Análise – Tormented Souls (PC e PlayStation 5)

Já ouviram falar do Tormented Souls? Esse jogo indie, lançado no dia 27 de agosto, desenvolvido pela Dual Effect, Abstract Digital e distribuído pela PQube Limited tem forte inspiração em Resident Evil e em outras franquias primas do gênero survival horror como Silent Hill, Alone in the Dark e Fatal Frame, com jogabilidade em modo tank e a vibe de sobrevivência ao terror dos clássicos da década de 90 e início dos anos 2000 (tempos de ouro do Playstation 1 e do Playstation 2).

Aqui eu e o Fred Hiro analisamos as versões de PC (Steam) e PlayStation 5. A minha análise (PC) é desenvolvida em 3 perspectivas: técnica, jogabilidade e impressões sobre o game. Logo em seguida, Fred faz as suas considerações. Boa leitura!

OBSERVAÇÃO: Ao longo desta análise descrevemos alguns bugs, mas é importante avisar que foram lançados vários patches de correção. Iniciamos as nossas experiências a partir de uma primeira versão disponibilizada do jogo, gentilmente cedida pela PQube Limited que, aliás, foi muito gentil e solícita conosco. O primeiro patch de correção liberado apagou o save que estávamos usando para a análise (tanto o meu quanto o do Fred Hiro no PS5) e, já na oportunidade, foram notadas algumas melhorias. É bom que fique registrado os nossos parabéns ao empenho da PQube em ouvir o feedback dos jogadores em seus fóruns, redes sociais e no seu canal do Discord em corrigir os bugs relatados o mais rápido possível e, assim, entregar a melhor experiência.

Tormented Souls para PC

Um vintage com roupa nova

Tormented Souls é um survival horror com a roupa dos RE clássicos, ou seja: câmera fixa, modo tank, recursos limitados, puzzles e backtracking (o famoso leva e traz) com gráficos leves, bem feitos e com a jogabilidade mais próxima ao do Fatal Frame, inclusive com as mudanças de câmera durante o caminhar da personagem. O jogo como um todo é cheio de referências às franquias primas, como Silent Hill, Alone in the Dark e Fatal Frame, seja na ambientação, nos inimigos, no uso de itens, nos puzzles disponíveis.

No caso da versão de PC, a que eu analisei, o jogo conta com legendas em português do Brasil (PT-BR), o que proporciona maior imersão à história do game, bem como ajuda no entendimento e na resolução dos puzzles presentes na medida adequada. Falando em puzzles, o jogo não é tão cheio a ponto de deixar o game muito maçante ou de não ter puzzle nenhum, o que tiraria parte do seu desafio.

Aliás, fica aqui o meu elogio a quem traduziu e adaptou o game para o nosso idioma (Greg Strider). Os textos estão muito bem feitos e coesos, mas algumas falhas de sincronização entre legenda e voz da personagem são percebidas como, por exemplo, quando a Caroline (logo mais falaremos dela) diz alguma frase que não tem a legenda em português correspondente, ou seja, tem trecho faltando. Outra situação também aconteceu, onde a legenda até acompanha o diálogo, mas não tem voice acting – só que não é nada que prejudique a jogabilidade ou o entendimento da história, só é importante pontuar.

ATENÇÃO: A primeira versão que rodamos no PS5, por exemplo, não possuía legendas ou qualquer localização em pt-br. A opção de língua só foi incluída após primeiro patch de correção que eu comentei. Um segundo patch foi lançado e corrigiu algumas interações cuja legenda em pt-br estava faltando, até no PC.

Outro ponto positivo é o desempenho do game em si. No meu PC, um notebook gamer de configuração mediana (Processador Intel I5, 7ª geração; Memória de 8GB, DDR4, 2400 MHz; 1T HD, memória cache 8GB; Placa de vídeo NVIDIA® GeForce® GTX 1050 com GDDR5 de 4 GB), e sem alterar as configurações “padrão”, o jogo roda muito bem, sem gargalos, nem queda de quadros. O único “problema” são os loadings entre um ambiente e outro (o famoso carregamento entre as portas), que achei um pouco demorados (isso se comparado com os jogos que tínhamos lá atrás), que tem em média entre 40 segundos e 1’30’’ – às vezes até mais de 2 minutos. Mas, assim como nos jogos clássicos, eu creio que esse demora seja “proposital” para criar um clima de tensão (que, aliás, acontece em alguns momentos) e que é bem comum aos jogos clássicos.

ATENÇÃO: Encontrei alguns trechinhos mais no final do game que dão uma “travadinha” no caminhar da Caroline, que são muito esporádicos para atrapalhar, mas estão lá. Acredito que um novo patch venha a corrigir esses problemas.

Além disso, o jogo não ocupa muito espaço de HD (6GB), o que pode causar a impressão de um jogo curto, mas ele não é. Em uma primeira jogatina, aquela bem completa, lendo todos os arquivos, jogando no seu ritmo, explorando tudo mesmo, eu levei um pouco mais de 13 horas para concluir e fiz a maioria das conquistas disponíveis na Steam. Além disso, o seu motor gráfico entrega uma experiência de survival horror e terror muito gratificante (eu já disse nostálgica, né?).

Ele possui compatibilidade parcial com controles. Eu usei o meu Dualshock 4 e o meu Ipega 9025 que, como a Steam permite, pareou bem com o jogo. Ambos os controles responderam muito bem, mas o Dualshock teve umas falhas de conexão com o bluetooth que o deixavam “maluco” (acho que tem mais relação com a posição entre controle e PC, sem fios, por que quando conectei via cabo não tive problema). Já com o meu outro controle não tive nenhum episódio de falha de conexão ou coisa parecida. Acredito que o jogo responderia bem ao controle do Xbox (como infelizmente não o tenho, não posso fazer esse comparativo).

Os comandos de teclado e mouse também respondem muito bem. Em relação a bugs, não presenciei nada de relevante, somente alguns relacionados com a interação de alguns objetos do cenário que, em tese, são “interagíveis”, mas nada acontece. Não encontrei nenhum outro que afetasse a sua jogabilidade ou o seu desempenho técnico.

ATENÇÃO: Aqui neste trecho eu havia testado a versão antes do primeiro patch de correção. Após o primeiro patch, lançado no dia 27/08, a versão de PC e a de PS5 foram alteradas com ângulos de câmera em algumas salas, adição de inimigos em outras e correção de interação em alguns objetos, incluindo um bug em um dos puzzles no PS5.

A grata surpresa da nostalgia

Pra quem joga e gosta do estilo de terror e survival horror há bastante tempo, como eu, e sente falta de jogos neste estilo do passado de RE e seus parentes dos anos de ouro (década de 90 e início de 2000), o Tormented Souls é uma boa pedida.

A primeira coisa que chama a atenção, logo de cara, é a ambientação e a trilha sonora. Ambas entregam aquela sensação de tensão e desespero que os primeiros REs, o Fatal Frame ou o Silent Hill te davam lá no PS1 e no PS2. O jogo trabalha muito com a escuridão ao seu favor que, aliás, é um dos inimigos neste jogo. Tormented Souls em si é muito escuro, como ocorre com o Silent Hill, por exemplo, e a gente tem que fazer de tudo pra “iluminar” o ambiente (coloquei entre aspas mesmo porque trazer luz para um cenário não significa que o ambiente vai ficar claro – Alô Alan Wake e Alone in the Dark? Temos visitas!) e o isqueiro é o seu aliado fiel nesta empreitada. Você não pode fazer nada, absolutamente nada, isso inclui batalhar com os inimigos se o ambiente estiver escuro, pois ele afeta a sanidade da personagem, além de não poder usar o isqueiro e uma arma AO MESMO TEMPO (pelo menos, a princípio). Achei essa mecânica genial, mas não só ela, como também examinar os itens para descobrir o que são ou para resolver algum puzzle – isso está muito presente e é indispensável.

Por falar em localização, o GPS neste jogo é você mesmo! Explico: o jogo não tem um “menu mapa” pra você se orientar, para saber se já explorou aquele local ou não ou se já destrancou alguma porta ou não. O mapa está presente, mas como um arquivo que você checa no seu inventário, então é recomendado que memorize os ambientes e as rotas porque o mapa que o jogo te dá não ajuda muito. Uma dica é os quadros de aviso que você cruza ao longo do caminho: eles geralmente têm uma cópia do mapa do andar que você se encontra e geralmente vem com aquela marcação “você está aqui”, o que ajuda a se localizar.

Por falar nos arquivos, o game trouxe uma apresentação interessante para eles: eles não ficam listados de forma separada, como acontece em RE ou Alone in the Dark. No menu Arquivo, você coleciona os files “por categoria” (isso também vale para o mapa). Explico: por exemplo, você encontra uma página do diário de alguém, as demais páginas que você encontrar relacionadas a este diário ficarão guardadas no “mesmo livro”, sendo que essas partes são indicadas por marcadores numéricos ao lado direito do livro, como um fichário (confesso que gostei muito dessa apresentação, para alguém que gosta de organização, ver os livros completos dá uma satisfação tão grande).

Outra coisa bacana é o arsenal. A sua pistola é uma pistola DE PREGOS, a espingarda você acha as peças e vai montando e você fica se sentindo o próprio MacGyver. Eu achei essa criatividade genial! Assim, se você vai parar em um hospital abandonado por qualquer motivo, você realmente acha que vai encontrar uma magnum dando sopa? Achei tendência!

Os inimigos? Meus caros, os inimigos… sabe Silent Hill? Sabe o meme do “quando Deus criou…”? Então, o game entornou da fonte do Silent Hill em bizarrice dos inimigos, inclusive você até reconhece de quais numerados ele se inspirou. Eles são muito esquisitos e dão aquela afliçãozinha quando estão por perto. Agora imagine a cena: ambiente escuro, você com o isqueiro, entra em uma sala e escuta o barulho de lâminas batendo no chão… é da alma fugir do corpo, né amiguinho? É esse o clima do jogo inteiro: você não se sente confortável em lugar nenhum e a trilha sonora e de ambiente fazem esse trabalho com maestria.

Com relação aos puzzles, como comentei lá em cima, eles estão presentes na medida certa e em sua maioria são “resolvíveis” logo de cara, mas há aqueles que você precisa ler os arquivos que encontra ao longo do jogo. Agora um ponto muito positivo é a criatividade dos puzzles. Uns são comuns, que você encontraria em qualquer outro survival horror, já outros você percebe a criatividade empreendida na sua concepção e fica extasiado, com aquele sentimento de “poxa, que genial esse puzzle!”.

Outra coisa bacana que você olha o tempo todo durante a sua exploração, são as inúmeras referências das franquias em que os produtores se inspiraram com todo carinho, a começar pela save room e o gravador de voz antigo que é o save point: totalmente inspirado em Resident Evil 7 e você pode ainda contar com algumas observações da personagem depois de certos acontecimentos do game. O jogador também se sente muito à vontade com a mansão que se encontra, totalmente no clima de Resident Evil, com esculturas elegantes, armaduras medievais, portas com fechaduras mirabolantes, mas completamente imerso no clima tenso de Silent Hill. Quanto ao Fatal Frame, franquia da Tecmo que amo, as referências dela estão além do gameplay: tem na história também. Mas aí é o nosso próximo assunto.

Enredo clichê, só que não

Agora finalmente vamos falar um pouco do enredo do game. Em Tormented Souls, estamos na pele de Caroline Walker, uma jovem que recebeu uma carta misteriosa com uma foto de irmãs gêmeas, indo em seguida investigar a Mansão Wildberger. Ao chegar no local, ela é nocauteada por uma figura misteriosa, acorda em um tipo de banheiro, conectada a um monte de equipamentos macabros e percebe que teve o seu olho simplesmente REMOVIDO. A partir daí, ela parte para explorar e investigar a mansão com o objetivo de descobrir o que aconteceu com as meninas da foto que recebera.

Eu não vou dar spoiler do plot do jogo, pois uma das coisas legais dele é ir lendo os arquivos que você encontra que contam um pouco da triste história que aconteceu lá (já que tá em pt-br, isso ajuda muito mesmo a ficar interessado na história), mas posso dizer basicamente duas coisinhas: gêmeas e rituais macabros. Isso te lembrou alguma coisa? Se você se recordou do Fatal Frame 2, você pode ter a noção do quanto a história é interessante, densa e triste. Além de trazer o melhor do Fatal Frame 2, ele também nos brinda com o melhor dos TRÊS primeiros SH, só que o enredo se desenrola de uma maneira completamente inusitada e surpreendente. Eu, particularmente, gostei desta abordagem para história, pois foge um pouco dos clichês dos jogos de terror atuais e resgata uma que fez (e faz) muito sucesso.

O Tormented Souls é um bálsamo para os jogadores das antigas e um convite quase irrecusável para conhecer o que se tem de melhor do gênero Survival Horror e terror dos tempos áureos. Homenageia suas inspirações com muito zelo, cuidado e maestria. Por fim, a minha percepção, apesar de ser um jogo pensado e projetado inicialmente para o PC, e apesar dos problemas que tivemos com patches e saves perdidos, a PQube se mostrou comprometida em entregar a melhor experiência possível, tanto para os PC players quanto para os jogadores dos consoles quando se propôs a portá-los. Ele ainda apresenta alguns pequenos bugs, nenhum que comprometa a experiência nem a jogabilidade, mas logo outro patch deve otimizá-lo ainda mais.

Notas versão PC:

Jogabilidade: 8/10
Gráficos: 9/10
Desempenho: 9/10
Dificuldade: 8/10
Enredo: 9/10

Nota final considerando os quesitos: 8.6

Não considerei, mas os mini-infartos mereciam 10/10.

Ponto fortes:

  • Ambientação;
  • Trilha sonora;
  • Jogabilidade;
  • Criatividades dos Puzzles;
  • Referências às franquias do gênero;
  • Desempenho no PC.

Pontos Fracos:

  • Loadings demorados;
  • Presença de alguns bugs;
  • Dificuldade com o bluetooth com o Dualshock.

Tormented Souls para PS5

Retorno às Origens, por Fred Hiro

No mundo dos videogames, podemos contar com diversos momentos clássicos, seja o Link retirando a Master Sword, a morte de Aeris ou mesmo o primeiro encontro com o zumbi em Resident Evil. Assim como esses momentos foram marcantes para a história dos videogames, o gênero survival horror também foi responsável pela popularização dos consoles e, embora já tenha passado por sua era de ouro, ainda temos diversos jogos de terror lançados a cada ano.

Infelizmente, diversas das franquias que ajudaram a moldar o survival horror acabaram relegadas ao esquecimento e descaso por parte das detentoras de suas propriedades intelectuais. Algumas das séries que perduram até hoje (como é o caso de Resident Evil), tiveram que se reinventar para continuarem relevantes. Por conta disso, muitos jogadores mais saudosos têm um certo apreço pelos jogos clássicos, que contavam com gerenciamento de recursos, foco na exploração e até mesmo as câmeras fixas. Então, se você é uma dessas pessoas, vai poder se deleitar com Tormented Souls, um jogo que, apesar de alguns deslizes, entrega uma experiência clássica para os consoles da nova geração.

Clássico Repaginado

Em Tormented Souls acompanhamos Caroline Walker, uma jovem que após receber uma estranha carta com a foto de duas garotas, passa a ter estranhos pesadelos. Tentando descobrir a causa desses sonhos, ela vai até o endereço da carta, uma antiga mansão transformada em hospital. Porém, ao chegar lá, Caroline é nocauteada e, após acordar, se vê presa em um mundo de horrores inimagináveis.

No jogo, você deve explorar a estranha mansão e tentar descobrir o porquê de estar sendo assombrada pelas visões daquelas garotas e, assim como os clássicos do gênero, há diversos elementos que os fãs saudosistas vão se sentir bem nostálgicos. O jogo conta com câmeras fixas e controle tanque, entretanto, a câmera do jogo é mais dinâmica, muitas vezes acompanhando a protagonista ou fazendo algum movimento de câmera mais complexo (ou cinematográfico). Dessa forma, ela acaba lembrando mais a câmera de jogos como Silent Hill ou Resident Evil CODE: Veronica. E se você não se dá bem com controles tanque, não se preocupe, pois o jogo oferece um sistema de movimentação pelo direcional analógico, assim como os ports de Resident Evil Remake, onde o personagem se move para onde você aponta o direcional.

Logo no início do jogo já temos uma noção de como ele irá funcionar: nós estamos trancados em uma sala e precisamos descobrir como destrancar a porta. Para isso, precisamos explorar o ambiente, encontrar itens, ler documentos e conseguir as informações necessárias para encontrarmos uma solução. É algo simples e eficiente, que já mostra as principais mecânicas do jogo quanto a este aspecto. Mas não se engane, pois se você é uma das pessoas que sentem falta de puzzles mais complicados e de ficar horas batendo a cabeça pra tentar encontrar uma solução, saiba que Tormented Souls tem os puzzles mais difíceis que já encontrei em qualquer survival horror.

Há diversos locais que você não consegue acessar inicialmente, então você terá que explorar o cenário e fazer muito backtracking para ir juntando as pistas e encontrando soluções para poder progredir no jogo. Um ponto forte é que quando você consegue finalmente abrir uma sala nova, você tem uma grande sensação de progresso: seja ver os cenários se interconectando ou mesmo descobrindo a solução de algum problema, todos esses fatores ajudam a sentir como se você estivesse de fato avançando na resolução deste mistério.

A ambientação do jogo é impressionante, contando com cenários e iluminação impecáveis, tão bons quanto os cenários pré-renderizados de outrora. A mansão transformada em hospital com a sua iluminação bem marcada ajuda a criar esse clima de suspense e uma atmosfera opressiva que perdura o jogo inteiro. A iluminação aqui não se dá apenas para fins estéticos, há uma mecânica em Tormented Souls na qual a protagonista não pode ficar no escuro por muito tempo, ou então ela será arrastada para as trevas. Dessa forma, o jogador precisa usar um isqueiro (que felizmente não tem limite de uso) para iluminar os locais. E com certeza você vai querer ver por onde está andando, pois como você já deve ter imaginado, Tormented Souls está repleto de inimigos macabros.

Usar o item agora ou guardar para depois?

Diferente de jogos como Clock Tower, ou até mesmo jogos mais recentes como Outlast, em Tormented Souls você pode se defender e partir para o ataque. Após o primeiro encontro com uma estranha criatura, você encontra um misterioso padre e uma arma de pregos. A arma de pregos funciona como se fosse uma pistola, além dela há outras armas como uma shotgun ou um pé-de-cabra, todas seguindo esse estilo rústico, quase steampunk. Quando você está mirando, pode apertar um botão fazendo com que Caroline dê um salto para trás, tornando-a imune no momento do desvio, algo bem útil considerando que o combate não é o ponto forte do jogo. Infelizmente, os inimigos acabam não reagindo muito bem aos golpes da protagonista, então você não consegue stunnar eles muito bem e não tem uma sensação tão satisfatória ao atirar neles. Como você não pode ficar no escuro por muito tempo, caso Caroline esteja em um ambiente escuro, você precisará iluminar o cenário acendendo velas antes de poder entrar em combate, caso contrário, sua única opção será fugir. Dessa forma, senti falta de um comando rápido para poder alternar entre as armas e o isqueiro.

Assim como nos jogos clássicos, recursos como vida e munição são escassos, por isso você deve pensar muito bem se realmente precisa eliminar aquele inimigo em específico ou se é melhor tentar contorná-lo. O jogo não conta com um sistema de checkpoints, então você precisa salvar manualmente usando rolos de fita nos gravadores nas safe rooms. Algo bem interessante é que, ao salvar o jogo, Caroline irá narrar o seu progresso dependendo do que tiver acontecido na história, explicando o uso dos gravadores dentro deste universo. Outro ponto curioso é que aqui, quando os inimigos são mortos, eles continuam caídos exatamente onde morreram, não importa se você sair da sala e retornar bem depois. Apesar do visual macabro, acredito que os designs dos inimigos acabam sendo meio genéricos, e aqui temos outro ponto negativo do jogo.

Jogo de última geração

Enquanto os cenários e iluminação do jogo são incríveis, os modelos dos personagens são completamente datados. Na primeira cena, a impressão que temos é justamente de um jogo de baixo orçamento, algo que contrasta muito devido ao cuidado que tiveram nesses outros aspectos. Quando encontramos o padre pela primeira vez, parece que estamos vendo um personagem do início da era da sétima geração de consoles, praticamente um homem de borracha. O design da protagonista também parece totalmente deslocado do jogo, lembrando muito mais uma personagem de anime. Isso por si só não seria um problema, porém, o jogo também peca em outro aspecto crucial: a narrativa.

No início do jogo, vemos a protagonista se olhando no espelho e logo então recebe a estranha carta. Após isso já fomos transportados para a mansão, sem qualquer apresentação da protagonista ou de sua personalidade, algo que imaginei que fosse ser melhor apresentado no decorrer do jogo, mas infelizmente não foi o caso. Tormented Souls, assim como em jogos antigos, conta com uma apresentação digna de filme B: diálogos altamente expositivos, personagens completamente alheios ao que está acontecendo e atuações de dar pena. O quanto isso foi proposital eu realmente não sei, mas a obra é completamente aproveitável dentro dessa proposta.

O jogo conta com uma história bem interessante, que apesar de demorar para engrenar, consegue instigar o jogador durante a exploração. Apesar de termos algumas revelações muito óbvias, a trama do jogo é bem construída, pecando apenas na construção de sua narrativa e desenvolvimento dos personagens.

Sobre o jogo no PS5, um ponto que se destaca são os loadings. O jogo conta com o carregamento praticamente instantâneo, longo apenas o suficiente para você poder ler em qual sala está adentrando. Apenas senti falta do uso de recursos do controle Dualsense, como a Resposta Tátil ou o uso dos Gatilhos Adaptáveis, para tirar ainda mais proveito dos recursos do console.

Embora seja um jogo para consoles da atual geração, a apresentação deixa muito a desejar. Mesmo no PS5 há diversos momentos onde ocorrem quedas bruscas de fps e havia tantos bugs que eu fui obrigado a resetar o jogo diversas vezes para conseguir terminá-lo. Aliás, só pude terminar o jogo após o lançamento de um patch, pois um dos puzzles do jogo simplesmente não poderia ser solucionado antes dele. Apesar desses problemas técnicos, o jogo (no estado em que foi feita a análise) está completamente jogável do começo ao fim, e embora você possa sim passar por alguns bugs, não vai ser nada que comprometa sua experiência.

Conclusão

Tormented Souls é um survival horror como há muito tempo não se via. Com foco na exploração e os puzzles mais difíceis que já encontrei, o jogo dá uma experiência de sobrevivência ao terror clássica para os consoles da nova geração. Embora o jogo acabe pecando em alguns pontos, como em sua apresentação, desenvolvimento narrativo e combate, ele é uma ode aos jogos que moldaram o gênero, contando com diversos elementos marcantes que certamente irão agradar aos fãs mais nostálgicos.

Nota versão PS5:

Jogabilidade: 7/10
Gráficos: 7/10
Desempenho: 7/10
Dificuldade: 9 /10
Enredo: 7/10

Nota final considerando os quesitos: 7.4

Pontos Fortes:

  • Exploração;
  • Cenários;
  • Puzzles criativos e inteligentes;
  • Retorno às raízes;
  • História interessante.

Pontos Fracos:

  • Modelos dos personagens e inimigos;
  • Narrativa fraca;
  • Combate tedioso;
  • Protagonista sem carisma.

Tormented Souls é aquele survival horror com terror “raiz”, que vale muito a pena dar uma chance e conhecer. É cheio de nostalgia, referências e muito criativo nos seus mecanismos. Uma grata surpresa para quem curte o gênero!

O jogo foi lançado no dia 27 de agosto para PC (Steam) e Playstation 5. Chegou ao Xbox Series S / X em 7 de setembro. Logo ficará disponível para Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch.

O texto não representa a opinião do REVIL como um todo e sim dos autores da análise.

veredito final
8