Arte: Frank Alcântara

Entrevista com Michel Di Fiori, o Luis Serra de Resident Evil 4

Luis Serra despertou alguns “gatilhos” em muitos entre a comunidade na mais recente versão de Resident Evil 4 (2023). O personagem ganhou uma dublagem brasileira e o REVIL teve a oportunidade de entrevistar Michel Di Fiori, a voz em português do misterioso homem que cruza o caminho e Leon S. Kennedy. Além dele, também já conversamos com Michelle Giudice, a Ashley Graham do Brasil.

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Abaixo você pode ler a transcrição da entrevista, onde algumas leves modificações foram feitas em relação à gravação para um melhor entendimento, mas tudo permanece fiel ao vídeo.

REVIL: Olá! O REVIL gostaria de agradecer por sua participação nesta entrevista. Antes da gente começar… você tem um cigarrinho?

MICHEL DI FIORI: Talvez você não saiba, talvez você não tenha percebido, mas durante Resident Evil 4 Remake, provavelmente ouviu a minha voz. Talvez não brigando diretamente ou pedindo ajuda pra alguém, mas com certeza você deve ter ouvido “eu” pedindo um cigarrinho. Olá, eu sou Michel Di Fiori, ator e dublador e eu dou a voz a Luis Serra em Resident Evil 4 Remake.

Antes de mais nada, queria agradecer a oportunidade de estar aqui falando um pouquinho sobre o jogo Resident Evil 4, um pouquinho sobre a minha carreira, um pouquinho sobre a minha vida. Falar sobre essa conexão que aconteceu ao mesmo tempo e pra mim foi muito importante, e além de tudo muito legal. É uma coisa muito mágica estar envolvido com Resident Evil.

Então, antes de qualquer coisa, muito obrigado a todos vocês que estão aqui gastando um pouquinho do seu tempo para acompanhar essa entrevista e muito obrigado a toda a equipe por ter me convidado para fazer parte desta jornada incrível que é Resident Evil 4 Remake. Vamos lá?

REVIL: Você já conhecia a franquia Resident Evil antes de trabalhar no jogo?

Com certeza já conhecia Resident Evil antes de começar a gravar esse game, que a gente fez agora entre o final do ano passado e começo de 2023. Eu consumo Resident Evil desde Resident Evil 2 Dual Shock na versão do Playstation. Depois que comecei, voltei um pouquinho e joguei o Resident Evil 1, e talvez, tenha tido um pouquinho de atraso pra jogar o Resident Evil CODE: Veronica porque na época ele era um exclusivo do Dreamcast e era um pouco mais difícil e não tinha o video game. Cheguei a jogar na casa de alguém, mas muito pouco. Então, não pude entrar de fato na campanha e só pude jogar mais tarde quando eu tive uma outra plataforma na qual pude realmente jogar este jogo que foi com o Playstation 2, se não me engano.

Mas joguei todos os jogos! Joguei muito Resident Evil 3: Nemesis, joguei Resident Evil Outbreak, Outbreak File 2, joguei alguns spin offs, joguei praticamente todos os jogos dali pra frente que pude comprar e jogar meio que simultâneo.

Então, Sim! Já conhecia Resident Evil, assisti aos filmes, embora ele divide muitas opiniões. Li alguns livros antes mesmo de serem traduzidos, esses que são alternativos à história, e que também englobam bastante coisas. Tenho algumas coisinhas em casa como souvenirs, como amostras do T-Vírus, uma amostrinha de ervas, o frasquinho do F. Aid Spray.
Então sim, eu sou um grande fã da franquia e pra mim estar ali no meio de RE4 remake foi sensacional. Foi uma das coisas mais incríveis que fiz na minha carreira e que traz realmente um grande “UAU” pra dentro desse apoio emocional. Então sim, já conhecia RE amplamente antes de fazer o game RE4.

REVIL: Como foi trabalhar em um título que é considerado por muitos o ápice da franquia e um dos jogos mais importantes na indústria?

Essa oportunidade, essa coisa de estar ali dentro foi muito legal, exatamente por causa dessa conexão que eu já tinha. Então, imagina a possibilidade, né. Claro que a gente foi começando a ver que alguns personagens estavam começando a ser dublados em jogos e RE era uma coisa que a gente sempre quis, né? Uma coisa que chama muito a atenção.

Então, acho que demorou um pouco até pra gente ter essa possibilidade de ouvir e assistir isso dublado dentro de um jogo, embora a gente chame de localização de voz e não de dublagem. Foi muito legal estar ali envolvido nesse processo. Então foi muito bacana mesmo.

Durante as gravações, por exemplo, conforme a gente foi fazendo o jogo, eu ia trocando umas figurinhas em relação a RE4 com o pessoal da produção e tal, porque, algumas vezes, eu estava curioso pra saber se realmente tava dentro do jogo, se ainda não ia ter muita coisa que ainda não estava pronta no jogo, a gente ainda não tinha essa informação. Não sabia exatamente como seria o rosto do personagem.

A gente começou a gravar isso tudo quase simultaneamente ao processo de motion capture dos atores. Então, pouca coisa depois, a gente começa a gravar e já vai adiantando esse processo porque um game é muito rápido. Normalmente ele sai todo junto e a gente fica esperando pra ver.

Então, ficava muito curioso, queria saber (como seria). Que tal elemento do jogo vai estar ali. Tal elemento do jogo vai estar lá de novo? A gente vai ter a presença desse personagem? Isso aqui foi realmente cortado como andam dizendo das possibilidades? Existe esse diálogo especificamente? Então, muita coisa ali eu ficava muito curioso pra saber o que aconteceria mesmo e com a adrenalina a mil.

REVIL: Poderia falar um pouco sobre como surgiu a oportunidade de interpretar o personagem?

Bom… Quando começou a se falar a respeito de que RE4 talvez fosse dublado, a gente ainda tinha um pouco de receio, porque nesse momento ainda não tava confirmado que o jogo realmente sairia, e já tinha sido feita a dublagem do Resident Evil Village. Então, a gente ficou esperando pra saber se isso realmente aconteceria porque os remakes que vieram antes não foram gravados, não foram dublados em português. A gente ficou esperando para ver. Existe realmente a possibilidade real disso acontecer? Isso seria muito legal.

E aí, em determinado momento, ouvi, meio que no ar, uma coisa falando “olha pode ser que o próximo RE remake seja feito”. Puxa! Será? E tal. Ia ser muito bacana. E acho que o estúdio já sabia que era muito fã da franquia porque eu sou meio que um Trophy Hunter, então, eu jogo para conseguir uma platina, conseguir explorar a lei. E eles meio que já sabiam que tinha esse gosto pelo game, né, e aí existiu a possibilidade de ter esse teste.

Quando houve o teste, não fui informado do que seria, mas eu desconfiei. E aí quando fui gravar o game a gente não tem imagem, normalmente são arquivos de voz que a gente ouve e tenta fazer igual, tanto na interpretação quanto no tom de voz. E aí, quando eu fui ouvir, e eu li o texto, vi algumas palavras em espanhol, vi o nome do Leon no meio, eu falei “hum eu acho que eu já sei!”. Nada me foi confirmado porque era um projeto realmente de alto sigilo, mas entendi o quê que era.

A gente meio que ali foi fazendo a jogada e como já conhecia mais ou menos o perfil de como o Luis seria, aliás, como ele foi pelo menos no jogo clássico, tentei trazer uma coisa mais puxada levemente pro cômico mexicando, ao mesmo tempo trazer ele pra uma coisa canastra porque o Luis tem uma coisa muito de ser canastrão. Ele é uma coisa meio diferente dos outros personagens. Ele tem uma coisa suspeita.

E aí, depois de um mês praticamente, o diretor do projeto chegou e me falou “ah acho que tá rolando, hein? então a gente vai poder fazer …”. Eu fiquei naquela ansiedade de será que sim? será que não é? E aí quando saiu a aprovação, realmente foi muito rápido, o processo de, “poxa, saiu a aprovação e a gente começa a gravar isso na semana que vem”.

Eu devo ter gravado o game em mais ou menos 12 horas. Eu devo ter gravado, eu acredito, que em 4 horas durante 3 dias. Pelo processo a gente não tinha muitos elementos ainda, mas já tinha sido revelado como seria o rosto dele, algumas cenas a gente gravou em cima do motion capture, realmente sincronizando o ator que faz o motion capture, o ator André Penha, e em algumas a gente tinha uma leve animação, um sketch do Luis, e a gente foi fazendo em cima, e muita coisa foi feita só em cima do áudio. O resultado foi isso que vocês acompanharam.

REVIL: Luis é um personagem que ganhou maior destaque em RE4R e se tornou muito popular entre os fãs. Você acha que há algo em particular sobre o personagem que o torna tão amado?

Eu acho que o fato de o Luis ser tão popular é porque o Luis é popular. Ele tem uma espécie de comunicação com as pessoas que até então a gente não sabe exatamente qual é, o quê que ele realmente faz dentro daquele cenário, como se ele fosse uma pessoa da rua, como se ele fosse uma pessoa que tá ali perdida também, né? Que vivia ali sem saber muito bem quais são os envolvimentos das coisas que estão acontecendo, o quê a gente jogando entende que não é bem assim.

Mas o Luis tem uma linguagem mais popular, o Luis ele fala de um jeito que você ouviria num bar. É aquela pessoa que chegaria em você sem qualquer tipo de frescura e conversaria e traria um assunto bom, ou não útil, ou não, mas que daria pra ter uma conversa. Então eu acho que é bem isso, o Luis é bem aquele cara de porta de bar, que acende um cigarro, toma uma cerveja, daqui a pouco quando vê, você tá num churrasco junto com ele.

E eu acho ótimo que ele tenha recebido esse destaque no jogo, né, não só porque eu tive mais participação do que eu teria se fosse parecido com a versão clássica, mas porquê o Luis é um personagem muito carismático, embora o Leon não goste dele, tenha essa coisa de ter uma resistência porque ele tem um pouco dessa coisa de piada de “Tiozão do Pavê”, o Luis tem uma sensibilidade honesta e a gente meio que vai na onda dele.

Acho que isso faz parte da construção e acho que é por isso que o Luis é um personagem tão amado. Eu agora nutro um carinho absurdo por ele, além dele falar em português com a minha voz, é um personagem que eu acho muito carismático, acho muito bacana e com certeza ele é muito querido.

Eu tenho certeza que muita gente ia querer ver ele por mais muitos outros títulos por aí e eu acho que seria muito legal se isso acontecesse, né? Mas aí vai ter que jogar o jogo, Vocês sabem o quê acontece…

REVIL: Afinal, é Luis Sera ou Luis Serra?

Tá aí uma pergunta que eu não vou saber responder. Luis Sera ou Luis Serra? E vou explicar do meu ponto de vista. Pra mim seria Luis Sera, né? Pelo menos foi assim que aprendi o nome dele lá em 2004, lá no começo dos anos 2000, quando jogava Resident Evil 4 versão clássica. Porém, o Luis, ele é da região de um sotaque mais espanhol. E quando eu vou falar esse “Sera” ele vem com um R mais marcadinho. Talvez isso soe como “Sera”, né, e aí pareça mais com “Serra” para o ouvido dos outros. Pra mim sempre vai ser Luis Sera, com um R só e com esse R puxadinho que dá todo um charme canastrão e que faz todo o sucesso com as mulheres. Luis Sera pra mim.

REVIL: Você tem alguma característica em comum com Luis?

Talvez eu tenha alguma característica do Luis. Não Sei. Me vesti muito de Luis pra poder gravar o Luis. Mas eu acho que uma coisa que eu tenho muito parecida com o ele é que normalmente quando as pessoas olham pra mim, elas tem uma visão completamente equivocada daquilo que eu realmente sou.

Muita gente tem medo de mim porque normalmente tenho uma postura mais fechada. Mas eu tento ser um pouco mais engraçado com as pessoas. Eu consigo ou tento trazer um pouco da humanidade às pessoas. Eu acho isso muito interessante. Eu não sei se eu consigo sempre, pois nem todo mundo enxerga dessa forma. Mas sou do povo, assim como o Luis é. E acho que essa é a característica mais próxima que a gente tem junto. Não sei se já produzi alguma arma biológica, não sei se eu… não sei. Mas acho que “ser do povo” é uma coisa que me conecta bastante com o Luis.

REVIL: O quanto de trabalho do dublador americano e da dublagem original do jogo impactou na sua versão de Luis?

O trabalho original foi feito originalmente ali, embora nós tenhamos gravado isso já na versão em cima do mo-cap, então, é a dublagem, a versão de criação do Luis foi a minha única grande referência pra gente construir.
Mas vou explicar o porquê. Uma vez que tenha sido mudado o Luis daquilo que foi pensado no primeiro RE4 pro RE Remake, o que eu conseguia trazer dali, a informação que a gente de fato tinha, era o que estava sendo feito em cima das cenas novas, das cenas antigas e dos diálogos sendo construídos.

Então o meu trabalho em cima do André Pena, que fez a voz no inglês, e toda a animação facial e vocal eram as minhas referências em 100%. Então muito do que tá ali, e vou dizer que talvez 98% da construção daquele personagem sendo feito ali, com certeza foi a minha maior referência. Foi onde fiquei completamente na dica, então, “putz, ele fez assim, assim e assim, pausando as palavras aqui, aqui e aqui e falando desse jeito”. É ali que eu ia. Porque o jogo precisa ser muito fiel em todas as versões.

Então a minha criação, a minha colaboração artística entrou com a minha voz, ela entra com a minha característica, entra com a fala sendo traduzida para o português, mas a concepção do personagem já estava ali. Então eu preciso seguir aquele personagem que já está ali para que isso fique realmente legal em todos os idiomas.

E o André fez um trabalho maravilhoso como Luis. Eu acho que ele construiu essa questão assim de trazer essa simpatia que eu tanto falo do Luis, e ao mesmo tempo trazer o mistério e o deboche. Aí eu fui em cima do trabalho dele e espero que as pessoas tenham gostado bastante e que a gente tenha sido muito fiel aos dois Luis.

Na verdade é um Luis só, mas nas duas versões em que o Luis fala. Eu acho que eu não teria pra onde ir, basicamente gravando com um tempo tão apertado assim, se eu não tivesse essa construção e essa disponibilidade do André pra fazer esse trabalho, como ele aconteceu.

REVIL: Visto que você tem uma carreira com dublagem em mídias variadas, existe algum desafio na dublagem que seja específico do mundo dos games?

Quando a gente fala de dublagem, principalmente de games, como eu disse no começo, a gente não fala exatamente dublagem porque a gente não está dublando em cima de alguma coisa embora esteja. É um pouco complicado. Mas a gente tem bem menos imagens e referências para poder fazer o trabalho, que neste game especificamente a gente até teve um material legal, diferenciado, que ajudou bastante. Mas a gente faz um trabalho em cima da localização de voz.

Normalmente é assim com os games e em 90% dos casos a gente só tem a referência de áudio e da situação de onde aquilo está sendo aplicado. Por exemplo: “durante uma briga de rua” então a gente tem que entender que tem aquela tensão. Vem normalmente essa referência, e um arquivo do personagem falando: “Todos pra rua de cima”, e aí você tem que entender que aquilo vem dentro de um tom, dentro de uma briga, e como eu colocaria isso. Então, se eu tô correndo eu tenho que trazer isso, tá rolando uma briga, eu tenho que trazer essa tensão e tenho o tempo de fala e a interpretação que foi feita no original, que é o que normalmente possibilita alguma coisa. “Corram pra rua de cima!”. E aí a gente vai dosando isso, né?

Gravar a localização de um game é muito mais complicado porque a gente tem muito menos referências. A gente meio que faz uma coisa no escuro. É uma sensação de ir gravar, mas sem saber o quê. Muitos personagens a gente acaba sabendo o nome e o rosto somente depois que ele é lançado. Isso é muito comum quando a gente grava o jogo. Às vezes traz a sensação pra gente de, “puxa, poderia ter feito isso aqui um pouquinho mais diferente porque dá pra perceber que quando ele tá mentindo dá pra perceber que a sobrancelha dele mexe um pouquinho” e aí você trás um pouquinho mais de ironia.

Esse processo é bem mais complicado da gente conseguir entender. Mas ao mesmo tempo é um processo que faz parte do nosso trabalho como ator de voz. É parecido, porém não é dublagem e pode acontecer de ter dublagem, porém é um outro trabalho como ator de voz. E essa coisa de ter menos informação às vezes, pra gente, complica um pouco mais em relação à dublagem que o projeto tá feito, a gente tem ali o rosto, a gente consegue seguir exatamente o quê tá sendo colocado ali na frente.

REVIL: Existe alguma diferença na sua forma de abordar personagens nas produções que envolvem jogos? Ou adota o mesmo processo independente da mídia?

A abordagem faz parte dessa coisa que eu falei antes, da gente realmente não ter nenhuma informação. Não existe um preparo, não somos avisados. A gente não tem material de estudo para isso. O quê a gente tem é entrar no estúdio, e ouvir basicamente e construir aquilo rápido. Então, meu trabalho de ator de voz que trabalha com esse tempo muito rápido, desenvolve essa sensibilidade para entender mais ou menos como esse personagem se movimenta.

Eu tento ouvir algumas vezes ali no começo da gravação qual é o tom de voz, se ele fala mais alto, se ele fala mais baixo, se ele projeta, se ele tem algum ruído. Depois eu vou ver mais ou menos qual a velocidade que ele fala. Se ele fala bem, bem, bem rápido ou se ele começa devagar com um texto bem marcado, porque as construções dos personagens são muito diferentes.

Eles tem gênesis de coisas diferentes que você pode abordar enquanto você tá ali criando. Uma vez que o negócio está criado, tenho que entender quais foram os elementos que foram usados por esses personagens. E isso se aplica tanto com a questão do ator de voz, que faz coisas com a dublagem ou com a gravação. Então o quê eu já tenho de referência ali é que a única coisa diferente é com a voz original, que é quando a produção não existe nenhuma voz e a gente é a primeira voz, aí realmente quem constrói sou eu de acordo com os elementos fornecidos pelo diretor.
Mas se não, eu vou ouvir aquilo, vou tentar entender e falar: “Ok, esse personagem se caracteriza dessa forma”. Porquê pra mim, enquanto ator, não quero que todos os personagens sejam assinados por mim. Ou seja, que todos pareçam que sou eu falando. Ou que eu crie um formato de trabalho que a gente chama de muleta que é todo mundo fazendo de uma forma que funciona mas que todo mundo parece igual. Então eu vou construir as coisas diferentes.

Eu uso muito, por exemplo, a criação do Albert Wesker no Resident Evil 5, por exemplo, o Wesker tem um tom que ele fala um pouco mais pelo nariz. Então se a gente parar pra perceber ele tem uma coisa colocada que ele fala devagar, ele traz o deboche, ele articula. Por exemplo: “7 minutos são todo o tempo que eu tenho pra gastar com você.” Enfim, ali a gente vê a diferença.

No caso do Luis ele tem uma coisa colocada aqui que é uma leve voz de cigarro, mas não é uma voz carregada. Mas é uma coisa colocada que vai levemente pro nariz e aí coloco a voz dele e ele fala mais canastrão. Então ele fala devagar, mas não chega a ser tão devagar quanto o Wesker. E ele dá uns socos, às vezes ele fala um pouco mais pra cima. Essa é uma criação de um contexto do que entendi do que estava sendo feito ali. E é basicamente a ferramenta que uso pra criar o caminho pelo qual eu vou gravar esse personagem. Até porque normalmente eu não vou fazer isso num dia só e vou ter que intercalar isso com outros personagens.Então eu preciso de alguma coisa que me dê um gatilho pra falar “Ok”. A voz dele vem por este caminho. E aí conseguir realmente, de fato, gravar o personagem inteiro.

REVIL: Se surgisse a oportunidade, há algum outro personagem que você gostaria de interpretar na franquia?

Se surgisse oportunidade, gostaria de gravar vários e vários personagens do game. Tipo… vários. Eu adoraria gravar o Chris Redfield, mas o meu perfil de voz e pela evolução de onde o Chris está hoje, já não funcionaria mais. Mas sei lá, se em algum momento fossem fazer um Chris mais novo. É que hoje, como já vem definido e as vozes estão se tornando já definidas por outros atores, o quê eu acho ótimo porque não fica aquela troca de voz nos ouvidos das pessoas. Isso seria muito legal se de repente fosse possível.

Eu adoraria fazer qualquer personagem. O próprio Leon, de repente, havia uma brecha em algum momento que talvez fizessem em um um dos filmes em que um dos atores que fez o Leon, um desses atores que fez o Leon já foi dublado por mim então poderia ter essa possibilidade. Não houve, mas seria uma possibilidade de eu ter feito o Leon alguma vez.

Poderia ter feito, sei lá… mas por a minha voz estar ali meio num perfil 30, 40 anos, adoraria fazer o Jake, ou de repente o Piers. Cara, eu viveria por qualquer personagem de Resident Evil porque realmente eu sou muito fã. Então qualquer um que aparecer e se houver a oportunidade de voltar em algum momento, realmente adoraria e gostaria muito de tentar oferecer uma coisa diferente para que as pessoas não associassem apenas ao Luis. Para que ficasse uma coisa tipo “o Luis está aqui, o personagem X novo está aqui” e de fato a gente não lembrar muito bem, tipo “poxa, nem associei que tinha sido o mesmo ator.” Porque se não, não tem graça.

Adoraria criar um personagem de formas diferentes e colocações diferentes. Mas a gente não sabe o quê vai acontecer, né. Um ano atrás eu não diria que de repente eu seria a voz do Luis. Então vamos jogar aí pro universo. Se em algum momento alguém quiser me chamar pra alguma coisa né, vou tentar, claro, entregar o melhor trabalho, mas não sei. Cara! Qualquer personagem, adoraria de verdade estar mais uma vez. De repente o Remake do Remake do RE4 eu volte a fazer o Luis. Não sei, né? Quem sabe daqui a 15 anos, numa plataforma nova. Adoraria.

REVIL: Mais uma vez gostaríamos de agradecer por sua participação nesta entrevista. Você poderia deixar uma mensagem para os seguidores do REVIL?

E então é isso. Acho que respondi as perguntas e espero que as pessoas que tenham assistido e lido tenham todos gostado. Que a produção do canal tenha gostado também. Estou sempre disponível para responder perguntas e curiosidades a respeito de Resident Evil que é um assunto que realmente gosto muito.

Acabei de platinar o jogo em duas plataformas. Então tô sabendo bastante de tudo o que aconteceu no game. Aproveitei ele de ponta a ponta. Tô curtindo bastante. Aproveito para agradecer todo o pessoal da Q Words que esteve envolvido durante o processo de gravação. O Rubens, o André, o pessoal todo da produção, o pessoal que acompanhou a gravação com a gente durante os estúdios. Não sei até onde eu posso falar o nome de todo mundo que tava ali com a gente, mas agradeço muito a esse processo de gravação que foi muito legal, foi muito bem recebido, foi muito bem orientado. Foi muito bacana fazer parte desse processo.

Mais uma vez agradeço o espaço para falar um pouco sobre o meu trabalho, sobre Resident Evil, sobre o Luis, sobre mim e espero que todos vocês tenham curtido e aproveitado bastante esse tempinho pequeno pra gente falar um pouquinho sobre como foi o processo de dar voz ao Luis Serra. E aí, agora que a gente terminou, pode me arrumar um cigarrinho? Oye! E até mais. Obrigado!


Resident Evil 4 é o segundo jogo da franquia a receber dublagem em português. O título está disponível para Playstation 4, Playstation 5, Xbox Series X|S e PC (Steam).

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Colaborou com a descrição textual: Caio Vale

Colaborou com revisão textual: João Alves