um pequeno detalhe que não passa despercebido por muitos fãs da série. Dá para perceber logo no início que a parte cronológica das datas não batem com a que encontramos no jogo (e isso é até avisado em uma pagina anterior ao que o leitor começa o prólogo), mas isso não acaba em nada com a experiência toda que o livro traz.
Outra coisa que dá pra perceber é que a autora mistura tudo o que é visto nos dois cenários de Leon S. Kennedy e Claire Redfield, mesmo parecendo focar na linha do Leon – Cenário A e Claire – Cenário B. O livro não detalha tanto assim os puzzles e cenários como nos livros anteriores da franquia, mas isso também não acaba com a experiência da leitura.
O ponto chave e principal de RE – A Cidade dos Mortos para prender o leitor é como é detalhado cada inimigo presente no enredo, e para quem já jogou Resident Evil 2 sabe como esse detalhamento está perfeito!
A mutação de William Birkin é um excelente exemplo. No livro, é detalhado como o seu corpo reage a cada nível de mutação causado pelo G-Vírus, e até há a descrição dos barulhos de ossos se partindo do corpo do cientista para dar espaço ao monstro que seria criado a partir do vírus (e essa é a parte mais horripilante relatado no livro).
A parte de ação dos Lickers também é bastante detalhada, mostrando como eles se comportam ao serem confrontados pelo medo e desespero de Claire. Outro icônico inimigo bem detalhado no livro é o Tyrant-103, onde Claire relata o quão “sem vida” a criatura é: pele pálida como a morte, olhos brancos quase sem pupila, com um olhar maligno e sem expressões de sentimentos. E não tem como se esquecer do querido jacaré que tanto apavora Leon nesse livro, sendo totalmente relatado pelo personagem nos mínimos detalhes.
Tudo isso, juntando com os zumbis, aranhas e cachorros infectados conseguem levar o leitor diretamente para qualquer cenário do jogo onde essas criaturas são confrontadas. Até mesmo quem nunca tenha jogado o clássico vai se sentir imerso!
Vale a pena?
Resident Evil – A Cidade dos Mortos pode ter uma leitura cansativa, mesmo com a divisão entre diversos capítulos, já que não detalha muito os cenários e explica a real situação de Raccoon, porém o leitor é “fisgado” com a profundidade dos personagens na história. O detalhamento de cada criatura que aparece no caminho no caminho de Leon e Claire também é crucial e deixa tudo muito vibrante.
A minha dica? Jogue o clássico Resident Evil 2 e leia o livro – ou faça a ordem inversa, por que também vale – antes de experimentar a releitura de Resident Evil 2 em 25 de janeiro de 2019.
Lembrando que a versão brasileira do livro conta com uma recomendação de leitura do REVIL.
As cenas de Resident Evil: The Darkside Chronicles utilizadas aqui são somente ilustrativas!
Ficha Técnica
Título original: Resident Evil 3 – City of the Dead
Título brasileiro: Resident Evil – A Cidade dos Mortos
Ano de lançamento: 2012 (Estados Unidos); 2014 (Brasil)
Editora brasileira: Benvirá
Gênero: Ficção; Ficção Cientifica; Terror.
Nota geral: 7,5