Arte: Frank Alcântara

Análise – Resident Evil: Death Island (2ª visão)

Desde de seu anúncio, quando mostrou que juntaria os principais protagonistas da série, Resident Evil: Death Island gerou um misto de desconfiança com empolgação. Afinal, até então não tínhamos tido um grande encontro com todos os personagens de fato, de forma canônica, seja em jogos ou em uma animação. Das últimas vezes que isso aconteceu parcialmente – em Resident Evil 6 e Resident Evil Vendetta (Resident Evil: A Vingança) -, não foi algo que agradou muito aos fãs.

Contextualizando

Death Island se passa em 2015, mas não sem ter um grande peso do passado. O vilão é assombrado pelos dias de horror que passou em Raccoon City ainda como um soldado comum, junto a seus companheiros, tendo de fazer escolhas impossíveis em meio às ordens da Umbrella.

Jill Valentine também é uma das que luta contra seu passado, com o que lhe aconteceu nos eventos de Resident Evil 5, quando Albert Wesker a controlou e a usou em seus planos.

A princípio, a conveniência para que todos se juntem parece boa. Chris Redfield, Jill e Rebecca Chambers investigam novos casos de T-Vírus, mas com vítimas que não foram mordidas para serem infectadas.

Leon S. Kennedy aparece na história e precisa resgatar um cientista traidor que tentou vender suas pesquisas para estrangeiros, mas acabou sequestrado no processo. Caso suas descobertas caiam em mãos erradas, poderia ser de extremo perigo aos Estados Unidos.

Claire Redfield, que também se une à Death Island, investiga um estranho caso de uma Orca morta, que acabou indo parar em uma praia. Longe de ter sido por causas naturais, ela encontra vestígios de T-Vírus nos ferimentos da baleia.

Tudo leva nossos heróis à ilha de Alcatraz, localizada em São Francisco. Um ponto turístico, mas que já foi uma base militar e posteriormente uma prisão. Como passeios são frequentes no local, não foi difícil os personagens se infiltrarem para investigar. A partir daí todo o resto se desenrola até o final do filme com a antiga prisão como cenário principal.

Trabalho em equipe e muita ação

Já adianto que é muito satisfatório ver todos os nossos lindos reunidos! Colocar Jill, Leon, Claire, Chris e Rebeccafaltou só a Ada – pra trabalhar juntos foi muito bom de se ver. Fazia tempo que a série precisava disso e finalmente acharam um caminho pra fazer.

A ação e as cenas de confrontos com os inimigos são excelentes. Ainda que contem com o exagero comum já marcante da série, não possuem aquelas firulas chamativas e absurdas como as vistas em Vendetta, o que torna extremamente gratificante ver todos juntos em ação de um modo mais coerente, mais pé no chão.

A animação conta com um bom ritmo, apesar do enredo em si ser bem fraco, pois é apenas uma desculpa conveniente para juntar os heróis. O foco com certeza está no trabalho em equipe e nas cenas de ação muito bem coreografadas, deixando o espectador bem animado.

O entrosamento dos personagens também é bem legal de ver, afinal, a grande maioria ali já se conhece – mesmo Jill e Leon que nunca trabalharam juntos sabem um sobre o outro -, deixando as relações todas mais fluídas.

Mesmo com todos em cena juntos, as partes de ação ficaram realmente equilibradas. Um não sobressai o outro, com todos tendo seu momento, sua vez para brilhar.

Uma história fraca

Como já mencionado, a princípio a história parece que é interessante, mas infelizmente não é. Não tem grandes profundidades, consequências, ou mesmo um vilão interessante com um propósito convincente.

Todo o roteiro não passa de grandes conveniências preguiçosas para juntar todo mundo. Entendo que em cerca de 1h30 não é possível criar algo extraordinário para 5 protagonistas de uma vez, mas com toda certeza se esforçaram ao mínimo pra isso.

Meus elogios à ação do longa são genuínos, mas Resident Evil: Death Island só se sustenta nisso, com todo o resto nisso mesmo, sendo resto – nada muito memorável fora das cenas de ação.

Infelizmente não é de hoje e menos ainda nas animações que temos vilões rasos, fracos e com motivações bem ruinzinhas, daquelas que você não compra nem querendo muito. Mesmo nos jogos não é difícil ver isso. Vilões de apenas um jogo / filme que não agregam em nada e são apenas uma desculpa para os heróis estarem onde estão. Talvez com exceção recente da Mãe Miranda em Resident Evil Village, que foi uma excelente vilã de apenas um jogo, com uma história e propósitos muito bons.

Dylan é mais um desses vilões meia boca. Quer que o mundo pague pelas coisas que lhe aconteceram e, depois de tantos anos, finalmente conseguiu os meios para isso. O problema é que ele é um personagem complementarmente esquecível. Até Arias, em Vendetta, era alguém menos desinteressante que Dylan.

Além da motivação fraca, temos um personagem fraco de modo geral. Ele não é cativante e interessante em momento algum. Creio ser um dos vilões mais desinteressantes já visto na franquia de modo geral.

Não só Dylan, como a história em si é bem qualquer coisa, além de usarem exatamente o mesmo modelo de Resident Evil 3 para Jill – nem a roupa se deram ao trabalho de trocar. Isso sem contar o fato de que não a envelheceram, e até mesmo Claire parece muito nova, diferente de sua aparição em Resident Evil Revelations 2 ou no mangá Heavenly Island, onde ela já está mais madura.

Mais uma prova do roteiro preguiçoso é a volta de Maria, uma das criações de Arias em Vendetta. Nem ao menos criaram um novo capanga para Dylan, uma vez que usaram a própria Maria com uma conveniência bem medíocre pra colocá-la como ajudante do novo vilão. E apesar de boas cenas de luta com Leon, ela também é uma personagem tão esquecível quanto Dylan, ou quanto ela foi em Vendetta.

Felizmente, uma coisa boa deste enredo é a prioridade que Jill recebe e é inegável que ela é o foco principal da animação! Apesar de achar que Rebecca e Claire acabam um pouco apagadas em alguns momentos, principalmente os que não envolvem as cenas de ação, ainda assim cada um tem sua vez, e em todas as cenas em que Jill aparece, ela rouba a atenção – e convenhamos, é mais que merecido todo esse foco que ela recebe.

Por fim, queria ressaltar alguns detalhes que me incomodaram bem mais do que a história – ela pode ser relevada em alguns pontos facilmente.

Nos jogos vemos os personagens se machucarem após quedas, brigas com inimigos e afins, mas faltou essas consequências físicas em diversas partes na animação, principalmente nas cenas protagonizadas por Leon. Em suas lutas com Maria, por exemplo, esperava ao menos um supercílio aberto, um cortezinho que fosse na bochecha, mas ele sai intacto com sequer o cabelo ficando desarrumado. Não só ele, pois isso vale pra todos.

Já em outros momentos, em contrapartida, se preocuparam com os detalhes, como fazer os personagens protegerem os ouvidos mediante explosões e tiros.

Ilha da Morte

Apesar de minhas fortes críticas ao enredo, Resident Evil: Death Island foi um filme que me divertiu e animou demais. Pode haver uma passadinha de pano sem julgamentos a ele.

O fato de trazerem Jill Valentine de volta aos holofotes, um lugar que nunca deveriam ter a tirado por sinal, é o ponto alto da animação. Ela tem todo seu protagonismo de volta, até se sobressaindo um pouco sobre os outros. Isso de forma alguma apaga a importância e a alegria de ver os outros personagens juntos.

Impossível ser perfeito, sabemos disso, mas após Vendetta – e até Resident Evil: No Escuro Absoluto -, Death Island é uma redenção e tanto.

Colaborou com a revisão deste conteúdo: Ricardo Andretto

Pontos positivos:
Principais protagonista juntos;
Jill de volta e em foco;
Excelentes cenas de ação.
Pontos negativos:
História fraca e preguiçosa;
Falta de atenção a alguns detalhes básicos.
8